Memória Petrobras
Entrevistado por Inês Gouveia
Depoimento de Davíndio Messias da Silva
São José dos Campos 23/jun/2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_TM103
Transcrito por Keila Barbosa
P/1 – Vou pedir para que você comece a entrevista dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Davíndio Messias Praxedes da Silva, nasci em Minas Gerais, e o nascimento é, sou 8 do 10 de 1962.
P/1 – Davíndio, você sabe a origem do seu nome?
R – Meus pais disseram que tiraram da Bíblia, mas eu não acredito que seja porque eu já procurei e não achei. (risos)
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho doze, doze irmãos. Eu sou mais ou menos o do meio.
P/1 – E algum tem um nome mais diferente?
R – Não, não, normal, eu sou anormal. (risos)
P/1 – Diferente, nome diferente, mas ter nome diferente é bom, né?
R – É bom, eu gostei. Antes eu não gostava não, agora eu gosto, porque só tem eu. Eu só achei o meu até hoje. Acho que ninguém colocou um outro igual.
P/1 – E você entrou na Petrobras quando, Davíndio?
R – Eu entrei em 1984.
P/1 – E me conta um pouco as circunstâncias da sua entrada como é que foi?
R – Olha, eu entrei na Petrobras em 84, comecei a trabalhar em uma Parada. Parada é onde para os equipamentos para fazer a manutenção, a empresa em que eu estava ganhou a concorrência de a manutenção, e graças a Deus eu fui ficando, fui Ajudante, aí eu fui promovido, aí fui batalhando, até chegar aonde eu cheguei. Fui para Montador, aí eu comecei estudar porque a minha escolaridade também era pouca, não tinha a quarta série, a Petrobras incentivou: “Não, tem que estudar, tem que melhorar.” E assim eu fui crescendo, fui Encarregado, Supervisor, Assistente Técnico. Fiz agora o curso Técnico também faz uns dois anos, e hoje eu estou Técnico de Manutenção, graças a Deus, então, estou satisfeito.
P/1 – E você entrou já aqui prá REVAP?
R – Entrei na REVAP, sempre trabalhei aqui na área da REAVP.
P/1 – Você mora na região?
R – Moro.
P/1 – Nascido... mas você veio de Minas quando?
R – Vim em 70.
P/1 – Desculpa, você entrou em 84?
R – Em 84.
P/1 – Davíndio, me conta um pouco como é que era a REVAP de 84, até na área que você entrou para trabalhar, pensando no que é a área hoje.
R – Ah, quando eu entrei na área da REVAP, nossa... eu achei muito... lá fora você não tinha noção do tamanho dos equipamentos, do barulho que fazia, a gente ficava até meio atordoado no começo. Aí depois foi se adaptando, o pessoal diz que é uma área muito perigosa, mas tomando os devidos cuidados, a gente consegue trabalhar tranqüilo. E foi só... na época tinha muita gente, aí foi diminuindo, foi aperfeiçoando os equipamentos. Hoje tem menos pessoas, mas com mais qualificação.
P/1 – Me conta um pouco do cotidiano de trabalho hoje, como é que é. Como é que é o teu dia a dia aqui.
R – Meu dia a dia hoje, quer dizer, teve várias fases, hoje está bem melhor, hoje eu trabalho na parte da Fiscalização, o software dá a infra-estrutura, então a minha parte mais é fiscalizar os trabalhos da empresa que vem prestar serviço. Então a gente trabalha direto com o pessoal da Petrobras, fiscalizando as contratadas, acompanhando o serviço, liberação. Hoje a minha atividade é essa.
P/1 – Geograficamente pensando assim, em que lugar da Refinaria você trabalha? Situa pra gente.
R – Ah, hoje eu trabalho como Técnico Administrativo, hoje. Mas, trabalhei na área de Processos, trabalhei na área de Calderaria, na Oficina. Foram as minhas áreas, da minha parte são estas.
P/1 – Você já conheceu outras Refinarias?
R – Não, não tive oportunidade de conhecer outras Refinarias não. Eu conheci alguns postos da Transpetro, Guararema, mas Refinaria só essa aqui. Não tive oportunidade.
P/1 – Quando você veio trabalhar aqui em 84, você tinha noção do que era a Petrobras?
