Projeto: VLI – Estação de Memória: Porto & Pesca
Entrevista de Rogério Marcos Ferreira Rocha
Entrevistado por Ane Alves e Luiza Gallo
Santos, 03/09/ 2025
Entrevista nº: VLI_HV007
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Arielle Paro
Revisada por Ane Alves
P/1 - Bom dia Rocha! Muito obrigada por ceder o seu tempo aqui pra gente um pouquinho, pra conversar com a gente. E pra iniciar, você pode, por favor, se apresentar, falando o seu nome completo, data de nascimento e a cidade de nascimento.
R - Meu nome é Rogério Marcos Ferreira Rocha, nasci em 3 de janeiro de 1960, aqui na cidade de Santos, litoral de São Paulo.
P/1 - E eu gostaria de saber um pouquinho da origem da sua família, sua família é daqui de Santos também?
R - Sim, minha família é de Santos, tanto meu pai que já é falecido, minha mãe também, mas somos todos aqui nascidos aqui na cidade de Santos.
P/1 - Seus pais se conheceram aqui então na cidade mesmo, você sabe como seus pais se conheceram?
R - Sim, a gente tem… eles acabaram contando como se conheceram. Eles se conheceram num baile, num clube aqui da cidade, que hoje já não existe mais esse clube, mas eles se conheceram ali, namoraram, noivaram. E a festa de casamento foi nesse mesmo clube, que é o Clube Atlético Santista.
P/1 - E o que seus pais faziam?
R - Meu pai sempre foi comerciante e minha mãe é dona de casa, do lar.
P/1 - Você tem mais irmãos?
R - Tenho mais uma irmã, que é um ano mais nova que eu e hoje mora na capital.
P/1 - E o que você lembra de Santos, da sua infância? Quando você pensa no Rocha pequeno, qual a primeira imagem que vem?
R - A gente comparando nos dias atuais, Santos era muito mais nostálgica. Eu sou da época dos bondes aqui, nós não tínhamos o trânsito que a gente tem hoje, a corrida, o corre-corre do dia-a-dia. Eu percebo que naquela ocasião era gostoso de andar de bonde. Então, a gente pegava o bonde, passeava pela cidade toda, principalmente na orla. E hoje a...
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Entrevista de Rogério Marcos Ferreira Rocha
Entrevistado por Ane Alves e Luiza Gallo
Santos, 03/09/ 2025
Entrevista nº: VLI_HV007
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Arielle Paro
Revisada por Ane Alves
P/1 - Bom dia Rocha! Muito obrigada por ceder o seu tempo aqui pra gente um pouquinho, pra conversar com a gente. E pra iniciar, você pode, por favor, se apresentar, falando o seu nome completo, data de nascimento e a cidade de nascimento.
R - Meu nome é Rogério Marcos Ferreira Rocha, nasci em 3 de janeiro de 1960, aqui na cidade de Santos, litoral de São Paulo.
P/1 - E eu gostaria de saber um pouquinho da origem da sua família, sua família é daqui de Santos também?
R - Sim, minha família é de Santos, tanto meu pai que já é falecido, minha mãe também, mas somos todos aqui nascidos aqui na cidade de Santos.
P/1 - Seus pais se conheceram aqui então na cidade mesmo, você sabe como seus pais se conheceram?
R - Sim, a gente tem… eles acabaram contando como se conheceram. Eles se conheceram num baile, num clube aqui da cidade, que hoje já não existe mais esse clube, mas eles se conheceram ali, namoraram, noivaram. E a festa de casamento foi nesse mesmo clube, que é o Clube Atlético Santista.
P/1 - E o que seus pais faziam?
R - Meu pai sempre foi comerciante e minha mãe é dona de casa, do lar.
P/1 - Você tem mais irmãos?
R - Tenho mais uma irmã, que é um ano mais nova que eu e hoje mora na capital.
P/1 - E o que você lembra de Santos, da sua infância? Quando você pensa no Rocha pequeno, qual a primeira imagem que vem?
R - A gente comparando nos dias atuais, Santos era muito mais nostálgica. Eu sou da época dos bondes aqui, nós não tínhamos o trânsito que a gente tem hoje, a corrida, o corre-corre do dia-a-dia. Eu percebo que naquela ocasião era gostoso de andar de bonde. Então, a gente pegava o bonde, passeava pela cidade toda, principalmente na orla. E hoje a gente já não tem mais isso aqui na cidade. Então, isso é uma coisa que…. O bonde, ele marcou muito na minha vida, até porque eu era pequeno e adorava andar de bonde lá com o meu pai e com a minha família.
P/1 - E vocês iam a praia? O que vocês faziam pra se divertir aqui?
R - Então, Santos tem uma orla linda, sete quilômetros de praias e jardins maravilhosos, e sempre foi assim. Hoje, muito mais frequentada, a população aumentou bastante, mas naquela época era muito gostoso ir à praia. Era a, vamos dizer, a programação de todo santista, principalmente das crianças, que seus pais sempre levavam à praia. E foi aí também que eu comecei a me apaixonar pelo mar, querendo aprender os seus segredos, os seus mistérios e aí teve um começo com isso tudo.
P/1 - E a escola, onde você estudava?
R - Então, eu estudei numa escola aqui de Santos, uma escola tradicional, chamada Colégio do Carmo, aqui mesmo na ponta da praia. Uma escola que era desde a época dos padres, dos Carmelitas, depois passou a ser pela família Smolka, que veio da USP. E a minha vida foi ali, depois me formando ali no Colégio do Carmo ainda tive a oportunidade de cursar duas universidades, não foi fácil porque a vida como pescador não é fácil, mas eu tive essa oportunidade e aproveitei.
P/1 - Sua irmã estudava com você?
R - Estudava, sempre estudava.
P/1 - Como que vocês iam pra escola?
R - Então, nós íamos naquela ocasião, existia a tal de perua, então, a gente ia de perua. Era uma perua kombi, onde transportavam os alunos. Então, eles passavam em casa, nos pegavam, deixavam na escola e na hora da saída, o retorno também era feito com essa perua.
P/1 - E na rua, assim, você e a sua irmã, vocês tinham amigos na rua? Quais eram as brincadeiras que vocês faziam?
R - Então, a gente sempre teve as atividades na rua, como empinar pipa, jogar taco. Hoje é impossível, porque a movimentação de carros, de veículos, ela aumentou mais de 1.500 vezes. Eu lembro que a gente jogando taco, às vezes, um dava o grito, olha o carro! Então, a gente corria pra calçada, o carro passava, a gente continuava o jogo. Aí daí meia hora que vinha outro veículo. Hoje é impossível isso.
P/1 - A sua irmã participava das brincadeiras com você e seus amigos, ou era tipo irmã e irmão brincando assim?
R - Não, a minha irmã tinha as brincadeiras lá de menina, como brincar de casinha, de boneca, enfim. Em algumas brincadeiras, como empinar pipa, ela vinha junto, queria... empinar também, queria participar, mas eram mais brincadeiras específicas dos meninos e das meninas. A não ser o pega-pega, aí era misto. A gente participava com os demais amigos da rua.
P/1 - E como que era o Rocha na escola?
R - Eu sempre fui um aluno muito bem comportado, disciplinado. E meus pais nunca tiveram nenhum problema mais grave de serem chamados na escola por reclamação ou alguma coisa. Então, eu me considerei como um bom aluno.
P/1 - E nessa época de escola tem algum professor, professora ou mesmo algum aluno que era amigo que marcou você por algum motivo especial?
