IDENTIFICAÇÃO O meu nome é Cláudia Ernest Dias, nasci em 18 de fevereiro de 1958, no Rio de Janeiro. EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO Eu sou de uma família de músicos, fui criada com a música. Esse universo sempre foi presente na minha vida, de forma que eu me tornei uma profissional, apesar de, além da música, ter feito história; eu também sou formada em história. De certa forma, estamos juntando uma coisa com a outra, mas a música sempre esteve presente na minha vida e assim está sendo na vida das minhas filhas e dos alunos. FLAUTISTAS DA PRO-ARTE O Grupo Flautistas da Pro-Arte tem 16 anos. Surgiu na Pro-Arte, num núcleo muito pequeno, coordenado pela Tina Pereira, depois junto comigo. Foi um trabalho que começou com compositores, em trabalhos de música brasileira, mas era muito pequeno, era só flauta doce e um pouco de xilofone. Fomos apresentando um repertório de músicas nordestinas, depois o iniciozinho do Dorival Caymmi e a coisa foi crescendo, tendo uma grande aceitação, na verdade, crescendo muito. Vários compositores foram trabalhados nesses quinze anos: Ari Barroso, Noel Rosa, Pixinguinha, Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Chico Buarque, Radamés, Moacir Santos. O trabalho teve um crescimento muito grande, a ponto de ser dividido em dois grupos. Nós duas coordenamos cada uma um grupo. A Tina Pereira coordena a Orquestra Flautista da ProArte, que esse ano vai homenagear o Villa-Lobos e eu coordeno os Flautistas da ProArte e esse ano nós estamos homenageando o Milton Nascimento. Os pequenos flautistas cresceram do ponto de vista de faixa etária e musicalmente. Então, esse grupo se tornou os Flautistas da Pro-Arte e os mais velhos se tornaram Orquestra Flautista. AÇÃO SOCIAL É importante ressaltar que temos dois pólos de trabalho social, além desse trabalho desenvolvido na Pro-Arte, que por sua vez, desde o início abarcou muitas crianças de baixa renda. Na verdade, o patrocínio...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO O meu nome é Cláudia Ernest Dias, nasci em 18 de fevereiro de 1958, no Rio de Janeiro. EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO Eu sou de uma família de músicos, fui criada com a música. Esse universo sempre foi presente na minha vida, de forma que eu me tornei uma profissional, apesar de, além da música, ter feito história; eu também sou formada em história. De certa forma, estamos juntando uma coisa com a outra, mas a música sempre esteve presente na minha vida e assim está sendo na vida das minhas filhas e dos alunos. FLAUTISTAS DA PRO-ARTE O Grupo Flautistas da Pro-Arte tem 16 anos. Surgiu na Pro-Arte, num núcleo muito pequeno, coordenado pela Tina Pereira, depois junto comigo. Foi um trabalho que começou com compositores, em trabalhos de música brasileira, mas era muito pequeno, era só flauta doce e um pouco de xilofone. Fomos apresentando um repertório de músicas nordestinas, depois o iniciozinho do Dorival Caymmi e a coisa foi crescendo, tendo uma grande aceitação, na verdade, crescendo muito. Vários compositores foram trabalhados nesses quinze anos: Ari Barroso, Noel Rosa, Pixinguinha, Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Chico Buarque, Radamés, Moacir Santos. O trabalho teve um crescimento muito grande, a ponto de ser dividido em dois grupos. Nós duas coordenamos cada uma um grupo. A Tina Pereira coordena a Orquestra Flautista da ProArte, que esse ano vai homenagear o Villa-Lobos e eu coordeno os Flautistas da ProArte e esse ano nós estamos homenageando o Milton Nascimento. Os pequenos flautistas cresceram do ponto de vista de faixa etária e musicalmente. Então, esse grupo se tornou os Flautistas da Pro-Arte e os mais velhos se tornaram Orquestra Flautista. AÇÃO SOCIAL É importante ressaltar que temos dois pólos de trabalho social, além desse trabalho desenvolvido na Pro-Arte, que por