Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Larissa Rangel
Depoimento Edilson de Almeida Pinto
Local Macaé, 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB412
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
P – Para começar qual o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Edilson de Almeida Pinto. Campos dos Goitacases, e 30 de setembro de 1962.
P – E qual a sua formação?
R – A minha formação? Para a empresa eu sou técnico químico. Mas hoje em dia pós-graduado em Química Ambiental, pela UERJ.
P – E como e quando você ingressou na Petrobrás?
R – Eu ingressei em 1983, em outubro de 1983, de um concurso público realizado em 1982 para analista estagiário.
P – E como foi a emoção de ter passado? Como é que foi esse dia?
R – A emoção foi grande, né, de ter passado para a Petrobrás, mas depois levou um ano para ser, levei um ano para ser chamado na realidade. Então essa emoção foi criando uma expectativa de não ser chamado, quando é que seria. Mas em outubro de 83 fui chamado para trabalhar aqui na Bacia de Campos.
P – Você lembra desse dia, desse primeiro dia?
R – Lembro, lembro desse primeiro dia. Conhecer o laboratório, conhecer o, quer dizer, assinar o contrato e no segundo momento conhecer o laboratório.
P – E qual era a sua atividade?
R – Analista estagiário. Trabalhava na área de Laboratório. Laboratório hoje chamado LF, é Laboratório de Fluidos. Mas antes era o Laboratório, né?
P – E essa função ainda existe?
R – Ainda existe. Ela foi mudando, e é a função que eu tenho hoje. Só que eu pertenço a outro setor.
P – E você já trabalhou embarcado?
R – Trabalhei por 19 anos. Entrei na empresa, levei três meses em estágios na REDUC, fazendo estágio nessa, dois meses na realidade, fazendo estágio na REDUC. Em laboratório na REDUC, Laboratório de Águas, e depois fui o, um dos primeiros a embarcar em...
Continuar leituraProjeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Larissa Rangel
Depoimento Edilson de Almeida Pinto
Local Macaé, 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB412
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
P – Para começar qual o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Edilson de Almeida Pinto. Campos dos Goitacases, e 30 de setembro de 1962.
P – E qual a sua formação?
R – A minha formação? Para a empresa eu sou técnico químico. Mas hoje em dia pós-graduado em Química Ambiental, pela UERJ.
P – E como e quando você ingressou na Petrobrás?
R – Eu ingressei em 1983, em outubro de 1983, de um concurso público realizado em 1982 para analista estagiário.
P – E como foi a emoção de ter passado? Como é que foi esse dia?
R – A emoção foi grande, né, de ter passado para a Petrobrás, mas depois levou um ano para ser, levei um ano para ser chamado na realidade. Então essa emoção foi criando uma expectativa de não ser chamado, quando é que seria. Mas em outubro de 83 fui chamado para trabalhar aqui na Bacia de Campos.
P – Você lembra desse dia, desse primeiro dia?
R – Lembro, lembro desse primeiro dia. Conhecer o laboratório, conhecer o, quer dizer, assinar o contrato e no segundo momento conhecer o laboratório.
P – E qual era a sua atividade?
R – Analista estagiário. Trabalhava na área de Laboratório. Laboratório hoje chamado LF, é Laboratório de Fluidos. Mas antes era o Laboratório, né?
P – E essa função ainda existe?
R – Ainda existe. Ela foi mudando, e é a função que eu tenho hoje. Só que eu pertenço a outro setor.
P – E você já trabalhou embarcado?
R – Trabalhei por 19 anos. Entrei na empresa, levei três meses em estágios na REDUC, fazendo estágio nessa, dois meses na realidade, fazendo estágio na REDUC. Em laboratório na REDUC, Laboratório de Águas, e depois fui o, um dos primeiros a embarcar em Laboratório de Plataforma. Laboratório de Análise em Plataforma, análise de água, gás e óleo, petróleo.
P – E como é que foi essa experiência de trabalhar embarcado?
R – Muito interessante, né? O trabalho embarcado é um trabalho muito interessante pela sua aventura. Trabalhar embarcado é uma aventura. É muito bonito, a paisagem, porém é uma coisa que requer muito do ser humano. É um local que requer muito do ser humano, porque você está longe da família, você respira trabalho o tempo todo. Então você vê as mesmas pessoas durante 14 dias. Então é um desafio para quem trabalha lá. Mas é interessante a forma de trabalho.
P – Você sentiu muita saudade da família?