R - A maioria dos professores que fizeram parte da nossa caminhada, da nossa educação, a gente é muito grato. Embora hoje o professor, ele é uma classe desvalorizada, uma classe que deveria ser a classe mais valorizada, melhor paga, porque ele cuida da sua trajetória enquanto criança na sua educação. Mas, infelizmente… A maioria, todos os professores que passaram na minha vida, durante a minha formação, eles foram importantes e lembro de alguns.
P/1 - Ah, fala um pouquinho de algum que você lembra e qual o motivo especial para você lembrar desse professor.
R - Então, como a princípio o Colégio do Carmo era um colégio de padres, quando eu entrei, em 1966. Então, eu lembro do Frei Clóvis, Frei Nuno, depois as professoras Terezinha, Maria Inês, foram, sabe, professores que marcaram bem na nossa infância. Depois, na nova gestão, quando passou dos Carmelitas para a família Smolka, aí veio também outros professores, como o João, professor Buru, Dirceu Buru, que era do basquete, que também depois foi meu professor na universidade. E nós trabalhamos juntos depois no Colégio do Carmo também, que eu também depois acabei ingressando como professor lá no Colégio do Carmo, mas nunca deixei a atividade da pesca. Desde pequeno, aos quatro anos, como amador, eu ia pescar com meu pai, como esporte, como lazer. E depois… Hoje, há 20 anos, eu estou na pesca artesanal profissional.
P/1 - É isso que eu ia perguntar. Quando você era pequeno, você tinha algum sonho? Pensava, assim: quando crescer, eu quero ser...
R - Na verdade, eu nunca tive um sonho em querer ser alguma coisa. As coisas que me atraíam, as coisas que mais eu me interessava, eu corri atrás e consegui. Então, na pesca, hoje, além de ser uma liderança, eu conheço praticamente todas as artes de pesca. Desde a pesca do caranguejo no mangue, o marisco, conheço a parte de emalhe, conheço a parte também dos cercos flutuantes, o arrastão de praia que é a atividade hoje atual na qual eu exerço a atividade da pesca artesanal.
P/1 - Estava me contando que começou na pesca com 4 anos, como que foi isso, tão pequenininho?
R - Então, aos domingos, que era folga do trabalho do meu pai, a gente pegava o bonde lá no bairro do Boqueirão, que é um bairro tradicional aqui também de Santos, e ia até a ponta da praia de bonde. Lá desembarcava e meu pai levava uma linhazinha de mão e a gente pescava lá uns peixinhos. Foi assim que eu comecei a me apaixonar também pela pesca e o interesse pelas espécies, pela variedade que tinha naquela época de pescado. Então, comecei assim, aos quatro anos, indo com meu pai.
P/1 - Mas seu pai pescava também, mas por esporte, não era?
R - Isso, amador, como lazer, era uma atividade que a gente fazia como recreativa, de lazer, enfim. Para preencher a parte da manhã, do domingo, era assim que a gente fazia. Tinha esse contato direto com a natureza.
P/2 - E nessa época, ainda menino, ele te contava histórias do mar?
R - Na verdade, não. Meu pai não contava essas histórias. Ele sempre gostou do mar e sempre pescou de forma também amadora. Mas tudo se iniciou com o meu pai. Depois, aos oito anos, a minha mãe tomou esse lugar, até porque nas férias escolares meu pai trabalhava, mas minha mãe, como era dona de casa, nos levava a pescar. Minha irmã ia junto, então eu comecei pescando siri na ponte Edgar-Perdigão, que é a ponte conhecida aqui como Ponte dos Práticos, em Santos, a gente colocava a isca no puça, arriava e via até o siri entrar no puçá. As águas eram bem claras, então era bem bacana. Aos 13, comecei já a ir pescar sozinho, comecei a, aprendi a tecer rede. E assim foi indo minha carreira como pescador, com esse contato, essa intimidade começou a crescer com o mar. E até hoje está assim.
P/1 - Quem te ensinou a tecer rede?
R - Então, quem me ensinou foi… O Aquário de Santos, aqui, o Aquário Municipal que tem 70 anos. Não, perdão, 80 anos. Lá existia uma equipe de pescadores que pescavam para a manutenção do próprio aquário. Então, era uma equipe que era também composta de pescadores com arrasto de praia. Todos caiçara, era com canoa. Então, lá tinha um pescador chamado Seu Benedito, que a gente chamava de seu Dito. Foi ele, quando costurava, quando consertava a rede do aquário, bem em frente ao aquário de Santos, tinha um patamar onde eles faziam a manutenção das redes. E foi lá que eu olhando, olhando, quis aprender e ele carinhosamente começou a me ensinar, com muita paciência. E dali eu fui seguindo.
P/1 - Com 13 anos?
R - Com 13 anos de idade. Então eu já aprendi a tecer a rede com 13 anos. Aí, fui me especializando, porque comecei a fazer tarrafa. A tarrafa ela tem uma malha especial, uma malha diferenciada chamada crescente ou acréscimo e aí eu fui, também aprendi para poder fazer esse tipo de rede, que é uma rede circular, onde ela é lançada e depois quando você puxa ela fecha e o peixe vem no que a gente chama de rufo.
P/2 - E quais eram as diferenças de pescar com a sua mãe e com o seu pai?
R - Então, com o meu pai eu era bem menor, mas era gostoso porque a gente pescava peixe. E com a minha mãe eu já era um pouco maior, tinha 8, 9 anos e a gente pescava siri. Então, eram dois tipos de pesca diferentes.
P/2 - Você tinha uma preferida?
R - Não, eu gostava de todas. A que eles pudessem me levar eu estava junto.
P/1 - Você falou que aprendeu a fazer a rede lá na frente do aquário. Vocês moravam ali perto?
R - Sempre moramos. O aquário é próximo do Canal 6. E eu moro no Canal 6, uma rua depois.
P/1 - Aí você ia sozinho lá passear?
R - Ia, ia. Ia sempre ali. Eu sabia que eles estavam arrumando na parte da tarde, porque de manhã eles pescavam, então eu acabava indo lá. Ficava ali com eles, contava. E comecei no arrasto de praia junto com a equipe do aquário com 13, 14 anos. E eu puxava na mão, porque hoje a gente usa um cinto, que amarra no cabo principal pra poder puxar. Eu puxava na mão. Então, eu não queria saber. E ganhava sempre um peixe. Então, foi assim que aí eu fui me empolgando, me apaixonando, e tô até hoje.
P/1 - Eu fiquei curiosa com esse negócio da equipe do aquário, eles iam lá pescar peixes, não sei se é assim que chama, mas peixes ornamentais para colocar no aquário?
R - Exatamente, tanto para colocar em exposição, para preencher os tanques que têm de exposição, como para servir de alimento os peixes menores para o leão marinho que existia na época, que chamava Macaé. Então era bacana. E a alimentação era a parte principal e talvez mais atrativa da visitação, daqueles que iam visitar o aquário, que era às dez da manhã e às quinze horas, onde era feito esses dois períodos de alimentação do Macaé. Então, o aquário estava repleto para o pessoal ver a alimentação que era ali na frente do público. E ele dava um show. Então, sempre foi assim, foi bacana. Mas eles pescavam justamente para abastecer os tanques de exposição, assim como a alimentação do casal de lobo marinhos que tinha ali no aquário.
P/1 - Que legal! E aí, você já estava adolescente, jovem, eu queria saber um pouco da sua adolescência aqui em Santos, o que você fazia para se divertir?
