50 anos do SENAC São Paulo
Depoimento de Marlene Rago
Entrevistada por Cláudia Leonor Oliveira e Rosali Henriques
São Paulo, 22/08/1995
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: SENAC_HV023
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 - Bom, eu queria começar com você falando o seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R - Meu nome é Marlene Rago, curtinho, nome que eu gosto, curtinho, Marlene Rago. Eu nasci dia vinte de julho de 36, nasci aqui em São Paulo, sempre morei e continuo morando aqui em São Paulo. Nasci na Maternidade São Paulo.
P/1 - Certo. E o nome dos seus pais e onde eles nasceram?
R - Meus pais também nasceram aqui em São Paulo. Meu pai, José Scigliano Rago e minha mãe, Maria Gracia Pellegrini Rago, também os dois nascidos aqui.
P/1 - Qual era a atividade profissional deles? O que eles faziam?
R - Meu pai é contador, quer dizer, era, infelizmente já partiu. E minha mãe era dona de casa, cuidava da gente, cuidava dos filhos, cuidava da casa.
P/1 - Marlene, o que você lembra da sua infância, do seu dia-a-dia de criança?
R - Ah, eu tive uma infância muito, muito boa. Eu sou primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. E depois de mim vieram mais uns dezoito. Então foi uma infância muito gostosa, muito boa, a minha família é uma família muito alegre e muito unida. Nós temos os tios, as tias, como verdadeiros pais, não só tios e tias, são como pais. Até hoje a gente tem uma amizade muito grande e um envolvimento familiar muito grande. Então até hoje a minha vida familiar é muito boa, muito. A gente tem muito apoio da família, por ela ser muito unida, muito bom.
P/1 - Certo. Marlene, você passou a vida inteira num bairro, é isso?
R - Não, não. Eu nasci na Bela Vista e morei até os doze anos. Depois nós mudamos aqui para o… Entre Paraíso e Vila Mariana, comecinho já da Vila Mariana, e lá fiquei durante muitos anos, depois eu casei,...
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Depoimento de Marlene Rago
Entrevistada por Cláudia Leonor Oliveira e Rosali Henriques
São Paulo, 22/08/1995
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: SENAC_HV023
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 - Bom, eu queria começar com você falando o seu nome completo, o local e a data de seu nascimento.
R - Meu nome é Marlene Rago, curtinho, nome que eu gosto, curtinho, Marlene Rago. Eu nasci dia vinte de julho de 36, nasci aqui em São Paulo, sempre morei e continuo morando aqui em São Paulo. Nasci na Maternidade São Paulo.
P/1 - Certo. E o nome dos seus pais e onde eles nasceram?
R - Meus pais também nasceram aqui em São Paulo. Meu pai, José Scigliano Rago e minha mãe, Maria Gracia Pellegrini Rago, também os dois nascidos aqui.
P/1 - Qual era a atividade profissional deles? O que eles faziam?
R - Meu pai é contador, quer dizer, era, infelizmente já partiu. E minha mãe era dona de casa, cuidava da gente, cuidava dos filhos, cuidava da casa.
P/1 - Marlene, o que você lembra da sua infância, do seu dia-a-dia de criança?
R - Ah, eu tive uma infância muito, muito boa. Eu sou primeira filha, primeira neta, primeira sobrinha. E depois de mim vieram mais uns dezoito. Então foi uma infância muito gostosa, muito boa, a minha família é uma família muito alegre e muito unida. Nós temos os tios, as tias, como verdadeiros pais, não só tios e tias, são como pais. Até hoje a gente tem uma amizade muito grande e um envolvimento familiar muito grande. Então até hoje a minha vida familiar é muito boa, muito. A gente tem muito apoio da família, por ela ser muito unida, muito bom.
P/1 - Certo. Marlene, você passou a vida inteira num bairro, é isso?
R - Não, não. Eu nasci na Bela Vista e morei até os doze anos. Depois nós mudamos aqui para o… Entre Paraíso e Vila Mariana, comecinho já da Vila Mariana, e lá fiquei durante muitos anos, depois eu casei, saí de lá, vim morar de novo aqui na Bela Vista, e depois quando o meu marido faleceu, eu mudei, eu agora, a minha família continua no mesmo lugar lá na Vila Mariana, eu moro em São Judas.
P/1 - Certo. Mas quando você era criança na Bela Vista, como é que era o bairro naquela época? Como eram as brincadeiras?
R - Olha, eu tinha poucas amigas, eu quando criança gostava muito de ler, eu me dedicava muito, muito, muito à leitura e à música. Eu sempre gostei demais de música, acho que é uma tendência da família já. E depois a minha família é muito grande, e muitos primos, então a gente brincava muito em casa. Antigamente as casas eram normalmente térreas, grandes, muito quintal, muito cheio de árvores, de frutas. Então nós brincávamos, muitos primos, nós tínhamos sempre companhia, sempre estávamos ligados à família, a família tinha muito aniversário, aliás, até hoje porque a família é muito grande, todo mês tem um colosso de aniversários. Então morávamos todos no mesmo bairro, as tias, os tios foram casando, mas todos morando durante muito tempo, todos próximos, no mesmo bairro, então a gente tinha um convívio familiar muito grande. Então amigas quando eu era bem pequena na verdade não tinha, eram só os primos. Depois quando eu entrei pra escola passei a ter amigas lá da escola, mas a convivência maior mesmo era com a família, com os primos.
P/1 - Como que começou esse hábito de leitura, alguém te incentivava?
