IDENTIFICAÇÃO Sou Maria da Penha Martins Barreto Barroso, nasci em 17 de outubro de 1954, numa cidade próxima aqui, São Gonçalo, neste Estado. FAMÍLIA A minha mãe teve três filhos, eu sou a caçula e o meu pai teve dois filhos; eu sou a mais velha. Não fui criada por pai, fui criada por avô, por tio. E isso me valeu ser um pouco paparicada. Como minha mãe era extremamente decidida e um pouco abusada, eu peguei dela essa coisa da coragem de encarar o mundo. Na minha casa, quase todo mundo era ligado à música, meu avô era músico. Eu me chamo Maria da Penha, porque meu avô tocava no pé da Igreja da Penha. Acho que tenho essa mistura de coragem, da minha mãe, uma parte de música e de sensibilidade do povo que vivia todo junto, com os meus tios. Eu tive o meu avô, Antônio Martins, e minha avó que não conheci, porque ela morreu muito cedo. Depois conheci a outra avó, a mãe do meu pai. Também era uma pessoa muito corajosa. Se chamava Teodora. Mas eu tive pouquíssimo contato, tanto com o meu pai, quanto com essa avó paterna. Dizem que eu pareço um pouco com ela de jeito e tal, mas não tive contato. Tive contato, basicamente, com a família da minha mãe. A família do meu avô toda era de músicos. Ele tocava com Pixinguinha, com Cartola, com esse povo todo. Mas ele morreu eu tinha seis anos, por aí. FAMÍLIA Minha mãe morreu há uns seis anos, mais ou menos. Como é que era minha mãe? Deixa ver. A minha mãe era extremamente forte, extremamente gaiata, extremamente espontânea. Muito espontânea. Ela segurou a onda, criou os filhos com muita dificuldade, principalmente depois que meu avô morreu, sozinha, porque pessoa assim não vai casar; uma pessoa assim fica solteira. Ela era espontânea e desaforada. Extremamente humana Então, vai ficar solteira, porque não tem homem que encare uma barra dessas. Ela morreu solteira, com 80 anos, há mais ou menos seis anos. Eu acho que tenho um pouco dela, a sua coragem...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Sou Maria da Penha Martins Barreto Barroso, nasci em 17 de outubro de 1954, numa cidade próxima aqui, São Gonçalo, neste Estado. FAMÍLIA A minha mãe teve três filhos, eu sou a caçula e o meu pai teve dois filhos; eu sou a mais velha. Não fui criada por pai, fui criada por avô, por tio. E isso me valeu ser um pouco paparicada. Como minha mãe era extremamente decidida e um pouco abusada, eu peguei dela essa coisa da coragem de encarar o mundo. Na minha casa, quase todo mundo era ligado à música, meu avô era músico. Eu me chamo Maria da Penha, porque meu avô tocava no pé da Igreja da Penha. Acho que tenho essa mistura de coragem, da minha mãe, uma parte de música e de sensibilidade do povo que vivia todo junto, com os meus tios. Eu tive o meu avô, Antônio Martins, e minha avó que não conheci, porque ela morreu muito cedo. Depois conheci a outra avó, a mãe do meu pai. Também era uma pessoa muito corajosa. Se chamava Teodora. Mas eu tive pouquíssimo contato, tanto com o meu pai, quanto com essa avó paterna. Dizem que eu pareço um pouco com ela de jeito e tal, mas não tive contato. Tive contato, basicamente, com a família da minha mãe. A família do meu avô toda era de músicos. Ele tocava com Pixinguinha, com Cartola, com esse povo todo. Mas ele morreu eu tinha seis anos, por aí. FAMÍLIA Minha mãe morreu há uns seis anos, mais ou menos. Como é que era minha mãe? Deixa ver. A minha mãe era extremamente forte, extremamente gaiata, extremamente espontânea. Muito espontânea. Ela segurou a onda, criou os filhos com muita dificuldade, principalmente depois que meu avô morreu, sozinha, porque pessoa assim não vai casar; uma pessoa assim fica solteira. Ela era espontânea e desaforada. Extremamente humana Então, vai ficar solteira, porque não tem homem que encare uma barra dessas. Ela morreu solteira, com 80 anos, há mais ou menos seis anos. Eu acho que tenho um pouco dela, a sua coragem mesmo, a espontaneidade de falar o que pensa, mais ou menos assim. Eu sou filha única e tenho quatro irmãos. Da minha mãe com o meu pai, apenas eu. O resto é tudo 50% irmão. Eu tinha dois da minha mãe e dois do meu pai. De novo, tive uma ligação muito maior com os filhos da minha mãe, com quem fui criada. Hoje, na verdade, eu só tenho dois irmãos. Tenho o meu irmão mais velho, filho da minha mãe, e me irmão caçula, filho do meu pai. INFÂNCIA Como foi a minha infância? A infância foi uma droga. Foi muito complicada. Não é muito fácil ser criada sem pai e com mãe pobre. Então, você já viu que isso não é muito simples. Você sai já de uma situação muito difícil. Inclusive, a própria família do meu avô que perdeu, no mesmo ano, o filho mais velho, a sua mãe e sua mulher, minha vó. E aí o cara se isolou, foi morar não sei aonde, lá no canto do mundo. Logo depois ele também morreu. Então, ficou tudo um pouco meio desestruturado. E aí vem a minha mãe com os três filhos. A vida não foi fácil não, foi muito difícil, muito difícil. O que de uma certa forma, também, acho que foi essa origem que me ajudou bastante. Podia ter dado tudo errado, mas acho que ficou legal, o resultado foi bom. Foi bom. Porque depois você que passa por um bando de coisas assim e não foi só isso, acaba ficando um pouco forte para encarar o mundo. E isso acaba também refletindo na sua vida profissional, porque não dá para ficar no recreio, você vai ter que encarar aquilo. Aí acho que foi bom. Até agora, para criar meus filhos, essa origem foi boa. BAIRRO / SÃO GONÇALO Morei em São Gonçalo, próximo ao centro, que é um lugar muito pobre. Hoje, está estourando; é o segundo colégio eleitoral do Rio. Tem pobre que não acaba mais naquele lugar; tudo quanto é pobre corre para lá. Ter nascido numa rua e viver ali durante muitos anos, a rua, o bairro, vira a sua casa. Acaba virando sua casa mesmo, muitos vizinhos foram também muito importantes. Muita coisa [aconteceu], mas foi bom assim. Minha mãe saía para trabalhar e a gente ficava solto por ali, aprendendo a viver. Aprendendo a viver, porque pode sair do caminho, mas também pode dar bom resultado. Sempre tem essa possibilidade. Com essa origem, é muito mais difícil chegar, é mais fácil você descambar. INFÂNCIA Na minha rua passava um rio que dava enchente. E como isso era uma coisa de infância, eu me apaixonei por enchente. Já viu gente que gosta de enchente? Adoro uma enchente, fico doida, verdade Porque eu era criança e isso não era uma coisa ruim. Devia ser muito ruim para minha mãe, mas para mim era muito bom. A nossa casinha ficou lá. Numa época, ela caiu, em 1967, porque já era muito velha. E aí se juntaram lá [para reconstruí-la]. Nesses lugares pobres, existe uma solidariedade muito grande; as pessoas da travessa eram quase como se fossem família também. Quando você é muito pobre, precisa se unir para ganhar alguma resistência. E a casa era isso. Era uma casa simples, ficamos ali uns 30 anos. A casa está lá ainda, eu saí com uns 32 anos. Mas está lá, as pessoas, os meus irmãos, meus primos... porque tem aquela coisa de que era do meu avô e não sei o quê. BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA As brincadeiras eram todas de homem: bola de gude, pipa, subir em árvore. Eram essas as brincadeiras. Agora, é interessante também, que eu sempre gostei muito de estudar. Então era assim: chegar da escola, garantir que no outro dia eu tirava [boa nota]. Eu era sempre a primeira aluna. Primeiro acabava as coisas que deveriam ser feitas para ser sempre a primeira aluna e, depois, sobia em árvore, andava de bicicleta. Eu tinha essa preocupação de chegar e fazer tudo, e tinha que ser rápida, porque, não parece, mas eu sou um pouco agitada, tenho sempre que estar fazendo alguma coisa. Também brigava muito com meus irmãos; o pau comia. Eu era a única mulher no meio de um monte de homem. Eram tios, irmãos e, além de tudo, eu era a caçula. Então, era briguenta, minha mãe ficava muito louca. FAMÍLIA Morava toda família lá. Era tudo muito desestruturado, porque [meus tios] também perderam a mãe muito cedo. Semana passada, perdi um tio que sua mãe morreu quando ele tinha cinco anos. Ele não lembrava dela. Quando se perde a mãe cedo, tudo se desestrutura. Depois que estava tudo desestruturado, eu nasci. Então era assim, tudo muito desestruturado. Hoje, morreram todos, só tenho uma tia viva, os homens morreram todos. EDUCAÇÃO Me puseram numa escola que era muito ruim.. Aí um dia eu cismei de dizer para minha mãe que não iria mais para aquela escola. Ela me colocou em uma outra, que se chamava “Escola Dois”, hoje tem outro nome o qual não me lembro. Também era uma escola muito simples. E lá eu conheci uma pessoa, aí já era uma professora, porque na escola anterior, nem a professora era formada. Era uma coisa esquisita, como hoje tem Alfabetização Solidária, nem sei se é o nome certo, mas naquele tempo a pessoa nem era formada. Aí eu conheci uma pessoa que se chamava Miriam Magdala, professora mesmo, e das boas. Essa mulher me fez fazer Primeira Comunhão e foi aí que eu comecei a ser primeira aluna, porque eu não podia decepcionar aquela mulher. Tinha que estudar muito para não decepcionar aquela mulher. Passamos a começar a aula tipo às seis horas da manhã, porque tinha um bloco de crianças que não conseguiam aprender a fazer conta, por exemplo. Ela dividia a turma, eu ficava com uma turma e ela ficava com a outra, para aprender a fazer conta. Isso às seis horas da manhã, porque às sete horas começava a aula normal. Ela conseguiu me envolver, e eu acho que foi essa mulher que me ajudou muito, me mostrou outros caminhos. Quando eu estava terminando a faculdade, um dia, eu estive lá; eu não sabia que aquela foi a sua última turma, porque a partir daí ela virou diretora e não teve mais turma. Ela me disse: “Eu fechei com chave de ouro o magistério. Você foi uma das melhores alunas que eu tive”. Isso foi na terceira primária, estudei com ela na segunda e na terceira série primária. A escola era muito simples, não tinha essa estrutura de hoje. Tinham três professoras e um espaço onde dividiam as turmas. Era muito simples. A professora é que abria o colégio. Era próxima da minha casa. INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE SÃO GONÇALO Depois eu passei dali para um outro colégio, porque ela mesma me tinha dito que a professora da quarta série era muito ruim: “Você pula de escola porque fulano...”. Eu também já conhecia mais ou menos, era uma conversa meio que de professor para professor, porque ela me dava muita confiança. Aí eu acabei mudando, indo para uma outra escola. Depois, eu fiz prova para o Instituto de Educação. Naquele tempo se fazia prova de admissão. Fiz a prova para o Instituto e fui. Fiquei no Instituto de Educação, fiz o antigo Ginásio e o Segundo Grau. Quando eu terminei o Segundo Grau, não dava mais para continuar estudando. Foi aí que eu fiz prova para Petrobras, para auxiliar de escritório. No Instituto de Educação de São Gonçado já era outra estrutura, um colégio enorme e eu fui estudar à noite. Eu devo ter um santo forte para burro, porque nos lugares onde chego, sempre encontro um maluco que tem afinidade comigo. E isso me ajudou muito, sempre, a vida inteira foi assim. No Instituto de Educação, eu conheci uma pessoa, que era até parente dos parentes da minha mãe, um professor de matemática, um cara que esteve exilado devido algumas confusões lá no Exército. Saiu do Exército quando era capitão, um negócio desse, em 1964. E aí ele virou professor de matemática, para sobreviver. Mas ele era muito doido e também muito bom professor. Grosso que só ele, mas era muito bom professor. Mas nós tínhamos uma afinidade muito grande. Aí, de novo, virei primeira aluna de matemática, porque ele me dava os