R - Então, aqui, na época, eu digo que tudo começou aos 13 anos. Na época a gente não tinha computadores, não tinha celular, então a gente tinha que arrumar alguma outra atividade que preenchesse o nosso tempo, que eram atividades que eu sempre falo que eram muito saudáveis. Hoje a tecnologia tirou um pouco da liberdade da gente, do contato com a natureza, isso nos roubou. E eu não, então eu, além da pesca, eu comecei a ingressar, eu tinha que fazer um esporte, eu sempre também gostei de esporte. E comecei também aos 13 anos a praticar o Karatê, fiquei 35 anos, consegui ter alguns títulos, santista, paulista, universitário, brasileiro. Só não fui pro sul-americano por causa de um acidente. Mas no esporte também, dei aula durante 31 anos, sendo que 35 eu pratiquei como aluno e como professor.
P/1 - Mas você dava aula em escolas ou numa escola específica para esportes?
R - Então, na mesma escola onde eu comecei aos seis anos, onde eu me formei, eu comecei também a dar aula ali. Montei uma academia e essa academia funcionou durante 31 anos, dentro dessa escola. Tive 2.314 alunos, nesse período, formei alguns campeões, se bem que não era o intuito, o meu intuito era era formar pessoas úteis à sociedade, seguindo a filosofia oriental, os ensinamentos, que é o respeito, a dedicação, a paciência. Então, eu ensinei. Mas sempre tive junto com a pesca. O mesmo tempo que eu dava as minhas aulas, eu também ia pescar. Então, a pesca, ela sempre teve presente na minha vida. Em alguns momentos mais intensos, outros menos, mas sempre teve presente.
P1 - Mas fora a pesca, que começou com os 4 anos. Esse seu trabalho com esportes foi o seu primeiro trabalho ou antes disso você trabalhou com alguma coisa
R - Não, não. Sempre foi no esporte. No esporte.
P/1 - Você falou do acidente, você quer falar um pouco pra gente do que foi esse acidente?
R - O acidente é... Eu me formei também em técnico em química, No Colégio do Carmo. E sempre também fui apaixonado por química, enfim. E eu gostava de explosivo, construía, fazia bombas. Inclusive, até o processo todo de nitroglicerina eu tinha ele nas minhas mãos. Mas foi numa das bombas que eu fiz que ela acabou sendo detonada quando eu fiz o fechamento dela. E aí, levou a ponta dos meus dedos, o que também não me atrapalhou em nada no esporte. Segui minha vida normal, com um pouco mais de diferença nas mãos, mas foi isso. E esse acidente, que foi em 1979, me tirou também da seleção brasileira que ia disputar o Sul-Americano de Karatê. Então, foi o que mais impactou, o que eu mais senti foi isso, ser cortado da seleção, porque não tinha condições, todo costurado, a mão, enfim. Aí, foi quando eu fui desligado da seleção brasileira. Mas isso não impediu que eu continuasse a pesca da mesma forma. Mesmo com uma mão, eu ia lá, pescava, enfim. Então, é como eu falo, a pesca sempre teve presente na minha vida.
P/2 - Quais são os aprendizados do karatê que você leva pra vida?
R - Primeiro, aquilo que eu já vinha aprendendo na escola, que era o respeito aos professores. E a filosofia oriental, ela é muito rigorosa, quanto à parte disciplinar, principalmente do respeito. Então, o respeito que a gente tem com os nossos alunos, os alunos tem com a gente, com o professor. Então, sempre cumprimentar ao entrar na área de treino, que a gente chama de dojo, sempre cumprimentar ao sair. Sempre preguei e ensinei também quanto aos vícios, que cigarro e bebida não fazem parte não só do ser humano, mas do esporte principalmente. Então, foi uma coisa que eu sempre levei para os meus alunos, a parte saudável, pra excluir isso, principalmente porque eu tinha aluno desde 4 anos de idade, até pais que faziam junto com os filhos na academia. Então, sempre eu preguei isso aí, a boa disciplina e também o afastamento de todo e qualquer vício que pudesse vir na vida de cada um dos meus alunos.
P/1 - Rocha, e com quantos anos você começou a namorar?
R - Ah, namorar? Eu falo aos 13 anos. Comecei a namorar aos 13 anos. Assim, namorico, olhava para as meninas, no Colégio do Carmo, a minha vida foi ali dentro. E até foi uma menina dois anos mais velha que eu. E foi assim, foi um namorico bem adolescente mesmo, mas foi aos 13 anos também.
P/1 - E na adolescência vocês saíam aqui em Santos, ia pra balada, cinema, como que funcionava?
R – A gente saia. Não era, assim, costume de eu sair todo fim de semana, porque muitas vezes eu optava por pescar, ou fazer outra atividade, também esportiva, do que, às vezes, sair. Muitas vezes, eu deixei de sair com os meus amigos para ir no cinema, porque eu estava treinando para um torneio que estava se aproximando. Então, eu deixava essa parte do lazer para eu me dedicar mais ainda no esporte. E, graças a Deus, surti o resultado, porque os resultados vinham com as classificações dentro dos torneios, das competições onde eu participava.
P/1 - Mas por vocês serem jovens, morando aqui num lugar de praia, vocês iam pra praia, tipo, marcar, vamos se encontrar na praia, passar um dia na praia pra se divertir com os amigos?
R - Sim, mas sempre voltado pra pesca. Marcava com os meus amigos que gostavam de pescar. A gente pescava com o picaré, que é uma rede pequenininha, e desde aquela época, a nossa diversão era isso. Era pegar o camarão, que dava muito, peixes, enfim. Mas praia mesmo, eu só fui quando era pequeno, pra brincar de fazer castelinho, buraquinho, com os meus pais. Aí, já na adolescência, não, já passou diferente, eu não queria ficar lá exposto ao sol sem fazer nada. Eu queria estar na praia, mas fazendo alguma outra atividade que me desse algum retorno, algum prazer. E essa atividade era a pesca, tanto às vezes com o puçá, como com o picaré, que é essa rede menor.
P/1 - Voltando um pouquinho lá no aquário, quando você saia assim com eles para pescar, você também chegou a ter um aquário na sua casa, pescar algum peixe assim e falar: esse é lindo, esse vai para o meu aquário?
R - Então, no peixe marinho não. Eu tinha o peixe de água doce, que nos canais de Santos... Santos é conhecida pelos seus canais, canal 1, canal 2. “Aonde você mora?” “Eu moro no canal 6.” Então é a proximidade do canal. E lá existia um peixinho chamado guaru-guaru ou conhecemos também como lebiste. Então, esse sim, eu pegava numa peneirinha e criava em casa. O de água marinha já é diferente porque ele precisa de filtros especiais, a salinidade da água ela tem que estar ideal senão o peixe não aguenta e morre. Então, era mais difícil. Então, eu preferia ver os peixes que a gente pescava no arrasto de praia junto com aquário, na exposição, quando eles colocavam nos tanques. Então, da mesma forma, não tinha em casa um aquário marinho, mas tinha um aquário próximo de casa com várias espécies, vários outros tanques onde eram expostos esses peixes que a gente muitas vezes ajudava a pescar.
P/1 – Aí, você falou que já pescou de várias formas, desde quando começou lá com o seu pai, de pescar de anzol, caranguejo com a sua mãe. Eu queria que você falasse um pouquinho pra gente dos tipos de pesca que você já fez e as fases que foi, “ah, nessa fase eu pescava assim.”!
