Memória Petrobras
Depoimento de Dirceu Baleroni
Entrevistado por Márcia de Paiva e Elisa Cristana
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV126
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 - Bom dia?
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que o senhor nos diga seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Dirceu Baleroni, eu nasci em Guaraçaí no Estado de São Paulo em 01 de dezembro de 1953.
P/1 – Seu nome é de origem italiana?
R – Sim, sou descendente de italiano, os avós meus eram italianos.
P/1 – E qual era o nome de seus avós?
R – Natali Baleroni e...
P/1 – Tudo bem, diga o nome de seus pais?
R – Astolfo Baleroni e Zulmira Tecer Baleroni, esses eram meus avós paternos e o meu avô materno o nome dele era... Depois eu lembro.
P/1 – Mas eles já nasceram aqui no Brasil?
R – Meu avô paterno nasceu no Brasil, não o meu avô paterno veio da Itália, meus pais nasceram no Brasil, o meu pai e minha mãe. O meu avô materno também veio da Itália muito pequeno.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Astolfo Baleroni e Zulmira Tecer Baleroni.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho, somos cinco irmãos, uma irmã mais velha, três anos mais velha, a Dirce Baleroni, eu, um irmão um ano mais novo, o Jair Baleroni, o Antônio Baleroni que é três anos mais novo e um mais novo que está na Petrobras também, o Isidro Baleroni.
P/1 – E seus pais trabalhavam? Sua mãe trabalhava ou era mais do lar?
R – Minha mãe era mais do lar, meu pai trabalhava, era agricultor, quando ele era mais novo, os pais dele trabalhavam em Jabuticabal, em Olaria e nos anos 40, em torno de 1940 ficando pior a situação lá, eles deviam ter alguns recursos e foram pra desbravar o interior de São Paulo. Foram parar num lugarejo ao lado de Guaraçaí, era município de Mirandópolis, um local chamado Amandaba e lá ele comprou uma olaria, ele... Meus pais eram...
Continuar leituraMemória Petrobras
Depoimento de Dirceu Baleroni
Entrevistado por Márcia de Paiva e Elisa Cristana
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV126
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 - Bom dia?
R – Bom dia.
P/1 – Eu gostaria de começar a entrevista pedindo que o senhor nos diga seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Dirceu Baleroni, eu nasci em Guaraçaí no Estado de São Paulo em 01 de dezembro de 1953.
P/1 – Seu nome é de origem italiana?
R – Sim, sou descendente de italiano, os avós meus eram italianos.
P/1 – E qual era o nome de seus avós?
R – Natali Baleroni e...
P/1 – Tudo bem, diga o nome de seus pais?
R – Astolfo Baleroni e Zulmira Tecer Baleroni, esses eram meus avós paternos e o meu avô materno o nome dele era... Depois eu lembro.
P/1 – Mas eles já nasceram aqui no Brasil?
R – Meu avô paterno nasceu no Brasil, não o meu avô paterno veio da Itália, meus pais nasceram no Brasil, o meu pai e minha mãe. O meu avô materno também veio da Itália muito pequeno.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Astolfo Baleroni e Zulmira Tecer Baleroni.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho, somos cinco irmãos, uma irmã mais velha, três anos mais velha, a Dirce Baleroni, eu, um irmão um ano mais novo, o Jair Baleroni, o Antônio Baleroni que é três anos mais novo e um mais novo que está na Petrobras também, o Isidro Baleroni.
P/1 – E seus pais trabalhavam? Sua mãe trabalhava ou era mais do lar?
R – Minha mãe era mais do lar, meu pai trabalhava, era agricultor, quando ele era mais novo, os pais dele trabalhavam em Jabuticabal, em Olaria e nos anos 40, em torno de 1940 ficando pior a situação lá, eles deviam ter alguns recursos e foram pra desbravar o interior de São Paulo. Foram parar num lugarejo ao lado de Guaraçaí, era município de Mirandópolis, um local chamado Amandaba e lá ele comprou uma olaria, ele... Meus pais eram oito irmãos, cinco homens e três mulheres, eles trabalhavam na olaria, então a cidade lá que é pequena 8000 habitantes e grande parte do tijolo foi carregado pelo meu pai de carro de boi naquela época, né? Em 1940, 1950.
P/1 – Ajudou a fazer a cidade, né?
R – Sim, ajudou a fazer a cidade e minha mãe também trabalhava na olaria com os pais dela e eram vários irmãos, poucos ficaram no interior de São Paulo depois que casaram e a maior parte deles migraram junto com meu avô pra São Paulo, a parte materna. A parte paterna à medida que a olaria foi acabando a argila... Eles compraram as propriedades e cada um ficou com uma propriedade, meu pai tinha uma propriedade rural e nós recebemos de herança, até hoje é mantida lá com os cinco irmãos onde ele desbravou, derrubou a mata e plantou café, depois acabou o ciclo do café em 1960, eu era muito pequeno. Aí veio o ciclo de pasto, pastagens, depois ciclo do abacaxi, eu tenho um irmão que administra a propriedade hoje.
P/1 – O que o senhor se lembra da sua infância? Quais são as memórias assim que...
R – Eu morei no sítio, eu subia em mangueiras, subia nas goiabeiras, atravessava cercas, andava a cavalo na garupa com meu pai, ia no curral ver tirar leite, corria a pé, espetava o solado do pé com espinho de laranjeira, são histórias interessantes, as lembranças que vêm do passado, né?
P/1 – E que essa turma de cidade dificilmente tem, né?
R – Dificilmente tem.
P/1 – E com muito irmão, né? Tinha muita brincadeira?
R – Tinha muito irmão, muita brincadeira, a gente corria na terra e fui crescendo e quando fiquei com uns sete anos, meus pais foram pra cidade pra estudar os filhos, minha irmã já estudava no sítio numa escola próxima, então os filhos crescendo... Minha mãe tinha sido professora primária com o ginásio apenas, ela era professora primária quando era solteira e no início ela que ensinava a minha irmã e que passou a ir à escola e os filhos cresciam e eles achavam que tinham que estudar os filhos. Então nós mudamos pra cidade que era próximo 18 Km, estrada de terra e foi onde começamos a estudar, todos estudaram graças a Deus se formaram, cada um tem uma profissão agora.
P/1 – E sua mãe ajudava também vocês como professora?
R – Explicava os exercícios e ela foi uma grande incentivadora e quando nós éramos novos meu pai falava que a terra estava ficando fraca, estava na hora de vender a propriedade e ir para o Mato Grosso pra comprar mais terras para os filhos tomarem conta quando crescessem. Mas minha mãe puxou pro lado de: “estuda, fica aqui e vamos em frente.”
P/1 – Seu pai tinha esse espírito desbravador?
R – Isso.
P/1 – E das lembranças da escola também? Dessa ida pra...
R- Eu era muito arteiro, estudioso, brigava na hora do jogo, não jogava bem também e foi... Escola primária era a uma quadra de casa, depois a escola secundária eram 500 metros de casa, era uma cidade muito pequena. E aí quando termina a escola secundária, aí foi a época do colegial e não tinha na cidade, eu comecei a me movimentar e ir de ônibus pra cidade vizinha a 20 Km de distância.
P/1 – A cidade vizinha qual era?
R – Era Mirandópolis. E dois anos em Mirandópolis no curso eclético que foi constituído na época, antigamente era normal, clássico e científico, né? Então o primeiro período do curso eclético, dois anos numa cidade, mais um ano em outra cidade em Andradina a 30 Km de distância. Aí veio o vestibular sem fazer cursinho, porque tinha que se deslocar pra um local distante e a gente não tinha muitos recursos e quando eu passei para uma escola particular, pra Faculdade de Engenharia Industrial em São Paulo, aí tinha que sair de casa e ficar longe, então aí foi o corte do cordão umbilical mesmo.
P/1 – Antes da gente chegar à faculdade o senhor também nessas idas pras outras cidades vizinhas pra estudar, como é que era o esquema, tinham outros colegas que iam junto? Vocês se organizavam? Ou irmão ia junto?
R – Quando nós íamos para Mirandópolis, nós íamos de ônibus, naquela época tinha pouco transporte, já tinha rodovia asfaltada, então ia de ônibus, era de trânsito normal entre as cidades da companhia que atendia o local tanto pra ir com pra voltar, às vezes a gente utilizava o trem, né? Lá tinha a Estrada Noroeste do Brasil e às vezes nós utilizávamos o trem pra voltar da cidade vizinha e depois pra outra cidade mais longe como já não tinha transporte, aí nós tínhamos... Na primeira cidade era um grupo de 10, 12 pessoas, porque não tinha número suficiente pra ter o curso na cidade onde nós nascemos, onde morávamos. Aí no segundo grau, no terceiro ano, vários ficaram fazendo normal num determinado local, a Escola Normal e outros eu e mais um colega fomos para outra cidade Andradina e aí íamos de carona, né? De manhã cedo com uma pessoa que trabalhava lá, íamos de carro e pagávamos a carona, né? E voltávamos de ônibus.
P/1 – Aí era científico?
R – Aí era o terceiro ano do segundo grau. Aí terminamos o curso e aí tínhamos que fazer o vestibular, fazer o cursinho pra fazer o vestibular.
P/1 – Como é que foi a sua escolha? Antes o senhor tinha alguma preferência pra alguma matéria? Por algum professor? O que lhe incentivava?
R – Eu gostava de Química, porque eu achava que pra mim era a coisa mais difícil, então fui fazer Engenharia Química.
P/1 – Era mais difícil e o senhor gostava, né?
R – Era mais difícil.
P/1 – O senhor escolhia pela dificuldade?
R – Lá em casa tinha um fogão à lenha, naquela época era fogão à lenha mesmo na cidade, então tinha um fogão à lenha e eu colocava lá no fogo uns vidrinhos com alumínio pra derreter na brasa do fogão à lenha, entortava o vidro coisa que pra mim era uma tremenda novidade, era difícil de fazer com os recursos que tinha, porque não tinha laboratório lá. Então naqueles 15, 16, 17 anos algumas vezes eu colocava soda no alumínio pra ver o que acontecia, porque via nos livros as reações, então eu tentava colocar a mão na massa.
P/1 – E não era perigoso, essas experiências caseiras?
R – Não, porque eu acho que não era perigoso, a gente... Tinha as coisas mais perigosas, pegar um pouquinho de pólvora, meu pai tinha espingarda porque ele caçava alguns passarinhos, naquela época tinha propriedade, mas ele gostava de caçar, então ele também caçava na propriedade e a gente também o acompanhava atrás com um cachorro farejando. Então são as lembranças reminiscências e em casa fazia essas coisas no tempo livre do estudo brincava na rua também, até que certa idade eu comecei a andar de bicicleta, 18 anos, né?
P/1 – Com 18 anos?
R – Com 18 anos.
P/1 – E foi uma experiência também marcante?
R – Marcante, nova e diferente.
P/1 – Dava pra ir de bicicleta até outra cidade?
R – Não, não dava eram 30 Km, o máximo que se andava era em alguns trechos que era ainda asfaltado, eram uns seis km, a gente não fazia desafio local mais distante.