livros e eu encarava aquelas maluquices dele, de fazer 50 problemas de um dia para o outro. Essas coisas acabam lhe dando condição. Eu me lembro que quando fiz a prova da Petrobras, eu era bem nova, no dia da prova de matemática, quando saí, havia uma porção de gente que estava fazendo faculdade e não conseguiu resolver os problemas de matemática. Eu consegui, porque estava acostumada a fazer 50 de um dia para o outro, por causa desse professor. Eu saí rindo da prova e eu só tinha o Segundo Grau. Esse professor se chamava Aildo Franco. Havia um grupo bem pequenininho que gostava de estudar. Havia umas coisas assim, por exemplo, quando a gente terminava o Ginásio, tínhamos que fazer prova para o Segundo Grau, porque a escola só oferecia 200 vagas e tinha mil crianças, porque não tinha tanta escola como tem hoje, que tem mais, como também tem mais crianças. E aí esse grupinho foi fazer prova. Entra o professor de matemática, esse maluco, como fiscal, com todo o mundo [fazendo prova], pega a minha prova de matemática, olha e diz “Essa aqui está errada” e sai. É claro que eu tirei dez na prova de matemática. Claro Ele era um furacão Eu sempre encontrei pessoas assim, tenho essa coisa da luz. AMIZADES Tem uma amiga que freqüenta a minha casa até hoje, todo final de semana, a Eliana, uma dessas que estudava comigo. Era só para estudar mesmo. Tem uma pessoa na Petrobras também, lá no E&P, a Rosângela. Ela tinha muita dificuldade de aprender, aí a mãe dela tinha o maior prazer que a gente fosse estudar na casa dela, ela também me chamava para estudar. Eu adorava ir lá porque a mãe dela fazia bolos. Eu ia para comer o bolo. E sempre estudando matemática, porque as pessoas criam pavor de matemática e, quando tem alguém que gosta, é muito mais fácil aprender. Por isso, eu aprendi com a maior facilidade; essa professora também acabou acionando esse lado de me fazr gostar de estudar. [Enconcontro com] alguns deles. Quando eu estava na Petrobras, de vez em quando eu esbarrava com a Rosângela, lá do E&P. Também tem a Eliana, que freqüenta lá em casa. Às vezes, através da Eliana, [reencontro alguém], porque hoje eu moro em Niterói e ela continua em São Gonçalo. Um dia desses, encontrei uma outra pessoa, a Angélica, lá perto de casa, em Niterói. Estão todas coroas, todas igual a mim. Então, de vez em quando, a gente se esbarra. JUVENTUDE Eu sempre fui muito careta. Hoje, olhando lá para trás, vejo que sempre fui muito de ter foco, de saber onde queria chegar. Não tenho muita coisa para te dizer assim: “Ah, na juventude, quando eu tinha 17, quando eu tinha 18”. Acho que eu não tive nada disso. Acho que eu tive 15 anos e depois passei a ter 30 e pouco. Foi um período em que eu precisava trabalhar e não arrumava emprego em lugar nenhum. Eu entrei na Petrobras uns seis meses depois de ter feito vestibular e passado para faculdade. Fazia faculdade à noite, trabalhava o dia todo. E aí quase que você pula um pouco dessa fase de 17 e 18. Como não tinha muito recurso, não dava para ficar viajando. “Ah, era ótimo, viajava...”. Viajava coisa nenhuma, ficava em casa mesmo, eu tinha um foco mesmo, queria chegar a algum lugar. Você tem que chegar a algum lugar. Academia? Não, não tinha nada disso. Não tinha nada de esporte. A vida era dura, mesmo. Eu acho que nem precisava, eu era tão magrinha, pesava 38 quilos. Até entrar na empresa, a situação era muito difícil. Depois que eu entrei, tinha que ajudar em casa, pois era a única pessoa com emprego que tinha data para receber, todo dia 25. Havia essa coisa da responsabilidade mesmo. Quando eu tinha sete anos, mais ou menos, eu fazia tudo. Tipo, sei lá, vendia flores, vendia sapato, vendia isso e aquilo. O que aparecia para fazer, para ganhar dinheiro, eu fazia. Talvez por isso eu não tenha tanta brincadeira para contar. Era tudo muito sério, era vida de adulto. Eu acho até engraçado; hoje criança não pode trabalhar, só depois dos 16 anos. Eu comecei a trabalhar com sete. Eu comecei a ter atividade de ganhar dinheiro com sete. Com 11 anos, mais ou menos, eu comecei a fazer faxina em uma casa e parei no dia que eu vim para Petrobras. Foram 12 anos na mesma casa, porque eu tinha que arrumar dinheiro. Então, não tinha muita brincadeira, porque tinha que ter dinheiro para ir para escola, no mínimo. FAMÍLIA / IRMÃOS Meus irmãos tiveram uma situação até pior do que a minha. Meu irmão mais velho começou logo a trabalhar no Galeão, hoje ele está com a vida direita. Ele é pobre, mas está aposentado. O outro morreu por problemas de diabete, morreu cedo, mas também estava trabalhando, tudo direito. E aí houve esse período em que entrei na empresa. Agora, eu posso voltar a estudar Porque tinha passado no concurso. Voltei a fazer faculdade e começou uma história diferente. Meus irmãos quase não estudaram. Sabe por quê? Era uma coisa assim: você não tinha atendido às necessidades básicas da casa. Primeiro, você tinha que comer para depois pensar em estudar. Se você ainda não atendeu as primeiras necessidades, não adianta dizer: “Ah, eu quero estudar, tô doido para estudar”. Era sobrevivência mesmo, a casa estava no nível de sobrevivência. Mamãe lavava roupa na casa dos parentes ou ficava com alguém doente. Essas coisas assim. Ela não tinha um salário fixo. MODA Me lembro que foi uma febre de calça jeans, uma calça importada que custava uma fortuna, ela era vendia em pouquíssimos lugares, não se vendia em loja, era tudo importado. Mas, fora isso, a moda não fazia parte do meu repertório. Se, hoje, eu já não me preocupo muito com isso, imagina quando era jovem, esculhambada. Isso não faz muito parte de mim, não. CASAMENTO Eu sempre fui muito séria, né? Quando eu tinha uns 15 anos, conheci um cara, casei com ele e tô com o cara até hoje. Quer dizer, foi tudo muito simples. Sempre fui muito certa, estou com o cara até