R – Não, eu não vejo como sentir saudade da família, eu sempre fui pelo lado de que se eu não estivesse lá outro estaria no meu lugar. E desempenhando aquele papel. Então eu procurava sempre mostrar à família a necessidade de eu ter o meu trabalho e de me sentir bem no meu trabalho. Eu nunca vi plataforma como local de reclusão. Onde eu estivesse pagando uma pena, e sim um local aonde eu lutei para estar. Então não via como problema, e sim como uma solução para mim do que eu almejava na época.
P – E como é que era o convívio entre as pessoas que vinham de várias regiões do país?
R – Sim. É aí que a gente vê onde o Brasil, como o Brasil é tão grande e diversificado. São pessoas de diversas naturezas, são pessoas de diversas regiões, são sotaques diferente, são manias, são jeitos. Então isso tudo misturado ali formando a família Petrobrás. Interessante é que todos ali tem objetivo comum: fazer a empresa crescer. Então é interessante como esse relacionamento, o relacionamento profissional, e querendo ou não, as relações interpessoais lá. Que têm que acontecer porque a gente não trabalha o tempo todo. Apesar de estar dentro de um local de trabalho, mas a gente tem um período de folga, né? Aonde era, a gente buscava conforto, o conforto de um período de folga lá dentro da empresa. Se distraindo, jogando bola, jogando baralho, um brincando com o outro. Então tinha todas essas...
P – E foram quantos anos você trabalhando embarcado?
R – Apenas 19.
P – Apenas 19. E o que mudou de quando você entrou e até após esses 19 anos, o que é que mudou?
R – Bem, eu cresci junto com a empresa. Eu me vejo hoje assim. Eu entrei na empresa como um técnico químico. Passei 19 anos como técnico químico, técnico químico de petróleo, trabalhando embarcado. Desses 19 anos em torno de seis anos como analista, analista de, analista químico. Depois eu fiz um concurso interno/externo, passei para técnico químico de petróleo em 89. E de 89 a 2001, eu fiquei trabalhando, embarcando como técnico químico de petróleo. Até 2001 praticamente, 2001, 2002. Ainda fazia alguns embarques. A partir de 2001 eu comecei a fazer embarques esporádicos, porque eu fui trabalhar no Rio de Janeiro, aí já como acompanhamento de sondas, utilizando a experiência anterior que eu tinha como executor. Eu trabalhava no campo para acompanhar a execução. Planejar e acompanhar a execução. Então eu fui trabalhar num posto avançado do Serviço de Fluidos, dentro do Ativo de Roncador. Aonde trabalhei no período de 2001 até o período de dezembro de 2006. E dezembro de 2006, quando eu pleiteei a minha volta à Macaé, eu fui chamado ao cargo de supervisão, ao cargo de supervisor, no caso. Então eu passei de 2006, de janeiro de 2007 ao cargo de supervisor. Supervisor da área de Completação Estimulação e Contenção de Areia, dentro do Serviço de Fluidos. E hoje, com a mudança interna, continuo supervisor, ainda não nomeado, mas estou supervisor, no caso, na parte de, quer dizer, supervisor de Operações com Fluidos 2. Que faz parte da minha área a UNRIO, a UN Espírito Santo, a UNBA, e a UNSEAL, a área de atuação Operações com Fluidos 2.
P – E além dessa mudança na área de técnico, de carreira, o que é que mudou na estrutura física em termos de equipamentos, de comunicação?
R – Na estrutura física da companhia...
P – Isso.
R – ...na parte da companhia houve uma evolução muito grande. Interessante que quando eu entrei a gente só faltava a comunicação ser por fumaça, né? (riso) E a gente tinha, o interessante é que era via rádio, até a comunicação com a casa da gente era via rádio. Isso tinha algumas coisas engraçadas, que nem sempre as pessoas conseguem imaginar o que é falar via rádio. Toda a Bacia de Campos, na época não era muito grande, mas todo mundo que estivesse conectado naquele canal ouvia o que você estava falando. A pessoa de casa falava via telefone, mas as pessoas, a gente na plataforma ouvia porque era via rádio. Então era interessante isso. Os boletins, né, a gente fazia, escrevia à mão, alguns boletins, os resultados eram passados via rádio para a antiga Base 60. Nem sei como é que está hoje, acho que existe ainda a Base 60. E depois veio a época do fax, a gente já tinha telefone, o fax, mas era restrito. Não era aberto a todos. Depois começou a evolução, a época da computação. Então foi um boom que hoje a gente tem aí até acionando as coisas e acompanhando operações remotamente. Isso foi um crescimento muito grande na empresa. Não só esse, mas também o crescimento da produção. Isso foi outra coisa que, de 83, aonde acho que produzia em torno de 500 mil barris, hoje a dois milhões, 300 a 500 mil barris, hoje a dois milhões de barris. Então é uma coisa fabulosa em termos de Petrobrás.