sua vez, desde o início abarcou muitas crianças de baixa renda. Na verdade, o patrocínio da Petrobras viabilizou isso tudo. É um grupo muito heterogêneo, podia até dizer que mais de 60 ou 70 % dos Flautistas são bolsistas, alunos que vêm de longe, muitos de favelas, de comunidades carentes. Então, temos como perfil dos flautistas da Pro-Arte, um grupo muito misturado. Além desse desenvolvimento na Pro-Arte, temos esses dois pólos sociais, um em Barra de Guaratiba, na Restinga da Marambaia, que é um grupo com 40 crianças, e um outro pólo no Morro Santa Marta, também com trabalho de música brasileira. Em Barra de Guaratiba eu sou professora da Escola Municipal da Restinga da Marambaia, e levávamos os Flautistas da Pro–Arte para se apresentarem lá e aconteceu que as crianças foram inoculadas, no bom sentido, foram despertadas para a música. Eu resolvi montar um núcleo na localidade e deu bastante certo. Hoje em dia, contamos com monitores do próprio projeto Flautistas da Pro–Arte, que estão mais habilitados, mais desenvolvidos e trabalham como monitores, ensinando as crianças. Eu e a Tina coordenamos esses dois pólos nas comunidades de baixa renda. Isso está tendo resultados bem importantes do ponto de vista de profissionalização dos alunos. Esses monitores também são alunos carentes. É uma possibilidade de remuneração, de crescimento na vida profissional e musical, porque quando se ensina também se aprende muito, é sempre uma possibilidade de crescimento. COTIDIANO DE TRABALHO O Projeto Flautistas da Pro–Arte desse ano – no caso é sobre Milton Nascimento – é um projeto bastante absorvente. Começamos a trabalhar desde janeiro, ouvindo e selecionando todo o repertório. Primeiro, conhecendo muito profundamente o compositor. Isso é muito importante: conhecer e gostar para poder passar para as crianças o valor que você está atribuindo àquilo. Então, tem todo esse trabalho de pesquisa de repertório e de associação com boas melodias para flauta, para o canto, tem todo um trabalho. A partir de março, efetivamente as músicas são distribuídas aos alunos, eles vão conhecer primeiro o universo do compositor escolhido. Depois encaminhamos aos arranjadores. Trabalhamos com um staff de arranjadores maravilhosos que são músicos da melhor qualidade e eles fazem arranjos específicos para a formação do grupo. O grupo é formado por flauta doce, flauta transversa, clarinete, saxofone, percussão, instrumentos de harmonia, violão, piano, canto. Esses arranjos são específicos para o grupo e são arranjos progressivamente mais difíceis para eles avançarem. Estabelecemos uma linha para montar um espetáculo propriamente dito para depois, se apresentar em público. A proposta é que eles cresçam através desse ensino; tem um substrato por trás porque os alunos tem aulas particulares, tem aulas de teoria, tem aula de instrumentos. FORMAÇÃO DO GRUPO É sempre o mesmo grupo, mas aceitamos alunos novos, desde que estejam no nível musical em que está o trabalho dos Flautistas da Pro–Arte, tem que ter conhecimento musical. Nesses pólos sociais estamos formando crianças que estão muito no inciozinho, estamos realmente musicalizando as crianças, desde o bê-á-bá, ensinando a leitura musical, o ensino de flauta doce. Depois elas passam para flauta transversa e assim vão entrando na filosofia do nosso trabalho. Nos grupos de Barra de Guaratiba e do Santa Marta tem crianças de sete, oito, nove anos e tem uns adolescentes de 12, 13, 14 anos. Tem um monitor que sai do Grupo Flautistas da Pro–Arte. Esses monitores que moram naquelas localidades são aproveitados. Eles vêm duas vezes por semana à Pro-Arte, porque já estão num nível mais avançado, portanto eles fazem parte desse trabalho mais desenvolvido. Estamos dando oportunidade dele se tornar um monitor e, como ele mora ali, facilita. Está tendo uma dinâmica muito interessante. Esse ano, nós estamos com uma proposta de fazer um espetáculo pequeno com esses dois pólos. A idéia é essa. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO O desenvolvimento musical deles cresceu muito. Inicialmente, o grupo era só de flauta doce. Era um grupo muito de flauta doce, canto e umas coisas muito simples, uns arranjos muito bonitos mas muito simples, do ponto de vista harmônico e técnico. Com o tempo, isso mudou muito. Hoje em dia, se você vê a apresentação da Orquestra Flautista da Pro-Arte, eles estão num nível muito grande de perfomance musical. O trabalho cresceu numericamente, porque nós hoje totalizamos quatro grupos que trabalham na nossa filosofia e qualitativamente, musicalmente cresceu muito, muito mesmo. Temos muitos alunos na universidade, tem alunos também se profissionalizando, tem um outro aluno que é monitor lá na Pro-Arte e também dirige um grupo de flautistas em Paquetá, os Flautistas de Paquetá. Percebemos que é um trabalho que está tendo ramificações e efetivamente. Inventamos esse trabalho de musicalização através da Música Popular Brasileira que também é o nosso maior manancial, é uma riqueza fantástica e esse processo todo está tendo resultados muito bonitos. Eu sou suspeita para falar, mas é o que se constata. PERFIL DOS FLAUTISTAS Trabalhar com criança, com jovem e com música é uma mistura muito rica, eu até diria uma oportunidade de vida Primeiro por causa da música brasileira, depois a criança e o jovem estão sempre abertos. No caso da Pro-Arte, são jovens e crianças que vêm à escola para aprender música, então eles estão realmente interessados naquela linguagem. A partir do momento em que o repertório é oferecido, a coisa vai crescendo. Temos resultados muito bonitos. Eu acho que é porque a música tem esse poder e a forma de passar também contribui para o sucesso do grupo. Os flautistas têm um jeito meio interessante ou diferente de musicalizar, mas também trabalhamos com elementos de movimento, de dança, de acrobacia que são elementos que sempre enriquecem o crescimento de uma criança, uma coisa puxa a outra. Uma criança dançando bem, ela toca bem ou cantando bem ela vai tocar melhor, e tocando, ela vai cantar melhor. Tentamos fazer essa costura que efetivamente tem resultados bem positivos. Não necessariamente as crianças que chegam têm pais ligados à música ou já estudaram música. Dentro dos Flautistas, tem um grupo de classe média que são filhos de músicos e são crianças que têm esse universo da música mais presente. É como a realidade brasileira, em geral as crianças menos favorecidas não freqüentam os espaços culturais, infelizmente. Daí a importância desse tipo de projeto porque faz com que se produza e dissemine música de qualidade, não importando a faixa de renda. Nos pólos sociais, podemos despertar talentos em crianças que, de outra forma, jamais seriam despertadas para a música. Até porque hoje em dia há um massacre muito violento de músicas de péssima qualidade para as crianças, é uma coisa até criminosa. Quando você vê uma criança de um lugar longe, ou de uma favela, querendo conhecer Villa-Lobos ou outro compositor, você sente uma esperaça porque se a criança é despertada para o belo, e o ser humano também está aberto, basta canalizar. Mas sobre o perfil das crianças do projeto, a gente percebe hoje que tem um número maior de bolsistas. Isso foi possibilitado pelo patrocínio, um crédito importante que a Petrobras deu porque acreditou e confiou no projeto e que está permitindo esse tipo de possibilidade, porque se não fosse o patrocínio, não teríamos como estender uma vertente mais social. Nós prezamos pelo padrão de qualidade musical. Não se pode pensar porque é criança pobre pode ser qualquer coisa, tem que pensar justamente o inverso, se eles nada têm, temos que dar o melhor. PATROCÍNIO DA PETROBRAS No início, trabalhávamos com um grupo pequeno na Pro-Arte. A