Meu nome é Karen Cristina Conceição Simão, nasci no dia 9 de novembro de 1988, tenho 30 anos, e moro na zona norte de São Paulo. Meu pai se chama Odair Onofre Simão, ele é pedreiro. E a minha mãe é funcionária pública, Maria Nilza Conceição Simão, cozinheira do Hospital das Clínicas. Desde pequena, eu fui criada próximo ao Horto Florestal, onde eu tive... Como dizer? Fui uma pessoa que teve bastante acesso. Eu brincava muito, era uma grande moleca da rua. E não só no Horto, mas próximo de casa também. Eu tinha a mania de cair e culpar meu irmão mais velho - "Olha, ele me machucou". Aí a minha mãe ficava possessa, porque culpando-o, automaticamente eu não iria apanhar, quem iria apanhar seria ele! É uma coisa que me deixou marcada. Eu corria, caía e colocava a culpa no outro. Durante a juventude, lembro que meu primeiro namorado não foi da região. Quando eu o conheci, ele morava na zona leste. Eram caminhos totalmente opostos. Eu o conheci no Shopping D. Na época, eu trabalhava no McDonald’s e ele na C&A. Tornou-se o pai das minhas filhas! Eu trabalhava na parte de sorvetes, e aí, do nada, ele estava passando com um amigo e me deixou um bilhete escrito assim: "Eu quero te conhecer". Uma amiga minha ficou com raiva, pensou que o bilhete era para ela! Ela quis me matar, disse: “Eu te detesto, porque o bilhete era para mim! Você pegou o meu bilhete”. Mas não, o bilhete era para mim mesmo. Nos conhecemos e ficamos três anos namorando, depois, descobri que estava grávida da minha filha. Ficamos juntos 12 anos e, recentemente, nos separamos. Quando descobri que estava grávida da minha filha, eu já estava com 20 para 21 anos. Na época, eu trabalhava e foi uma surpresa, e fiquei sem saber como falar com os meus pais porque, querendo ou não, meu pai tinha uma ideia na cabeça que se arrumasse um filho, você tinha que se casar, tinha que ter sua casa própria. Porém, a minha mãe foi mudando esse juízo do...
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Meu nome é Karen Cristina Conceição Simão, nasci no dia 9 de novembro de 1988, tenho 30 anos, e moro na zona norte de São Paulo. Meu pai se chama Odair Onofre Simão, ele é pedreiro. E a minha mãe é funcionária pública, Maria Nilza Conceição Simão, cozinheira do Hospital das Clínicas. Desde pequena, eu fui criada próximo ao Horto Florestal, onde eu tive... Como dizer? Fui uma pessoa que teve bastante acesso. Eu brincava muito, era uma grande moleca da rua. E não só no Horto, mas próximo de casa também. Eu tinha a mania de cair e culpar meu irmão mais velho - "Olha, ele me machucou". Aí a minha mãe ficava possessa, porque culpando-o, automaticamente eu não iria apanhar, quem iria apanhar seria ele! É uma coisa que me deixou marcada. Eu corria, caía e colocava a culpa no outro. Durante a juventude, lembro que meu primeiro namorado não foi da região. Quando eu o conheci, ele morava na zona leste. Eram caminhos totalmente opostos. Eu o conheci no Shopping D. Na época, eu trabalhava no McDonald’s e ele na C&A. Tornou-se o pai das minhas filhas! Eu trabalhava na parte de sorvetes, e aí, do nada, ele estava passando com um amigo e me deixou um bilhete escrito assim: "Eu quero te conhecer". Uma amiga minha ficou com raiva, pensou que o bilhete era para ela! Ela quis me matar, disse: “Eu te detesto, porque o bilhete era para mim! Você pegou o meu bilhete”. Mas não, o bilhete era para mim mesmo. Nos conhecemos e ficamos três anos namorando, depois, descobri que estava grávida da minha filha. Ficamos juntos 12 anos e, recentemente, nos separamos. Quando descobri que estava grávida da minha filha, eu já estava com 20 para 21 anos. Na época, eu trabalhava e foi uma surpresa, e fiquei sem saber como falar com os meus pais porque, querendo ou não, meu pai tinha uma ideia na cabeça que se arrumasse um filho, você tinha que se casar, tinha que ter sua casa própria. Porém, a minha mãe foi mudando esse juízo do meu pai. Para mim foi uma experiência nova, eu sempre quis ser mãe, mas não queria tão cedo. Hoje em dia, refletindo, eu não teria filhos com essa idade. Pela situação do país, pela minha situação, porque assim, não é que uma criança impeça seu sonho, mas você acaba tendo que mudar sua história. E logo aos 23 anos eu tive minha outra filha. Outro baque. Novamente pegou todo mundo de surpresa. Mas a minha relação com as minhas filhas, digo, que é uma relação saudável. Eu faço coisas para elas, mas também faço por mim. A minha filha mais velha tem autismo. Eu descobri quando ela tinha uns dois anos. Ela estava na creche e um pessoal da administração pediu para que eu a encaminhasse para um psicólogo. Na época, eu trabalhava na SECONCI, que era uma IOS do Hospital Mandaqui. Eu conversei com uma assistente