R - Não. Eu sempre gostei, e meu pai, quer dizer, é que como eu gostava e meu pai também gostava muito de ler, então ele comprava pra mim e pra minha irmã, comprava muitos livros, a gente tinha muitas coleções, as famosas coleções de Monteiro Lobato, Tesouro da Juventude, Mundo Pitoresco e daí por diante. Então antes de ir pra escola eu apenas via as figuras, mas depois fui aprendendo a ler e sempre gostei de ler, sempre li bastante.
P/1 - Tem algum autor que seja mais a sua preferência?
R - Não predileto, predileto não. Mesmo porque em criança já na idade jovem e adulta eu li bastante, em casa a gente tem muitos, uma infinidade de livros, mas eu gosto de tudo. Assim como na música, eu, claro, sempre tem algumas coisas que, vamos dizer, um rock da pesada assim não faz muito o meu gênero, mas tem algumas músicas de rock que eu gosto. Então de toda a música tem uma parte que eu gosto. Eu sou descendente de italiano, eu gosto da música italiana demais, eu também tenho descendência espanhola, também gosto muito, também fiz bailado espanhol e me dediquei um pouco a isso. Eu gosto de todas as músicas, das nossas músicas, gosto demais. E na leitura também, eu gosto, aprecio praticamente tudo, pouca coisa que eu não aprecio, então não tenho assim um autor, um único autor predileto, não.
P/1 - Teve algum livro, na época que você era pequena, um livro que foi mais marcante?
R - Isso sem dúvida. Monteiro Lobato. Monteiro Lobato foi fantástico, na infância aquilo, muito, muito bom. Isso foi uma coisa que eu li e reli muitas vezes.
P/1 - Tem algum livro em especial que você gostava mais ou goste?
R - Não, realmente que eu lembre, não. Eu tenho muitos livros, leio bastante, ultimamente não, ultimamente a vida tem sido mais corrida, está um pouco difícil, pretendo voltar a ler, pretendo, se Deus quiser.
P/1 - Você comentou que a sua família é de origem italiana e vocês moravam...
R - Italiana, espanhol e também tenho tios nascidos em Portugal.
P/1 - Você morava na Bela Vista, né? O que mais essas coisas te influenciaram na sua infância?
R - Olha, o pessoal da Bela Vista, naquela época, os italianos principalmente, porque era colônia maior, era um povo muito alegre tanto que nós temos a Igreja da Achiropita que faz as festas, as famosas festas, é a igreja onde eu fui batizada, fui crismada, onde eu fiz a minha primeira comunhão. E o povo era... Naquele tempo não tinha televisão, então se batia muito papo e algumas pessoas gostavam, à noite, quando era calor de pôr as cadeiras na calçada e conversar. Era uma vida muito gostosa, muito, muito.
P/1 - E como era a sua escola? Que tipo de educação você recebeu na escola?
R - A minha escola, eu (risos,) fica até meio engraçado. Mas eu, quando criança, eu era assim um tanto quanto tímida, não era uma criança de fazer folia, uma criança sapeca, eu não fui uma criança sapeca. Então eu prestava muita atenção na aula, depois meu pai ele não era severo, não era rígido, não era de exigir, mas eu sabia que eu tinha que tirar boas notas, tinha que estudar. E tinha uma tia professora também, então ficava chato não estudar direito, ainda mais primeira sobrinha, todo mundo fica ali querendo ver se faz tudo direitinho e tal. Então eu era aplicada, eu estudava, eu prestava muita atenção. Eu tirava sempre notas altas e recebia todo mês um boletim especial de parabéns. E uma vez, as meninas na escola quiseram me bater (risos). Por causa disso eu quase apanhei, formaram um grupinho, aí meu pai precisou conversar com o diretor da escola porque eu ia apanhar das meninas (risos), mas depois passou, depois se habituaram com o meu jeito, e como eu saí muito cedo da Bela Vista, aquelas amizades depois ao longo do tempo se perderam. Eu saí de lá com doze anos de idade, já tinha terminado o curso primário, e depois não vi mais, não tive mais contato com elas.
P/1 - Aí você mudou, você foi estudar em outra escola?
R - É, aí eu mudei e naquela época pra gente ingressar para o ginásio você precisava passar pela admissão, então eu fui para o Álvares Penteado. E lá eu fiz desde a admissão, fiz o meu ginásio, o curso Técnico em Contabilidade, então fiquei um bom período lá. Ali sim, ali foi uma fase também excelente na minha vida, dali eu tenho amigas até hoje, amizades que permanecem, inclusive foi ali que eu conheci o que depois foi o meu marido, porque a gente estudou junto muito tempo, então me marcou bastante. Depois, meu pai também formou-se no Álvares Penteado e eu tenho três irmãs que também estudaram lá, a minha família, tenho muitos primos, apesar de com o tempo depois cada um tomou um outro caminho, uns são engenheiros, outros são advogados, outro dentista, cada um seguiu um outro rumo, mas a princípio todos passaram pelo Álvares Penteado. Uma família bem grande, que inclusive filhos de primos que também já tem aí uns quatro que também passaram por lá.
P/1 - Você tem idéia por que isso acontecia? Seu pai incentivava?