R – Não, na realidade eu vim aqui por acaso. Eu estava em casa, um colega meu me chamou: “Ah, vamos lá na Petrobras, que está pegando gente prá trabalhar.” Aí eu: “Ah, vamos lá.” Aí eu vim, aprovaram a minha carteira, e graças a Deus, até hoje (sorrindo). Fiquei muito contente porque, nossa... a Petrobras prá mim ele foi de grande valia. O que eu tenho hoje devo a ela, tanto as pessoas, como ela própria, mesmo estando em contratada, eu agradeço muito a ela.
P/1 – Sendo morador da região desde a década de 70, qual a impressão que você tinha disso aqui, dessa enormidade que se instalou aqui na região?
R – Então, na época de 70 ainda era garoto, ainda tinha cabelo, mas eu andava aqui na área todinha, antes da Petrobras desapropriar as fazendas e os sítios. A gente pescava, caçava, era moleque. A gente acabou conhecendo até antes de fazer as obras: a linha de perto, a terraplanagem, tudo...
P/1 – Ah, então conta como é que era essa região aqui, porque pouca gente tem essa memória.
R – Essa região aqui era praticamente mais fazendas, chácaras, sítios, então aqui não tinha praticamente nada, era só isso, tinha lagoas. Depois a Petrobras foi comprando aí começou a montar, a fazer a terraplanagem, aí começou a montar a Refinaria, isso foi em 75 mais ou menos, não me lembro a data exata, mais ou menos essa data. Mas eu andava por aí tudo.
P/1 – E você lembra do processo que deve ter sido a obra imensa.
R – Sim, eu lembro da obra. Obra muito grande, muita gente onde eu morava, em (Guaratuba?), que é próximo, eram muito galpões, galpões não, como é que o pessoal fala, fala cortiço, mas hoje não é cortiço que se fala... muitas empresas que tinham ali, então vinha gente do Nordeste, de todo o lado. Então, ficou bem povoado, São José dos Campos nessa época. Muita gente ficou e está aqui até hoje. Nossa, era muito movimentado, muita, muita gente mesmo.
P/1 – Você se lembra, como você já era morador daqui, você se lembra quais foram os motivos que levaram a Refinaria a se instalar aqui, e não em outro município? Comentava-se naquela época alguma coisa desse tipo?
R – Não lembro não, porque a gente não tinha, como eu falei para você, era moleque e não tinha nem televisão praticamente naquela época. Então a gente não se ligava na informação. Eu sei que foi instalada aqui por ser uma região central, isso a gente via comentar, região alta, e não sei exatamente o porquê. Mas a gente tem idéia que seja assim.
P/1 – Mas como morador, assim, o que você diria quais foram os benefícios que a Refinaria aqui trouxe prá São José e prá Região.
R – Olha, prá São José dos Campos engrandeceu bem o imposto, eu sei que o imposto que ela paga prá São José dos Campos é um imposto razoável, e melhor porque a nossa cidade seja uma cidade organizada, limpa que é, graças a Deus São José dos Campos é muito legal. É asfaltada, não digo toda, porque é impossível, mas, acho que eles aplicam bem. E emprego prá muita gente. Tem muito emprego, tem as Paradas que tem, fixou muitas pessoas, e tem os empregos fixos. Então acho que ela foi uma opção muito boa ser trazida para São José dos Campos. Prá mim foi excelente.
P/1 – Explica prá gente que não entende nada de Refinaria, pensando na possibilidade de qualquer pessoa assistir esse vídeo, o que são as Paradas, o que é o processo?
R – Bom, as Paradas, quem está de fora pensa: “Que negócio estranho, Paradas.” É igual falar Calderaria prá vocês é Caldeira, é Caldeirão. Calderaria é um serviço de Calderaria que já tem tubulação, essas coisas. Então a Parada é um ponto que é parado para poder fazer manutenção, no caso os Trocador de Calor, Vaso, Torre; então, tem um área determinada ali que ela tem que parar, porque conforme o processo ele vai corroendo a cor, vai estragando o outro, então o pessoa vai levando até onde der. Aí para toda a unidade, naquele ponto...
P/1 – Aí para a produção mesmo...
R – Para a produção daquele ponto, lógico continuam outros pontos, aí faz aquela manutenção geral: Vaso, Torre, Tanque, Inspeção. Tem uma gama, um procedimento para fazer tudo isso aí. Aí, acabou esse tempo, tem um tempo determinado, tudo certinho, entra o pessoal, cada um com a sua atividade, acabou, coloca a unidade novamente prá rodar. Acompanhou, tá rodando, aí continua.
P/1 – E de quanto em quanto tempo que isso é feito?