P/1 – Aí dessa escolha para o curso universitário houve alguma influência? Vocês discutiram em casa? Falaram? Como é que foi essa escolha? Seus pais incentivaram?
R – Meus pais incentivaram, a gente queria... Não tinha a formação do segundo grau, lá não tinha o normal e a gente queria ir pra área científica e meus pais incentivaram, aí eu fiz o vestibular e passei direto no primeiro vestibular, aquela tensão de vestibular, eu passei e aí eu passei para uma escola... A gente se candidatava para várias escolas naquela época o curso era integrado pra área científica, tinha outro pra área médica e na área científica foi um grande número de faculdades utilizava esse vestibular e aí ao passar nós reunimos em casa, meus irmãos estudavam, minha irmã fez o normal, ela depois fez administração. Aí era difícil manter o filho longe, mas meu pai concordou era um esforço a mais, a propriedade rural não dava muitos resultados, aí ele manteve a gente, eu passei a morar um ano na casa de uma tia em Santo André, São Paulo e estudava em São Bernardo na Faculdade de Engenharia Industrial, Engenharia Química.
P/1 – E essa sua irmã também estava estudando fora?
R – Não, ela estudava na própria cidade, não desculpa era o curso normal que era municipal, ela fez na própria cidade.
P/1 – E aí como foi essa ida e essa quebra do cordão umbilical? O corte do cordão umbilical?
R – A gente foi pra novos desafios, maiores dificuldades, viver longe, eu fiquei um ano na casa de uma tia, ela falou: “pode ficar aqui esse ano” e depois como eu pegava três ônibus até o local da escola, da universidade, aí eu passei a morar numa república que ficava um ônibus só da escola, na cidade vizinha de onde ficava a universidade.
P/1 – A passagem pra república também é outra mudança, né? Porque bem ou mal tia... A tia era irmã da mãe ou do pai?
R – Meu tio era irmão da minha mãe e ele tinha vários filhos também que também estudavam, outros trabalhavam e outros já eram formados. E aí fui morar próximo a faculdade, aí era entrevista pra ir pra república, a organização da república, a administração, a contratação de empregada, as compras no supermercado, né? Tinha que fazer a prestação de contas do mês, cada um no mês era responsável pela contabilidade. Então foi um treinamento.
P/1 – O pessoal da república era todo da mesma faculdade? Ou eram de faculdades distintas? O senhor conheceu lá na faculdade? Como foi?
R - Normalmente tinha aviso na faculdade sobre república, sobre vaga em república, então eu fui... Essa república era uma do lado da outra e tinha vários alunos da faculdade, tinha um que era formada na própria faculdade e trabalhava numa indústria próxima e que manteve a república. E nem todos eram da mesma profissão, eram várias profissões que tinha lá, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Eletrônica, então era uma diversidade.
P/1 – E o que o senhor sentiu nessa república... Era uma responsabilidade maior, mas tinha um lado de diversão também, quais são as memórias da república?
R – Não tinha muita diversão não, era muito estudo, a república era muito organizada, tinha uma televisão que às vezes funcionava e às vezes não funcionava e era a tensão da faculdade, até conseguir um estágio, porque no terceiro ano nessa faculdade, eu já consegui um estágio, o estágio também foi numa indústria petroquímica, era a UNIPAR Química onde trabalhava no laboratório, um técnico de química da minha cidade. Aí ele recomendou o meu nome, eu fui à entrevista e naquela indústria tinha alguns engenheiros formados no Rio de Janeiro, outros formados em São Paulo, não tinha nenhum da faculdade de Engenharia Industrial. Aí eu fui aceito pra fazer o estágio e foi onde eu comecei o grande contato com a indústria petroquímica logo na faculdade.
P/1 – E a faculdade correspondeu ao que o senhor esperava? As suas expectativas?
R – Sim, era muito difícil a faculdade naquela época, os colegas diziam: “você não termina a faculdade em cinco anos, ninguém termina em cinco anos” e eu fui e fiquei lá até o quarto ano foi quando aí eu já tinha mudado de estágio, eu fiquei um ano nessa UNIPAR Química e eu passei pra Montreal Engenharia, era outra empresa que também tinha um colega de faculdade que trabalhava lá no departamento de processos, o gerente do departamento de processos era um professor da faculdade. Aí eu fiz a entrevista e passei a trabalhar em projetos petroquímicos na época.
P/1 – A UNIPAR era São Bernardo também?
R – Era Mauá Capuava, a Montreal Engenharia que era onde eu passei a fazer o estágio depois de ano na UNIPAR, ela ficava em São Paulo. Eu fiquei lá uns oito meses até fazer o concurso da Petrobras, a Petrobras quando eu fazia estágio na UNIPAR, fazia estágio também outro engenheiro de outra faculdade e ele disse: “olha, meus colegas fizeram concurso pra Petrobras em 75 e em 76 eles estavam... Não é em 74 e em 75 eles estavam fazendo curso no Rio” e ele havia visitado e falou: “olha, fica atento porque pode ser que ela faça de novo esse ano.” E foi quando em 75 no final do ano alguns engenheiros da Petrobras, fizeram uma palestra na faculdade apontando que ia ter concurso para quem ia fazer o quinto ano da faculdade pra fazer o concurso e fazer uma bolsa de estudo aqui na UFRJ, um convênio com a UFRJ e tinham vagas pras várias modalidades e era para o Brasil todo. Eu fiz esse concurso, pra mim era mais um desafio, era o que mais difícil tem pra fazer, era fazer esse concurso, passar e vir pro Rio pra obter um bom rendimento no curso.
P/1 – Deixa eu só ver se entendi, o senhor estava no quinto ano da faculdade e aí teve...
R – Eu estava no quarto ano.
P/1 – No quarto ano e aí teve esse convite pra participar do...
R – A Petrobras estava no bum da petroquímica de refino no país, o Vale do Paraíba com a refinaria, novas expansões da Regape, na Refape e montando engenharia e fazia proposta pra essas duas unidades, casando força dessas unidades e a Petrobras estava contratando muitos engenheiros: eletrônico, mecânico, químico e as várias áreas. Então nesse ano teve esse curso de Engenharia de Processamento, eram dois módulos, um pra petroquímica... Um grupo pra petroquímica e um grupo pra refino.
P/1 – Mas isso na universidade?
R – No convênio da universidade Federal do Rio de Janeiro, tinha esse mesmo curso, não de petroquímica não, de refino na sede nas instalações de ensino na Petrobras na época, né? E tinha outras modalidades: tinha engenheiro mecânico, tinham várias outras modalidades também que estava fazendo o curso e lá no Fundão tinha processamento petroquímico, eu não sei se tinha mecânico também, mas tinha o CEPEC convênio. Nós éramos 33 alunos de processamento petroquímico e 27 de processamento, eu na época escolhi a área petroquímica, porque eu também achava que lá em Santo André o pólo petroquímico era muito próximo de onde moravam meus tios e eu achava que era a parte mais difícil também. Então eu fiz o concurso pra área petroquímica, vários colegas da mesma faculdade...
P/1 – O seu concurso foi em que ano?
R – Foi em 75, final de 75 pra fazer o curso em 76 e aí eu vim pro Rio com mais três colegas da faculdade do mesmo curso de Engenharia Química, então esvaziamos a faculdade, porque a faculdade tinha poucos alunos de Engenharia Química. Nós viemos em quatro, montamos uma república aqui no Rio de Janeiro também e estudamos o ano todo, procuramos... Como era bolsa de estudo pra nós a localização da república era muito importante.
P/1 – E onde era?
R – Era no Meier, era conseguir uma república num local que não fosse muito caro, procuramos Tijuca, Copacabana e onde com um ônibus só a gente conseguir ir pra faculdade. Então passamos o ano de 76 todos estudando muito pra vencer esse desafio, nós éramos de fora mudando de faculdade pra uma faculdade... Não era usual a transferência entre faculdades naquela época saindo de uma escola particular para uma universidade... A UFRJ fazendo cadeiras da universidade e as cadeiras do convênio com a Petrobras.
P/1 – Essa mudança também aqui pro Rio foi muito impactante? Como o senhor sentiu também essa... Tinha todo o curso? O pessoal estava fazendo essa faculdade também?
R – A gente se adapta, né? Eu morava em república lá em São Paulo e tivemos que montar uma república no Rio, então era um desafio, quando eu passei e “vamos pro Rio” a gente tinha lá dez dias de hotel pra ficar e procurar um local pra morar e enfrentar o que apareceu. Teve o concurso, passamos e era ir pro Rio e montar um local e se desenvolver e estudar, se dedicar e o objetivo era terminar o curso.
P/1 – O curso era só teórico? Como era o curso?
R – Era teórico. Esse curso da Petrobras, ele é um foco nas operações unitárias de uma a refinaria, tanto a parte termodinâmica, a parte de reações químicas, os processos, a questão prática dos processos industriais como: o refino, a destilação, o FCC.
P/1 – Mas esse lado prático, vocês foram para alguma refinaria?
R – Na época não, na época era só na universidade o curso. Aí no final do curso... Era esse curso na minha área era petroquímico. Então petroquímico tinha um conjunto de vagas pra várias áreas, o Centro de Pesquisa da Petrobras, em laboratório na pesquisa, na Engenharia Básica, no início da Engenharia Básica na Petrobras lá no Fundão. Tinha vagas para a Petroquisa, várias vagas para Petroquisa, para a área de fertilizantes a Petrofértil na época em São Paulo, várias vagas para a Petrofértil. A área petroquímica se distribuía assim, nas empresas petroquímicas, centro de pesquisas da Petrobras e Engenharia Básica.
P/1 – E aí vocês podiam escolher quando também se candidatavam?
R – Tinha uma vaga pra Universidade Petrobras e a escolha era pela classificação, o aluno escolhia as vagas, tinha um total de vagas e o aluno escolhia, o aluno escolhia a preferência dele quando chegava a hora dele escolher de acordo com o ranqueamento dele.
P/1 – E aí como é que foi?
R – Aí eu fui feliz, porque eu estava em primeiro lugar na turma, o primeiro lugar eram três períodos duros e um quarto período curto de um mês. A adaptação na universidade é muito difícil, o que a gente tinha visto na universidade original era de uma forma... Aqui era mais profunda, a termodinâmica, a cinética química. Então era adaptação, era um choque de culturas universitárias, então era um novo desafio e o primeiro período eu fiquei ali bem colocado e contente por ter passado em todas as cadeiras e não ter ficado em nenhuma, porque ficar em uma cadeira era reprovação, era sair do curso, ser expulso do curso, ficava na universidade, mas saía do curso. Aconteceu de dois colegas não terem rendimento por alguns motivos e saírem do curso. Então era uma ameaça e no segundo período, eu estava muito bem colocado já pela dedicação, pela metodologia, pela constância que eu tinha no rendimento e quando chegava nas questões mais práticas como compressores, bombas, eu me sentia melhor nos cálculos matemáticos daquilo e aí foi melhorando o rendimento. O segundo período eu estava em segundo lugar...
P/1 – E por que o senhor se sentia melhor com essa parte? Por gosto? Por já conhecer um pouco? Pelo cálculo? Por quê?
