Memória Petrobras
Depoimento de Claudia Reis Pereira
Entrevistado por Inês Gouvêa
São Sebastião, 25 de Junho de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_TM113
Transcrito por Gabriel Monteiro
P1 – Claudia, pra gente começar, eu vou pedir que você diga seu nome completo, o seu local de nascimento e a sua data de nascimento.
R – Meu nome é Claudia Reis Pereira, nasci em 19 do 7 de 80; nasci aqui em São Sebastião.
P1 – Claudia, quando que você entrou aqui no TEBAR?
R – Eu entrei em 8 de março, na verdade eu não tenho certeza se é 2005 ou 2006, né, pra ser preciso.
P1 – O que que te motivou? Como é que foi a sua entrada aqui?
R – Bom, eu sou técnica em farmácia e eu saí da minha profissão porque eu fiquei sabendo de uma vaga aqui; e na verdade o salário era melhor e pra mim era um sonho trabalhar aqui. Eu trabalhava... eu tinha uma banquinha de jornal aqui na frente ali da recepção e aí surgiu a vaga e eu fiquei esperando um ano até que eu consegui entrar.
P1 – Conta pra gente essa história, você tinha a banca ali desde quando? Que período que foi isso?
R – Eu tinha 16 anos, aí pra mim era... eu tinha um sonho de entrar aqui, então pra mim foi praticamente um sonho realizado, né.
P1 – Sendo nascida em São Sebastião, qual era a sua impressão e de que modo você via, né, o terminal antes de você vir pra cá, ainda nesse momento aí?
R – Na verdade bem curiosa porque eu não tinha noção, eu via... antigamente era Kombi, indo até o píer, os navios, e eu ficava me perguntando: ‘o que que tanto as Kombis iam até lá e voltavam?’, sem ter noção do que eles estavam levando, eu não sabia que eram passageiros, né, tripulantes. Depois que eu vim trabalhar aqui que eu vi que é tudo diferente, quem está lá fora enxerga uma coisa e aqui dentro é totalmente diferente, é bem bacana.
P1 – Nesse momento que você trabalhava aqui na porta, na banca, você conversava com as pessoas?
R...
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Memória Petrobras
Depoimento de Claudia Reis Pereira
Entrevistado por Inês Gouvêa
São Sebastião, 25 de Junho de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_TM113
Transcrito por Gabriel Monteiro
P1 – Claudia, pra gente começar, eu vou pedir que você diga seu nome completo, o seu local de nascimento e a sua data de nascimento.
R – Meu nome é Claudia Reis Pereira, nasci em 19 do 7 de 80; nasci aqui em São Sebastião.
P1 – Claudia, quando que você entrou aqui no TEBAR?
R – Eu entrei em 8 de março, na verdade eu não tenho certeza se é 2005 ou 2006, né, pra ser preciso.
P1 – O que que te motivou? Como é que foi a sua entrada aqui?
R – Bom, eu sou técnica em farmácia e eu saí da minha profissão porque eu fiquei sabendo de uma vaga aqui; e na verdade o salário era melhor e pra mim era um sonho trabalhar aqui. Eu trabalhava... eu tinha uma banquinha de jornal aqui na frente ali da recepção e aí surgiu a vaga e eu fiquei esperando um ano até que eu consegui entrar.
P1 – Conta pra gente essa história, você tinha a banca ali desde quando? Que período que foi isso?
R – Eu tinha 16 anos, aí pra mim era... eu tinha um sonho de entrar aqui, então pra mim foi praticamente um sonho realizado, né.
P1 – Sendo nascida em São Sebastião, qual era a sua impressão e de que modo você via, né, o terminal antes de você vir pra cá, ainda nesse momento aí?
R – Na verdade bem curiosa porque eu não tinha noção, eu via... antigamente era Kombi, indo até o píer, os navios, e eu ficava me perguntando: ‘o que que tanto as Kombis iam até lá e voltavam?’, sem ter noção do que eles estavam levando, eu não sabia que eram passageiros, né, tripulantes. Depois que eu vim trabalhar aqui que eu vi que é tudo diferente, quem está lá fora enxerga uma coisa e aqui dentro é totalmente diferente, é bem bacana.
P1 – Nesse momento que você trabalhava aqui na porta, na banca, você conversava com as pessoas?
R – Sim, eu conversava muito com o Cosme, né, que é da gerência. Até quando eu entrei ele ficou surpreso, assim: ‘que legal’. Porque eu tava ali na frente, atendia eles vendendo meu jornal e eu consegui entrar aqui. Porque, assim, quem é de família humilde é difícil, né, tanto que eu to estudando agora, eu fiz outro... eu fiz técnico em meio-ambiente também depois que eu entrei aqui, pra poder crescer na empresa; e eu pretendo fazer faculdade, mas na área da saúde e enfermagem com o meu trabalho daqui também.
P1 – Que ótimo. E como é que você ficou sabendo dessa vaga pra cá?