R - Então, o pescador, ele pesca de tudo. Na pesca artesanal, existe nas nossas carteiras de pesca uma atividade específica, ou melhor, uma arte de pesca específica. Por exemplo, no meu eu sou de peixes e crustáceos. Tem gente que é só de crustáceos. Tem outros pescadores que são só de emalhe, ou seja, de peixe. Mas eu, na minha carreira desde amador, eu sempre pesquei no mangue, que a gente pegava o caranguejo ou o marisco. Também tem o marisco de mangue. Pescava em alto mar de linha de mão, que é uma outra arte. Pescava de rede de emalhe, que é uma rede que você coloca lá, vamos dizer, de manhã e no final da tarde você vai colher. Pesca de arrasto de praia, de picaré também, de puçá e de gancho, que é uma pesca tradicional aqui em Santos, que é um arame dobrado e você anda na beira da praia e pega o siri logo cedo, amanhecendo o dia, e você pega o siri com esse gancho.
P/1 - E dependendo da época do ano que pesca tem mais um tipo de peixe ou mais outro tipo de peixe? Como que funciona isso?
R – Tem! Então, nós temos as quatro estações do ano, e para algumas espécies, elas são determinantes, por exemplo, a tainha, aqui a gente só pesca na parte do frio, ou seja, no inverno, ela vem do sul, chega aqui no sudeste, mas sempre na parte do inverno. Um peixinho prateadinho, pequenininho, que eu peço desde os quatro anos, que é o carapicu, a incidência dele maior é no verão. Então, para cada uma das espécies... Tem espécie que dá o ano todo, às vezes, um pouco mais ou um pouco menos, mas ele aparece aqui na nossa região o ano todo, como o robalo, é mais no verão, mas ele aparece agora também no inverno, um pouco menos, mas aparece também. Então, existem algumas espécies que são de temporada e outras espécies que são praticamente permanentes o ano todo.
P/1 - E tem espécies que é proibido pescar em determinada época do ano, porque ele está em fase de reprodução. Como que acontece isso?
R - Então, isso é uma grande polêmica que a gente sempre discute nas reuniões da APA Marinha, enfim, reuniões a nível estadual também e a nível federal. Por quê? As pesquisas, os pesquisadores, alegam que algumas espécies estão em extinção. Então, existem leis de mais de 20 anos, e já foi constatado que essas espécies já saíram dessa proteção. Entendeu? Só que a lei não é atualizada. Isso prejudica o pescador. Mas nós que somos do arrasto de praia a gente obedece e a gente acata essas decisões, mesmo que já desatualizadas para a nosso atualidade, a gente respeita. Como alguns tipos de raia que vem no nosso arrastão, elas chegam vivas, porque o arrasto de praia é uma pesca dinâmica, uma pesca que acontece ali, você larga a rede, puxa e já tira o pescado. Ela não fica ali esperando que o peixe vá de encontro a rede e acabe morrendo e você vai atirar depois de cinco, oito horas. Então, chegou, a gente vê que são raias, existem algumas espécies proibidas e outras permitidas. Mas para que a gente não caia, não seja induzido em erro e cometer um deslize, porque às vezes de uma espécie para outra é um detalhe, a aparência é igual, só que muda, uma tem dente, a outra não tem. Então, já mudou a espécie. Então o que a gente faz? Indúbio, solta tudo. Na dúvida, solta tudo. Tanto as protegidas quanto as permitidas. Então, a gente faz isso com tartarugas. Eu aprendi a fazer biometria, olhar a tartaruga, se ela tem algum tipo de doença, se ela tem algum tipo de ferimento ou anomalia e sei como conduzir. Se ela tiver perfeita, a gente faz a soltura na hora, na hora ali. Se tiver algum tipo de doença, alguma coisa estranha que a gente perceba, a gente já encaminha para os órgãos que acolhem esse tipo de animal, tratam, para depois, lá na frente, reparado essa doença ou essa anomalia, eles possam fazer a soltura. Então, hoje o pescador artesanal, ele é o que mais protege o meio ambiente. Porque é o seu escritório de trabalho e ninguém quer ver seu escritório de trabalho bagunçado. Então, nós somos o que mais protegemos o meio ambiente, o que mais cobramos de quem não age dessa forma, que nem as pessoas que poluem com plástico. Hoje o grande vilão dos oceanos é o plástico. Então, gente, existe até um projeto para a pescaria do arrasto de camarão que é Mar Sem Lixo. Eles pescam o camarão e o lixo que vem eles guardam e levam para as unidades de recolhimento desse tipo de material e eles recebem por isso. Entendeu? Então, já tem isso. Então, o grande vilão hoje dos oceanos não são os pescadores. O grande vilão são aquelas pessoas que não têm a consciência ambiental e poluem as nossas águas. Não só com plástico, mas com poluentes químicos, as indústrias, o descarte irregular de esgoto. Existem comunidades que não tem o tratamento, então o esgoto é jogado no mar direto. Então, o pescador é sempre aquele que mais protege, se preocupa, cuida e luta para que o meio ambiente esteja em harmonia.
P/2 – Rocha, queria te fazer uma pergunta, você que está há tantos anos dentro do mar, você vem reparando algumas transformações, assim, tem pescado mais lixo do que há um tempo atrás? O que você vêm percebendo de transformações?
R - Então, o que a gente percebe por estar toda semana próximo ao mar, junto do mar, ou seja, pescando, ou mesmo passeando, ou saindo, porque a nossa orla é muito bonita. Eu prefiro andar pela orla do que pela parte mais central das ruas na cidade. O mar é sempre um... Além de ser um cartão de visita, é uma parte mais charmosa da nossa cidade, uma parte que quando ele está manso, ele acalma a pessoa. Quando ele está agitado, é uma coisa bonita também de a gente ver a força da natureza agindo sobre a nossa cidade, sobre o ser humano, enfim. Mas hoje a gente percebe. Eu pesco o Siri de gancho, que é uma pesca tradicional e hoje ela está morrendo, porque isso não é passado para as futuras gerações e mesmo até porque a quantidade do siri azul, que é o siri que a gente pesca, ela está diminuindo. Existem vários fatores aqui que a gente luta, a gente pede também a ampliação do Porto. A dragagem é o grande vilão aqui, isso foi constatado. Não só ela influencia com a vida direta do pescador artesanal, mas com as espécies. Então, é uma luta que a gente tem aqui também contra isso. A gente sabe. Pescador nenhum é contra o desenvolvimento do porto, o crescimento. Até porque todas as famílias santistas, diretamente ou indiretamente, tem alguém que trabalha no porto, que depende do porto. Então, a gente entende, nós não somos contra, mas a gente gostaria de arrumar algum meio, algum método para que esses impactos fossem menores e para que o pescador artesanal permanecesse na sua atividade que é milenar. Eu sempre falo, em todas as entrevistas que eu dou, que a atividade da pesca é a segunda atividade mais antiga da humanidade. Não é do Brasil, é mais antiga da humanidade. Primeiro veio a caça, em seguida veio a pesca. E algum tempo depois eles descobriram que, caindo um grão no chão, dias depois ele começou a germinar. E meses ou algum tempo pra frente ele começou a produzir, a dar frutos, então aí veio a agricultura. Mas a pesca é a segunda atividade mais antiga. E a gente fica triste em ver hoje, que nem eu tenho quatro filhos, três meninas e um menino, nenhum vai seguir a pesca. Porque eles veem hoje também a dificuldade que é. Então, eles preferem seguir para outro setor de atividade do que permanecer naquilo que o pai deles sempre gostou, sempre esteve junto. E vou morrer pescando, não tem jeito. Aconteça o que acontecer, eu vou morrer pescando.