agora. Conheci com 15 anos e não tinha muito dessas coisas, acabei casando com o primeiro namorado. Ele era um vizinho, que apareceu por lá. INGRESSO NA PETROBRAS Quando eu entrei na empresa, não fazia a mínima idéia de onde estava entrando. Estava procurando emprego e fazendo concursos, aí pintou essa oportunidade, mas eu não tinha idéia do que era a empresa. Acho que poucas pessoas também hoje, quando entram, sabem o que é, mas pelo menos sabem que existe a Petrobras. Naquele tempo, não. Eu fui conhecer a empresa lá dentro. Fui trabalhar na área de Comunicação, na redação da Revista Petrobras, de folhetos e relatório. Então comecei a ter contato com jornalistas, na minha sala só havia jornalistas. Para variar, cheguei lá e encontrei também uma pessoa. Isso que eu digo, sempre tenho [alguém]. Encontrei uma pessoa que foi o meu primeiro contato na empresa, a Neusa Duarte Cruz, também muito responsável. É como se alguém tivesse mostrando o caminho da empresa, me passando a cultura da empresa. Essa pessoa devia ter uns 38 anos, me lembro que ela tinha 18 anos de Petrobras. Ela me conduziu por essa coisa da Petrobras, por ser muito séria, de ter muito trabalho, dos problemas da época, tipo: “cuidado com o que fala no telefone, é tudo grampeado”. Era 1976, ainda tinha a ditadura e tal; o meu gerente-executivo era general. Na verdade, a Neuza foi a responsável por me mostrar como era a cultura da empresa. Na Petrobras, as pessoas trabalhavam muito e ela era muito boa empregada, muito trabalhadeira. Trabalhamos juntas uns dois ou três anos. Fui fazer Administração e depois Ciências Contábeis, mas fazia à noite, fora da empresa. Não trabalhei diretamente com o que aprendi, porque acabei ficando na Comunicação, fazendo mesmo a parte administrativa. Trabalhei 16 anos, sem nunca ser transferida de um lugar para outro. A minha área é que mudou. COTIDIANO DE TRABALHO Entrei no Setor de Editoração ou Impressos, algo assim. Éramos umas seis pessoas, depois houve um concurso e entraram mais algumas. Havia uma diferença de idade muito grande, todos eram bem mais velhos que eu. Eu tinha 20 anos, eu era a bebê. E todo mundo tinha 38, 40, 50. Acho que hoje na Petrobras talvez aconteça o contrário; como tem tido muitos concursos, tem muita gente nova e não tem tantos antigos. Naquele tempo, você entrava e tinha muito contato com os mais velhos. Hoje, tem muita gente nova. Bom, a empresa também é outra, com outros desafios. Eu cuidava da parte administrativa desse setor. Tinhamos muitos jornalistas, minha chefe era jornalista, a Déa Marques Santos. Eles faziam relatório, revista, folhetos para Petrobras toda. Eu ficava com a parte administrativa. Naquele tempo, não tinha computador, era tudo datilografado. Então, tinha muito trabalho de datilografia e muita coisa de concorrência, licitação. Nessa época, eu acabei virando especialista em editoração: contratação, lay-out, arte final, etc. Hoje já é uma outra coisa. Tudo quanto era licitação de impresso disso e daquilo vinha parar comigo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Aí houve uma reestruturação e virou Setor de Veículos Internos. Continuei na parte administrativa. Agora começávamos a ficar mais com a parte interna. Havia um jornal interno e a revista, acho que não tinha mais, acho que a revista já tinha terminado. Havia também alguma coisa de eventos na Divisão de Empregados. A minha área era a de Impressos. Ficamos ali também durante um bom tempo. Nós tinhamos a Revista Petrobras e a Revista Gente. Depois da saída do General Barros Nunes, houve qualquer coisa lá, parece que a revista era muito cara, paramos com a Revista Gente e, depois, com a Revista Petrobras. Alguns anos mais tarde, ela retornou, mas ficou um período sem revista. Depois do Setor de Empregados, fui transferida para a área de Comunidades. Aí começou a mudar, porque eu comecei a ter contato externo, quase não havia trabalho interno, porque eu ficava com a comunidade de Macaé, do Espírito Santo, da Bahia e de Sergipe. Comecei a ter contato fora da Petrobras. RESPONSABILIDADE SOCIAL A empresa sempre teve um relacionamento muito grande com as comunidades. Essa área da responsabilidade social, que hoje as empresas usam como marketing, como necessidade sustentável, a Petrobras nasceu fazendo isso. Me lembro que na refinaria de Canoas, as pessoas se cotizaram e compraram uma ambulância e, um dia, aconteceu um acidente, qualquer coisa, com um empregado da Petrobras, e ele acabou tendo de usar exatamente a ambulância que eles tinham comprado. Quer dizer, eu tenho a impressão que a Petrobras sempre foi assim, não diria com tanta certeza que essa preocupação nasceu dentro da Comunicação. Há muitos anos, havia um grupo de pessoas, em outras unidades, que fazia um trabalho junto à comunidade; um grupo de empregados. Quer dizer, na Petrobras, isso partia do empregado e depois acabava virando uma coisa profissional. A Petrobras faz responsabilidade social desde que nasceu, ela nasceu fazendo isso. DITADURA MILITAR Com relação ao diretor-executivo da Comunicação, o General Barros Nunes, eu nunca estive muito próxima a ele. A minha chefe [era próxima] e a gente ficava sabendo. Era o reflexo do Brasil daquele época. Ele era o homem forte do Geisel, que tinha sido presidente da Petrobras. E nós ficávamos muito protegido, a Comunicação ficava muito protegida, porque ele era um homem forte. Agora, independente disso, diziam, pelo menos a minha chefe, que ele era uma pessoa boníssima. Eu tenho a impressão que era o que nos protegia, mesmo: “Aqui está todo mundo protegido”. Porque ele era o General Barros Nunes. Também havia as pessoas que ele protegia, até por fora mesmo. Agora, não peguei nada de Ditadura, nada de perseguição. Eu já entrei em uma outra fase da empresa, isso já estava passando. Tanto que o Barros Nunes ficou lá