IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Edvaldo dos Santos. Eu nasci em 13 de setembro de 1955, na cidade de Casa Branca, no estado de São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu era funcionário da equipe de segurança que prestava serviço na Fepasa. Isso foi 1977, eu estava de plantão na portaria e um engenheiro passou lá e me convidou para o levar até a refinaria para fazer um concurso. Eu tinha um carro na época. Eu vim com ele até aqui. Ele tinha um amigo que trabalhava na Petrobras. Na portaria, enquanto ele entrou para conversar com o amigo, eu fiquei conversando com os vigias, e eles falaram: “Olha, está abrindo inscrição para trabalhar na refinaria. Por que é que você não faz.?” Aí eu fui lá, fiz a ficha de inscrição. Nós éramos em 1.687 candidatos para 34 vagas. Eu passei em 17º no concurso e fui admitido no dia 22 de maio de 1978, no cargo de operador de transferência e estocagem no Seteg.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO - REGIONAL CAMPINAS
Sou filiado ao sindicato desde 1980. Ocupei cargos, fui diretor em três gestões do sindicato, segundo presidente da ABCP - Associação Beneficente dos Petroleiros, no segundo mandato como diretor do que era DPAR - Departamento dos Aposentados de Campinas, hoje é Daesp. Sou vice-coordenador do Daesp – Departamento de Aposentados do Estado de São Paulo.
FAMÍLIA
Quando eu fui demitido em 1983, a minha vida mudou praticamente em tudo: no setor pessoal, financeiro, familiar. Minha esposa estava grávida. Minha filha nasceu no dia 15 de dezembro de 1983. E a gente tinha aquela vida com a empresa, apartamento financiado, assistência médica. De repente acabou tudo.
TRABALHO
Foi uma luta para recuperar a vida. Mas acabou dando certo: nós montamos um bar aqui na cidade, que era político na época, o Resistência. Era eu, o Deméter, o Pedrinho. Deu para dar uma levantada financeiramente e para abafar um pouco aquela mágoa de ter perdido o emprego na Petrobras.
RELAÇÕES COM O GOVERNO
Depois de 1985,...
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IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Edvaldo dos Santos. Eu nasci em 13 de setembro de 1955, na cidade de Casa Branca, no estado de São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu era funcionário da equipe de segurança que prestava serviço na Fepasa. Isso foi 1977, eu estava de plantão na portaria e um engenheiro passou lá e me convidou para o levar até a refinaria para fazer um concurso. Eu tinha um carro na época. Eu vim com ele até aqui. Ele tinha um amigo que trabalhava na Petrobras. Na portaria, enquanto ele entrou para conversar com o amigo, eu fiquei conversando com os vigias, e eles falaram: “Olha, está abrindo inscrição para trabalhar na refinaria. Por que é que você não faz.?” Aí eu fui lá, fiz a ficha de inscrição. Nós éramos em 1.687 candidatos para 34 vagas. Eu passei em 17º no concurso e fui admitido no dia 22 de maio de 1978, no cargo de operador de transferência e estocagem no Seteg.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO - REGIONAL CAMPINAS
Sou filiado ao sindicato desde 1980. Ocupei cargos, fui diretor em três gestões do sindicato, segundo presidente da ABCP - Associação Beneficente dos Petroleiros, no segundo mandato como diretor do que era DPAR - Departamento dos Aposentados de Campinas, hoje é Daesp. Sou vice-coordenador do Daesp – Departamento de Aposentados do Estado de São Paulo.
FAMÍLIA
Quando eu fui demitido em 1983, a minha vida mudou praticamente em tudo: no setor pessoal, financeiro, familiar. Minha esposa estava grávida. Minha filha nasceu no dia 15 de dezembro de 1983. E a gente tinha aquela vida com a empresa, apartamento financiado, assistência médica. De repente acabou tudo.
TRABALHO
Foi uma luta para recuperar a vida. Mas acabou dando certo: nós montamos um bar aqui na cidade, que era político na época, o Resistência. Era eu, o Deméter, o Pedrinho. Deu para dar uma levantada financeiramente e para abafar um pouco aquela mágoa de ter perdido o emprego na Petrobras.
RELAÇÕES COM O GOVERNO
Depois de 1985, aqueles 14 foram indenizados por não terem voltado. Surgiu um dinheiro, que veio do Governo, até hoje a gente não sabe como. Para você ter uma idéia, naquela época eu recebi 258 milhões de cruzeiros. Eu comprei um posto de gasolina em Piracicaba, um Monza do ano e ainda sobrou dinheiro. O Zico recebeu mais de 500 milhões de cruzeiros. Jacó recebeu mais de 1 bilhão de cruzeiros. Foi um “cala-boca”, sabe, para a gente ficar quieto
APOSENTADORIA
Eu não sou aposentado, sou anistiado político, porque fui demitido em 1983. Fui punido politicamente. Nós fomos enquadrados no artigo AI-5.
GREVE DE 1983
Eu fui uns dos primeiros a ser demitidos na greve de 1983. Nós estávamos no ginásio do Taquaral quando chegou o meu telegrama. Eu falei com o Jacó e ele falou: “Deixa, Edvaldo, que nós vamos reverter isso.” Não conseguimos reverter. Em 1985, o pessoal voltou naquele acordo que foi feito com a Nova República. Agora os 14, o antigo AI-5 não permitiu, taxava como subversivo. Em 1983, nós estávamos todos no ginásio do Taquaral, mais ou menos 600 funcionários e ia ter uma assembléia. A gente torcendo para que não acabasse a greve. A gente sabia que se acabasse, estávamos demitidos. Aí, de repente, o Jacó colocou em votação e passou o término da greve. O Jacó falou: “Nós vamos sair em passeata e vamos para a refinaria.” Você imagina a emoção que foi aqueles 600 saindo e ficando só os 14. Todo o povão descendo, indo trabalhar e você não poder voltar. Aí descemos ali no centro da quadra, nos abraçamos, choramos prá caramba. E foi cada um para a sua casa.