P/1 - Explica pra gente um pouquinho sobre a dragagem, que você falou que é o grande vilão.
R - Então, a dragagem, o que ela faz? Sempre existiu desde que existe o porto, até porque o canal de navegação onde entram os navios até conduzir os berços no cais, ele precisa ter uma certa profundidade para que esses navios adentrem, que era de 13 metros. Existem vários tipos de dragagem. Eu não sei os termos em inglês. Mas o que ele faz, eles descem dois braços, um de cada lado, vão arrastando e sugando toda aquela lama para poder dar um aprofundamento no canal. Aí, aquela lama é armazenada em umas cisternas dentro da draga, aí a draga sai algumas milhas lá fora e joga esse sedimento em mar aberto. Existem os quadrantes que eles falam tudo. E eu sempre falo, o solo aqui dentro do nosso estuário é lama, lá fora é areia. Então, você está misturando dois tipos de solo. Você está, na verdade, desequilibrando esse ambiente. Porque você tá levando um tipo de solo, que é característico aqui de dentro, lá pra fora. Feito isso, quando solta lama, existem os peixes de temporada, a tainha, a sororoca, que elas chegam no inverno. Quando essa lama é depositada, existem três tipos de lama, a natinha, que é uma que fica superficial, e existe a tabatinga, que é a pesada mesmo, que fica ali, que afunda. E o outro que eu não lembro o nome. Mas quando a natinha, ela fica suspensa, os peixes que vêm para entrar na nossa região aqui, veem aquela barreira, dão a volta e vão embora. Então, nós perdemos a estação do peixe, porque aquela lama não é característica, o peixe estranha e acaba se afastando. Fora isso, a nossa orla aqui de Santos está sendo toda... A geografia das nossas praias estão mudando. Eu moro no Canal 6, ali, eu pulava da muretinha do jardim para a praia e era um palmo. Hoje ela está a um metro e pouco. Aquela areia foi... Por quê? Eu sempre falo, não precisa ser técnico, não precisa ser cientista, nem estudioso. Se você vai ali, tira areia, vai tirando areia do meio do canal. Qual é a tendência da areia das margens? É retomar. Então, tá tirando areia da Praia do Góis, você vai ver hoje. Está tirando areia da Praia Santa Cruz dos Navegantes, que é outra praia pegada à Praia do Góis. De Santos, então, nem se fala. Canal 6, Canal 5, está tirando areia... O que ela não consegue através das marés de Sizígia. Marés de Sizígia elas ocorrem nas duas luas, cheia e nova. São quando ocorrem as maiores marés e as menores, ou seja, quando ela enche ela vai lá no topo, quando ela baixa ela seca que fica uma imensidão de praia. Então, nessas marés, quando ela enche, ela tira a areia aqui desses canais 6, 5 e 4. O que ela não consegue devolver para o canal, as correntes levam para o canal 2, 1 e emissário. Então, lá o nível de areia já está mais alto que a própria avenida da praia. E aqui está tão baixo que está sumindo a geografia da nossa praia. Está causando erosão. Então, é uma coisa que nos preocupa. E eles ainda querem levar agora para os navios maiores a 17 metros. Aí sim acaba, não estou nem falando pela pesca artesanal, porque já prejudicou bastante, mas eu digo pelas cidades que compõem esse trajeto, que é o Guarujá, Vicente de Carvalho, eu não sei, não está afetando, mas Guarujá e Santos, e uma parte de São Vicente, já estão sendo afetadas com isso. Então, a gente sempre procura a conversa, o diálogo, para tentar achar uma solução para diminuir esses impactos. Porque, como eu falei, o pescador não é contra o desenvolvimento, o crescimento do porto, até porque traz divisas para a cidade. As cidades sempre têm alguém que trabalha no porto, então é importante isso para a própria economia do país. Mas a gente tem que achar algumas soluções para que esses impactos sejam bem reduzidos. E é isso que a gente faz. Nós estamos sempre juntos e dispostos a conversa, a diálogos, a tentar achar soluções em conjunto. Nós não queremos exigir sem contribuir. Nós podemos, de alguma forma, contribuir com algumas informações, contribuir e levar também para ambos, juntos, a gente conseguir uma solução para que isso aí venha a melhorar a vida de todos nós, de toda a nossa cidade.
P/1 - E eles abrem espaços para escutar as opiniões de vocês?
R - Então, nós nunca tivemos esse espaço. A gente sempre procurou com o Porto, só que nós fizemos tantos movimentos que hoje eles já nos chamam, a gente tem contato. O Pomini, que é o administrador do Porto, a Autoridade Portuária, eu já falei para ele, vem conversar com o pescador, ninguém vai agredir, nem nada, nós vamos juntos tentar achar essas soluções. Então, parece que... Eu estava em uma outra reunião importante, mas uma das nossas lideranças, que é a de Bertioga, teve uma reunião com ele também, já conversaram, então a gente está junto buscando soluções. Então parece que agora eles estão se aproximando. E existem algumas empresas que trabalham contratadas pelo Porto para levar esses dados, enfim. Mas hoje nós estamos organizados, nós somos 23 lideranças fortes, não sou eu só, eu não trabalho sozinho, eu trabalho com mais outras lideranças, pessoas importantes que falam sobre a pesca. Com um detalhe, todos somos pescadores, não tem ninguém que não seja pescador. Todos nós ou temos alguma coisa ligada à pesca ou somos pescadores mesmo na atividade ali. Então, quem pode falar com propriedade é aquele que vive isso, que já há algumas décadas vem vivenciando. Então ele pode notar as diferenças, tanto na diminuição de cardumes, como na parte geográfica, como na parte de qualidade de água. A gente sabe definir. As águas eram cristalinas aqui dentro, eu via o siri entrar no puçá. Hoje não. Hoje no mesmo local, se eu largar o puçá ali, você não vai ver o siri entrar. Então, a qualidade da água diminuiu. A nossa orla aqui, a ponta da praia onde tem o entroncamento, aquelas pedras que eles colocam pra conter um pouquinho a maré, eram repletas de mexilhão. Hoje não tem mais. Por quê? A salinidade da água, ela foi alterada. E o mexilhão ele precisa de uma salinidade, que eu não sei o número aí, o nível, mas pra...
P/2 – Rocha, queria te fazer uma pergunta, você falou antes de a gente começar que pra ser um bom pescador, precisa antes ser um bom historiador.
R - É verdade.
P/2 - Queria te perguntar sobre a história, essa história milenar da pescaria e esse reconhecimento específicos do mar, que só o pescador sabe. Se você puder contar isso pra gente.