social e ela me encaminhou diretamente para o neurologista do Hospital Mandaqui. O neurologista falava assim: "Não, sua filha não tem nada, isso é normal. Ela não interage, porém você só precisa estimulá-la". Mas eu, como mãe, por dentro, eu já sabia que minha filha tinha alguma coisa. Além dela não ter interação social com outras crianças, ela também não gostava de barulho. Eu comecei a perceber esses comportamentos, sabia que isso não era normal para uma criança de um ano e meio para dois anos tapar o ouvido, não brincar com outras crianças, não gostar de gritar. Ali eu já comecei a desconfiar, e foi quando busquei ajuda de um profissional, de um neurologista, de uma equipe, que começou a fazer exames com ela para descobrir. Tanto é que o diagnóstico dela não saiu rapidamente, somente com quatro para cinco anos de idade. Não é fácil diagnosticar uma criança com autismo, principalmente na situação da minha filha, que não interagia com outras crianças, porém a fala dela era perfeita, ela gostava de se expressar. Então... Foi uma descoberta assim... Não acho que foi demorada, mas foi uma descoberta que quando saiu, eu pude realmente compreender o que se passava e era esse conhecimento que gostaria de compartilhar, passar para outras mães. Quando eu descobri o diagnóstico da minha filha, tomei a decisão de sair do emprego. A ideia foi pegar o que eu já sabia fazer, o artesanato, e empreender. Algo que eu já gostava, mas que aflorou e se desenvolveu ainda mais depois que descobri o diagnóstico. E assim pude acompanhar e conduzir o tratamento da minha filha. A cada 15 dias ela faz terapia multidisciplinar, que é com uma psicóloga e uma terapeuta ocupacional. Uma vez na semana ela encontra a fonoaudióloga. Nesses dias, eu não posso marcar nada, ele é dedicado a ela porque, fora esse acompanhamento, a psicóloga quer saber como foi a rotina, como está sendo na escola, como está sendo a aceitação dela com alguma atividade específica. Outra questão que ajudou muito foi a escola, porque na creche eu tive alguns problemas, alguns contratempos, ela entrou com um ano e seis meses, porém ela chorava muito. Depois ela foi para uma EMEI, mas ela não tinha interação social com outras crianças. Foi então quando ela entrou para a primeira série como uma criança normal, não como uma criança que tinha deficiência, não como uma criança de inclusão, que ela deu uma guinada. Para a escola foi uma surpresa, pois é necessário ter estrutura, formar os professores, formar a equipe pedagógica... E minha filha, logo na primeira série, trocou três vezes de professora em um período de seis meses, e isso mexe muito, se já perturba qualquer aluno, imagine uma criança que tenha deficiência? Essas mudanças mexeram muito com ela, atrapalhou sua aprendizagem, sim. Na época, eu comentei com a escola que ela fazia terapia, que ela foi diagnosticada com autismo, e tinha uma professora que estudava psicopedagogia, aliás, ela ainda estuda, não só crianças com autismo, mas com todo tipo de patologia de deficiência. E ela ajudou muito minha filha. Hoje, ela é muito apegada a professora, ela a ajudou muito em seu desenvolvimento, desde a aprendizagem até como ela brinca e interage com os amigos. E isso foi desde o 1º até o 4º ano, que ela está hoje. A minha filha mudou e mudou muito, ela aprendeu e aprendeu muito. Para mim é um orgulho, eu poder contar com profissionais assim. A minha filha está com 10 anos, e se tornou uma inspiração para outras crianças, porque hoje em dia, com essas coisas de bullying por aí, a torto e a direito... A minha filha ela conta a história dela de ponta a ponta, e fala que é uma criança com autismo, sim, que ela é uma criança que tem deficiência, porém ela não permite o bullying, não permite que outras crianças fazem bullying com ela. Atualmente, eu tenho um blog pessoal na Internet, onde eu incentivo mães a não desistir, porque quando você descobre qualquer tipo de diagnóstico de deficiência de algum filho, é um baque. Você tem que mudar toda a sua trajetória, e eu tive que fazer isso na minha vida, porque quando o médico chegou e falou assim: "Olha, sua filha tem autismo", eu optei por sair do emprego, tive que me desestruturar para me dedicar a minha filha. Nesse blog pessoal, eu conto um pouco da minha história, um pouco da minha experiência e incentivo às mães, ajudo a pensar um pouco sobre empreendedorismo, mesmo não sendo com arte, mas algo que elas possam trabalhar de casa, ganhar alguma receita, fora a ajuda psicológica; a possibilidade de receber uma renda ajuda a melhorar a autoestima. Hoje, existe a Internet, uma ferramenta ótima, que pode auxiliar outras pessoas, aconselhar outras pessoas.
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