R - É, não sei, foi um gosto do pessoal, e a Álvares Penteado era uma escola de comércio, de muito nome, e o pessoal se interessava muito por essa escola. Antigamente o curso de contabilidade era um curso muito procurado, mas depois com o passar dos tempos aí o pessoal da minha família toda que se formou lá, aí acabaram seguindo outros caminhos. Uns continuaram, claro, uns fizeram Ciências Contábeis, mas outros partiram. E depois, por exemplo, a contabilidade, você formar-se em Contabilidade e em Direito, tem uma certa relação. Então muitos partiram pra esse lado. Só alguns que foram ser dentistas que não tem nada a ver (risos), a não ser contando os dentes dos clientes (risos).
P/1 - Marlene, e na Álvares Penteado, quais eram as matérias que você mais gostava?
R - Eu gostava da própria contabilidade, e talvez uma coisa que eu aprendi a gostar desde pequenininha porque meu pai sempre deu aula, deu muita aula em casa então desde pequenininha eu escutava caixa mercadorias, mercadorias à caixa. Então eu aprendi a gostar, eu gostava bastante da contabilidade, e todas as matérias, eu sempre gostei de estudar, eu não sou enjoada, eu gosto, eu acho que as coisas que eu tenho que fazer, eu procuro fazer da melhor maneira, porque mesmo que a gente não goste se você começar a implicar muito, aí fica pior, então eu procuro não ter implicância, eu procuro um meio de gostar. Então felizmente nos bancos escolares eu passei relativamente bem.
P/1 - E aí quando você acabou o curso Técnico de Contabilidade o que você foi fazer?
R - Quando eu terminei o curso surgiu uma oportunidade bem próxima à minha casa, numa empresa bem próxima e eu fui pra lá, fui porque realmente eu tinha interesse em trabalhar, em me aperfeiçoar nessa parte, nessa área. Mas fiquei um ano só porque depois a empresa saiu dali, eles mudaram, foram para um bairro distante e naquela ocasião eu tinha um irmão pequeno e a minha mãe havia falecido, e eu tinha umas certas obrigações de levá-lo pra escola, tal. Com a empresa ali pertinho de casa, era uns três quarteirões, dava tempo de fazer isso, mas depois não. Então depois eu tive que passar um período em casa, embora eu estivesse procurando, mas sempre nas imediações pra me favorecer. Mas não deu certo, não apareceu nada por lá então acabei ficando praticamente dois anos em casa. Foi quando aí depois surgiu o SENAC na minha vida, acho que estava escrito (risos)
P/1 - Você já tinha ouvido falar do SENAC?
R - Já, já tinha ouvido falar mas não conhecia muito, tinha ouvido falar, mas não muito. Mas aí aconteceu o seguinte: a pessoa que era o Diretor Regional, doutor Haroldo Cruz Hirth, ele havia trabalhado na prefeitura junto com meu pai e lá eles tinham muitos amigos em comum e em conversa meu pai e esses amigos falou-se no SENAC. Então meu pai chegou em casa e falou pra mim que tinha o doutor Haroldo, que era um amigo dele que trabalhava no SENAC, se eu não tinha vontade de tentar, ver, tal, não sei o quê. E eu vim e por coincidência o doutor Haroldo... Vim conversar com ele e ele disse que realmente estavam precisando. E eu queria um lugar na contabilidade, mas ele disse que no momento não tinha, estavam necessitando de uma pessoa na área de pessoal porque a moça que trabalhava lá, a Ciomara, estava doente, estava afastada, de licença, e a outra moça, a Ivete, ia casar, ia tirar férias, ia ficar um bom tempo fora, então precisava de alguém no departamento. Embora eu não conhecesse nada dessa parte, mas tudo bem. Fiquei e ele me disse: "Isso vai ser por uns tempos, depois, surgindo uma vaga você vai pra contabilidade." Só que eu gostei, eu me entrosei muito bem com as pessoas e com trabalho da área. Gostei muito e acabei ficando até hoje (risos), não saí mais de lá, tem sido muito bom, eu não sei, talvez acho que o destino, o caminho era esse, mudei totalmente, a contabilidade ficou de lado, mas o Departamento Pessoal me atrai bastante, eu gosto muito.
P/1 - E quando você começou no Departamento Pessoal quais eram as suas primeiras funções?
R - Olha, claro quando a gente começa, você começa lá, mexendo com arquivo, conhecendo os documentos e fazendo os servicinhos mais simples, mas a Ciomara, eu trabalhei muitos anos com ela, foram 27 anos junto com a Ciomara e aprendi muita coisa. Aí aos poucos ela ia me orientando, logo a princípio e como o SENAC ainda era pequeno, não era tão grande como hoje, não tinha tantas unidades, a gente tinha oportunidade de estar a par de tudo, de fazer um pouco de cada coisa, de mexer com tudo. Hoje já o SENAC é muito grande, tem muito trabalho dentro da nossa seção, então não tem mais essa chance. Antes éramos três pessoas apenas, então a gente já partiu pra começar a fazer folha de pagamento, recolhimentos dos encargos sociais. Então aos poucos fomos entrando nisso, aí também eu tive que fazer alguns cursos pra conhecer melhor a rotina trabalhista, legislação trabalhista e fui procurando aprender, procurando conhecer bem a CLT, e fomos indo pra frente.
P/1 - E você deixou de querer ir pra área de contabilidade?