Pro-Arte é uma instituição privada de cultura, então era um grupo restrito. No momento em que o patrocínio entrou, há 13 anos, houve essa aceitação de bolsista, antes mesmo dessa coisa estar tão em voga. Se uma criança queria estudar e não tinha dinheiro, nós aceitávamos. E fomos vendo que muitas crianças tinham interesse naquele trabalho, mas não tinham condições de pagar. Isso sempre foi uma questão colocada dentro da Petrobras e valorizada porque realmente o projeto possibilitou em primeiro lugar fazer da forma como acreditamos, que é um trabalho de qualidade, de formação desses alunos todos e depois houve, realmente, a possibilidade de participação de um número maior de crianças desfavorecidas. Temos bastante orgulho de que tenha sido feito dessa forma e hoje vemos os alunos se profissionalizando, sendo músicos, tocando na noite, é muito gratificante. E a condição sine qua non da existência do trabalho neste formato é o patrocínio, porque conseguimos manter esse padrão de qualidade, que prezamos; combinando qualidade artística com esse trabalho social de formação. Isso é muito importante. Realmente, estamos investindo cada vez mais na formação desses jovens. O primeiro ano do patrocínio foi quando o Tom Jobim morreu e as crianças ficaram muito curiosas em saber quem era o Tom. Nesse ano, a Petrobras começou a apoiar. Isso foi em 1995 e de lá para cá, temos sempre tido o patrocínio e é o que está possibilitando esse crescimento e essa riqueza de oportunidades para os alunos e para os professores também, porque nós também crescemos, sempre. O projeto tem esse caráter social muito claro. Inclusive, agora, está dentro do patamar de formação lá na Petrobras. Mesmo estando nessa qualificação de formação, a estamos sempre muito atentas a essa questão musical, das oportunidades de crescimento musical. Os grupos estão sempre atrás de novos desafios. No ano passado, a Orquestra Flautista da Pro-Arte fez um trabalho belíssimo com Radamés Gnattali. Esse ano estão construindo com Villa-Lobos, antes foi Moacir Santos. E nós fizemos Pixinguinha, Dorival Caymmi. Sempre com essa preocupação de mostrar o universo da música brasileira, porque é o nosso tesouro maior. APRESENTAÇÕES A Orquestra Flautista da Pro-Arte se apresenta sempre na Sala Cecília Meirelles, a partir de junho já vão estrear. As apresentações sempre trazem público de crianças carentes que têm interesse nesse universo da música. O outro grupo dos Flautistas também se apresenta em teatros e no Jardim Botânico, num espaço aberto; também fazemos esse tipo de apresentação. No Jardim Botânico será a partir de outubro[2007]. Os pólos sociais também têm apresentações nas comunidades deles, mas a nossa meta esse ano é trazê-los para cá. Costumamos estar sempre também no Teatro do Jóquei. Disponibilizamos entradas para o público interessado em assistir e que não tem condição de pagar. Para as escolas carentes que têm interesse, a produção articula formas de uma porcentagem dos ingressos serem destinados sempre para esse tipo de público. Temos esse interesse em ampliar mesmo. É bastante divulgado na época em que o trabalho fica pronto. RECEPTIVIDADE DO PÚBLICO É sempre um grande sucesso. Eu até falo isso sem falsa modéstia porque é o que a gente vê. A Sala Cecília Meirelles fica sempre muito cheia, mesmo o grupo dos pequenos, que agora estão em outro nível, também ficava com a lotação cheia. As pessoas voltam para ver de novo, quem viu uma vez vai ver de novo, leva as crianças. É muito rico, o público devolve com muita energia boa, a gente fica segura. Dá para sentir a energia, exatamente. ESCOLHA DO REPERTÓRIO A escolha do repertório passa sempre pela direção do projeto. Eu e a Tina ficamos pensando que compositor poderia ser e também se nos identificamos com o compositor. Às vezes os alunos propõem algum tipo de compositor. No caso do Villa-Lobos, eles