dez anos, e eu peguei os últimos dois anos, ou apenas um ano. Eu já peguei um Brasil caminhando. COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL Aí já tinham separado o que era publicação externa de interna. As publicações internas eram basicamente o jornal, alguns folhetos e a distribuição. Era Comunicação Interna mesmo, tudo o que era ligado ao empregado. Depois, eu passei para Comunidade. Mas, antes, eu ficava interna, depois quando saí, comecei a ver o que as pessoas falavam e pensavam da Petrobras. E aí houve uma outra reestruturação e foi criada, novamente, a Gerência de Planejamento. Quando eu entrei, já existia um Setor de Pesquisa e um Setor de Planejamento. Depois, em uma reestruturação dessas, isso tudo foi para o espaço. Então, foi criado o setor de Planejamento, que tinha como uma de suas funções a pesquisa. A pessoa que assumiria essa gerência achou que eu deveria ir para lá trabalhar com pesquisa. IMAGEM PETROBRAS O legal disso tudo é que a Empresa mesmo sendo muito exigente, pagava direito, todo dia 25, e nunca atrasou. Além disso, se você quisesse, sem sair dela, você podia se tornar especialista em várias áreas. É como se você mudasse de trabalho sem sair da Empresa. Quando você diz que trabalhou na Comunicação 31 anos, dizem: “Como é que pode? Ficou fazendo a mesma coisa?”. Não, não fica fazendo a mesma coisa, porque é de uma riqueza tão grande que se você quiser aprender, pode se tornar especialista onde se encostar. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / PESQUISA Eu fui trabalhar com Pesquisa. Eu disse: ”Não entendo nada do assunto”. E ele disse: “Não, mas você tem um perfil”. Eu acho que, na verdade, ele gostava de mim. De novo, houve essa história da afinidade, a minha vida toda foi assim. Somos grandes amigos até hoje. Fui trabalhar lá, com pesquisa. Com a aposentadoria e saída do Hugo Aloi, que era da Pesquisa, o setor ficou meio que inativo. Antes, a pesquisa caminhava com ele que era o chefe. Quando ele saiu, criou-se um vácuo, não havia ninguém na área de Pesquisa. Fica com fulano, fica com beltrano, mas isso levou muito tempo, acho que uns dez anos, sem uma pessoa conduzindo até que começamos a trabalhar. Tivemos algumas aulas com o Hugo, logo no início, para retomar alguma coisa da história mesmo, de como funcionava. E foi crescendo, acabou que o setor virou gerência, que é o que tem hoje, a Gerência de Planejamento e Pesquisa. Tive o prazer de trabalhar com pesquisa, acho que uns 15 anos. Acabei virando especialista, me aposentei como consultora de pesquisa. Aprendi muito, muito, muito. Além do que a empresa paga, se você quiser, se for do seu interesse, você acaba fazendo várias especializações lá dentro com o próprio trabalho. Eu aprendi muito. SETOR DE PESQUISA Eu acho que foi aí que se voltou a fazer a parte de Pesquisa novamente. A Comunicação voltou a utilizar a Pesquisa profissionalmente. O Hugo Aloy entrou na empresa fazendo pesquisa, se especializou nos Estados Unidos, pela Petrobras, porque antigamente não havia esse bando de Instituto de Pesquisa. Então, a pesquisa voltou a ser utilizada pela Comunicação e pela Petrobras, e a ser tratada com mais profissionalismo. Eu acabei trabalhei com essa parte durante muitos anos. E trabalhei com quase todos os institutos. Na época do Hugo, ele fazia pesquisa, mas com a sua saída ninguém mais criou uma área para executar pesquisa. Você acaba sendo comprador de pesquisa. Mas também existe a vantagem de que lidar com muitos profissionais de pesquisa, sendo que cada um tem uma especialização, tem um outro jeito. Todo mundo é capaz de fazer qualquer tipo de pesquisa. Todo mundo é capaz. Porém, é preciso saber qual é o profissional com o perfil para um determinado trabalho, porque isso faz toda a diferença na qualidade do trabalho e quem compra deve saber escolher. Porque, em certos casos, apesar de você ser um excelente pesquisador, você não atende a uma necessidade específica. Então comecei a conhecer o mercado todo, a saber quem dava o melhor resultado para isso. Eu acho foi isso que me fez crescer nessa área e sair da empresa como um especialista sem nunca ter feito nenhum curso de especialização. CONTRATAÇÕES DE PESQUISA As pesquisas eram contratadas de agências. Eu também tive sorte nisso, porque na agência também tinha gente da pesquisa. Hoje não existe isso. Ficava um contato muito grande com esse pessoal de pesquisa, da agência. Então, a gente trabalhava em conjunto. Surgiam as necessidades de pesquisa e a gente montava os projetos, sempre eu e duas pessoas da agência. Chegou uma hora em que o contrato acabou e começamos a ter dificuldades porque as agências não queriam mais colocar um especialista em pesquisa, porque era caro, e botaram um comprador de pesquisa. Mas isso era complicado, porque você precisava montar um projeto. Então eu tive que me virar, porque agora eramos eu, a pessoa do instituto e a pessoa que era a ponta na agência, mas eu não sentia mais muito apoio da agência. Agora, eu tinha que me virar com os projetos todos. Mas eu tinha experiência, pois trabalhado uns três anos junto com esse pessoal de pesquisa. Então, quando eu tive que me virar, passei a fazer os contatos direto com os institutos. E foi a fase que eu mais aprendi, porque cada um tem uma maneira de fazer, cada profissional vê uma forma diferente de fazer aquilo e, quando você participa desse processo, cresce muito. Fiquei com o negócio na pele: me deu o problema, eu fazia tudo. Eu fazia o briefing por telefone e, em pouco tempo, eu já recebia o preço, quando era muito urgente. PESQUISAS DE IMAGEM [A demanda] pode surgir da própria Comunicação, pode surgir de outro órgão, depende. Se alguém está com uma dificuldade, corre para a Pesquisa. Aí o pessoal de Pesquisa vai analisar para saber se uma pesquisa resolve, responde, ou se não é o