R - Durante algum tempo eu queria, durante algum tempo eu ainda tinha vontade, mas depois o doutor Haroldo, que era o Diretor Regional, ele saiu da diretoria, veio uma outra pessoa, doutor Benedito Moreira Pinto, e o doutor Haroldo foi, voltou a ser Diretor Administrativo como ele era antes de ir pra diretoria regional e era o Diretor da minha área, e ele acho que, naquela ocasião, ele dificultou um pouquinho. Ele falou: "Ah não, fica, você está se dando bem, você está gostando." "Não, gostando eu estou." Eu estava realmente gostando. "Ah, espera mais um pouco, dá mais um tempo, depois você vai, não sei o quê." E assim foi. Aí tinha o diretor da contabilidade e até ele sempre perguntava: "Você sempre diz que quer vir pra área contábil, você não vem, como é que é: você vem ou não vem?", "Ah, mas o doutor Haroldo acha que por enquanto ainda não, que eu tenho que ficar um pouco lá, tal." Até que passado um tempo essa pessoa, Antônio Fonseca Frascino, foi para o lugar do doutor Haroldo, foi ser o Diretor Administrativo lá na minha área, então aí acabou, aí ele disse: "Ah, bom, agora eu vim pra cá você vai pra lá? Então fica mais um pouco." Aí eu fui ficando, depois eu gostei e realmente acho que era o meu caminho, porque aí não tive, depois não tive mais vontade de ir pra contabilidade, não. Aí eu me identifiquei muito bem com o trabalho do Departamento Pessoal.
P/1 - O trabalho no Departamento Comercial, você falou pagamento, o que é que envolve?
R - Ah, muita coisa, o Departamento Pessoal tem muita coisa, principalmente, claro, a folha de pagamento, o mais importante de tudo, os encargos sociais, os recolhimentos, nós temos INPS, temos hoje INSS, o INPS já passou por tantos nomes: IAPC, INPS, IAPAS, hoje é INSS, o imposto de renda, o fundo de garantia, o PIS e muitos outros trabalhos em decorrência disso tudo. Tem muitas coisas, muitas informações, relatórios, os prontuários, que é a vida funcional dos empregados, as admissões, os registros. Eu tenho bastante serviço no Departamento Pessoal (risos). É um departamento que a gente precisa ter muito cuidado com a documentação e eu sempre digo que ali a gente, o passado é sempre um presente, porque você quando menos espera as pessoas que trabalharam aqui, que já saíram, estão voltando porque quando vai chegando a hora da aposentadoria, aí vão precisando de informações, o próprio INSS solicita declarações, solicita ficha de registro, então você tem sempre que ter todos os documentos muito em ordem, muito organizado porque a qualquer momento as pessoas estão voltando, perdem as suas carteiras profissionais aí precisam novamente, você tem que preencher aquela carteira de novo pra eles que é um documento, porque não adianta você trabalhar dez, quinze, vinte anos e quando chegar a hora da aposentadoria você não ter a sua carteira, os seus registros de onde você trabalhou. Então as coisas que você faz, na verdade, elas não morrem, a gente muda, muda o sistema de trabalho, muda uma série de coisas, mas no fundo, no fundo, tudo tem que estar sempre presente, porque as pessoas passam mas depois voltam. E mesmo os próprios órgãos do governo solicitam coisas. Há pouco tempo o INSS fez uma solicitação porque estava havendo um trabalho dentro do próprio INSS e eles estavam verificando aposentadorias, se estavam todas em ordem, tal. Então solicitaram os documentos de uma nossa ex-funcionária que está aposentada há dez anos. Então a gente, mesmo ela já tendo se aposentado, os documentos têm que estar aí em ordem, porque senão ao chegar na hora você não tem pra apresentar, poderia causar um problema. Então é um trabalho em que o passado está sempre presente.
P/1 - Marlene, quando uma pessoa é contratada aqui, a papelada dela corre no Departamento Pessoal?
R - Sim, ela é admitida no SENAC, agora depende, como o SENAC cresceu muito, esse trabalho está... Tem uma boa parte descentralizada. Então se elas são admitidas em nossas unidades do Interior, eles mesmos fazem o processo de admissão. Só que depois vem pra cá, porque a folha de pagamento é feita por aqui, então tem que vir, os dados todos têm que vir pra cá para que a gente possa colocar a pessoa na folha de pagamento.
P/1 - Quando você entrou era centralizado aqui?
R - Era, tudo, tudo, tudo centralizado durante um tempo, depois muita coisa foi descentralizada, muitos trabalhos foram descentralizados, com o passar do tempo voltaram a ser centralizados. Então hoje os recolhimentos, INSS, fundo de garantia, imposto de renda, PIS, estão todos centralizados, folha de pagamento também é feita por aqui, depois enviada pras unidades e lá eles fazem os depósitos.
P/1 - E quando a pessoa é contratada você tem contato com essa pessoa? Você tinha contato com essa pessoa?
R - Ah, sim. A gente, claro, porque a pessoa tem que se dirigir ao departamento, tem que levar os documentos, tudo, pra poder ser registrada. Então o departamento tem contato com as pessoas. Agora, a não ser quando elas são admitidas nas unidades, então logo de início não, depois você começa a tomar conhecimento através da documentação, através das coisas que eles enviam a respeito da pessoa. Mas muitas vezes você não chega a conhecer pessoalmente, nem dá, o SENAC é muito grande, tem tantas unidades, nem sempre a gente conhece, conhece as pessoas aquelas com as quais a gente tem que lidar, como os encarregados das unidades, os gerentes, os técnicos, essas pessoas a gente tem muito contato. E também, quer dizer, muitas pessoas a gente acaba conhecendo através de visitas que a gente também faz nas unidades, trabalhos que a gente tem que fazer junto, os locais, então a gente acaba conhecendo. Mas não todos, porque a gente fica distante, mas através de documentação sim, através de documentação eu, aí eu conheci muita gente. Então quando surgia oportunidade de encontrar uma dessas pessoas que eu não tinha um relacionamento direto, dependendo do trabalho que ela fazia na unidade não havia essa necessidade. Quando tinha oportunidade era só falar o primeiro nome e eu já sabia tudo (risos) porque a gente lida com toda a papelada, todo o prontuário, toda a situação da pessoa, então a gente acaba conhecendo, acaba gravando. E eu tive uma memória boa, felizmente uma memória que facilitou bastante.