R - Pelo cálculo, pelo raciocínio direto, talvez pela tradição, porque o primeiro período era muito teórico e talvez eu não me aplicasse tanto pra decorar a parte teórica e o raciocínio teórico. Então foi melhorando e no segundo período eu estava no segundo lugar, no terceiro período por uma infelicidade do colega que ele perdeu o rendimento em algumas cadeiras que precisavam muito de memória, me parece que foi isso. Eu via o meu rendimento, eu não comparava “eu quero ser melhor que fulano” eu queria ver o meu rendimento, eu queria passar, passar com o mínimo de erro, o mínimo de falha. E no final com uma pequena diferença eu passei a frente e aí no último período, não era desafio pra nenhum pra mim, foram notas muito boas de todo mundo e aí eu fiquei em primeiro lugar e aí eu ganhava alguns livros da Petrobras, um prêmio em dinheiro pra comprar livros, eu fiquei feliz da vida porque eu comprei o primeiro Perry que é um manual... Um hand boock de Engenharia Química.
P/1 – Como é o nome? Pode repetir?
R – Perry é um livro de mais de mil folhas, era um livro de consultas, um dicionário de inglês, alguns manuais que a gente utilizava no curso como referência, eu comprei alguns manuais e montei o banco de informações, né?
P/1 – O seu banco de informações, né?
R – E ainda tenho até hoje, um dos livros se não está aqui, está em casa, mas eu tenho até hoje esses livros principais. E no final a escolha era pela classificação e aí meus... Eu morava no Meier e meus colegas brincaram que era engenheiro de processamento, eles brincaram e um dos dias foram lá pro curso e falaram: “o Baleroni quer escolher a Universidade Petrobras, dar aula” porque eu tinha um colega que tinha uma vaga pra ele lá, era o segundo lugar. Aí com a brincadeira do trote deles, o rapaz ficou preocupado, ele está na Petrobras até hoje e quando eu fui lá pra escolher, eu falei: “não, eu vou escolher a Engenharia Básica” porque pra mim no CEMPS era mais difícil também, eram desafios, tinha a parte teórica e a aplicação prática dos projetos. Então eu escolhi ficar no CEMPS e pra ficar no CEMPS um projeto tinha que ficar um ano em unidade industrial. Aí eu fiquei nove meses na Petroquímica União na área petroquímica...
P/1 – Perdão, o curso já finalizava com a faculdade também?
R – Isso. Ela terminava junto com a faculdade, a formatura da faculdade e do curso. Então esse curso demorou 13 meses, então terminou em começo de 2007. E aí a admissão da Petrobras... Tinha o processo de admissão, de aprovação da diretoria, demorou mais um mês e meio, então em 18 de abril de 2007, eu ingressei na Petrobras, porque até então eu era bolsista, não tinha vínculo empregatício. Aí fiquei nove meses numa petroquímica em São Paulo e três meses na Petroflex pra poder trabalhar em projeto básico.
P/1 – Mas o senhor ficou alocado no CEMPS? Como é que era?
R – Nesse período ficamos nas unidades.
P/1 – Foram direto pras unidades, né?
R – Isso. Ficamos um mês no CEMPS até definir o local e quando negociou o local, fomos pra São Paulo pra fazer estágio que era o início da Petroquímica também no centro da pesquisa e tinha que ficar um ano quem ficava em pesquisa e quem ficava em projeto básico. Então fomos pra São Paulo e montamos uma república lá também pra morar durante esse um ano. Éramos cinco colegas e nós montamos e ficamos lá nove meses em são Paulo, era para ficar um ano, porque era pra ficar o mínimo possível, porque a gente devia ir pra COPENE na época e como a COPENE estava demorando pra desenvolver o projeto pra partir. Então alocaram a gente a São Paulo aguardando que isso ocorresse, não ocorreu, atrasou, então ficamos nove meses em São Paulo e voltamos pro Rio, porque havia apontado que iria partir e ia se desenvolver alguns trabalhos lá e aí ficamos mais três meses na Petrofértil pra completar um ano. Então na Petroquímica eu vivi o tempo todo, né? Em São Paulo a Petroquímica União era uma central grande na época...
P/1 – Foi a que o senhor foi pra São Paulo?
R – Foi a primeira do Brasil montada e aí depois no Rio a Petroflex tinha a unidades petroquímicas também, né? E fui familiarizando com esses projetos.
P/1 – Nessa época era um bum da petroquímica também no Brasil, né?
R – Foi o bum da petroquímica, havia partida parece que pra... Em 1972.
P/1 – E o pólo da Bahia já tinha?
R – O pólo da Bahia estava construindo. A REVAPE estava construindo a refinaria e a fábrica de fertilizantes em Camaçari estava também construindo.
P/1 – A Paulo de Triunfo ainda não, né?
R – Não, ainda não foi posterior. Então foi o bum da petroquímica e eu queria estar dentro dessa petroquímica.
P/1 – O senhor tinha essa noção que estava explodindo, que estava se criando um...
R – A gente via que a Petrobras tinha empregos, tinha trabalho, a alternativa era a iniciativa privada onde eu estava fazendo estágio, era uma empresa que pra mim era muito boa na época onde eu estava fazendo estágio, era desafiador. Mas a Petrobras era um desafio de diversidade e dificuldade e aí pra isso tinha que se deslocar no espaço, tinha que ir pro Rio de Janeiro e no Rio de Janeiro ir pra onde tivesse atividade, no caso eu escolhi o Rio de Janeiro por afinidade com a área que eu queria ficar.
P/1 – Então retomando aí, o senhor foi pra União e depois voltou pro Rio...
R – Eu voltei pro Rio e fiquei três meses na Petroflex, então em 77 até começo de 78 eu fiquei na Petroquímica União e até abril de 78 na Petroflex. Aí começaram os trabalhos no CEMPS em projetos básicos, então os manuais eram textos, a máquina de calcular era um HP, uma SR 50A que era a que eu tinha e os cálculos eram no papel, o computador na época eram cartões em que alguns dos programas você rodava, você tinha feito alguns testes na universidade, então ia rodando alguns programas e de acordo com a afinidade... Tinham pessoas que tinham maior afinidade com a computação, as áreas onde ele trabalhava demandava mais trabalho de computação, então eles desenvolviam mais programas, se familiarizavam melhor com a confecção dos programas. Nós da engenharia Básica nessa época em 76 a Petrobras enviou durante o curso, aliás, durante o estágio em São Paulo a Petrobras enviou uma equipe para transferência de tecnologia em amônia para os Estados Unidos e foi um grupo de pessoas, de sete a 11 pessoas me parece do CEMPS quando estava formando a Engenharia Básica e quando eu retornei pro CEMPS a equipe tinha voltado. Então nós tínhamos os manuais, um monte de informações, um monte de desafios, áreas novas, eu fiquei trabalhando em fertilizantes, em amônia...
P/1 – Foram divididas as áreas? Ou isso já estava estabelecido?
R – Foram divididos. Então quando voltamos talvez pelo perfil da pessoa ou pela conversa com o gerente do setor se negociou o trabalho nas áreas que estavam desenvolvendo... Um colega que está aqui no COMPERJ, ele foi para uma área de eteno de álcool, no início de eteno de álcool na Petrobras, uma patente que a Petrobras estava desenvolvendo e eu fiquei na área de petroquímica, na área de fertilizantes e outro colega também ficou em fertilizantes.
P/1 – O senhor pode escolher?
R – Não, tinha o trabalho e foi colocado alguns... Tinha necessidade na área, tinham alguns problemas na unidade e foram colocados esses problemas pros técnicos resolverem. Então tinha o colega mais experiente que estava há mais tempo, há três anos na empresa fazendo os cálculos e nós em paralelo fazendo os cálculos também e resolvendo os problemas industriais que tinha na unidade, um circuito de um refervedor da unidade de amônia que o projetista tinha montado errado um detalhe. Então através do calculo nós identificamos o problema e ele foi sanado na unidade. Então a gente vê transformar em aço o que se fazia no papel.
P/1 – Era muito mais trabalho pra vocês fazerem esses cálculos num computador de cartão? Como é que era? Identificar um erro de calculo pra refazer?
R – A gente fazia o cálculo à mão e tinha quem verificava o cálculo, o gerente verificava o cálculo, a gente discutia com o gerente o processo de... O que ia fazer, o plano de trabalho, ele verificava o trabalho, o pequeno relatório ou o trabalho pra ver que a gente estava desenvolvendo e se estava fazendo corretamente e se aquela era a solução ou a melhor solução. E a computação... Aí quando a equipe veio da transferência de tecnologia de amônia já tinham montado alguns programas para cálculos de seções da unidade só que o cálculo da seção da unidade era baseado... Tinha o manual, tinha o cálculo a mão, o sistema de interação pra se chegar ao resultado, em alguns lugares tinha que fazer um método de interpolação, a gente fazia as várias tentativas de erro até chegar com um processo numérico de aproximação e se chegar a um resultado com a precisão desejada. E isso era transladado para o computador, para o programa. Então o critério de interpolação era implantado no programa se programava aquilo e chegava a um resultado, a máquina repetia o cálculo do engenheiro. E posteriormente à medida que alterava as condições de processos, eu trabalhei na unidade de amônia na remoção de CO2 em que se fez grandes alterações em pressões de temperatura, em condições de operação, de projeto e o programa original, ele não convergia. Então não convergia, a gente rodava o programa pra convergir e não convergia, então se voltava ao cálculo manual para aquela condição e aí obtinha-se a convergência e aí o responsável pelo programa pegava o cálculo, olhava e colocava o método... Ia acertando os bugs, acertando os processos para...
P/1 – Acertando os bugs?
R – É porque você faz um programa que ele atende bem num determinado intervalo e fora daquele intervalo não tinha sido testado. Então quando se passou a testar fora do intervalo, ele apresentava um erro, então era porque ele não tinha sido investigado fora daquele intervalo. Então quando a gente ia investigar fazer o cálculo fora daquele intervalo se chegava numa convergência com um determinado ajuste ou de um determinado teste antes. Então antes se fazia de um jeito, entrava numa curva de um jeito e agora ao fazer o cálculo manual se fazia mais um processo de verificação pra ver em que faixa estava. Ao escolher nova faixa o programa era customizado para aquela faixa.
P/1 - Então era um trabalho louco, né?
R – Louco e tem programas que estão lá até hoje sem aperfeiçoamento, então era... (troca de fita)
P/1 – Senhor Dirceu, então quanto tempo o senhor passou na Engenharia Básica?
R – Eu passei 22 anos na Engenharia Básica.
P/1 – Esse seu primeiro projeto então foi ligado a parte de fertilizantes?
R – Isso.
P/1 - E como foi a sua trajetória? Conta pra gente?