caso. Porque também tem isso, as pessoas acham que uma pesquisa resolve tudo. Então você tem que dizer: “Não, não conte com a Pesquisa, porque não é ela que vai resolver isso”. Ou então :”Sim, a pesquisa pode te ajudar muito nessa decisão. Podemos fazer um projeto assim-assado que resolve”. Agora, depende da necessidade. Quando a plataforma P-36 estava adernando, alguém disse: “A empresa está perdendo muito com imagem”. Naquela semana em que ela ficou cai-não-cai, saímos, desesperados, para fazer um projeto de Pesquisa. Se não me falha a memória fomos a Salvador, Recife, Brasília, Rio, São Paulo e Porto Alegre. Fui para Porto Alegre. Precisávamos saber o que a população estava pensando a respeito daquilo: se era incompetência da Petrobras, se a Petrobras estava perdendo imagem de produtora de tecnologia. As pessoas perguntavam: “Como se deixa uma plataforma dessas afundar?”. Mas a empresa precisava saber daquilo, ali, naquele momento, com a plataforma descendo. MONITORAMENTO DE IMAGEM Lembro de várias pesquisas. A Empresa tinha uma necessidade muito grande de criar indicadores. Ela é uma empresa de engenheiros e, hoje, você tem que medir o retorno de tudo que se faz. Por outro lado, a pesquisa é muito cara para você ficar fazendo. Ou você faz um questionário e acha que está medindo alguma coisa, porque isso tudo tem muita técnica, tem muita gente especializada nisso. Tem gente que só faz questionário. E aí o Eraldo [Carneiro], que já era o gerente de Planejamento, ainda é, toda vez vinha de uma reunião, arrancando os cabelos, porque a gente precisa ter indicadores de imagem. Toda vez que ele vinha de uma reunião, eu dizia: “Mas, Eraldo, é difícil medir imagem”, “Mas, Eraldo, como você vai medir imagem com número? Como vamos fazer um negócio desses?”. E ele vinha das reuniões desesperado. Aí eu disse: “Quer saber de uma coisa? Tem que fazer, vamos fazer”. Um dia, me deu um ataque: tem que fazer, vamos fazer. Chamei uma pessoa de São Paulo que é muito bom pesquisador. Acertei com o Eraldo: “Eraldo, vamos montar isso para acabar com essa conversa”. E aí montamos um sistema de monitoramento de imagem, com o conhecimento da empresa que eu e o Eraldo tínhamos e com o Instituto de Pesquisa contratado. A idéia era decompor a imagem da empresa e criar números. E isso foi crescendo. O primeiro projeto que se fez foi com imagem da Petrobras junto à comunidade. Deu um trabalho danado. Foi a maior pesquisa que eu já vi. Nunca vi empresa nenhuma fazer essa pesquisa de imagem junto à comunidade. A Petrobras é muito grande. Começamos com a pesquisa de Comunidade, se não me engano em 1997. Logo partimos para opinião pública. Começamos a medir junto à opinião pública, junto à comunidade, de dois em dois anos, porque é o tempo suficiente para se criar um projeto, para que aquela imagem consiga se mexer e a opinião pública também. Não sei como está agora. A idéia era fazer uma vez por ano, para ter indicador de imagem da Comunicação. O que é isso? A Comunicação toda está trabalhando: a Imprensa, o Patrocínio, isso e aquilo, está todo mundo trabalhando. Próximo ao final do ano, soltamos a pesquisa e vemos qual foi o efeito desse conjunto de atividades da Comunicação. De todo o trabalho da Comunicação, qual foi o efeito no indicador de imagem. Passamos a fazer pesquisas com fornecedor, cliente, terceiro setor, empregados e acionistas. Acabou-se decompondo. Você é empregado e, ao mesmo tempo, é cidadão. No final de semana, você está no clube, conversando como cidadão. Então, essa Imagem do empregado acaba interferindo na sociedade também. O acionista participa, tem interesses particulares na empresa e, ao mesmo tempo, é também cidadão. O jornalista também. Tem uma hora em que ele é jornalista, e tem a hora em que ele é cidadão. Então, essa de pesquisa de opinião pública mede o resultado de todo o trabalho da Comunicação. Eu participei bastante desse projeto; ele nasceu e aí você vai ajeitando. Muda o Planejamento Estratégico, você vai e ajusta de novo. E vai ajeitando o Projeto de acordo com o que a empresa quer. Depois, ele acabou indo para outros países também. A Argentina faz, a Bolívia, a Colômbia também fazem. Eu cheguei a fazer alguns, coordenei alguns projetos desses fora. O resultado é disponibilizado e, de qualquer jeito, você precisa alimentar os BSCs – Balance Score Card – da vida. A Petrobras tem, todos os órgãos têm. Você tem que alimentar aquilo. Quer dizer, é a resposta da Comunicação para a empresa, para o desempenho da empresa. O pessoal do desempenho da Petrobras tem metas, isso e aquilo. Eles passam para a Comunicação. E a Comunicação tem que medir isso e retornar. PESQUISAS DE IMAGEM Agora, você tem também muito estudo pontual. “Por que foi feito isso?”, “Por que foi feito aquilo?”. Lembro-me que no acidente do Rio Iguaçu, no Paraná, eu participei de uma pesquisa junto à comunidade de Curitiba até a União da Vitória, pegando o rio todo, até lá. E também fizemos um estudo com empregados. Eu acho que ninguém sabia daquilo que estava acontecendo lá. Não na Comunidade. Na Comunidade, a empresa tinha uma Imagem muito forte lá e agüentou. A Petrobras tem uma Imagem muito boa. Quer dizer, ela tem um colchão muito bom. Então, é como se a imagem tivesse saúde. Então ela agüenta um tranco. É claro, ela não vai agüentar tranco o ano inteiro, mas um ou outro ela agüenta, porque ela tem saúde para isso. Acho que a Comunicação trabalhou muito bem, durante esses anos todos, para cuidar da Imagem, da marca, Petrobras. OUTRAS PESQUISAS A gente também descobriu muita coisa que foi bom. Descobrimos muita coisa interessante para Repar, que eu tenho certeza foi excelente para eles. Eu conheço vários projetos. Eu já cheguei a coordenar, de uma vez só, 15 projetos de pesquisa. Quinze. Não sei como é que está agora, como é que está rolando isso. Mas