P/1 - E você lembra de alguém que foi contratado na época que você estava chegando no SENAC e que está até hoje também?
R - Alguém que chegou junto comigo? Não. Muita gente que chegou comigo não está mais. Tem pessoas que já estavam, quer dizer, gente que chegou um pouco depois, como o nosso Diretor Regional atual, Luiz Francisco de Assis Salgado, ele entrou depois, tem um rapaz na minha seção, Edson Ribeiro, também entrou depois. Depois dele, do Edson, ele veio junto com a mãe, ele era bem novinho, bem garotinho, veio junto com a mãe pra preencher a ficha, fazer o registro e tal. Esse moço agora está na nossa seção, então faz trinta anos que ele trabalha aqui no SENAC. Tem pessoas que já estavam quando eu entrei e que estão até hoje.
P/1 - Quem que você lembra?
R - O Oswaldinho Bonavigo, tem a Célia do Carmo Silva, o Erich Dietrich Lemmermann, ainda tem um bom grupo de pessoas daqueles tempos que permanecem nas casas e outras que entraram logo depois que eu entrei. Muitos também já passaram por aqui, já saíram, já seguiram outros caminhos, outros se aposentaram, também são 35 anos que eu estou aqui, então nesses 35 anos muita gente já entrou, muita gente saiu, muita gente se aposentou.
P/1 - E assim, o SENAC teve muitas mudanças ao longo desses ciqnuenta anos, né? Em termos assim de pessoal como que ficava essa movimentação nessas grandes mudanças? Quando fecharam as escolas, quando começaram as unidades polivalentes e as especializadas, o que é que acarretava de mudança no seu trabalho?
R - Ah, sim. Bom, durante muito tempo as pessoas entravam, saíam, mas não era uma coisa volumosa, não era um trabalho volumoso, até que chegou uma época que realmente houve uma necessidade de uma mudança grande, então de repente saiu muita gente. Claro que isso acarreta problemas,acarreta um trabalho maior, sem dúvida alguma. E não tem jeito, aí tem um trabalho grande pra se fazer. Mas dentro da minha seção, embora tenha havido muita mudança, também já passou muita gente por lá mas de mais ou menos, de 62, 63 pra cá aí a seção começou a crescer, começaram a entrar mais funcionários, então foi se dividindo, pouco a pouco foi se dividindo, trabalho. Quer dizer, mesmo acarretando bastante trabalho mas não tem jeito, é o nosso ritmo mesmo, quer dizer, toda vez que se faz mudanças, isso acarreta trabalho mesmo, não tem por onde.
P/1 - Você se lembra do Professor Breno Di Grado?
R - Claro, nossa.
P/1 - O que é que você lembra dele?
R - Ah, o Professor Breno era muito divertido (risos). Ele era uma pessoa um tanto quanto séria, sisuda, mas na verdade ele era uma pessoa bem alegre, bem brincalhão. Então de vez em quando ele fazia aí umas brincadeiras, umas coisas aí. Numa ocasião nós ainda estávamos no prédio da 24 de Maio porque quando eu entrei no SENAC o SENAC estava na 24 de Maio, depois em 62, abril de 62 que nós viemos pra cá. E tinha uma das moças que trabalhava com ele, ela tinha o hábito de tirar os sapatos, sentava, e tirava os sapatos e um dia o professor pegou os sapatos e amarrou num cordão da bandeira que ficava ali na 24 de Maio, fica lá hasteada a bandeira e o sapato ficou balançando lá na 24 de Maio e ela desesperada atrás do sapato (risos). Ele tinha umas brincadeiras muito engraçadas. Foi uma excelente pessoa, infelizmente também já partiu, já não o temos mais aqui, não só saiu do SENAC como partiu.
P/1 - Você chegou a conhecer o Professor Alpínolo Lopes Casali?
R - Conheci, não profundamente, conheci mas não tive muito contato. Com o Professor Breno sim, mas com o Professor Alpínolo, não.
P/1 - Desse pessoal mais antigo, assim que foram os fundadores do SENAC praticamente, quem é que você lembra?
R - Ah, lembro muito, lembro muito do Professor Oliver Gomes da Cunha que foi nosso Diretor Regional, Bahij Amin Aur que também foi nosso Diretor Regional, Danilo Santos de Miranda que hoje está no SESC. Olha, se eu for falar, meu Deus do céu, se eu começar a falar eu vou falar tantos nomes, tantos nomes, é uma infinidade. Todas as pessoas que passaram por aqui, felizmente eu fiz amizade, conservo essas amizades, isso é uma coisa que me alegra muito, então até hoje eu tenho contato com todos, então eu conheço muita gente, se eu for falar, meu Deus do céu, eu vou lembrar de tantos, tantos nomes.
P/1 - Acontece da pessoa ligar aqui precisando de algum documento, de alguma coisa e você na hora, você lembra na hora quem ela é e o que ela fazia?