R - Então, eu sempre falo que para ser um bom pescador você tem que ser um bom historiador ou conhecer a história principalmente da sua cidade. Para você ver as origens, para você até mesmo entender quando a pesca surgiu dentro desse território, dentro da sua cidade. E o mar, o mar além de segredos, o mar tem vários segredos, mas tem também muitos ensinamentos. O pescador, caiçara, ele sabe até pela posição do vento qual vai ser, como vai ser aquele dia, se vai ser um dia tranquilo, se vai haver alguma mudança ou se aproxima vento, se aproxima chuva. Então através do vento e olhando no próprio horizonte ele já tem essas informações. Aqui na nossa região, o vento considerado um vento bom é o vento de leste. Quando ele sopra de leste nós temos tempo geralmente com sol, com mar tranquilo. Então, a gente sabe que aquele dia vai ser um dia produtivo para a nossa atividade. No entanto, se o vento soprar de sudoeste, que é um vento que é um prenúncio de mau tempo, ou de que haverá uma viração, que a gente chama de viração, de tempo e do mar. O problema no mar, que o pescador enfrenta, não é a chuva. A chuva é tranquila, o problema é o vento. A intensidade do vento é que pode caracterizar um sinal de alerta, um sinal de perigo para o pescador. Então, existe também, a gente sabe também quando a pesca está mais propícia ou não através das marés. A maré de pré-mar quando ela sobe e de baixa-mar, ou seja, quando a maré está subindo ou quando a maré está descendo. Existem algumas espécies, principalmente as espécies pescadas de linha, que isso influencia bastante. Elas não comem, o peixe não se alimenta em determinado... Por exemplo, a garoupa, o badejo, existem algumas espécies de costão que eles preferem com a maré enchendo, eles se alimentam mais, desperta aquela fome neles. E existem algumas espécies também que não adianta quando a maré está enchendo ele para de comer. Então, isso são coisas que o pescador com a sua atividade, e vai passando isso de geração a geração, vai passando essas informações. Mas são coisas que você não aprende no banco de uma faculdade, você aprende ali, no dia a dia, vivenciando aquela atividade, principalmente, o conhecimento dos pescadores mais antigos que vão passando essas informações, essas dicas e vai levando de geração a geração. São coisas que não existem nos livros, mas existem no dia a dia ali do pescador.
P/2 - Você se lembra de um ensinamento precioso que você teve de algum pescador?
R - Olha, existe um ditado caiçara que diz assim, lua nova ou lua cheia, maré alta às duas e meia. Então, isso é certo, se você for, se a maré estiver de sizígia, ou seja, se estivermos em um período de lua nova, ou no período da lua cheia, se você for na beira da praia, ou qualquer lugar onde tem a maré, principalmente na nossa região, você vai ver que a maré vai estar bem alta. E ela ocorre duas vezes no dia. Nas 24 horas ela ocorre, por exemplo, ela vai estar duas e meia da tarde e duas e meia da manhã. Ela vai estar no mesmo patamar, no mesmo nível. Então, isso é um ditado caiçara. O outro também é, céu pedrento, chuva ou vento. Então, você olha para as nuvens e se tiver aquelas... Tem os nomes específicos, extratos cúmulos, cumulonimbus, que eu não sei diferenciar. Eu olho e sei se vai ventar ou se vai chover. Mas é um ditado também popular que isso nos traz a informação para garantir uma pesca naquele dia segura.
P/1 - E você tem algum ritual antes de entrar no mar para pescar?
R - Ritual não, a gente, se não faz a oração no arrasto de praia, a gente procura fazer uma roda e fazer a oração ou no início, ou se já tiver um pouco atrasado e tudo, no final, quando é feita a distribuição de peixe para todos aqueles que participaram. Mas sempre a gente procura fazer uma oração agradecendo, pedindo a proteção daqueles que vão levar a rede e pedir a proteção também daqueles que vão puxar a rede e no retorno para suas casas. Porque muita gente vem pescar aqui em Santos, mas é de longe, vem de outras cidades. Geralmente são pessoas mais simples, mais humildes que tem essa atividade como uma complementação para levar um alimento saudável para a mesa das suas famílias.
P/1 - Levar a rede significa que eles só jogam a rede ou tem que descer no mar para levar a rede?
R – Então, no arrasto de praia é feito assim: os pescadores ficam à beira mar, na areia, enquanto o barco leva a rede, mas fica um cabo. Fica um cabo em terra e o barco vai indo e aquele cabo vai soltando, soltando. Quando termina os 350 metros de cabo, começa a parte da rede. Aí, ele solta a rede toda, paralela a linha da praia, depois traz a outra ponta do cabo. Os pescadores são divididos, metade para cada lado e começam a puxar a rede. Então, a embarcação no arrasto de praia, única e exclusiva, ela tem a função de soltar a rede, retornar a praia, para depois começar a atividade com os pescadores puxando na própria praia.
P/2 - São quantos pescadores?
R - Nosso grupo, eles tem uma base de 250 pescadores. Mas é assim, quando a gente convoca no próprio grupo, aqueles que estiverem disponíveis naquele dia e quiserem participar, participam, é só chegar lá, eu anoto o nome, hoje tem uma senha para ter uma organização melhor. Mas é assim, nós já tivemos pescando com 20 pescadores e já tivemos com quase 100 também, no mesmo dia.
P/3 - Seu Rocha, desses dias que o senhor foi pescar, teve algum dia que aconteceu uma coisa que o senhor não consegue esquecer, que foi muito inusitado?
R -Tem. Nós estávamos no meio do lance, ou seja, já estavam uns 40 minutos do lance, trazendo a rede pra praia, quando houve um blackout. Isso ficou famoso, não foi só aqui em Santos, estado de São Paulo, foi em vários estados, acho que o Brasil inteiro ficou no escuro. E nós, no escuro, a gente só pesca à noite, nós só pescamos no horário permitido, que é das 19h às 9h da manhã, e apagou. E estávamos no meio do lance. Ninguém tinha uma lanterna, ninguém tinha nada, e ficou assim. Então, não foi fácil. Outras vezes também, nós estávamos puxando, a rede e eu comecei a sentir um vento, uma brisa de sudoeste, brisa, aquele sobrinho diferente, eu falei para o Júnior, falei para os outros pescadores, eu falei: eu não estou gostando desse vento. Mais 15 minutos aí veio, o vento, chuva junto, aquele negócio. Mas os pescadores ali. O medo, o receio nosso não é o vento quando ele chega de repente, isso porque nós estamos em terra, nós estamos na praia, na areia. O principal, o receio mesmo, são os raios, porque a gente estando ali na praia, qualquer um fica vulnerável e pode acontecer. Então, geralmente, já teve situações de ter que amarrar o cabo da rede de um lado e de outro, para ela não correr num coqueiro, numa árvore e a gente ir se abrigar em local seguro, até que passasse essa tempestade aí. Mas aí deu tudo certo. São algumas passagens que a gente lembra. Mas tem várias, tem outras, tem muitas.
P/3 -Como vocês fizeram para retornar depois desse apagão todo?
R -Então, tivemos que tirar a rede na raça, tiramos a rede na raça. Quando você está no escuro total, você consegue ter uma visão também próxima, você tem uma visão. O ser humano, a visão humana vai se adaptando àquela condição. Lógico que não é a mesma coisa que você ter uma iluminação, você estar com alguma coisa iluminando ali, que torna mais fácil a tua visão. Mas foi um dia atípico e no final deu tudo certo. E depois de não sei quantas horas que a luz voltou, eu acho, nem se voltou naquele dia ou só no dia seguinte. Então, foi um dos fatos que a gente grava aqui e fica guardado aqui na caxola.
P/1 - Eu queria saber uma coisinha assim, você falou que quando tá lá que vão pescar, já teve 10, 20, 100 pessoas, aí como que funciona? Vai todo mundo pescar junto e depois é dividido esses peixes que vocês pescam?