a gente teve um período que tinha muita coisa. Porque é assim, quando você começa vem uma solicitação, depois alguém, lá não sei da onde, [fica sabendo]. E, também, muita consultoria mesmo. Assim, da Presidência da República, pessoal da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Consultoria assim, como é que faz aquele projeto, sugestão, não sei o quê. Aí outro órgão liga, e outro quer fazer não sei o quê, e você acaba tendo muito trabalho. Já tive época que foi assim. Agora não sei como é que está, se está mais calmo, não sei como anda, porque já tem quase um ano que estou fora. Esse trabalho de monitoramento tem esse lado de alimentar os dados do desempenho da Petrobras. Você faz pesquisa porque a própria área de Comunicação tem necessidade e solicita. Esse monitoramento é algo à parte. Você tem tanto um monitoramento, como tem pesquisas pontuais, dependendo da necessidade. Tem coisas, tipo, anúncio para testes, se a agência sabe para onde caminha, ou não sabe, e você vai tentar colaborar para descobrir alguma saída. Ou então, no caso de anúncio de campanha, para você pré-testar. A gente pré-testou a Campanha de 50 anos da Petrobras em Brasília, São Paulo e Rio, porque teria uma audiência muito grande. Mas isso é necessidade da própria Comunicação. Você tem algumas pesquisas na área de empregados, que também vai alimentar a Comunicação Interna. COTIDIANO DE TRABALHO Eu sempre me envolvo muito com o que faço. Algumas coisas, assim, projeto interno, são muito chatas de fazer. É muito trabalhoso lidar com empregado, é muito complicado. E aí você precisa se envolver muito nesses projetos internos. O projeto que fizemos para Repar há alguns anos, e esse feito sobre a plataforma, quando ela estava adernando, talvez tenham sido, emocionalmente, os mais fortes. Alguns depoimentos foram muito contundentes, de você ter que segurar para não desabar. Se você não se envolve muito, não consegue. Projeto de pesquisa é assim, se não tiver muito empenho, tipo agarrar, você vai ter um monte de dificuldades. Eu costumo dizer que pesquisa só sai se você pega e, quando aparece uma dificuldade, você vai em frente. Porque, se não estiver agarrado com o projeto, você não consegue fazer um bom trabalho. Apesar de não estar executando, é você que coordena, que está dando as condições. Mas o envolvimento precisa ser tanto de quem está executando lá fora, o Ibope ou quem quer que seja, quanto de você. Porque o projeto sai da cabeça dos dois. Você monta o projeto, o que você quer e começa a trocar com quem está fazendo: “Melhor fazer assim, etc.”. Há muito envolvimento mesmo. Nós acompanhamos o projeto. Normalmente, tem um roteiro. Quer dizer, a profissional de Pesquisa tem o roteiro, que foi elaborado em conjunto. Eles fazem, a gente ajusta. Daí há muita discussão de grupo, e surge muita coisa. Normalmente é assim. APOSENTADORIA Ultimamente, houve algumas mudanças de gerência, e eu não estava sentindo tanto prazer. As coisas estavam um pouco amarradas, não tinha toda essa velocidade. E junto a isso, também, surgiu outra coisa. Eu tinha sido gerente por um período e pude continuar contribuindo na Petros, com um valor maior, para quando me aposentasse, recebesse uma aposentadoria compatível, como se eu fosse gerente. Era muito dinheiro que eu tinha que pagar todo mês. Era muito dinheiro. E aí eu fiz 30 anos, continuei, não estava muito preocupada com isso. Mas chegou uma hora em que eu descobri que estava perdendo muito dinheiro e que, se estivesse aposentada, ganharia mais do que trabalhando. Então, contra esse argumento, não há o que discutir. E o trabalho também tinha baixado muito. Quer dizer, não precisa tomar a decisão, ela estava tomada. Eu estava pagando para trabalhar. Então, foi bom por isso, porque também não precisei tomar decisão. Eu tinha que ir embora. Fazer o quê? TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fui gerente em 2002, mais ou menos, por um ano e nove meses, ou um ano e oito meses. O Eraldo, nosso gerente, foi ser gerente de Publicidade, e o Sérgio Bandeira assumiu a Gerência de Planejamento. Só que ele assumiu por uns dois meses e foi ser gerente de Comunicação da Petrobras Distribuidora. Na época, parecia que haveria uma reestruturação na Comunicação, diziam: “Vem aí uma reestruturação, isso vai mudar tudo”. Eu acabei sendo indicada porque vinha uma nova estrutura e não sei o quê. Acabei ficando quase dois anos, um ano e pouco, o que foi bom, porque eu também estava no final de carreira e pude continuar pagando, porque já estava próximo de me aposentar e me aposentaria melhor, financeiramente. Eu não tinha me preparado para ser gerente, nem a empresa tinha também. É diferente quando você entra como profissional, a empresa investe muito em você, e em dez anos de Petrobras você está, com certeza, muito preparado, porque ela não vai economizar dinheiro para te treinar. Mas quando você é nível médio, você fica bem restrito a treinamento, a essas coisas todas. Hoje, a empresa está com isso bastante aberto, mas no meu tempo não. Eu podia me aposentar depois de 26 anos. Existem algumas cláusulas na Petrobras que diz, que se você fizer MBA, por exemplo, ou qualquer outro curso desses, que hoje todo mundo faz, você tem que ficar dois anos na empresa depois de concluir o curso. E aí, quando a empresa abriu, eu não podia fazer mais nada, porque eu já era aposentada. Mas isso me fez muita falta quando fui gerente, porque nem a empresa estava preocupada com isso, porque eu era nível médio, nem eu também. Então, eu acho que fiz o máximo que pude e, particularmente, foi bom, porque eu pude investir nisso. Não foi fácil pagar também. Foi muito complicado, porque era muito dinheiro por mês. Mas passou, paguei. De qualquer jeito, foi uma trajetória de auxiliar de escritório à especialista em Pesquisa, que normalmente se precisa ter curso de Psicologia, de Antropologia ou de Estatística, para você se tornar. Eu fiz isso com meu próprio trabalho. Quer dizer, é uma trajetória legal. APOSENTADORIA Você tem que aprender tudo de novo, porque você saiu de casa a uns trinta e poucos anos atrás, quando volta para casa e tem que aprender tudo de novo. Antes, você não morava ali. Aquela casa, os espaços não te pertenciam. Agora, ficar em casa o dia todo, você incomoda quem estava em casa sem você. Aquele espaço não é seu. Então, todo mundo tem que se adaptar, tanto você quanto as pessoas. A minha filha diz isso com muita propriedade: “Você nunca morou aqui, agora vai querer tirar as coisas do lugar?”