R - Ah, normalmente eu lembro, lembro sim. Felizmente a minha memória nesse ponto é boa, então eu tenho uma certa facilidade, e depois não só pelo convívio de muitos que eu tive a oportunidade de ter como pela documentação. Então a pessoa, às vezes, se assusta um pouquinho: "Olha, mas eu saí daí há tanto tempo. Você sabe quem eu sou?" Mas eu sei. É uma coisa gostosa, uma coisa boa, e essa chance da gente ter esse relacionamento, de conhecer as pessoas e as pessoas mesmo parece que ficam satisfeitas, porque elas se surpreendem mas ficam admiradas e eu percebo que elas ficam contentes, porque é ruim, você dizer: "Ah, eu trabalhei aí tanto tempo", e as pessoas nem saberem quem você é: "Ah é, você trabalhou aqui?" Então quando encontra alguém que lembra: "Ah, você lembra de mim, você sabe quem eu fui, você me conheceu, você lembra." Então elas ficam muito entusiasmadas, ficam felizes (risos).
P/1 - Marlene, o cargo de Diretor Regional é um cargo de confiança, né?
R - Certo.
P/1 - Deixa eu te perguntar. Quando a pessoa é indicada pra ser o Diretor Regional, ele já é um funcionário do SENAC? Como é que ocorre isso?
R - Olha, todas as pessoas que passaram pela diretoria regional, elas já eram do SENAC, de todos que eu tenho conhecimento. O doutor Haroldo foi um dos primeiros funcionários do SENAC, senhor Oliver era um Professor nosso também, doutor Benedito Moreira Pinto era um Professor nosso, foi Professor em Bauru, B. Amin Aur veio do SESC, quer dizer, está nas casas, o Salgado que começou aqui em 1962.
P/1 - Você lembra dele quando ele começou?
R - Lembro. Ele começou dia cinco de novembro de 1962, lembro, nossa se lembro, lembro como se fosse hoje. Então, Danilo Santos de Miranda que também passou pela diretoria também era das casas, quase todos que passaram realmente eram, não eram pessoas estranhas.
P/1 - Deixa eu te perguntar uma coisa. Antes, a gente percebe que a maior parte dos profissionais do SENAC eram pedagogos. Qual é o perfil dos funcionários hoje? Você tem alguma idéia?
R - Pedagogos são todos, quer dizer, a parte técnica, os funcionários da área técnica quase todos são. E naqueles tempos também. Mas eu acho que você está relacionando isso com o fato do cargo, não é isso, de talvez todos mencionarem o mesmo cargo.
P/1- É, todos eles tinham um perfil voltado mais pra ser professor, todos eles eram professores, a maior parte deles que a gente viu aqui, que a gente entrevistou, né? Eu queria saber o que mudou nisso?
R - É porque o SENAC, naquele tempo, mantinha cursos regulares. Então realmente a maioria eram professores, o SENAC tinha cursos, o curso ginasial, Ginásio Comercial, tinha os cursos técnicos, Técnico em Secretariado, em Administração, de Contabilidade, os cursos regulares. E então nós tínhamos um grupo muito grande de professores mesmos, porque muitos, muitos com o passar do tempo foram deixando de ser professores e passando a servidores do SENAC. Outros não, outros ficaram somente como professores. Agora hoje a situação fica um pouquinho diferente porque já não temos mais esses cursos, os nossos cursos mudaram, têm outras características, é um pouquinho diferente, mas mesmo assim as pessoas envolvidas na parte técnica, na área técnica, quase todas têm Pedagogia, né?
P/1 - E hoje em dia os Docentes, eles não são contratados da casa, eles dão os cursos mas eles não são funcionários do SENAC, né? Como é que fica isso no Departamento Pessoal, tem alguma diferença?
R - Não, é que pelas características dos cursos atuais, muitos, o que a gente chama de carta-convite, são pessoas convidadas pelo SENAC a darem aqueles cursos, aquelas palestras, são autônomos, eles trabalham por conta própria, não são empregados nossos, eles atuam no SENAC mas não são registrados. Nós não temos essa necessidade, não são cursos como eram antigamente, os cursos regulares tinham duração de três anos, agora não, agora são outros tipos, são cursos mais rápidos então não há essa necessidade de serem realmente empregados. Eles podem ser autônomos que prestam esse trabalho pra nós.
P/1 - E quem é que seleciona esses profissionais pra fazer esse serviço pro SENAC?
R - É, são os técnicos mesmos das unidades, porque são encarregados de cuidar dessa parte e tal. Não, não é o nosso departamento. Nós cuidamos somente daqueles que são realmente empregados nossos, aqueles que entram e ficam aí, mesmo que seja por um tempo determinado, mas que são registrados como funcionários.
P/1 - E por exemplo, tem algumas firmas que prestam serviços?
R - Também tem porque tem trabalhos terceirizados. Mas também não tem ligação com o Departamento Pessoal, tem outras áreas que cuidam, não nós.
P/1 - Você lembra de mais alguém que você tenha conhecido? Que você pode contar de pitoresco que você lembre quando a pessoa chegou aqui, quando ela foi cuidar da papelada dela?
R - Fato pitoresco. É, a gente tem boa memória mas de vez em quando ela falha, isso é que é o pior (risos).
P/1 - O que você está lembrando agora?