R - Então, a pesca do arrasto de praia, ela não é, o peixe…
P/1 - O senhor estava me explicando como que funciona a pesca de arrasto. Porque quando tem 100 pescadores ou 10, como que faz essa divisão dos peixes? Como que é isso que eu fiquei curiosa?
R - Então, a pesca do arrasto de praia, ela não trabalha com a venda direta do peixe e o pagamento dos pescadores. Os pescadores, eles recebem através de um meio chamado escambo. Eles contribuem com esforço de pesca e nós, vamos dizer, entre aspas, pagamos, retribuímos esse esforço de pesca com o peixe. Não é todo peixe que eles recebem. O dono do arrastão de praia ele tem uma espécie alvo ou duas espécies alvo. No nosso caso é a pescada e o robalo. Esse é do dono do arrastão. Todos os demais peixes são distribuídos de forma igual. Tem 50 pescadores, então são feitos 50 montes onde é colocado o peixe de forma igual. E aí, no final da pescaria cada um leva o seu peixe. Então, não é feito com pagamento em espécie, mas sim no peixe.
P/1 - E eu queria saber como o senhor se prepara para uma noite de pesca?
R - Então, primeiro você tem que dar uma descansada, porque você fica ali de 6 a 8 horas em pé. É feito o anúncio nos grupos, nos quatro grupos de pesca que a gente tem. E aí, aqueles que podem ir, eles comparecem. Existe um local e a hora determinada para que a gente tenha esse encontro. Ali a gente vai fazer a divisão, quem vai para o lado da carreta do barco ou quem vai para o lado do barco, são duas, a gente tem que dividir o número de pescadores. E aí, é feito a contagem, no final a gente distribui o peixe de forma igual. Então, é feito assim: o anúncio é feito logo cedo para que os pescadores acessem a mensagem e aqueles que puderem estar naquele dia, comparecer no local e a data marcada, o local e hora.
P/1 - Seu barco tem nome?
R - Na verdade, esse não é o meu barco, é do Júnior. O meu tinha. Eu tive vários barcos. Ele tem um nome, chama robalo. Esse que a gente pesca é robalo. E tinha um anterior que era família.
P/1 - E esse barco que vocês pescam hoje em dia cabe quantas pessoas?
R - Então, a gente sai sempre para largar a rede com o Júnior que pilota e mais dois pescadores para largar a rede. Então, são 3, mas ele é aproximadamente uma tonelada ou uma tonelada e duzentos entre material, corda, motor. Corda não, é cabo que a gente fala. Motor e tripulação.
P/3 - O senhor lembra como foi o primeiro barco do senhor?
R - Lembro. O meu primeiro barco foi de uma namorada, o nome. Eu botei o nome dela de Cláudia Cristina. Isso aí eu nem divulgo nem falo, porque ele causa uma ciumeira depois. Dá nada. Mas eu botei o nome dela, meu primeiro barco. Depois eu tive outro chamado Pirilampo. Tive outro chamado Prost. Tive outro chamado Ventania. Que eu vendi no ano passado. Então, eu tive algumas outras embarcações. E a Remo eu tive também. Mas é assim.
P/3 - E desses aí, tem alguma história que você conseguiu, assim, conseguir esse barco dessa forma, assim?
R –Não. Todos foram ali com trabalho, dedicação. Comprei o meu primeiro barco, era remo, não tinha motor e eu não tinha nem idade também pra... Aliás, não tinha a carteira, para poder conduzir embarcação. Aí, depois eu estudei, aí passei no primeiro exame. Em seguida, já... Você sendo aprovado na época na Capitania dos Portos, na Marinha, você era aprovado ali, se você quisesse fazer o outro nível, você já fazia no mesmo dia. Então, eu fiz de arrais amador... Então, aí eu prestei o meu primeiro exame de arrais amador, fui aprovado, no mesmo dia já prestei o exame para mestre amador e já fui aprovado também. Aí tirei a minha carteira. Então, com essa carteira você pode conduzir embarcações de esporte, recreio, não de pesca. De esporte e recreio entre portos nacionais e estrangeiros, dentro da navegação costeira. Depois, aí passado acho que uns oito ou dez anos, eu fiz o curso para capitão também, dentro da marinha. Fiz com o Fábio Reis da USP, estudei seis meses, fiz curso para capitão. E capitão, aí você pode conduzir embarcações de esporte-recreio em portos nacionais e internacionais, fora da navegação costeira, ou seja, em mar aberto. Você pode cruzar o oceano sem que você veja a terra. Então, foi isso, a minha história. E pra pesca você precisa tirar a carteira POP, que é pra conduzir as embarcações, de pesca, profissionais de pesca. Mas é isso aí, minha vida também foi dentro do mar, tudo que eu podia aproveitar.
P/1 - Senhor Rocha, eu queria entender um pouco como que funciona, o senhor comentou aqui com a gente, que tem várias lideranças. Explicasse um pouco como que funciona as lideranças para vocês de pescaria e as Colônias. Cada Colônia tem as suas lideranças? É assim que funciona?
R - Então, as colônias, o papel das colônias é fazer toda a parte burocrática que o pescador... Primeiro que ele não tem tempo, segundo que ele não consegue fazer. E as colônias dão toda assistência para os seus associados. Então, eu desde a minha carteira aqui, até a minha aposentadoria, eu fiz tudo pela colônia. Então, ela ajuda muito a vida dos pescadores. Cada colônia tem, pelo menos aqui na nossa região, a colônia Z23, a colônia Z4, Z1, na qual eu faço parte. A Z4, Z1, Z3, Z23. A Alpesque também, que não é uma colônia, mas também faz a função de uma colônia, elas têm por atividade agilizar a vida do pescador. Agora, as suas colônias, elas, às vezes, têm os seus representantes na pesca, porque o presidente, todo o pessoal que trabalha na parte burocrática da colônia, às vezes, não tem tempo pra ir em reuniões, pra deixar o trabalho aqui, que é importante e grande dentro das colônias, para ir representar o pescador. Então, ela escolhe dentro dos seus associados, dentro dos seus membros, aqueles que ficam responsáveis por falar nas reuniões de APA Marinha, no gerenciamento costeiro da Baixada, em todas as reuniões que for pertinente a pesca artesanal, essas lideranças são convocadas e representam o pescador.
P/1 - Explica pra gente um pouquinho qual que é a diferença da pesca artesanal, a pesca industrial.
R - Então, a pesca, existem três tipos de pesca: artesanal, industrial e a pesca esportiva ou amadora. A amadora ela tem por finalidade levar lazer, esporte, até através de competições, só que ela não tem fins lucrativos, tanto é que o peixe que são pescados na Pesca Amadora, eles não podem ser comercializados. No caso das competições que eles realizam, eles ou devolvem o peixe, fazem a pesagem, devolvem, o pesque e solte, ou aqueles que não soltam o peixe nas competições, eles enviam para o Fundo Social de Solidariedade ou para alguma casa de assistência. A pesca industrial já é uma pesca de grande escala, onde os armadores de pesca, os donos das embarcações, trabalham com um investimento muito alto, tem um capital grande para poder investir nas suas embarcações, nas suas redes, para poder exercer atividade. E a pesca artesanal é aquela pesca geralmente de economia familiar, daquelas comunidades tradicionais que mantém as tradições caiçara, mantém a sua atividade ali, que é uma pesca de pequena escala. Geralmente para sustentar a sua própria família e levar um peixe fresco para os mercados. Então essa é a diferença dos três tipos de pesca que a gente tem hoje.