. Você tem que começar tudo de novo, tem que se adaptar a esse negócio. Essa história de ficar em casa de final de semana ou de férias, todo mundo sabe que você daqui a pouco volta. Agora, se ficar em casa, vai envelhecendo. Quer dizer, não é muito tranqüilo, não é muito fácil, não. Isso foi no início. A gente sente falta da conversa fiada de café – que é muito bom, sinto falta disso –, do trabalho, mas também pode contrabalançar com as “aporrinhações”. Quer dizer, às vezes, quando você sente falta do trabalho, você diz: “Mas lembra daquele dia?”. Aí o negócio zera na hora. Não dá para sofrer muito não, porque eu tenho algumas cartas negras que eu puxo nessas horas, quando sinto falta do trabalho. Aí pronto, já dá uma esfriada e dá uma vontade de brigar de novo. Então, eu acho que é uma coisa natural, sabe? Um dia, você vai se aposentar. É natural, como, um dia, você vai morrer também. Ninguém vai ficar aqui eternamente. Então, é uma questão de fase da vida. Um dia, eu precisei fazer o concurso e entrar na empresa para trabalhar. Um dia precisei sair. É algo assim, muito simples e muito natural. Eu tenho visto com essa naturalidade. Mas as “aporrinhações” não foram tantas, foram muito mais as contribuições. Se eu tiver que fazer um balanço, ele é extremamente positivo. Tem muita gente amiga. A primeira pessoa que encontrei na Petrobras – aquela que me passou a cultura da empresa – é, hoje, madrinha da minha filha, ela tem uma filha que estuda história. Então, é muito positivo. Não tenho mágoas, revoltas, e não sei o quê, “porque fui injustiçada...”. Não, não existe nada disso. Acho que também faz parte de mim mesma que, como você vê, durante minha vida, sempre tive pessoas que contribuíram, que foram muito próximas; eu sempre tive, sempre. É claro que estou dando uma síntese, mas, sempre tive gente. Acho que é coisa de luz mesmo, de você encontrar pessoas que tenha afinidade. O que também não é muito simples, porque eu não sou freirinha. Eu sou muito de falar o que estou pensando. Aí também só encosta quem for muito parecido. E isso foi muito bom, eu tive muita coisa. FAMÍLIA / FILHOS Tenho duas meninas. Uma tem 26 anos e a outra tem 23. Moram comigo. A mais velha nasceu com um problema de hipotireoidismo congênito, que me deu um trabalho maluco. E a outra está aí, fazendo Jornalismo na PUC, Filosofia na UFF e Literatura na UERJ. Aonde ela quer chegar? Ela disse que vai fazer o que tem direito. Bom, e essa outra que nasceu com hipotireoidismo, demoramos a descobrir, e aí ela teve algumas seqüelas. Quando ela nasceu, isso não era tão divulgado. Hoje, o negócio está sendo visto de outra forma. Na época, o Instituto Universitário de Niterói tinha cinco crianças com isso, hoje tem umas 25. E isso também retardou o tratamento. Ela precisou muito ser estimulada. Ela fez tudo que podia ser feito de estímulo. O médico, o titular de endocrinologia da UFRJ, disse que ela é o caso que mais evoluiu no país. A minha aposentadoria, por um lado, era uma coisa que ela mesma não estava preparada, sentiu um pouco o espaço roubado, das coisas que ela gosta de fazer e tal. Bobagem Mas, por outro lado, eu nunca pude ficar com ela. Eu sempre patrocinei e, nos acordos todos de procura do profissional, montando o esquema e tal. Agora, ficar junto, isso eu nunca tinha feito. Então, hoje, ficar em casa também tem esse lado, porque eu a tenho. Embora ela seja independente, cuide de si mesma, por exemplo, ela não anda na rua sozinha. Eu tenho uma empregada três dias por semana, hoje a menina está lá em casa, e o resto ela fica comigo. Eu acho que também devo essa presença. Eu não tenho nenhum problema, não me sinto em dívida com ela, de jeito nenhum, porque eu fiz tudo o que tinha que ser feito. Não tem nenhum lance desses. É mais a presença mesmo. Ainda há pouco, a minha filha me disse: “Ah, por que você não vai fazer não sei o quê?”. Eu nem contei isso, que estou falando aqui para vocês: “Pois é, minha filha, mas tem Maíra, né?”. Querendo ou não, se eu começo a fazer uma coisa agora, começo a me dedicar àquilo e aí me tranco no quarto e vou estudar. Ela está estudando numa escola especial. Mas eu também tenho essa dívida com ela. Ela tem 26 anos e quando nasceu eu já estava na Petrobras. Então, por isso que estar em casa aposentada, não seja assim: “Ah, e agora?”. Têm outras coisas, você descobre outras coisas. Precisa continuar vivendo porque você mudou de fase. E é natural, é assim mesmo: nasce, cresce, morre. Simples assim. MEMÓRIA PETROBRAS Acho que a empresa deve fazer isso porque tem uma cultura lá na Comunicação, do que a gente passou. Esse aqui era meu trabalho, daqui a pouco você não está mais ali. Aí chega um outro, pega aquilo e joga tudo fora. E você não tem história. Se você não tem História, o futuro fica comprometido. Precisa ter história e eu acho que a gente não tem. Esse negócio que o Santarosa trouxe, de tentar registrar tudo isso, é muito legal. Tem que ter. E tem que participar. Eu tinha que participar depois de ter ficado tanto tempo lá, e de ter vivido tanta coisa, tinha que deixar algo registrado.
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