R - De repente a gente lembra de tanta coisa e quando a gente quer aí nessa hora a gente não lembra. Mas deixa me ver. Ora, de pitoresco, alguém que tenha entrado no SENAC, tenha acontecido alguma coisa interessante, sinceramente agora eu não estou recordando. Mas nós tínhamos aqui uma senhora que era a dona Adelina Perito Galasso, paraguaia, ela que era Chefe da seleção. Era terrível, dona Adelina não era brincadeira não, passar por ela era passar no paredón (risos), era fogo. Então quando alguém vinha fazer testes e tal: "Olha, cuidado, vai passar no paredón aí." Mas é uma pessoa que eu admiro muito, eu não sei se ela vai gostar do que eu vou falar se um dia ela vai me ouvir, não sei. Dona Adelina quando entrou no SENAC, ela já tinha quarenta anos de idade e trabalhou trinta anos. Então eu acho isso fantástico, porque, pelo que a gente observa, a maior parte das pessoas depois dos quarenta já começa a pensar na aposentadoria, a pessoa já começa a pensar: "Ah, já estou ficando cansada, não sei o quê." E olha que começar um trabalho com essa idade e ficar nele por trinta anos, e com uma disposição muito grande, eu tenho contato com ela, hoje ela mora no Rio de Janeiro e já está com 82 anos de idade mas mesmo quando ela saiu daqui, aos setenta anos de idade, ela não parou não, ela foi pro Rio mas foi fazer cursos, palestras, é de uma atividade muito grande, muito grande.
P/1 - Quando o pessoal chegava no Departamento Pessoal pra correr a papelada da contratação eles costumavam comentar alguma coisa da dona Adelina, se o teste tinha sido difícil realmente?
R - Não que eu me lembre, não, assim pelo menos no momento não me ocorre isso, não vem à lembrança.
P/1 - Você foi entrevistada por ela?
R - Ah, sim.
P/1 - Como é que foi essa entrevista?
R - Ah sim, e o pior é que como era urgente, a vaga lá do Departamento Pessoal, precisava de alguém com urgência, dona Adelina disse: "Olha, minha filha, todo mundo faz os testes em três dias, você vai ter que fazer num dia só." (risos) E realmente eu fiz tudo, eu fiquei das oito da manhã às seis da tarde, eu nem sei como que eu saí do SENAC, fiquei tonta, fiz todos os testes naquele dia. Aí no dia seguinte eu vim pra passar pelo exame médico e por mais uma entrevista e no outro dia, no terceiro dia já comecei a trabalhar, foi assim no "vapt-vupt". (risos) Depois de dois anos em casa assim aquilo foi rapidinho. Aí, quer dizer, o começo foi meio complicado, eu me vi meio perdida, Ciomara doente, a Ivete tinha muitos afazeres, estava com o casamento marcado, preparando as coisas, então logo depois casou-se, aí foi meio complicado. Fiquei sozinha, mas felizmente aos pouquinhos a gente foi tendo, o pessoal do SENAC era uma família mesmo, colaborava muito, ajudava muito. Então a gente sempre tinha apoio, deu pra ir pra frente. Aí depois de um pouco de tempo que eu estava já, meio ano assim, aí eu comecei a fazer as folhas de pagamento. Então eu lembro que naquela época a gente fazia tudo à mão, aquelas folhas, rascunhava uma rascunhava outra, conferia, datilografava, depois passava por outra conferência. Aí nós tínhamos uma máquina na contabilidade - nem era nossa, nós não tínhamos na nossa seção, era na contabilidade - uma máquina de mecanografia onde faziam os trabalhos da contabilidade e essa máquina também a gente fazia a folha de pagamento. Então era uma máquina muito engraçada, imensa, uma máquina enorme, muito grande, a cadeira igual cadeira de dentista, você senta, aperta o pedal e você fica lá no alto. E a máquina ela tinha um carro com três aberturas, então a folha de pagamento era muito grande, era uma folha assim enorme com seis vias. E uma só que era um papel grossinho, as outras eram todas de seda. Aí você carbonava, colocava na máquina, depois no primeiro encaixe do rolo, no segundo era o holerite, que era um envelope grande, porque naquela época nós recebíamos o pagamento em dinheiro, não se trabalhava como hoje com essa facilidade, com banco, o pagamento era em dinheiro. Então naquele envelope a primeira parte era o nome da pessoa, os dados todos, o salário, e o restante era o envelope-saco onde era colocado o dinheiro, e na frente dele era ficha de razão. Então a folha dava mais ou menos pra umas 28 pessoas. Na frente da folha vinha o holerite e depois a ficha de razão. Isso umas 28 vezes você mudava porque era um pra cada funcionário. Só que tinha um negocinho aí, você colocava a folha, colocava o holerite, a ficha de razão. Aí você abaixava o carro e aquilo entrava dentro da máquina aí você não via o que fazia, você datilografava sem ver, não sabia o que estava saindo lá, se estava errando ou não. Então você datilografava. No final da folha tinha umas teclas próprias pra você tocar e elas davam o resultado, a soma das colunas. Ai meu Deus do céu, mas volta e meia aquilo dava errado. E aí pra você apagar tudo aquilo, aí tinha que colocar uma por uma na máquina de escrever e datilografar total por total, era uma mão-de-obra terrível, e durante um bom tempo. Depois a contabilidade comprou uma outra máquina, uma Burroughs e essa foi pra nossa seção. Até que em 1970 a gente começou a trabalhar com computador, aí já facilitou, aí já ficou bem melhor. Só que no começo a gente ainda tinha que dar muitas informações nas planilhas, no próprio cartão de ponto. Hoje nós temos um crachá, já estamos bem mais modernizados. Naquela época era cartão de ponto mesmo e no verso do cartão tinha ali uma parte onde a gente mencionava as faltas, os atrasos, as horas extras para os cálculos, e as planilhas onde a gente tinha uma série de dados pra informar. Então a folha era meio a meio, metade era manual, a outra metade era através do computador, quase, quase era mais uma datilografia no computador porque fazia muita coisa à mão pra informar. Hoje não, hoje já a coisa mudou bastante, hoje já não tem mais esse tipo de papel, não precisa mais, hoje já digita tudo direto, bem mais fácil. Assim mesmo a gente tem, a gente não consegue se desfazer dos papéis, é uma seção onde papel ali proliferam, ali ele toma fermento (risos).