R – É porque agora todo local que tem vigilante masculino tem que ter vigilante feminino também, devido a vistoria das bagagens das mulheres, né, então aí todo lugar tem que ter agora mulheres. Então eu fiquei sabendo que aqui não tinha mulher, então eu falei: ‘ah, uma oportunidade pra mim.’. Então eu fiz o curso em São José dos Campos, aí eu tentei a vaga. Aí eu fiquei ligando aqui pro Airton, que era o meu chefe antigo, fiquei um ano enchendo o saco dele: ‘ó, vai sair a vaga, vai sair.’. Até que saiu e ele me chamou.
P1 – Que ótimo. Persistência mesmo, né, Claudia?
R – Bastante, bastante mesmo.
P1 – E conta pra gente, quando você começou, como é que foi o seu primeiro dia de trabalho?
R – Bom, bacana porque todo mundo, assim, já me conhecia, algumas pessoas dali da banca, falaram: ‘ah, legal’, me receberam bem, me deram boa sorte, né, pra mim e pras outras meninas. Hoje, na verdade só tem eu e a Patrícia, né, das antigas, né. E por ser a primeira vigilante assim então pros homens não foi muito legal não, né, porque tava ocupando o espaço deles, mas pra mulher é como se fosse uma vitória, né, porque agora a gente está pegando todos os espaços que era só pra eles, agora a gente também está invadindo.
P1 – Conta pra gente como é que foi. Você chegou e aí você foi apresentada à equipe de vigilantes?
R – Sim, fui apresentada pros outros vigilantes e fui conhecendo o terminal, cada local é uma forma diferente de trabalhar.
P1 – Você já entrou pra trabalhar como vigilante? O que que um vigilante faz? Conta pra gente quais são as atividades que o vigilante deve fazer. O que que você faz na sua rotina de trabalho?
R – Então, na minha rotina de trabalho... e na recepção eu faço identificação quando a recepcionista não está, né, faço crachás, coloco o briefing pra pessoa que é a primeira vez que vem no terminal, vistoria das bagagens das pessoas, faço entrada de material. Já no PV1 você faz vistorias...
P1 – Perdão, o que é PV1?
R – Entrada principal. Você faz vistorias de veículos, entrada e saída de material também, tem vistorias de veículos, entregas de PETRANS, que é Permissão de Trânsito. Já no PV3 eu atendo tripulantes, tanto filipinos, gregos, poloneses também. Então você tem que... eu não sei falar inglês, mas eu entendo um pouco, mas dá pra trabalhar, eu consigo desenrolar, assim. E aí é isso, praticamente é isso.
P1 – Então você, na verdade, acaba sendo também um dos primeiros contatos das pessoas que chegam de outros lugares?
R – Sim, sim. Além do CFTV (?), que a gente monitora o terminal todo, as atracações, alguma ocorrência.
P1 – De 2005 ou 2006 pra cá já houve alguma mudança, no sentido desse controle, aqui no terminal? Nesse sentido de controle, vigilância e segurança.
R – Sim, já. Quando eu entrei não tinha _______ Code, depois, mais ou menos acredito uns seis meses, um ano, implantou, devido as torres gêmeas.
P1 – Perdão, o que significa ISS...
R – ISS ______ Code? É que devido às torres gêmeas, que teve o ataque, todo porto, aeroporto foi implantado.
P1 – É um sistema?
R – É um sistema de segurança. Pra não ter ataque terrorista, é mais uma prevenção. Aí foi implantado e... bacana, assim, colocaram concertinas (?) aqui no terminal todo pra não... impedir invasões porque aqui do lado tinha uma cadeia e antigamente entrava os presos pra cá, pulavam para uma fuga. E hoje em dia é desativada, então já instalaram pra prevenção mesmo.
P1 – Chegou a acontecer já de...
R – Já, já, teve... até o meu antigo inspetor chegou a levar um tiro, mas assim, não acertou, foi em direção a ele, devido a fuga dos presos.
P1 – A cadeia, provavelmente, era anterior a própria construção do terminal, né? Mais antiga do que...
R – É, mais antiga.
P1 – Hoje você continua na exata mesma atividade na qual você entrou?
R – Sim, hoje sim.
P1 – Quais são, Claudia, os maiores desafios do seu trabalho?
R – Os maiores desafios?
P1 – Ou quais foram, de 2005 até aqui.
R – Pra mim todo dia é um desafio, né, porque, por você trabalhar armada, assim, você pode... a qualquer momento alguém pode tentar tirar a sua arma, então pra mim já é um desafio, né. Mas, não sei, não sei te responder exatamente.
P1 – Na equipe hoje... qual é o perfil da equipe? Quantas pessoas, como que funciona?
R – Bom, devido ao grande número hoje, durante o dia, agora cada grupo do diurno são 12 e noturno são 10 por grupo: um líder, um ronda e oito vigilantes.
P1 – Hoje você trabalha em qual turno?
R – Noturno.