R – Nós estávamos naquela cultura em que se transferiu para o país uma tecnologia de projeto em produção de fertilizante, a amônia e em seguida em um ano depois a uréia e nessa época foi ácido nítrico. Então essa era a cultura da Engenharia Básica em que os programas e os manuais desses processos migraram para as várias áreas de geração de hidrogênio, várias áreas de refino da Petrobras, refino e petroquímica. Então o CEMPS pra mim foi uma escola, eu encontrei grandes desafios nessa área da petroquímica, em várias áreas onde eu era colocado para colaborar como em fertilizante fosfatado, com uma rota não convencional, em desempacotar tecnologia de desidratação de gás natural com o etileno glicol, nós fizemos esses projetos lá no CEMPS... Da unidade de amônia veio a geração de tecnologia de hidrogênio, antes de chegar em amônia que são oito catalizadores nesse processo, cada catalizador com sua peculiaridade para fazer a amônia e no meio desse processo é produzido o hidrogênio. Então o CEMPS passou a fazer projetos também de geração de hidrogênio e nas várias áreas... Eu trabalhei também nesses desafios em álcool química, em produção de álcool num projeto Petrobras de álcool, destilação com neutralização do caldo, em que tinha uma equipe trabalhando e eu entrei pra essa equipe pra parte de balanço de energia, então eu comecei a ver o global das unidades, fazia sobre o bagaço de cana, produzir CO2, produzir gás de biodigestor para acionamento de caminhões. Então eram sempre desafios de mergulhar fundo no raciocínio e no caminho, buscar um caminho.
P/1 – Perdão desculpa a ignorância, mas gás biodigestor não tem nada a ver com essa novidade agora que eles estão desenvolvendo de biomassa também não, né? Do bagaço...
R – Sim, já naquela época tinham programas de utilização de bagaço de cana que se tentava gerar energia... As destilarias de álcool sobravam bagaço de cana e eles queimavam com certo aproveitamento energético e naquela época já começou a ver, a estudar na época da crise do petróleo como utilizar o bagaço de cana como fonte de energia. Então briquetar o bagaço de cana que era secar e compactar pra utilização numa distância maior, tentar viabilizar o transporte e utilização numa distância maior. Então a gente participou desses projetos, visitamos as indústrias, fizemos projetos, projeto de biodigestor, tem até uma patente de biodigestor em que eu participei, utilizando um recheio regional do nordeste que era casca de coco e foi feito teste nesse sistema e saiu uma patente nessa área. Eu não sou muito dedicado a patente, mas eu estava na equipe que trabalhou com isso e sempre desafios, né? Dessa área de amônia, a área de remoção de CO2 com aminas, depois a área de geração de hidrogênio, a separação de propeno, de correntes de refinaria. Eu fiquei muito na área petroquímica, fertilizantes e petroquímica e ao lado tinha a gerência que trabalhava só em petroquímica, centrais petroquímicas também, muito pouco com o refino. O refino era produção de propeno, separação de propeno e de corrente de GLP em refinaria. Então foram desafios até uma hora em que foi desenvolvido o projeto de MPBE na Petrobras para refinarias da Petrobras e eu estava na equipe em que se planejou testes de laboratório...
P/1 – O senhor pode explicar pra quem não sabe o que é a sigla?
R – Sim. Nos anos 90 para melhorar a combustão... Utilizar melhor o combustível, o Brasil estava utilizando o etanol ou o etanol na gasolina. Então a fonte de oxigenado na gasolina, o etanol que faz com que a combustão seja melhor, ocorra em melhores condições em menor emissão de poluentes. Então uma nos Estados Unidos, a legislação apontava para colocar um produto oxigenado na gasolina e um dos produtos que ocorreu o bum naquela época foi um éter metil tecbutílico é um componente isobuteno do GLP que é produzido no petróleo, nas refinarias, nos FCCs, o isobuteno com o metanol com catalizador especial. E aí faz esse produto e esse produto é compatível com a mistura gasolina, na gasolina de forma a se colocar um percentual 3% de oxigênio na gasolina americana e o Brasil entrou nesse projeto para exportar o MTBE.
P/1 – MTBE?
R – MTBE é um éter e nós participamos dos quatro projetos implantados na Petrobras. Então desde o desenvolvimento em laboratórios, programação dos testes em laboratório, o projeto da unidade industrial, de laboratório pra análise industrial, eu digo que foi o maior (squei-up?) que eu já vi, não sei se alguém viu um squei-up de tal tamanho, de 20 mililitros para 20 metros cúbicos de catalizador, 20 mililitros laboratório e 20 metros cúbicos industrial. Então era o tamanho dos projetos que se tinham e eu participei desse projeto e fiquei... Eu havia sido convidado pra vir pra sede da Petrobras em 95, 94 e eu tinha terminado os projetos em MTBE, eram três projetos em paralelo, então eram só desafios, três projetos paralelos para Replan, a Revape e Reduque. Era uma equipe reduzida, muito pequena participando desse projeto e esses projetos foram implantados, ao terminar de implantar o da Reduque se fez mais um projeto para a Repar e foi construído o MTBE na Repar, entrou em operação e aí depois por questões ambientais se descontinuou a produção do MTBE.
P/1 – E aí o senhor foi convidado pra sede depois desses três projetos e o senhor veio pra cá?
R – Isso. Depois desses projetos eu fui convidado, eu declinei porque eu queria ver a unidade entrar em operação, eu participei desde o planejamento da pesquisa, o projeto básico, a construção e montagem, o acompanhamento e a construção e montagem e a assessoria, o treinamento de operadores, as aulas pros operadores, a partida das unidades. Na partida das unidades, eu até sofri um acidente a meia noite na Revape, eu bati na unidade o supercílio numa válvula que aconteceu um problema lá, no acionador da válvula e numa emergência eu bati o supercílio e levei três pontos na vontade de partir a unidade ali e correu tudo bem com essas unidades.
P/1 – Na empolgação, né?
R – Na empolgação e aí depois que partiram essas unidades e a da Repar também, aí eu fui chamado novamente pra vir pra sede pra seção de refino, tecnologia de refino, abastecimento e refino e tecnologia de refino, a área petroquímica também. Aí eu vim pra sede e a gerente Margarete Brunet me chamou, me convidou e eu vim pra sede e fiquei um ano e pouco nessa gerência, depois ela migrou para outra área e eu fiquei na gerência de hidrotratamento com Capitani que se juntou com a área petroquímica. Então eu fiquei em torno de dois anos na sede nessa área, o planejamento de unidades hidrotratamento pra refinarias, geração de energia e hidrotratamento pras refinarias. Aí depois nesse trabalho, aí fui chamado pra ir pra área petroquímica onde estava nucleando os projetos petroquímicos também pra viabilizar um pólo na fronteira com a Bolívia. Então eu coordenei um grupo de trabalho desafiador e identificamos os problemas do local e encaminhamos pra cima o resultado e desde então estou na petroquímica de 2001 até agora na área petroquímica, com os grandes desafios de planejar um pólo e até construir um pólo.
P/1 – Eu queria que o senhor explicasse isso melhor pra Elisa.
P/2 – Vamos falar de Comperj agora... (pausa)
R – Na fita anterior eu não falei na família, eu me casei aqui no Rio de Janeiro, tenho dois filhos já.
P/1 – O senhor quer fazer esse pedaço? Porque eu queria pegar também até no final.
R – Então esses desafios todos a gente não faz sozinho, né? Então eu vim pro Rio de Janeiro e aqui eu constituí família, me casei aqui no Rio de Janeiro, a minha esposa trabalhava no Banco do Brasil, aposentou, depois fez curso de Direito é advogada, meus filhos... Nasceram dois filhos desse casamento e estão um com 27 anos e um com 21 anos...
P/1 – O senhor se casou logo que chegou aqui?
R – Três anos depois, em 77 e em 1980 eu casei. Aí fiquei radicado no Rio totalmente perdi o sotaque, né? Do interior de São Paulo o R eu não puxo...
P/1 – Com os filhos cariocas, né?
R – Os filhos cariocas e aí acompanhei os filhos, eles cresceram e estão...
P/1 – Eu quero saber o nome dos seus filhos e da sua esposa?
R – A minha esposa é Regina Lúcia Batista Baleroni está aposentada do Banco do Brasil, trabalhou no Banco do Brasil, agora exerce a profissão de advogada e meus filhos, o mais velho se formou em Direito pela UERJ, hoje está em Chicago, ele casou-se há um ano, está em Chicago fazendo um LLM que é um curso de Mestrado em Direito com bons resultados e deve ficar um ano trabalhando lá até o final do ano que vem.
P/1 – E o outro?
R – O outro está fazendo Ciência da Computação na Universidade Fluminense, está no final do primeiro ano.
P/1 – São estudiosos os dois como o pai?
R – O primeiro é muito estudioso, o segundo muito inteligente, mas menos estudioso, mas vai achando o caminho dele, graças a Deus.
P/1 – A gente volta depois também pra fazer uma avaliação, enfim até pra saber um pouco desse lado estudioso que eu queria perguntar, até do senhor mais moço e atualmente, como é que o senhor sempre foi uma pessoa... Pelo menos que a gente notou aqui se dedicar ao estudo e ao trabalho? Qual era a sua diversão também?
R – Difícil.
P/1 – O que o senhor gosta de fazer nos momentos de lazer?
R – Eu estou sedentário, eu me dediquei muito ao trabalho, muito pouco a diversão, eu gostava de jogar xadrez, gosto de jogar xadrez e é basicamente isso. Poucos esportes, então eu me dediquei muito ao trabalho. A empresa trabalha desafios, então você fica sintonizado nos desafios o tempo todo, ainda mais quando tinham um desafio, tenho esse desafio do Comperj ou indústria petroquímica brasileira ou desenvolver ou evitar erros ou ter um... Você acorda e tem uma idéia, você acorda e aquela conta que foi apresentada tem um erro, a correção é tal e no dia seguinte você...
P/1 – Isso no meio da noite?
R – É isso acontece. O cálculo... É exatamente acordar com uma solução, entendeu? A solução é essa, o cérebro está o tempo todo rodando a mil.
P/1 – Eu imagino. Deixa a Elisa entrar mais detalhado pra gente saber realmente esse desafio da montagem de um pólo que é um projeto muito especial e muito complexo mesmo, né?
P/2 – Então vamos lá, vamos falar de Comperj mesmo, né? Como é que foi Baleroni a sua chegada no Comperj?
