Quando eu tinha oito anos, fui para a escola pela primeira vez, com o meu irmão que já fazia o 2º ano. A pé, de short, suspensório de pano, descalço, com um embornal nas costas, carregando apenas um lápis, uma borracha e um caderno. Chegando na escola Álvaro Alvim, a diretora ficava num palco à frente dos alunos para fazer a chamada antes de entrar para a sala. E eu ficava ali, tímido, quietinho, aguardando ser chamado junto ao meu irmão. E assim ela foi chamando os alunos, um a um, formando uma fila. De repente, ela começou a chamar: “ Antonio Roldão!, Antonio Roldão!, Antonio Roldão!”. E eu ali, parado, só observando o movimento. Nem me mexia, pois todos me chamavam por “Tonho”, meus pais me chamavam assim e dessa forma eu me identificava. Foi aí que meu irmão, me puxou pelo cabelo e me empurrando, levou-me até o centro do palco, dizendo: “Tonho, não tá vendo que estão te chamando, não?” Envergonhado, tomei meu lugar na fila, meio sem entender o que estava acontecendo. Foi naquele momento que eu descobri a minha identidade e “ Tonho” era só um apelido.

Entrevista realizada pelos alunos
Brasil / Emef Maria Do Carmo Cunha Guerbas