RELAÇÕES COM O GOVERNO
Em 1989, nós ganhamos na Justiça o direito de voltar retroativo a 1988. Aí, dia 7 de janeiro de 1989, eu voltei. Eu fui admitido novamente.
Quando chegou a Lei da Anistia da Constituinte, em 1991, eu me enquadrava nela. Em 1992, ela foi regulamentada e, em 1995 fui anistiado e passei a pertencer à União Federal.
Agora, depois de três anos de luta, conseguimos essa nova lei da anistia. Isso me dá o direito a corrigir o meu cargo, o salário e a promoção dentro da empresa como se estivesse na ativa. Se eu quiser, posso voltar a trabalhar em um cargo bem superior, porque houve a progressão desde a época da punição. Mas eu, felizmente, não quero voltar a trabalhar.
GREVE DE 1983
A greve de 1983 foi uma greve política. A gente estava muito bem mobilizado na refinaria. Foi um movimento muito grande, muito forte em níveis nacional e mundial. Se não foi a primeira vez, foi umas das poucas vezes em que se conseguiu parar uma refinaria de petróleo no mundo. Imagine o perigo que é parar uma refinaria de petróleo. Nós paramos aqui direitinho, não teve problema nenhum, foi tudo dentro da normalidade. E a união do pessoal, de todo mundo. Até depois da greve, quando fomos mandados embora.
A greve foi para não deixar quebrar o monopólio do petróleo na época. Até o ABC puxou a greve dos metalúrgicos, através do Lula, greve solidária. E nós conseguimos segurar até hoje o monopólio.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO - REGIONAL CAMPINAS
Meus pais moravam ali na Rua Lusitânia, no centro de Campinas. Eles tinham um pensionato de estudantes, um casarão antigo, com um porão embaixo. E nós fizemos uma cooperativa ali para os demitidos. O sindicato fez uma compra de mantimentos: sacaria de arroz, fubá, óleo, sabão. E nós ficávamos lá no porão, enchendo saquinho. Aquilo foi uma humilhação para o pessoal na época, estar sujeito àquilo. No fim, foi até bonito aquele ato nosso.
TRABALHO
O que mais me marcou nesses anos de trabalho foi a demissão, de repente, você se via demitido e sem condição nenhuma de voltar.
E nós não tínhamos acesso a nenhuma outra empresa fora também. Eu fui fazer uma entrevista na Singer. Eu e mais dois operadores. O vigilante abriu o portão, nós entramos, demos as carteiras na portaria. Aí, chegaram dois vigilantes fortes e um cidadão do Departamento Pessoal com as carteiras na mão. Este último falou: “Vocês, nos acompanhem e não reajam.” O vigilante nos colocou prá fora e trancou o portão. Lá de dentro o cidadão falou: “Vocês nunca mais voltem aqui, porque vocês são subversivos.” Daí para frente, não procurei mais emprego, me virei com outras coisas até chegar o meu retorno.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO
O Setec, setor de transferência e estocagem, é aonde chegam os produtos finais já destilados para serem distribuídos. Chega também o petróleo bruto numa área, e a gente injeta nas torres. Faz o controle do petróleo com análise, drenagem. Depois, ele sai e vai para outra área, que também pertence a este setor, aonde vão a gasolina, o óleo combustível, o óleo diesel e QAV e o QI - que são querosenes de aviação e de iluminação. A gente bombeia para as companhias distribuidoras compram os produtos destilados da refinaria.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Depois que eu voltei, em 1989, teve um fato interessante. eu estava trabalhando no setor da CO1 que é o setor que recebe o petróleo. Eu entrava às 4h e saía à meia-noite. Aí, quando foi à meia-noite, o operador que ia me render não veio trabalhar. O chefe do grupo que entrou pediu para eu dobrar. Estava chovendo prá caramba.
Naquela época a Petrobras tinha admitido algumas meninas para alguns setores. E tinha o setor de separador de água e óleo, que é um dos setores mais sujos da refinaria. Quando foram duas horas da manhã, tocou o telefone, eu atendi, uma voz de mulher, falando, aí eu xinguei porque achei que eram os rapazes que estavam brincando comigo. Daí, 10 minutos ligou de novo. A primeira palavra que ela falou, eu xinguei de novo, desliguei o telefone. Daqui a pouco chegou toda a chefia da Petrobras, o chefe dela, o meu chefe. “Pô, Frangão, você xingou a menina do separador.” “É impossível, zero hora, chovendo, na área mais suja do petróleo tem uma moça trabalhando?”
O meu apelido era Frangão aqui na refinaria, porque eu jogava no gol e tinha na camisa aquele desenho do Pelezinho, o goleiro magrelo com cabelo espetado. Eu sou mais conhecido como Frangão até hoje.
MEMÓRIA PETROBRAS
Essa iniciativa conjunta do sindicato e da Petrobras de fazer o projeto “A Memória dos Trabalhadores” é de suma importância não só para a gente que viveu a história, mas para a própria empresa e também para o país. Vai servir para sempre como a memória da história de uma das maiores empresas do Brasil.
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