R – O comperj, ele iniciou-se com um memorando de entendimento entre a Petrobras e o grupo Ultra em 2003, já no final de 2002, a área da petroquímica da Petrobras já estava desenvolvendo busca de soluções, utilizando correntes pesadas. Pra isso uma empresa americana havia apresentado um pequeno estudo em que eu assistia essa apresentação com outros gerentes, com... O Vitor na época era gerente da área e isso não foi incentivado, no início não foi incentivado e nessa apresentação desenvolveram esse trabalho e o grupo Ultra durante seis meses desenvolveu uma primeira avaliação e quando ele obteve o resultado, no final de 2003 ele chegou na Petrobras com uma proposta de fazer... Petroquímicos de corrente pesada e depois de algum tempo, nós verificamos lá no grupo Ultra que o início da ideia também lá de utilizar correntes pesadas, não exatamente essas que a gente estava tratando foi um colega de turma da área do curso petroquímico que trabalhava na Copene, o Ernesto Bandeira de Luna Filho que trabalhou na Petroflex e depois foi pra Copene. E ao se deparar com a dificuldade de expandir a indústria petroquímica, ele levou a ideia de que podíamos utilizar correntes pesadas e na Copene a gente investigava isso também. Então depois de dois anos que a gente estava no projeto, esse colega veio trabalhar no projeto também no grupo Ultra e a gente conversou sobre como surgiu a ideia. Então o grupo Ultra veio com uma avaliação técnica e econômica de uma empresa conceituada a UOP, um relatório de 300 páginas na UOP comparando alternativas e processos e apontando uma rota de utilizar correntes pesadas, óleo combustível pra fazer petroquímico que na época sobrava no país. Então isso foi apresenta a instâncias superiores e foi determinado que a área petroquímica iria avaliar essa alternativa. E foi feito um memorando entendimento como eu disse com o grupo Ultra e num primeiro ano, eram nove meses, praticamente um ano, nove meses a primeira fase de estudo. Então a primeira fase de estudo era a companhia internacional UOP fazendo a avaliação das alternativas que nós montamos, era uma coordenação matricial do Vitor no abastecimento petroquímico, naquela época era petroquímica, projetos petroquímicos e um trabalho matricial na empresa rodando mais de 30 pessoas nesse trabalho matricial, nas várias áreas. Então como... E mais o grupo Ultra com umas seis pessoas do grupo Ultra. E na Petrobras nós temos a sorte de ter toda área de planejamento corporativo, a área corporativa, área de tecnologia de refino, todo suporte de refino, a área de gás e energia na época a área de transporte Transpetro e o CEMPS centro de pesquisa da Petrobras. Todas as áreas contribuíram, a área jurídica, a área tributária e todas contribuíram na avaliação de uma forma matricial sem restrição, todos se envolveram, todos atenderam a demanda requerida e era... Desculpa a Petrobras, grupo Ultra e MDS, a equipe do MDS também muito esforçada, muito proativo. E em nove meses de novembro de 2003 a setembro de 2004 terminamos a primeira fase. Então a área do refino fomos nós que fizemos segundo uma metodologia, o Vitor falou: “vamos utilizar a metodologia da Petrobras” e investigamos e avaliamos todas as alternativas disponíveis na época as correntes de óleo e combustível e petróleo. E como nós tínhamos petróleo que iria ser exportado no futuro, o Vitor falou: “eu quero utilizar 100% de petróleo nacional” era o petróleo Marlim que era o que a gente tinha de 20 API o API é a densidade, qualidade do petróleo e com as características de nosso petróleo. Aí surgiu no primeiro ano... Foi analisada a unidade petroquímica básica pra ver se era viável, o resultado foi que era viável naquela rota com os rendimentos estimados, não se tinha rendimentos das unidades de conversão, da conversão eu digo, era um FCC, uma pirólise e um HCC e um Coque, o Coque a gente já tinha muita experiência, nas unidades de Coque e projeto de unidade de Coque.
P/2 – E assim que você entrou no Comperj qual foi um grande desafio assim que você teve na sua equipe?
R – Eu era mais um engenheiro na equipe matricial, a sorte é que eu estava na equipe do Vitor que foi receber uma incumbência de fazer a avaliação. Então eu era mais um membro da equipe e ele coordenava as reuniões quando ele não estava... Quando ele tinha outra atividade em paralelo, aí eu coordenava a reunião. Então reunião de 15 ou 20 pessoas era cada um levando a situação do estudo naquele momento, as avaliações naquele momento e as avaliações estratégicas de mercado. Então o grande desafio inicial era: qual o tamanho do Comperj? Qual o tamanho que nós queremos fazer? 200 mil barris, 100 mil barris, 150 mil barris de capacidade de refino. Quando se convergiu para utilizar direto do petróleo, sair do petróleo e não receber óleo combustível que a Petrobras iria fazer outras coisas com óleo combustível coquiamento retardado nas refinarias existentes, então utilizar petróleo. Então qual o tamanho da unidade, então o desafio era: a melhor alternativa era converter o máximo de petróleo em petroquímicos. Eu faço uma unidade dedicada a fazer petroquímicos, sem a preocupação com os combustíveis, a molécula que entra, o objetivo dela é fazer o plástico ou derivado petroquímico que não seja plástico, o etileno glicol, a borracha, o estileno matérias de outros negócios. E nisso, nós chegamos a analisar o mercado, qual era a maturidade pra um empreendimento desses, entregar os petroquímicos em torno do ano de 2013, entre 2012 e 2014, o tempo para se passar pelas várias etapas era o ponto chave, 2012 a 2013, era o que se identificava e o tamanho do mercado nessa época em que os concorrentes... O Que o mercado conseguiria fazer para atender a demanda de petroquímicos. E a demanda de petroquímicos, até hoje se constata que não tem nafta para fazer mais derivados petroquímicos a Brasquem, a Copersul, a Petroquímica União com base em nafta não conseguem expandir ou as expansões são muito pequenas, né? Pra maior produção é um pólo novo com nafta é o que se tem, com gás, com etano se fez o pólo do Rio de Janeiro. Então que entrou em operação recentemente, depois de iniciado o projeto da Comperj que entrou em operação o pólo petroquímico do Rio de Janeiro. Então era etano e nafta, as matérias primas, a Petroquímica União recebendo a refinaria da Revape agora Revape, Recape recebendo lugar de refinaria pra expandir um pouco mais a capacidade de produção de petroquímico principal que eles fabricam que é o eteno. Esse era o cenário, restrição de fornecimento de matéria prima, na fronteira com a Bolívia quando eu participei do estudo, a gente identificava a dificuldade de tirar etano de um gás pobre em etano. Outros países fabricar o produto fora e trazer o produto para o país, então o desafio era esse de mercado que os concorrentes deviam fazer e quanto eles poderiam expandir e o complexo entrar em operação exportando uma pequena quantidade 20 ou 30% do produto que é uma reserva que você tem para não ter que fazer outro logo em seguida é assim que o mercado trabalha. Ele faz uma unidade que ele a coloca no mercado o produto e uma pequena parte ele exporta, quando o mercado cresce, ele coloca todo o produto no mercado e troca um pouco com o exterior alguns produtos que... Algumas especialidades que ele não fabrica pra complementar. E aí foi determinada a capacidade como 150 mil barris por dia como adequada, aí sobrava muitos produtos petroquímicos.
P/2 – E falando assim da inovação do Comperj, o FCC que é tão falado, mas existem outras também, né? Então conta um pouquinho pra gente desde o FCC até essas outras inovações também?
R – Veja quando se parte de um projeto do zero, um complexo do zero, a primeira fase era viabilizar a seção de refino na primeira geração em 2004, setembro se chegou com os dados que se tinha a verificar que era viável. Aí em seguida era fazer uma avaliação com o projeto conceitual, um projeto mais profundo com tamanho dos equipamentos com uma cotação preliminar de equipamento, uma estimativa de equipamento de quem iria fazer o projeto final dos equipamentos e a localização. Então foram dois anos intensos de avaliação das tecnologias e consolidando a localização, a localização era outra, era em Itaguaí, originalmente em Itaguaí, a área não comportou depois que se fez avaliação, não comportou ambientalmente e se buscou outro local no norte fluminense ou Itabotraí e identificou-se após quase um ano de avaliação, de localizações como Itaboraí poderia abrigar o complexo petroquímico da melhor forma possível ambientalmente e economicamente, o custo pra... A logística pra colocar lá foi identificada como adequado. E nós estávamos trabalhando ainda em desafios em projeto e depois que se monta esse desafio e avalia, eu ainda tenho que viabilizar esse projeto. Então aí além de consolidar as tecnologias. Então é um grande número de unidades que todas têm que estar concatenadas, o que sai de uma unidade precisa entrar na outra naquela quantidade de ser processado, não se trabalha com folga significativa, porque em oficina o investimento fica maior e tem que fechar todo balanço e todas as tecnologias. Então um desafio agora de implantação é essa finalização do projeto básico de todas as unidades, os livros de projeto a documentação para uma cotação do EPCs, da divisão dos EPCs, a cotação dos EPCs e a contratação dos EPCs todos, há um grande conjunto de EPCs em paralelo. Então esse é um desafio gigantesco de planejamento e contratação e construção e montagem, financiamento. Então isso a gente vê é uma explosão, é um exponencial, a gente começou no início um trabalho matricial com 30, 40 pessoas, na fase seguinte 80 pessoas da empresa com pessoas dedicadas integralmente ao projeto acompanhando os projetos conceituais no exterior, nas companhias contratadas que eram especialistas nessas avaliações. A fase seguinte era consolidar tudo o que ainda estava em preliminar de balanço, de modelagem, simulação e rendimento, o mais próximo da realidade era confirmar que tudo isso era realidade. Então pra isso se transformar em realidade se precisou obter rendimentos em unidades piloto, unidade piloto de hidrocraqueamento, unidade piloto de FCC, unidade piloto de pirólise com cargas, as nossas cargas eram especiais em relação ao que se tinha no mercado, especiais eu digo que era um pouco diferente pelas características. Então era fazer o petroquímico e ao se chegar nesse conjunto de unidades de produtos petroquímicos, a gente... O projeto, ele passa por uma refinaria também. Então a qualidade da matéria prima pra fazer petroquímicos foi tal que é a qualidade de uma refinaria complexa que se faz hoje para o cenário de 2012 em diante no Brasil. Então um diesel com 10 PPM de enxofre é um querosene compatível com querosene de aviação, é uma nafta com baixo teor de enxofre para os processos ou para fazer gasolina, como se faz na refinaria, é a remoção dos contaminantes nitrogenado do diesel, querosene, enxofre da fração gasolina, conversão do gasólio em diesel, querosene, nafta e GLP com HCC. Então conversão em produtos de baixo teor de enxofre, então tudo isso é um desafio, isso é a primeira geração, a primeira etapa que é a parte de refinaria. Então é petróleo, a destilação, a atmosférica a vácuo, a rejeição de carbono que é a remoção do resíduo de vácuo, remoção de carbono gerando mais derivados petroquímicos que é a unidade de coqueamento retardado e em seguida os tratamentos, tratamentos que consomem hidrogênio, tratamento de GLP, da nafta, do querosene do diesel, do gasólio e conversão no HCC.
P/2 – Então essa parte é uma inovação também? Essa parte do hidrotratamento?
R – O hidrotratamento, a Petrobras já faz o hidrotratamento nas refinarias, ela tem a tecnologia também.
P/2 – Ela não foi desenvolvida para o Comperj?
R – Não. A destilação e o Coque, a Petrobras já faz os projetos e o mercado atenderia, foi selecionado o CEMPS como melhor tecnologia pra destilação a vácuo e coquiamento retardado, para os HDTs , poderia fazer HDT de diesel como ele estava com muitos projetos na carteira, nós não conseguimos fazer o hidrotratamento de diesel e de querosene com mapeamento básico de engenharia, um projeto básico do CEMPS. Isso foi contratada uma companhia no exterior e o HCC, o CEMPS, ele tinha feito transferência de tecnologia, tinha feito o projeto e então ele fez um projeto para o Comperj, uma pequena assessoria.
P/2 – Que foi uma parte da inovação também dentro do projeto, né?
R – Também a inovação do hidrocraqueamento, você é a primeira unidade de hidrocraqueamento no país e também rodou uma unidade piloto com a carga que nós precisamos. Então pra obter carga pra essas unidades, era um novo desafio pra tirar de uma refinaria que processava o máximo de Marlim que era a Replan com os técnicos nossos da área petroquímica e mais o refino e a refinaria planejando a retirada de amostra. Então se conseguiu operar a unidade com 96% de Marlim, tirou-se as correntes pra fazer os testes nas unidades pilotos.