P – E, falando de produção, para você qual foi a fase mais, que mais marcou na Bacia de Campos? E por quê?
R – É, eu acho que a fase que mais marcou na Bacia de Campos foram os grandes acidentes. Isso, por mais que a cada momento que aconteceram os acidentes a gente, a segurança ali era o máximo que a gente tinha em termos de segurança, a gente começou a, a gente enxerga a cada acidente que a gente pode fazer mais. Que a gente pode perceber as coisas de modo diferente. Então eu acho que as, aonde marcou bastante foram os acidentes. Eu acho que aonde mais marcou foi o da P –-36. Onde a gente, nos outros a gente não tinha a oportunidade de ter a imagem. Eu acho que o que mais marcou foi o da P –-36, que a gente teve a oportunidade da imagem.
P – E como é que foi essa evolução dentro das plataformas na questão da segurança? Como foi essa evolução em termos de consciência, de trabalho mais específico com, na área de Segurança?
R – A área de Segurança, o interessante é que eu acho que não só dentro da Petrobrás, mas na, o requisito segurança, quer dizer, o tripé: saúde, meio-ambiente e segurança, né? Isso é recente, não é tão antigo assim. Mas dentro da Petrobrás a gente sempre primou por fazer as coisas em segurança. A gente sempre teve, muitas vezes a gente ouve hoje as pessoas falarem assim: "Não, mas antigamente..." Não, antigamente nós não éramos irresponsáveis, antigamente nós tínhamos uma forma de encarar como era o serviço e o que era importante naquele momento. Então a gente tinha o requisito segurança. Tanto que a evolução da segurança, a segurança num determinado momento era uma pessoa. A segurança dentro da Petrobrás era uma pessoa que fazia a segurança de todos. E hoje todos fazem a segurança de todos. Nós temos a figura, o profissional de segurança dentro de uma plataforma, mas não só ele está responsável pela segurança. A percepção de segurança tem que ser de todos nós.
P – Essa consciência ela mudou na história da...
R – Sim, ela conseguiu, ela conseguiu implementar não só essa, né, que eu acho muito difícil. Você vem de um época, querendo ou não, 25 anos é uma vida inteira, ela conseguir fazer com que a gente sempre esteja mudando. E a gente sempre está mudando de forma positiva, ou seja, evoluindo. Isso ela faz muito e faz muito bem. Sempre quando a gente está acostumando com um nome, com uma estrutura, quando você começa a fazer aquilo automaticamente, né? O que a gente chama muitas vezes preferência psicológica, que você faz automaticamente, ela muda. Isso faz com que você reveja conceitos, você reveja a forma com que você está trabalhando, como você está atuando. Isso é ruim? Há um tempo, durante muito tempo eu achava ruim: "Poxa, agora que eu me acostumei, estou na zona de conforto muda tudo? Tem que sair disso?" Mas a gente vê que isso mantém uma empresa viva. Tanto que as pessoas chegam aonde estão chegando, com 25 anos de serviço, e ainda continuam mudando de função, ainda continuam encarando os desafios, partindo para novas conquistas, novos desafios.
P – Falando em desafio, qual foi seu maior desafio dentro da empresa?
R – Meu maior desafio foi sair do mar, né? O maior desafio foi sair do mar. Porque você passa 19, 20 anos, 21 anos, no mar, trabalhando de uma forma, e você vai trabalhar de outra? E uma coisa que ainda me incomoda um pouco, telefone, papel. E de repente você se vê às voltas com telefone, com várias horas falando ao telefone, papel. Uma burocracia necessária. Então esse foi um grande desafio.
P – E sua maior dificuldade?
R – (riso) Não, eu acho que tudo é difícil quando a gente quer. Eu acho que não, eu acho que não tem. Eu acho que isso eu aprendi, foi uma lição que eu aprendi aqui dentro, as dificuldades a gente, planejando, a gente consegue transpor e vencê-las.
P – Em que momento o senhor percebeu que a Bacia de Campos deu certo? Nesses 25 anos, que não é pouca...