P/1 - Marlene, assim com o cartão, a hora que o funcionário passa o cartão no relógio como é que registra a entrada, a saída?
R - Ah, já registra direto no computador, já aciona lá, já sai. Depois sai o relatório, sai um espelho do cartão, quer dizer, não sai mais cartão, são folhas, sai um que é o relatório e sai um que chamamos o espelho do cartão. Então é como se fosse o cartão de ponto, só que de uma forma um pouco mais prática e não é mais aquele cartãozinho marronzinho, não é bem marrom, é bege, bege clarinho. Apesar que as nossas unidades ainda usam, não é o SENAC todo que tem esse novo relógio de ponto que nós aqui na sede temos.
P/1 - Você disse que aprontava o envelope e que atrás ia o dinheiro e na frente uma espécie de holerite.
R - Depois da folha pronta, isso tudo era passado para a Tesouraria. Aí a Tesouraria é que iria contar o dinheiro e colocar. Aí tinha o Ermelindo Bonavigo, não, é o Oswaldinho Bonavigo, é um primo dele que trabalhava aqui, era o tesoureiro, então ele que contava o dinheiro de cada empregado e envelopava e recebíamos no guichê.
P/1 - Passava no guichê da Tesouraria?
R - Aí ia no guichê da Tesouraria e recebia ali o envelope com o salário. Hoje já é tudo mais prático.
P/1 - Isso começou a mudar em 73?
R - Em setenta. Aí já foi mudando, fomos passando a trabalhar com computador e aos poucos fomos trabalhando com banco, foi modificando a forma de trabalho.
P/1 - E Marlene, hoje assim, você casou? Com quem você casou?
R - Casei com um colega de escola (risos). Foi uma pessoa que eu conheci lá no Álvares Penteado. O Álvares Penteado tem um significado não só pelo fato de ter estudado lá, como porque meu pai também formou-se lá, quase toda a minha família também passou por lá e conheci essa pessoa lá, estudamos juntos, namoramos bastante tempo, só que depois a gente brigou, separou e depois de mais um bom tempo é que voltamos e aí casamos.
P/1 - Você quer fazer alguma pergunta, Rosali? A gente está encaminhando pro fim da entrevista, gostaria de saber qual sonho você tem pra realizar, que você gostaria de realizar?
R - Olha, eu já fiz bastante coisa na minha vida. Sinceramente eu não posso me queixar, eu tive uma infância muito boa, adolescência infelizmente... Na minha adolescência tive um pedacinho triste quando eu perdi a minha mãe, foi muito difícil. Depois, Deus já faz tudo certo, o tempo vai passando, as dores vão se amenizando, o meu pai casou-se novamente e então somos hoje em seis irmãos, minha família é muito unida, eu já falei, uma família muito alegre. Depois eu tive uma juventude boa, o tempo que eu trabalhei no SENAC, esse tempo todo foi muito bom, tive muitas amizades e também durante esse tempo todo eu fiz música, fiz teatro, fiz uma série de coisas e tive bastante atividade até que depois casei aí a gente passa a ser dona de casa, aí as coisas se modificam um pouquinho. Infelizmente depois também, dez anos depois meu marido faleceu e a gente continua caminhando. O SENAC de uma certa forma tem sido até um remédio nessas horas ruins da vida, o trabalho tem sido muito bom, a compreensão das pessoas, a amizade, não só da família como dos colegas, isso ajuda muito, dá muita força. Então a gente se anima, depois do baque a gente volta a se animar e continua na luta. Eu acho que todo mundo tem, chega uma hora que claro, sonha em, não digo em parar de trabalhar, eu não sonho em parar porque eu não tenho um temperamento pra ficar parada, de modificar. Já trabalho há 35 anos e então, claro que mais um tempo a gente vai acabar tendo que mudar, deixando esse trabalho e buscando outras atividades, inclusive, uma coisa que eu gosto talvez pelo meu modo de ser, fazer um trabalho voluntário, tantas pessoas carentes, tantas crianças necessitadas. Enquanto Deus me der vida eu acho que vou ter sempre o que fazer, tem muita coisa pra ser feita, muita coisa.
P/1 - Está o.k., a gente agradece muito a sua colaboração, Marlene.
R - Muito obrigada, eu é que agradeço. Espero que o que eu pude falar ou o que eu tenha dito sirva de alguma forma, meu incentivo pra pessoas que estão começando, uma coisa boa são as pessoas gostarem do que faz e procurar sempre fazer as coisas da melhor maneira possível, fazer, dar o melhor de si, é muito bom, é muito gratificante, é uma coisa que deixa a gente com a alma bem tranquila, bem gostosa.
P/1 - Está o.k..
P/2 - Obrigado.
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