P/2 – Só voltando ao negócio do hidrocraqueamento, também tinha... Eu me lembro que você falou na última entrevista do Stean Craker e da pirólise fria e o stone Weper que era um...
R – É a seção seguinte. Na seção de refino, eu preparo cargas para a primeira geração. Então a seção de refino é uma refinaria complexa que tem todo esse conjunto de hidrotramento que no país de montava uma refinaria pra atender os rendimentos, pra tirar um determinado rendimento de diesel e nafta pra fazer gasolina e petroquímico e diesel para o mercado e à medida que ambientalmente foi tendo mais... Gerando mais exigências se coloca a unidade de hidrotratamento. Então a Petrobras está colocando as unidades de hidrotratamento cada vez maior o número de unidades de hidrotratamentos nas refinarias pra chegar no diesel com 50 PPM de enxofre e depois na fase seguinte 10 PPM de enxofre e a gasolina com baixo teor de enxofre. Então são os trabalhos que se fazem é o que se investe nas refinarias pra melhorar a qualidade dos combustíveis.
P/1 – Na primeira geração isso?
R – No refino, o que a Petrobras faz na refinaria e essa refinaria já sai com todas essas unidades, eu diria calibradas, ajustadas para fazer um diesel com 10 PPM de enxofre e um querosene de aviação e uma nafta com baixo teor de enxofre para uma reforma catalítica pra gerar aromático ou para um stean craker ou uma corrente mais pesada um pouco na faixa de destilados médios para um FCC petroquímico. Então nós temos a primeira seção de refino com todas as questões ligadas a severidade dessas unidades e os processos aplicáveis e as companhias tradicionais de fornecer tecnologia, a destilação, coque, a geração de hidrogênio, tratamento com cálcico regenerativo, tratamento com amina, os hidrotratamentos, águas ácidas. Mesmo as unidades auxiliares são tão importantes como as outras, uma falha nessas unidades, deixam o produto fora de especificação, os hidrotratamentos e hidroconversão, tudo isso usual nas refinarias e no mundo. E a fase seguinte é a produção dos petroquímicos, a seção eu diria mais simples é uma seção de aromáticos, nós temos uma nafta, uma corrente de nafta muito naftêmica e essa característica é muito adequada pra produção de aromáticos. Então nós temos com isso uma seção de aromático para produzir um paraxileno e como consequência produz benzeno também para a produção de PPA e Pet. Então é uma área petroquímica em que as centrais atuais pra expandir precisam de nafta e como não tem nafta fica uma área, eu diria protegida para se atuar.
P/2 – E aí usa o Stean Craker?
R – A seção de aromáticos tem uma reforma e uma produção de aromáticos, são várias unidades e a seção que produz os petroquímicos que é o grande bum o eteno e o propeno. Aí é onde eu tenho a pirólise que é o Stean Craker...
P/2 – Ah, a pirólise é o Stean Craker?
R – Craker ou pirólise é a denominação... A pirólise é a corrente de hidrocarboneto que é uma nafta, um etano, um propano ou um querosene é um produto mais pesado, ele passa num forno a 800 graus pra não depositar coque instantaneamente, ele é misturado com vapor. Então stean craker craqueamento com vapor, passa nesses fornos é quebrado em moléculas menores, também gera coque nesse processo é quebrado em moléculas menores de hidrogênio, metano, etano, eteno que é o grande objetivo, o propeno que também é o objetivo e sai uma gasolina de pirólise que segue pra produção de aromáticos como se o produto gera aromático. É produzido butadieno também nesse processo, então é extraído butadieno do stean craker, o eteno e o propeno em função da operação do stean craker e a gasolina de pirólise pra produzir mais aromáticos. Nesse processo também gera um pouco de resíduo de um óleo combustível, um óleo pesado, esse stean craker que é a unidade tradicional de uma central petroquímica, usando etano no Oriente Médio ou na Rio Polímeros ou GLP, nafta e mais pesado um pouco nas outras unidades no mundo. Em paralelo a isso, como o crescimento do mercado, derivados de eteno e propeno, era... A oferta de eteno é através da pirólise, a oferta de propeno é através da pirólise que é a produção de propeno está ligada intimamente a produção de eteno, tem uma razão espectrométrica entre eteno e propeno e há outro lugar que se produz propeno são nas refinarias. Refinarias onde tem FCC e no FCC é gerado um GLP rico em propeno, nesse propeno a Petrobras já produz na Reduque, na Revape, na Replan está entrando em produção, na Refape, produz na Relan, onde não produz é na Regar que é pequena quantidade, na Repar está montando unidade e em Manaus não produz essa corrente, de Cubatão é enviado pra Recape pra separar o propeno na Recape. Então esse é o cenário de produção de propeno e a oferta então é limitada, outras ofertas de propeno estão ligadas a conversão, a conversão de GLP em propeno, em metátese e utiliza eteno e buteno pra propeno, mas a desidratação de C4, de C3, então são com um processo mais caro. E outra fonte é o FCC petroquímico, então o FCC petroquímico, ele utiliza uma carga de médio a pesado numa condição especial, numa janela de maior severidade, maior severidade é maior temperatura, maior razão catalizadora carga, condições especiais em que levam... E catalizador especial em que leva a esse FCC a produzir muito propeno e eteno, mas mais propeno do que eteno. Então a demanda maior de propeno que se deslumbrou no mercado, ela poderia ser atendida pelo FCC petroquímico que produz o balanceamento que eu tenho no stean craker de razão espectrométrica e eu violei no FCC a produzir mais propeno do que eteno numa condição que utiliza catalizador e condições severas de temperatura. Então esse é o grande, eu diria é a peça que se encaixa no quebra cabeça pra balancear a produção de eteno e propeno.
P/2 – E a pirólise fria entra onde?
R – Agora que nós estamos saindo da área de refino e chegando na área petroquímica, na área petroquímica então eu tinha a seção de aromáticos que são transformações químicas, reações e transformações e produzem o liquido paraxileno e benzeno. A seção de produção de eteno e propeno é o stean craker, a pirólise e o FCC petroquímico, então nessas duas unidades tem uma seção quente no stean craker são os fornos de pirólise e no FCC é o próprio conversor de FCC e seu regenerador. Então são seções quentes onde o produto desejado, ele é gerado, o eteno e o propeno, são gerados nessas seções quentes. Então as condições necessárias pra gerar o produto, quebrar as moléculas de hidrocarbonetos e rearranjar e tirar o hidrogênio são só nessas seções com catalizador no FCC ou com calor no stean craker. E depois que saem dessa seção essas correntes tem que ser resfriadas, ou aproveita o calor pra separar os produtos, ao ser resfriada, ela gera até a temperatura ambiente uma grande parte dos produtos já são separados de correntes gasosas, os produtos que são separados são: o GLP, o GLP C3 e C4, a gasolina de pirólise ou a gasolina de FCC e os mais pesados um óleo. As correntes mais leves onde está o principal produto que se deseja que é o eteno, além do propeno que ficou na corrente liquida, o eteno ele tem que ser separado do etano, do metano e do hidrogênio em temperatura abaixo de zero. Então tenho uma seção fria tanto da pirólise como do FCC em que eu separo essas correntes desejadas, produto desejado, eu purifico e separo esses produtos desejados, o eteno e o propeno, o eteno pra produzir os derivados de eteno que é um mercado que se quer atender.
P/2 – E olhando assim todo o processo assim do Comperj, da construção, do aumento do projeto, que momento você achou que foram grandes tomadores de decisões?
R – Na fase dois do FEL2, nós tínhamos uma companhia a Tecnipe, a seção da Itália muito competente pra fazer as avaliações. Então lá naquela hora tínhamos decisões de: “vamos produzir o óleo combustível que vai ser consumido, nós vamos consumir gás natural como complemento, vamos receber óleo de fora” e tudo isso passou por avaliações econômicas e produzir mais óleo como combustível ou receber óleo de fora, ou receber um combustível de fora que podia ser óleo ou gás. Era colocar o hidrotratamento de médio ou não, isso durante essa fase teve que tomar decisões rodando sempre os pilotos, colocando os rendimentos a tempo e a hora fornecendo os dados de rendimento dessa unidade, de qualidade do produto, fazendo os testes no FCC para ver o rendimento e se chegou a conclusão de que precisava tratar os médios para carga do FCC, tratar a corrente de querosene que iria para o stean craker ou a capacidade do FCC que foi uma decisão muito importante, qual o tamanho do FCC petroquímico. O primeiro desafio foi: por que o CEMPS vai fazer o FCC petroquímico? Era o desafio: “eu faço um stean craker de correntes pesadas que existe no mundo ou faço um FCC petroquímico.” Então era... Os chineses faziam um FCC petroquímico em determinadas condições, tinham rodado uma unidade semi-industrial, o CEMPS com toda a tecnologia de FCC desde o desenvolvimento de catalizador, a fábrica de catalizador que tem no país, de catalizador de FCC. O desenvolvimento de vários catalizadores de FCC, a unidade de bancadas no CEMPS, unidade piloto no CEMPS, unidade protótipo no xisto ou a Engenharia Básica com toda a tecnologia transferida pra FCC e desenvolvida com várias patentes especiais pra FCC, a assistência técnica que o CEMPS fornece, a Petrobras já tendo construído o FCC. Tudo isso levou o CEMPS a verificar, “ah essa janela do FCC eu sei projetar, eu tenho catalizador” então testou os catalizadores nas dosagens adequadas que dava determinados rendimentos, testou-se em bancadas centenas de testes, testou-se na unidade do xisto semi-industrial e se chegou a condições de poder garantir, de poder projetar o balanço todo do FCC petroquímico. O CEMPS, era o dia-a-dia dele fazer o FCC também pra essa janela, ele conseguiu atender também essa janela petroquímica. Então foi um grande desafio se era viável fazer um FCC petroquímico se era possível ou não e se eu não tivesse FCC o que eu teria como alternativa? Então foram decisões que foram tomadas, foram grandes decisões no FCC, no hidrotratamento de médio para o FCC que melhorava o rendimento e ia ajustando os balanços. A Tecnipe Itália, ela foi muito efetiva na seção de utilidades, no dimensionamento da seção de utilidades. Então foi uma série de decisões tomadas nessas reuniões com a Tecnipe com as informações que eles tinham, com as informações das unidades piloto. Agora que está consolidado, a gente diz: “mas tava claro que precisava tratar essas correntes se não eu gero no FCC ou nesse caso eu gero correntes mais estáveis ainda, no FCC correntes com nitrogenado, enxofre que eu precisaria pra tratamentos posteriores. Então foi... As decisões foram... As decisões do momento com base nas informações, nas avaliações técnicas de tecnologia e foram desafios e de fato era o Vitor, o CEMPS, nós na equipe trabalhando o tempo todo sintonizado nisso pra chegar ao melhor arranjo.
P/2 – E em sua opinião Baleroni durante todo esse processo de desenvolvimento tecnológico, quais foram os grandes erros e os grandes acertos?