P1 – E como é que é a movimentação aqui no turno da noite?
R – No noturno é bem diferente do diurno, né, porque só tem os operadores e os vigilantes no terminal, então... e mais o pessoal dos navios, não tem movimentação igual do dia, é mais rondas, é bem diferente, bem diferente mesmo. Você fica... é um pouco... meio que vegeta, à noite, viu? Durante o dia você conhece pessoas, você tem muito contatos, é muito agitado, às vezes você não tem nem tempo de comer direito, você tem que comer rápido; diferente do notruno.
P1 – Você tava falando que você até estudou técnico em meio-ambiente e tal. Como que você percebe... quais são as atividades... como é que se manifesta a preocupação do terminal em relação ao zelo, ao cuidado com o meio-ambiente aqui nessa região?
R – É, eu não sei falar muito em relação ao terminal...
P1 – É, mas do que você percebe até como moradora da região, né, não mais hoje São Sebastião...
R – Sim, mas ele, o terminal em si ele dá muita palestra sobre o meio-ambiente, prevenção, com a população também, sempre. Às vezes não é só aqui em São Sebastião, é em Ubatuba, em Caragua. Eu participei de algumas até, sobre vazamento, como proceder, né, e... aqui também tem bastante em relação a coleta seletiva, é bem... mas falta, assim, não é todo mundo que tem... que sabe, né, como funciona. Então falta educar as pessoas ainda.
P1 – Você tocou num ponto interessante: aqui dentro, e dentro do sistema Petrobras de um modo geral, se adota a coleta seletiva. Esse tipo de procedimento, isso é comunicado para a população que ta fora do terminal? Existe essa relação, para que o cuidado com o meio-ambiente se estenda fora do terminal? Você sente isso?
R – Até... é o que eu estou te falando, eles dão as palestras, só que a população eles não sabem ainda o que o lixo pode provocar, entendeu? Tanto que o aquecimento global está aí, o efeito estufa, e o pessoal não... as pessoas não estão percebendo. Então falta reeducar mesmo, então não tem como... não adianta eles ficarem dando palestras se a pessoa não se conscientizar, não se auto-ajudar, entendeu?
P1 – Pensando até bem antes de você entrar pra cá, já que você nasceu em São Sebastião: quais foram os benefícios que o terminal trouxe pra São Sebastião?
R – Emprego, nossa, aqui era escasso de emprego. Hoje até quem entra aqui se sente feliz porque é um lugar que você ganha um pouco melhor e você tem probabilidade de crescer, né; mas lá fora é mais difícil, prefeitura, a cidade é pequena, ela é comprida, mas de trabalho ela é muito curta.
P1 – Você, que tinha esse ideal de vir trabalhar, já conseguiu influenciar alguém pra vir trabalhar aqui?
R – Já, já, a minha colega Gisele, que trabalha no credenciamento, a Elaine que também é vigilante. Eu já indiquei algumas pessoas e deu certo. É que é complicado você indicar e de repente às vezes não dá certo, você se sente mal depois, mas já sim, bacana.
P1 – Tem alguma história ou algum momento especial dessa sua trajetória que ta começando, né, aqui no terminal, alguma coisa que tenha te marcado? Ou mesmo antes, né, porque você já tinha uma relação com o terminal mesmo antes de vir trabalhar aqui. Algo que você se lembre?
R – De momento não, de momento não.
P1 – Tem alguma coisa que você gostaria de deixar registrado, Claudia, que eu não tenha te perguntado? Sobre o seu trabalho, enfim, sobre essa sua relação com o TEBAR.
R – Ah, assim, uma coisa que eu queria falar é que o pessoal não respeita muito o nosso trabalho, eles não gostam muito, porque vigilante é como se fosse pra barrar um coisa que você está fazendo, que você acha que ta certo e que às vezes a gente acha que está errado. Então a gente não é muito bem recebido não; a gente é um pouco esquecido também. Mas, assim, eu queria que todo o pessoal entendesse que é o nosso trabalho, que é como um trabalho qualquer, que aqui todos são iguais, né, e o objetivo é um só: o crescimento do terminal, mais nenhum outro.
P1 – Excelente. Então, pra concluir, o que que você achou de participar do Programa Memória Petrobras e contar essa sua história, que é tão bonita e tem a ver com o seu sonho, aqui pra gente?
R – Eu achei bem legal, assim, fiquei surpresa quando eu recebi a ligação. E todas as vezes que eu via as outras reportagens nas revistas eu falava: ‘poxa, nunca ninguém chama alguém da segurança! Sempre da segurança de Santos tem alguém e daqui nunca tem ninguém.’ Eu achei bem legal, eu fiquei feliz de ter participado e, por ser a primeira também vigilante das meninas, eu fiquei bem feliz, achei legal. Importante que já estão dando um espaço pros vigilantes daqui, né.
P1 – Excelente. Tá ótimo, obrigada.
R – De nada, obrigada vocês.
FIM DA ENTREVISTA
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