P/1 – Não sei exatamente quanto tempo, parece que tem uma norma da seguradora, que exige o tempo de Parada para cada equipamento. Então, falar para você quanto tempo exato, porque na minha área de cálculo disso aí sempre tem, quase todo ano tem Parada, só que pontos referentes.
P/1 – Pensando na tua área especificamente, não só no trabalho que você faz hoje, mas na tua área de um modo geral, quais foram as mudanças em função de toda essa preocupação de segurança e saúde que houve desde que você entrou até agora?
R – Ah, mudança foi muito, porque antes não dava muito atenção à parte de meio ambiente, segurança, a gente próprio não tinha esse incentivo que temos hoje, preparação, integração, é uma gama de preocupação para que a gente possa trabalhar com segurança. Então hoje, os equipamentos, muitos a gente acompanhou na área que foi trocado, a gente está acompanhando, não diretamente porque não é a nossa área, mas a gente percebe que o pessoal comenta. Então, muitas coisas foram trocadas prá isso, meio ambiente... Hoje em dia não se joga nada no chão, igual antigamente, era mais... não tinha esse controle. Hoje a Segurança... e ajuda muito, esse trabalho com mais confiança também, vai prá casa tranqüilo, sabendo que deixou tudo bem, prá quem está entrando.
P/1 – Qual foi o maior desafio que você viveu, desde a sua entrada até hoje. Desafio profissional aqui dentro.
R – Bom, desafio a gente está sempre enfrentando desafios. Desde, por exemplo, eu entrei como Ajudante, na época, e a gente tinha uma meta, eu no caso tinha uma meta de sempre... Então para mim, voltar a estudar foi difícil. Mas trabalhar, estudar a noite, aí voltei, parei na quarta-série quando eu entrei aqui, fui estudando, fiz até o segundo grau. Aí depois parei falei: “Tenho que melhorar mais ainda.” Então, prá mim o desafio foi fazer o Técnico. Não foi fácil voltar a estudar, mas graças a Deus eu consegui. Prá mim foi um desafio que eu considero que foi difícil.
P/1 – Davíndio, você observou você até que se relaciona também com empresas, com outras empresas...
R – Sim.
P/1 – Houve alguma alteração no cotidiano de trabalho, em função da crise econômica do ano passado, aqui na REVAP?
R – Na REVAP, o que teve aqui, redução, ajustes de algumas empresas, ajuste de número de pessoas, que é o NP que ela falam. Mas as empresas tem que se adequar dessa forma, porque é a exigência da Petrobras para que, quanto menos pessoas dentro da Refinaria, menos exposição ao risco. Então as empresas estão cientes disso.
P/1 – Você que já trilhou aí um caminho dentro da Petrobras, que teve um crescimento pessoal e profissional, conforme você falou, quais são os seus projetos prá daqui prá frente. Você tem planos, metas?
R – Olha, eu acho que eu já estou... eu quero trabalhar mais, até aposentar, e se aposentar, continuar trabalhando até a força, eu já estou bem estabilizando, graças a Deus. Quero almejar mais, fazer alguns cursos, aperfeiçoar, a gente tem sempre que pensar em crescer, não esperar. E continuar, porque graças a Deus, se aposentar e ainda continuar trabalhando.
P/1 – Tenha alguma história Davíndio, que tenha marcado, que seja assim, a marca desses anos de Petrobras, que seja, enfim, emblemática, representativa, que seja a imagem de sua história, aqui na Petrobras. Você lembra que tenha vivido?
R – Positiva ou negativa?
P/1 – A que te marcar mais.
R – Ah, prá mim uma das marcas que eu não gostaria de passar, e que ninguém passasse, é a experiência de ter uma empresa que é uma coisa muito difícil e não é prá qualquer um, quem está de fora, quer entrar, e quem está dentro quer sair. Então eu sou uma dessas pessoas que graças a Deus saí fora com a força, que a gente acaba se envolvendo e nem percebe. Então eu tenho uma esposa que ela me ajuda muito nesse sentido, ela observava e falava e eu não ouvia. Teve uma hora que ela falou assim: “Não tem jeito, pode parar.” Aí foi onde eu saí fora, onde eu voltei crescer de novo, que comecei a estudar, fazer o curso técnico, então para mim foi uma grande marca, graças a Deus eu passei por isso, eu sobrevivi.
P/1 – Já conseguiu influenciar alguém prá vir trabalhar na Petrobras?