R – Erros, eu não vejo erros de projeto, risco tecnológico eu não vejo, porque eu tenho os testes... A unidade do xisto, ela representa... Muito similar a unidade industrial, muito pouca diferença.
P/2 – Você vê algum momento assim que você tomaria um rumo diferente? Igual você falou que o FCC hoje em dia está muito claro pra gente e a gente deveria seguir esse caminho, olhando pra trás a gente vê que foi um grande de um acerto, né? Agora tem alguma coisa que você fala assim: “não deu errado, mas a gente poderia ter escolhido um caminho diferente”?
R – Eu diria que nós ao sair da fase dois e ir pra fase três nós tínhamos que contratar um integrador, não um gerenciador dos contratos, a engenharia um PMC, um integrador e fazer os contratos de tecnologias. Nós fomos muito bem em todos os contratos de tecnologia, a área onde eu estava com uma equipe muito boa, o Leite coordenando a negociação, o Henrique coordenando a negociação, uma equipe pequena muito ativa e fomos eficazes nas contratações de todas as tecnologias que envolviam negociação com companhias estrangeiras. A filosofia de agrupar as unidades similares como HDTs mais aromáticos numa companhia fornecedora, o stean craker outra companhia, o FCC... Grandes companhias pra fornecer as tecnologias e eu acho que a gente cometeu um erro, mas não tinha como fazer diferente que era o integrador, nós contratamos como integrador... Nós fizemos a licitação internacional, selecionamos grandes companhias e ao final foi o Oler Passos como integrador e nós não mantivemos nas licitações, não permitimos que participasse a Tecnipe, porque ela havia participado da fase anterior, desenvolvido muito bem, mas ela era fornecedora de tecnologia. Então os fornecedores de tecnologia foram aleijados da concorrência como integrador porque eles iriam ter acesso as tecnologias dos concorrentes e teria que fazer integração do complexo todo, de todas as correntes, de todas as unidades fazer as interligações e teria que receber as informações tecnológicas das várias unidades. E a Tecnipe, nós fomos muitos felizes no conceitual, na fase dois e eu tenho certeza que se ela continuasse, ela seria muito eficaz nessa integração, porque nós estamos terminando a integração agora com a oleparson, ela já estaria familiarizada com os projetos de utilidades, de of site que foi um forte dela, né? Naquela fase. Mas era consequência de não ter o cruzamento de tecnologia, ela participou também da licitação para a pirólise, para o stean craker e ela não participou do integrador.
P/2 – Você faria diferente hoje em dia, mas na época não dava pra ser possível, né?
R – Não sei se seria possível fazer diferente, nós fomos levados a isso e não ficamos com membro integrador da fase anterior.
P/2 – E a gente vê que a Tecnipe foi uma grande parceria de sucesso, né?
R – Isso, ela foi uma grande parceria de sucesso. (pausa)
P/2 – Você estava falando Dirceu da questão da empresa que foi contratada como intermediária pra...
R – Integradora.
P/2 – É integradora pra unir os processos e o que você daria de sugestão pra um projeto que viesse assim mais ou menos no mesmo tamanho do Comperj pra talvez melhorar essa contratação? Essa escolha de integrador?
R – Eu diria que formar a equipe solicitada ou planejar... A fase um foi planejamento, a fase dois antes da primeira reunião foi planejamento, mais de um mês de planejamento, muito planejamento, a fase três também foi muito planejamento só que ás vezes você consegue trabalhar matricialmente fase um e a fase dois. A fase três de projeto básico é equipe, o quanto antes tiver equipe, eu diria que é escolher as pessoas para os pontos chaves e montar equipe é muito importante montar equipes, se você trabalha com equipes com restrições, as pessoas estão com projeto, vão virar a noite fazendo projeto, acontece isso, mas a equipe é muito importante. Nós trabalhamos, eu diria com economia de pessoas, então você fica com pessoas chave e que se perde a pessoa de um ponto chave... É bom não perder a pessoa de um ponto chave.
P/2 – Aproveitando que você está falando de equipe, quais são as pessoas assim... O tipo de capacitação, o tipo de perfil de pessoas que você precisou contratar na sua equipe pra desenvolver as atividades no Comperj?
R – Olha, no início a equipe era matricial e tinha uma equipe núcleo, o Vitor, eu... Algumas pessoas que se dedicavam quase que integralmente a esse projeto. Na fase dois as pessoas passaram a dedicar mais quase que integralmente e nessa fase dois já tínhamos o Fernando Lemos, a Luísa, eu, a Cláudia Bruna, o Valdir. Então já a equipe dedicada com mais o Luís Fernando Leite, o Carlos Rodrigo Paiva que veio do CEMPS acompanhando o projeto, em seguida veio o Henrique. Então algumas pessoas com dedicação e que eu diria a gente era multifuncional, eu trabalhava na seleção da tecnologia, discutia o mercado, discutia se ia ser integrado ou não a proposta de integrado veio da discussão entre... Não só da equipe como do João Luís Feldman, então era a discussão por que era integrado, por que não era integrado naquele cenário que nós tínhamos, como é que íamos negociar, até aquele momento não havia negociações de parceria. Então a apresentação foi um complexo integrado. O tempo ia passando e você ia desmembrando, você ainda ficava ainda muito ligado ao mercado, na avaliação econômica, nas tecnologias, nas contratações de tecnologias. E aí entra a parte que você não era tão familiarizado com equipamentos, tem um responsável ali autônomo, a parte de relacionamento externo é outro mundo gigantesco com o licenciamento e então você acaba... Não se liga nesses itens e até agora que a segunda geração é outra área que fica negociando. Então é muito importante ter pessoas... As pessoas vieram com dedicação, que acreditaram no Comperj, com dedicação, como desafio e nós sempre apontamos: “isso é um desafio, nós estamos aqui pra empurrar as equipes pra frente, se aperfeiçoar o melhor possível de forma que ela toma a decisão autônoma nas células.”
P/2 – E hoje em dia assim como é que é a sua equipe?
R – Hoje eu estou... Até o mês passado eu estava no processo de refino, agora o Comperj, ele está na fase de implantação, a equipe mudou, está mudando pra fase de implantação e construção dos EPCs terminando os projetos básicos, estão terminando todos os fides, fide é um detalhamento, uma quantificação de colocação de quantitativos para se ter uma melhor estimativa de investimento. Então está indo pra essa fase de implantação, contratar os EPCs, então exige um perfil... Em algumas áreas exige um perfil mais acostumado, mais com experiência de implantação, a gente tinha determinado tipo de experiências ao mudar as gerências, ele resolveu dar... Resolveu não, é necessário e essa fase dar o toque de perfil essencialmente implantação no projeto. E aí então foi necessário sair da seção de acompanhamento do dia-a-dia do projeto e ir pra área de recebimento e planejamento do recebimento do projeto que é um desafio tão grande quanto esse, tinham as equipes de operação, o acompanhamento da construção e montagem, o planejamento pra essa etapa é onde eu estou agora.
P/2 – E o senhor fala bastante da fase um, da fase dois como fechamento assim, como é que foi o resultado da avaliação do rendimento de cada uma dessas fases?
R – Sim. A fase um é onde os rendimentos são ainda incipientes em função da qualidade dos produtos, o que cada fornecedor de tecnologia tem de experiência com aquele tipo de matéria prima ou com a semelhante, ele te fornece o que eu diria que é a garantia dele, o que ele sabe fazer, o que ele melhor sabe fazer para aquela matéria prima. E foi o que nós recebemos, os rendimentos do coque, da destilação, os fracionamentos que tinha e como isso é muito... A experiência é vasta com determinado volume de dados, se faz a indicação dos rendimentos e os cortes. À medida que tem os tratamentos é a severidade do tratamento, então o tratamento é: remover amônia e enxofre, nitrogênio e enxofre compostos nitrogenados em enxofre dessas correntes e estabilizá-las. Então é um consumo de hidrogênio, catalizador é uma determinada severidade, então isso aí houve testes em unidades piloto. Então aí é o fornecedor daquela tecnologia com o teste em piloto ou com a experiência dele como é a Petrobras naquela matéria prima. Em seguida é a transformação no stean craker com a característica da nossa matéria prima, então é o banco de dados vasto do fornecedor de tecnologia, dos quatro fornecedores que concorreram mais um teste em piloto pra que não reflua no futuro de que: “olha o meu banco de dados era esse, eu garanti esses rendimentos com base no meu banco de dados” e as características da sua carga eu tinha, mas não tinha uma semelhança, tinha uma igual, não tinha uma igual, tinha uma semelhante. Então nós fizemos teste em piloto pra ter a característica exata da nossa corrente com a nossa carga do stean craker. Então nós fomos felizes em ter conseguido ter refinaria com matéria prima Marlim com aquela fração hidrotratada ou não em condição adequada pra fazer os testes e colocar numa empresa que conseguia fazer aqueles testes e colocar pra fazer os testes e receber o resultado em tempo de entrar no processo de licitação de cotação e de... O projeto básico. Então eu diria foi um esforço de todo mundo e fomos eficazes em conseguir o resultado disso. Então por isso eu digo, eu não acredito em risco tecnológico nesse empreendimento tanto de equipamentos como de processos. E esses são o dia-a-dia... Você está o dia-a-dia com essas informações e sempre dando a solução pra um dos problemas, um dos pontos.
P/2 – E agora vocês estão no Fel três, né?
R – Então agora os projetos terminando... Terminaram os projetos básicos, então a fase um eu disse é muito incipiente, a fase dois é com que ele tem de melhor informação ou com o que ele obtém de piloto que foi o FCC, o stean craker, o stean craker não, mas o FCC, o HCC, o hidrocraqueamento resultado do piloto. Na fase seguinte é contratar tecnologia que com base no piloto e na experiência da companhia, ela faça o projeto e a utilização energética de cada unidade e gere os produtos e os produtos entrem na outra unidade que está projetada pra receber aquele produto com aquela qualidade. Então esse é o projeto básico onde se gasta mais, se contrata as companhias e em paralelo com isso tem a terraplanagem, né? Todo o licenciamento ambiental, a terraplanagem, garantias as vias de acesso ao empreendimento, o treinamento de operadores, a contratação de engenheiros de operadores para que lá em 2012 eu tenha equipe no local... Antes esteja acompanhando a montagem, a construção e montagem e quando entrar em operação, ela já tenha sido treinada em outras unidades para fazer a correta operação do empreendimento. E a fase seguinte é a implantação é outro perfil de pessoas que vai acompanhar os contratos e acompanhar a implantação.
P/2 – E voltando a falar um pouquinho da Tecnipe, né? Uma coisa que eu me esqueci de perguntar, qual foi a grande diretriz assim que levou a escolher a Tecnipe como fornecedora?
R – Como elaboradora do projeto... A integradora do projeto...
P/2 – Das rotas?