R – Acho que desde o momento que eu entrei. Desde o meu primeiro embarque eu vi que a Bacia de Campos tinha dado certo.
P – E como você vê a Bacia no futuro?
R – Olha, quando eu entrei na empresa, né, há 25 anos atrás, a Bacia de Campos era para no máximo 20 anos. Nós já estamos com 30. Eu acho que eu vejo com muito mais do que 30. Mais 30, né?
P – Você poderia me contar alguma história que você vivenciou que foi engraçada, que foi marcante? Pode ser uma história dentro da plataforma, ou, enfim.
R – Uma história?
P – Que foi marcante, que foi engraçada, entre amigos, um fato interessante.
R – Não, tiveram muitas, né? A gente, quer dizer, tiveram muitas, mas uma que era engraçada é que a gente tinha um colega que ele para não perder a hora, para não perder a hora ele colocava aquele despertador grande, que ficava tic-tac, tic-tac, o tempo todo dentro do quarto. E aí eu entrava no quarto: "Poxa, esse tic-tac aqui de novo, a gente tem que dar um jeito de acabar com esse tic-tac aqui dentro." Quarto pequeno, quatro pessoas. Ele botava aquele tic-tac e você dormindo, para acordar sete horas da manhã para trabalhar. E aquilo ficava a noite toda. Então eu combinei com os outros três para a gente adiantar o relógio dele em duas horas, né? E deixar despertar normal. E a gente ficaria... Aí cinco horas da manhã o despertador dele tocou. Antes eu tinha colocado para despertar a meia-noite. Ele acordou. Foi lá: "Poxa, o que é que houve com o relógio? Será que eu botei errado?" E a gente deitado. Quando ele deitou, fechou a cortina de novo, aí eu fui lá coloquei - que a gente já tinha preparado isso - fui lá e coloquei para despertar duas horas antes. Cinco horas da manhã ele acordou correndo. Aí foi lá, botou o macacão, escovou o dente e desceu para tomar café. Chegou lá, encontrou a porta do refeitório fechada. Porque abria cinco e meia, seis horas a porta do refeitório. Bateu no refeitório pensando que tinha perdido o horário. E um cara abriu a porta do refeitório: "Não, você ficou doido? Ainda nem abriu o refeitório." Ele: "São que horas?" O cara falou: "Cinco e pouco da manhã." "Que é isso, não é possível. Alguém então me sacaneou." Aí ele voltou para o quarto, deitou. E, de manhã cedo, a hora que o relógio dele despertou de novo, ele botou para as sete horas. A gente acordou. Eu estava na, aí fui escovar dente, ele do meu lado, e ele tinha, ele ficava de briga, né? Não gostava muito de colega de quarto. Aí ele vira para mim, fala: "Ó, Edilson, aquele cara do quarto eu não estou agüentando mais. A gente vai chegar a vias de fato, a gente vai se aborrecer feio. A gente vai acabar brigando aqui. Porque o cara me sacaneia demais, você viu o que ele fez com o meu relógio?" Eu falei assim: "Eu ia até te falar, né? Aquele relógio está incomodando, pô. Toca a noite toda. Hoje cinco horas da manhã tocou, pra que? O que é que você foi fazer cinco horas?" "Não, rapaz, foi o cara que colocou, você não viu?" E aí ele contando aborrecido, e eu tentando entrar no papo, mas com cara de riso o tempo todo. E isso ele ficou achando que foi o cara vários anos. Depois de 10 anos que ele encontrou comigo que eu fui contar a ele que quem fazia toda a sacanagem com ele, quem sumiu com o relógio dele (riso) depois, tinha sido eu e não o cara que tinha feito. Então foi o fato que, interessante que aconteceu lá dentro. E isso aconteciam várias coisas lá.
P – Dezoito anos é muita história, né?
R – É muita história.
P – Mas tinha alguma plataforma que você tinha mais carinho, que você gostaria sempre de estar?