R – Ah, várias pessoas, e o que eu puder ajudar, logicamente que a gente vai ajudar as pessoas. Precisou, a gente está ajudando. Lógico, se não tiver pegando, é o que eu explico para a pessoa: “Não adianta eu querer colocar você, primeiro a empresa tem que estar precisando e com certeza, você é uma boa pessoa, trabalhando direitinho, a gente vai te ajudar.” Aí nunca ninguém disse não. A Petrobras prá mim nunca falou não.
P/1 – Você falou da mudança de tecnologia em relação até os equipamentos e tudo. Conta um pouco prá gente como que altera, alterou o teu trabalho? Que tipo de mudança houve?
R – Ah, o trabalho da gente acaba sendo com mais segurança. Você, por exemplo, tem um equipamento, que você... ele já está preparado prá poder eliminar, por exemplo, os gases que soltam na atmosfera, então você acaba trabalhando... o nosso serviço não muda muito, mas a gente acaba trabalhando no sistema deles, você tem que tomar as devidas precauções todinha, você tem que tomar, usar os equipamentos necessários. Hoje em dia então você não faz nada sem uma permissão de trabalho, já é uma segurança nossa em qualquer lugar de serviço, que tenha serviço. Então facilita bastante o nosso serviço. É burocrático? É. Mas é necessário. A gente tenta agilizar da melhor forma mas é uma coisa necessária, prá gente acompanhar.
P/1 – Vou fazer uma pergunta, mas bem de quem não entende mesmo da coisa, Agora não por que você trabalha junto ao setor Administrativo
R – Sim.
P/1 – ...mas anteriormente você chegou a trabalhar lá na unidade mesmo lá dentro, né?
R – Correto.
P/1 – Qual é a diferença, o que você aponta de diferença de trabalho na dinâmica mesmo de trabalho de quem está lá dentro e de quem está no setor administrativo?
R – Olha, eu na época quando eu entrei aqui prá trabalhar na Calderaria, como eu falei prá você, Manutenção. Hoje eu trabalho na área Administrativa, mas na parte de Manutenção e Infra Estrutura, que é mais segura. Então você estando trabalhando lá na “massa”, tem algumas coisas boas e as outras ruins. O problema é o desgaste físico, é grande, já passei noites trabalhando aí, o dia todo e a noite toda, isso, tempos atrás. Hoje não, hoje eu estou mais no comando, a gente trabalha mais com a cabeça, organizando. Então a diferença é muito grande.
P/1 – Os funcionários que estão lá também direto na “massa”, como você chamou
R – Isso, Execução.
P/1 – São mais exigidos em relação à Segurança?
R – São mais exigidos, bem mais exigidos. Hoje em dia, antes nem tanto, hoje, por exemplo, prá você subir no andaime, o seu andaime tem que estar liberado e assinado por alguém. Antes não, o cara fazia o andaime, o andaime tá pronto. Então é um dos pontos. Um equipamento que liberava: “Óh, tá liberado.” Hoje não, hoje libera o equipamento, ele vai colocar etiqueta, vai colocar libra em todos os pontos, porque libra é um cadeado que ninguém podia abrir, a não ser o Operador principal. Ele fica numa caixinha, tem um sistema de Segurança todinho prá isso.
P/1 – Davíndio, qual é o sentimento de ser petroleiro?
R – Na realidade eu não sou petroleiro da Petrobras, mas praticamente indiretamente. Mas prá mim é gratificante trabalhar na Petrobras, aqui prá mim foi a melhor coisa. Eu construí a minha vida aqui. Então eu entrei em 84, 88 eu casei, tem meu filho, uma esposa, lógico, eu conheci antes de casar, e o que eu tenho eu devo à Petrobras, e às pessoas que me ajudaram e me ajudam até hoje. Eu não posso falar nome porque senão serei injusto com outras pessoas, que vou esquecer. Mas prá mim é gratificante.
P/1 – Excelente. O que você achou de participar aqui do Programa Memória Petrobras dando o seu depoimento?
R – Eu, olha, nossa, deu um frio no coração, falei: “Ah, não vou participar não.” “Não, mas você vai lá e tal, vai ser uma boa.” Falei: “Fazer o quê, vamos lá então.” (risos) Eu até trouxe uma colinha aqui prá ler, nem precisou. Prá mim foi excelente, gostei de participar. Acho legal, já vi várias entrevistas, pessoas. Acho legal, muito bom.
P/1 – Que bom, obrigada (risos)
R – Espero que você corte algumas coisas aí. (risos)
P/1 – Eu sempre digo, que editar, a gente sempre faz uma edição básica porque...
(FINAL)
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