R – Do projeto conceitual? Das rotas tecnológicas. Nós fizemos um mapeamento do mercado, encontramos um certo número de companhias que faziam isso, que estavam no... Que tinha no portfólio deles, fazer isso como se apresentou a Tecnipe, a Toyo, a UOP, a Foster Willer e mais outra companhia, umas cinco companhias se apresentaram, fizemos uma reunião, um Workshop com cada uma pra ela apresentar a experiência deles, como eles trabalhariam nesse projeto na fase dois integral, a fase dois, o quanto custava isso. E fizemos a avaliação com o grupo Ultra e nessas avaliações saiu a Tecnipe próxima de outra companhia e foi selecionada a Tecnipe pela experiência, pelo preço, pela experiência deles, outras também tinham experiência, mas ela foi, eu diria que foi muito bom ter escolhido a Tecnipe.
P/2 – Uma grata surpresa, né?
R – Não, a gente esperava já, outra grande companhia era a UOP, a Foster Willer, a Toyo, a Toyo ela dizia que fazia, mas a gente não sabe se a contrataria pra fazer ou não ou se ela teria equipe exata pra fazer como a gente viu integrador ele contrata e no mercado montam as equipes. Então com a multitude de cultura também, eu diria que no integrador o que de dificuldade nós tivemos no integrador, nós temos a sorte, a competência, a Petrobras tem a competência de ter na Engenharia, no refino, no CEMPS, na Gás e Energia, na Transpetro ter os especialistas formados e acostumados com os desafios e com projetos. E ter vivenciado ter resolvido problemas de projetos e que é quem está participando digamos matricialmente de suporte a esse projeto básico do integrador, das dificuldades do integrador, porque a integração é feita quando você finaliza, quando está finalizando todos os projetos, você tem que garantir que a integração que é uma das primeiras coisas que vai entrar em operação é a tancagem e utilidades e precisa que ela faça o mais rápido possível. Então você precisa dar um suporte, o máximo de suporte nessa etapa, por isso a equipe, a abnegação das pessoas, a dedicação, a disponibilidade numa empresa que está expandindo, a Petrobras está expandindo e está com pessoas experientes se aposentando. Então é tirar das equipes onde eles estão as pessoas chaves é isso que a gente está querendo fazer, tirar as pessoas chaves de certos pontos pra trabalhar no nosso projeto, né? A gente acredita que nosso projeto, ele além de entrar em operação naquela data, ele precisa entrar com as melhores condições e com o que os melhores especialistas conseguem colocar nesse projeto.
P/2 – Legal. E durante toda a sua participação no Comperj mais desafios foram surgindo e sua bagagem aumentou ainda mais, né? O que era grande ficou ainda maior e se você pudesse voltar assim com toda essa experiência que você tem hoje pro comecinho do projeto, teria alguma coisa que você faria um pouco diferente? Ou que você mudaria o rumo de como foi feito sem a experiência de já ter trabalhado no Comperj?
R – Eu diria que agora a gente vê o Comperj como se fosse um livro aberto, naquela época você discutia muito “oh, temos que modelar isso, temos que avaliar esse detalhe” então você trabalhava pra ver, aprender e ver o resultado, agora você tem o resultado... Como eu estou desde o início, eu diria que eu sou um banco de dados, né? As informações foram acumulando, acumulando e agora você vê com maior clareza todo o empreendimento, talvez poderia agilizar alguma coisa ou batalhar mais pra ter as equipes, as pessoas, mais gente envolvida nesse projeto, porque a grande dificuldade, as ideias você mobiliza, as pessoas você tem as várias dificuldades pra tirar as pessoas de sua zona de conforto e levar pra esses desafios como você está no desafio, você acredita, você quer contaminar todos com o mesmo desafio, né? O mesmo empenho.
P/2 – E só voltando aqui nos dilemas, né? Nas tomadas de decisões, uma das grandes tomadas de decisões foi a escolha do FCC, fazer o FCC ou stean craker pra...
R – Não, é o FCC petroquímico.
P/2 – A escolha do FCC petroquímico? Que outras escolhas mais tiveram que mudaram assim o rumo do projeto de forma drástica?
R – Eu diria que quando se escolhe um processo, por exemplo, o stean craker, nós tomamos a decisão de fazer o maior possível, então com as cargas que tínhamos fizemos o maior tamanho possível de stean craker e aí entre o stean craker e o FCC era qual matéria prima gera melhor resultado e em qual processo, né? Até uma determinada matéria prima o querosene no stean craker e os mais pesados no FCC petroquímica. Aí o tamanho do stean craker e do FCC no final foram consolidados pelo desafio do CEMPS, apontar aqui, fazer o maior tamanho, o FCC havia dificuldades, maior dificuldade, o stean craker, era o tamanho das máquinas dos compressores, um dilema era: qual o máximo de tamanho desse compressor de carga que tem no mundo? A Tecnipe: “nós temos experiência até uma determinada capacidade” e isso está nessa faixa de capacidade, por exemplo, esse gás de craker está nessa faixa de capacidade do compressor de vocês. Então temos repetibilidade, temos projeto operando com essa faixa de capacidade, então não estávamos ultrapassando limites de capacidade desses processos. Então onde o processo está consolidado, eu não posso errar, eu não posso levar a uma máquina especial que possa levar a novas falhas, novos desenvolvimentos. Um outro ponto é por que eu faço FCC? Eu posso chegar e avaliar hoje que em função do tamanho de mercado de produtos petroquímicos, eu poderia fazer um stean craker menor ou não fazer FCC, são as escolhas finais. Agora quando eu tenho uma unidade, aromáticos, um stean craker e FCC a gente não está vendo... Consolidamos isso quando propusemos eles serem integrados na época da proposta, nós não estamos vendo se é vendedor de matéria prima eteno, propeno ou paraxileno ou benzeno, nós estamos vendo qual o produto final é o plástico, é o derivado é o etileno de bucol, a matéria prima... É o pet que utiliza o etileno bucol, eu estou criando negócios que coloca o produto no mercado pro usuário. Então esse é que é o grande motivador do Comperj é o plástico no consumidor, o produto no consumidor, então é o plástico poletileno, o propileno, pet é esse produto no consumidor. Então é isso que são os negócios e quem paga no final é o consumidor que paga um projeto integrado com escala quando se verifica essas unidades de segunda geração do Comperj. Então a primeira geração está no limite de escala, o stean craker, o FCC e quando essas duas unidades o stean craker, o FCC e aromáticos que também está quase no limite de escala de uma seção de aromáticos, quando elas geram essas escalas mundiais de produção, elas também exigem que as unidades seguintes tenham escala mundial de produção que gera produto mais barato, mais competitivo que pode levar a fechar uma unidade pequena que está antieconômica no país, pode acontecer isso. Então eu estou fazendo a unidade, projetando unidade poiltileno e prolipopileno o dobro do último projeto que foi feito e foi nos anos 90 é o dobro da capacidade daquelas unidades, o politileno e o prolipopileno, o etileno bucol também é o dobro do tamanho daquelas unidades, o estileno também é maior que o dobro das unidades que foram construídas no país na década de 90. Então isso é competitividade é poder disputar no mercado global em que eu tenho uma pequena sobra de produto é poder colocar esse produto lá no mercado internacional, comunidade em que ela é competitiva nessa escala. Agora a matéria prima pode vir a custar mais se eu for comprar nafta no mercado ainda fazer um pólo petroquímico com nafta hoje não tem nafta suficiente. Então ou vou importar a resina do Oriente Médio e ficar sujeito a esse mercado internacional ou gerar outra alternativa e a outra alternativa foi: qual matéria prima que eu posso gerar esse petroquímico? E essa matéria prima é compatível com uma refinaria de qualidade dos próximos anos com baixo teor de enxofre, baixo teor de nitrogênio nas matérias primas desses petroquímicos que é um produto que é compatível com o diesel, com querosene que eu coloco no mercado no futuro, não hoje. Então tem um custo, mas por outro lado, eu gero emprego no país, gero impostos e mais da metade do que for gasto na implantação são impostos que vão gerar seja ICM, IPI, a mão de obra, o imposto de renda que o funcionário paga, os impostos recolhidos na cadeia toda, tudo isso é retorno pro país. Então eu estou pegando uma riqueza... É um petróleo pesado que iria exportar e receber um montante e distribuir pros acionistas, né? E eu estou gerando emprego e retornando imposto para o país, para o crescimento da população.
P/2 – Só uma última pergunta então Baleroni, qual foi o dia assim mais marcante do seu trabalho ai no Comperj? O que aconteceu nesse dia?
R – Foram muitos. As aprovações na fase um, na fase dois, a constituição da empresa recentemente, a empresa... A Petrobras acreditando, ela colocando no orçamento ainda não está aprovado totalmente, no processo que se faz é: “eu preciso ter os EPCs cotados para ter a garantia de que tudo é viável, né”? Então tudo isso é degrau após degrau, né? A gente vê desafio após desafio, degrau após degrau e cada um dando mais alegria de forma que a gente consiga ainda ter muitos colegas empregados no Comperj, já admiti muita gente e fazer os produtos... Construir... Transformar em aço tudo que era ideia, porque até agora uma parte era ideia agora já estamos contratando alguns reatores, contratando as unidades, fazendo a terraplenagem é transformar em aço e correr pra operar, preparar as equipes pra operar, cada dia é um... A gente ir vencendo as questões, os problemas que são colocados e ir aperfeiçoando o processo é gratificante, né?
P/2 – Muito bom.
P/1 – Senhor Dirceu antes de fechar eu gostaria também que o senhor contasse qual é a sua área? Qual é o seu cargo hoje, por favor?
R – A minha área, eu estou no... Teoricamente eu estou hoje no Comperj S.A na equipe do Sérgio Bezerra, o diretor de cooperativo e industrial, por uma questão ainda de fase, essa equipe, ela não está aprovada, não tem a estrutura física da equipe. Então eu estou no Comperj, na segunda geração, na gerência de polietileno, no setor de polietileno.
P/1 – Ta certo. E eu gostaria também de saber se tem algo mais que o senhor gostaria de deixar registrado que a gente não conversou? Que não foi perguntado?
R – Eu queria agradecer essa oportunidade de falar, são os raros momentos em que você não fica se preparando antes, né? Passar uma semana ali meditando pra sair o resultado, você está relembrando, vivenciando, apontando o que foi o seu dia-a-dia, o que foi de desafio que você encontrou durante esse tempo todo, os amigos que chegaram, os amigos que se perderam, os amigos que aposentaram, os colegas que faleceram, né? Quem vai chegar, a preparação do terreno pra quem vai chegar pra que daqui a 20 ou 30 anos isso aí esteja funcionando... Continue funcionando como o planejado e sem riscos, sem acidentes, ambientalmente correto, gerando riqueza pro Estado e país.
P/1 – A gente costuma perguntar e hoje a gente não perguntou, tem alguma história também assim: engraçada, curiosa que o senhor se lembre? Aqui da sua vida na Petrobras?
R – Quando a gente está focado num assunto, aí começa a...
P/1 – Ligado ao Comperj teve alguma engraçada?
R – É difícil voltar a fita e selecionar.
P/1 – Ta. Eu gostaria só de terminar perguntando o que o senhor achou de ter participado do Projeto Memória também?
R – Eu gostei é um momento em que a gente interioriza, revela algumas informações e vamos ver o registro depois, né? A gente fala desprendido e fica o registro. Muito obrigado.
P/1 – Nós que gostaríamos de agradecer a sua participação e sua contribuição. Obrigada.
R – Obrigado.
Recolher