R – Eu trabalhei durante seis anos diretos em Namorado 1. A Plataforma de Namorado 1. Foi uma plataforma que marcou bastante, que foi o início da minha carreira como analista. Trabalhava em laboratório, revezava com um colega que se tornou amigo. Gago, que era interessante também, que ele ligava para mim, né, ligava para mim direto. E antes de embarcar ele ligava para mim e falava direto: "Olha, alô, Edilson, como é que você está? Tudo bem? Aqui é o Junior que está falando." "E você, como é que está aí, está legal?" Aí eu ficava quieto, mudo, sem falar nada. "Não, rapaz, eu vou embarcar amanhã. Olha..." Eu ficava quieto. Ele: "Alô, alô, Edilson, você que está aí, é você?" "É Edilson sim." Aí eu perguntava: "Quem está falando aí?" Ele: "É o Junior." Eu falei: "Ih, de jeito nenhum, o Junior é gago." Aí ele: "Ca-ca-caramba, pô. Pre-precisava lembrar?" Na hora ele ficava gago. (riso) E aí o papo já ficava difícil, né? E nós trabalhamos revezando durante seis anos. E teve uma vez um fato interessante, foi que ele, gago, um engenheiro que era o fiscal nosso era gago também, né? E o engenheiro quis dar um estouro na gente. Quis dar uma bronca na gente. E os dois começaram a discutir. E eu fiquei quieto. Fiquei quieto esperando. Quer dizer, e um gagueja de um lado, gagueja do outro, e falando. Aí me perguntaram: "Vo-você, não vai falar nada não?" Eu: "Não, eu ainda estou juntando as sílabas aí, não tem jeito de eu conversar com vocês. (riso) Não vou entrar nesse papo, o que vocês resolverem para mim está ótimo." Então aí acabou a discussão, acabou a bronca, acabou tudo. Porque ver dois gagos conversando é...
P – E você sofreu algum trote na primeira vez que foi embarcado?
R – Não. Eu fui um dos primeiros embarcando na plataforma, fui montar o laboratório, depois trabalhar no laboratório, então... E o lugar que davam trote era do lado do laboratório. Então...
P – E como é que era esse trote?
R – Tinha o teste do pulmão, que você soprava como se fosse um teste de pulmão mesmo, e olhando para o manômetro. Só que na reta do seu olho tinham furinhos no tubo, e ali cheio de talco ali dentro. Você soprava, aquele talco ia no seu olho, né, ainda te davam um pano com graxa. Aí você ia limpar o rosto ainda passava graxa no rosto. Banhos. Banhos de água, água salgada. Tinha também, tinham várias coisas que...
P – E como é que vocês recebiam os novos companheiros? Você com 18 anos de plataforma, como é que era essa recepção?
R – Ah, essa recepção era dessa forma. Sempre com trote, com, a gente participava também muito do treinamento desse pessoal. Mostrando como é que era, como é que era a postura. A quem devia obediência. As coisas que deveriam fazer. Então era uma integração excelente entre, quer dizer, a diferença não era muito grande. Praticamente todo ano entrava gente na Petrobrás. Até 87. Acho que até 87, 89.
P – E a presença feminina?
R – A presença feminina foi gratificante, né? (riso) A partir de um certo período começou a presença feminina. Antes a gente só tinha, não tinha profissionais da Petrobrás. Eram só as professoras do Projeto Acesso, era nutricionistas de algumas companhias, hotelarias. A gente não tinha a presença feminina a bordo. Mas eu acho que foi uma presença para melhorar o ambiente, foi muito boa.
P – E o que é ser petroleiro?
R – O que é ser petroleiro eu acho que é ser brasileiro, né? Eu acho que a história Brasil e Petrobrás se confunde muito. São desafios, país muito grande, um país muito diversificado. A Petrobrás atua praticamente em todos os lugares. A Petrobrás vai a todos os lugares. Ela durante muitos anos foi só ela que ia a todos os lugares, para, tanto para a prospecção como também para a distribuição. Então ela se confunde bastante. Para mim Petrobrás é Brasil.
P – E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, contribuindo para a Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos?
R – Acho interessante, acho interessante a história, né, a história é interessante. Você ter conhecimento do que aconteceu, como aconteceu, e por diversas óticas. Porque eu até falo muito que eu não acredito em história. Porque a maioria dos livros de história, a história que tem é uma coisa, é um retrato do que foi visto por uma pessoa. E os outros que estavam ali, será que viram da mesma forma? Então eu acho muito interessante porque o que eu vejo de uma forma, outros vêem completamente diferente. Então o ser humano tem essa característica de nunca ser a mesma pessoa e nunca ser sob uma única ótica. Então eu acho interessante colher esse, o máximo de depoimentos possíveis para ter uma imagem, uma imagem real da empresa.
P – Está bem, obrigada.
R – De nada.
(FIM DA ENTREVISTA)
Recolher