P/1 - No caso da pesca artesanal, como que funciona? Depois que pesca o peixe, vocês limpam o peixe antes de vender? Pega o peixe aí tem que limpar? Para onde esse peixe vai? Onde vocês vendem esse peixe?
R - Então, geralmente o pescador artesanal, ele sai de manhã, lança sua rede, no final da tarde ele vai, colhe a rede, despesca, ou seja, tira o pescado todo da rede ou deixa a rede no local de novo para ela pescar durante a noite ou colhe a rede e traz para a terra. O peixe é vendido na própria comunidade ou se tiver um pouco mais, se ele deu sorte, pegou um cardume bom, que hoje está difícil, ele é levado para os mercados mais próximos ali da cidade. No caso, aqui de Santos, é levado para o Mercado Municipal aqui da cidade e é comercializado dessa forma aí. Mas é uma pesca direta, rápida e que o peixe é praticamente ele é... A gente fala que chega vivo, porque ele pescou ali naquela hora, e levou já para ser comercializado. Então, é um peixe fresco, com uma boa qualidade
P/1 - O senhor falou que a pesca artesanal é uma pesca mais familiar, né?
R - Sim.
P/1 - As mulheres participam dessa pescaria ou participam de alguma forma?
R – Participam. A mulher do pescador tem uma função muito importante, que ela auxilia o pescador quando ele retorna, às vezes até para puxar a embarcação para a terra, auxilia se tiver que limpar um peixe para vender na comunidade, ela faz isso daí. As descascadoras de camarão também, se o pescador pesca o camarão, chega em terra, elas auxiliam para descascar o camarão. Na venda. Até para fazer os pratos típicos caiçara, a mulher é fundamental. Então, é uma pesca onde envolve não só o marido, o homem, mas a mulher e muitas vezes até os próprios filhos, quando eles já têm idade, eles são engajados também nessa atividade, que é uma atividade... Por isso que eu falo que é uma atividade familiar.
P/1 - E eu queria saber da sua esposa, como o senhor conheceu ela?
R - Ah, então…
P/1 -Como que é o nome dela?
R -Rita. É Rita. Na época, como eu falei que eu estava no esporte, eu dava aula e conheci... Eu sou casado pela segunda vez, a primeira esposa que eu tive, que também conheci na academia. Casei, tive dois filhos. E depois me separei, enfim. E a Rita eu também conheci na academia. Aí depois de quase 40 anos, 35 anos mais ou menos, que a gente se reencontrou. E eu já estava separado, enfim, a gente se reencontrou. Aí começamos, reatamos aí, uma coisa que começou lá atrás, que foi só, era só olhar, não tinha nada assim mais sério, mas aí casei. Hoje eu sou casado com ela.
P/2 - E você tem dois filhos com ela?
R - Não, nenhum. Eu tenho com outras que eu não casei. Mas tenho quatro filhos. Com ela não. Com ela não tenho.
P/1 - Fala um pouco dos seus filhos pra gente. Você falou que tem uma filha, a do meio, que mora no Canadá, né?
R - É. A Débora, que é Débora, mora no Canadá. Renata, que é a mais nova, morou no Canadá e retornou este ano. E tem o Diego, que é o mais novo. E a mais velha é advogada.
P/1 - E o senhor comentou aqui com a gente também que nenhum deles seguiram o mesmo ramo do senhor da pescaria, mas quando eles eram pequenos o senhor levava eles pra pescar, se divertia com eles assim, eles gostam?
R - Sim, todos eles sempre de alguma forma, com exceção da mais velha, a mais velha não, mas tanto a do meio, a mais nova, e o meu filho, o Diego, todos eles sempre tiveram junto comigo, ou dentro do barco, pescando, ou em praias que a gente ia, que são praias mais desertas, mas a gente ia de embarcação, então de alguma forma sempre tiveram junto e ligados a atividade junto com o pai, não só de pesca, sempre como lazer. Ou também as praias, enfim, como lazer, esquecendo um pouquinho, deixando de lado um pouco a atividade da pesca.
P/1 - E agora eu queria que o senhor contasse pra gente uma história de pescador.
R - A história de pescador. Pescador, eu sempre falo, que o pescador ele aumenta, mas ele não mente, é que acontecem mesmo algumas coisas. Eu vou contar uma que eu estava embarcado pescando de linha de mão, fisguei um peixe e o peixe arrebentou a linha e eu perdi esse peixe. Aí continuei pescando junto com outro amigo também que hoje é falecido, mas era um grande parceiro também de pesca. E depois apareceu um saco plástico, um saco plástico boiando e se mexendo. O peixe que eu perdi entrou num saco plástico que estava afundando e aí ele foi, foi, foi subindo e ficou na superfície. E como que eu sei que era o peixe? Porque era a minha chumbada e o anzol que estava na boca era o que eu uso. Então, por isso que eu sei. Então, é uma coisa que fica meio assim, o pessoal não acredita, mas realmente aconteceu.
P/2 - Acho que a gente podia encaminhar para o fim.
P/1 - Você quer fazer mais alguma pergunta?
P/2 - Não, acho que só as últimas que a gente conseguiu falar.
P/1 - Então, eu queria saber o que o senhor achou de contar essa história...
P/2 – Antes disso, os sonhos. Quais são os seus sonhos?
R - Então, os meus sonhos, na verdade, não são meus, mas são para as futuras gerações, para que eles possam conhecer a atividade da pesca, reconhecer como ela é fundamental não só no nosso país, mas para a humanidade, para todos nós. Porque todo mundo, de certa forma, em algum momento da sua vida, sempre experimentou um pescado. Alguns têm isso como costume, semanalmente, sempre comem pescado, até por ser um alimento saudável, com bastante vitamina, proteína, enfim. Mas o meu sonho mesmo é que as futuras gerações possam, através dos nossos depoimentos, das nossas histórias, possam conhecer de perto o que é a atividade da pesca, principalmente a pesca artesanal. Então esse não é um sonho para mim, mas é um sonho que eu deixo para as futuras gerações.
P/1 - Eu queria saber o que o senhor achou de contar um pouco da sua história pra gente hoje.
R - Ah, eu achei fantástico. Porque a gente pode passar um pouquinho da nossa vivência, experiência, nosso conhecimento. Para todos aqueles que acessarem, que puderem ter esse tempo, essa paciência de ouvir a gente falando tanto tempo, mas uma coisa que marca a vida da gente e sempre vai marcar.
P/1 - Eu gostaria de agradecer muito. Além de uma entrevista maravilhosa, foi uma escola, muitas histórias o senhor tem. Foi muito bom fazer parte, de estar aqui escutando essas histórias.
P/2 - Agora bora pra praia.
P/1 - Vamos lá ver o seu dia a dia, a sua noite e noite.
R - Na verdade eu é que agradeço em nome da comunidade toda de pescadores a gente poder estar levando essa informação e esse conhecimento a todos. Então eu quero agradecer também essa oportunidade que vocês nos deram.
P/1 - Muito obrigada.
P/3 - Tem alguma história que a gente não perguntou, que o senhor gostaria de deixar registrado, que você acha importante na trajetória do senhor?
R - Eu acho que vocês já perguntaram tudo. Eu já respondi até a mais do que eu esperava, mas tá perfeito, não tem nada. Eu acho que abrangeu tudo, não só a minha história desde pequeno, a minha carreira na pesca, no esporte e até hoje como... Agora, não só como pescador, mas também como uma liderança e representante de pesca aqui da nossa região.
P/1 -
Obrigada.
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