já estão num nível muito elevado, então é uma coisa de ir rompendo limites. No caso da minha escolha por Milton foi porque nunca tínhamos explorado Minas. Já tinha explorado bastante o Rio, a Bahia, o Nordeste. E se você pensar em música popular brasileira, tem um leque de referências que devem ser apresentadas. As escolhas são por ano, para cada ano são dois compositores, um para cada grupo. E mais os pólos sociais que estão trabalhando Braguinha. É um outro compositor. As duas comunidades estão trabalhando juntas, para depois se juntarem. Talvez eles se apresentem no Teatro do Jóquei, não sabemos. Mas são duas ex-alunas que estão cada uma numa comunidade e nós coordenando por trás. A idéia é juntar os dois compositores. ESTRUTURA Temos uma estrutura muito grande, porque como são muitos alunos, há ensaios regularmente, são cinco horas por semana. Duas vezes por semana eles têm aulas de teoria e percepção dos instrumentos. No momento em que as músicas estão preparadas, começa a produção propriamente dita, para o espetáculo. Isso envolve a parte gráfica que, em geral, eles contribuem com desenhos. Tem uma estrutura de cartazes, da parte estética mesmo, figurino e depois os elementos cênicos, que vão também se inserir naquele contexto para formar um espetáculo. Uma coisa que estamos tentando passar é a essência do compositor segundo a nossa visão. Esse é o objetivo: um trabalho essencialmente de educação musical, para que os alunos conheçam melhor o trabalho desse compositor. E é uma oportunidade muito grande para nós também, porque ficamos em contato com a obra. Na minha casa, as minhas meninas dizem: “Mãe, agora a gente só ouve Milton Nascimento aqui” Porque você fica realmente assimilando. É o mesmo caso da Tina, que fica lá com Villa-Lobos o tempo todo, para poder passar e construir. Tem uma direção, mas é um trabalho de conjunto. Nós temos uma estrutura muito boa de supervisão musical, com profissionais muito bons: o Raimundo Nicioli, que é supervisor dos dois projetos é um pilar do trabalho. DIVULGAÇÃO Costuma sempre sair na imprensa. Temos a mídia possibilitada pelo patrocínio da Petrobras; tanto que sempre temos lotação. Na verdade, já estamos sendo uma referencia do trabalho do ano: “O que esses flautistas estão aprontando? O que está vindo por aí? Qual vai ser o compositor?” PETROBRAS CULTURAL Eu acho que a Petrobras é de fundamental importância para a vida cultural do país. Acho que a Petrobras está entrando de uma forma muito importante, porque eu vejo especificamente no caso do nosso projeto, mas acompanho muito todo o trabalho que está sendo feito: todas as oportunidades e incentivos ao crescimento de projetos, ao desapertar de novos projetos, revelações de talentos. Eu acho que é disso que o nosso país precisa, porque temos muita riqueza, sobretudo quando se trabalha com jovens, você vê possibilidades de expansão, de crescimento e, em geral, as oportunidades são muito áridas no nosso país. Então, quando a Petrobras entra, no meu caso específico, a música ou a dança, você percebe expansões mesmo, crescimentos e oportunidades. Isso tem um valor fantástico, acho que é assim que vamos transformar tudo isso que está aí. Sem sombra de dúvida eu digo que a condição dos Flautistas da Pro-Arte existirem é o patrocínio, que possibilita essa liberdade de criação. Tem muito isso também, temos espaço para expandir, do ponto de vista criativo, isso é uma virtude, porque não é uma coisa amarrada ou cobrada. É um patrocínio arejado. SUSTENTABILIDADE Lá na Pro-Arte quem tem condições financeiras paga pela aula em grupo e pelas aulas individuais também, porque temos alunos de classe média. Ajuda na manutenção, mas o patrocínio possibilitou a compra dos instrumentos, que é uma questão importantíssima. Você coloca uma flauta na mão de uma criança, é um mundo que você joga ali. A criança vai descobrindo coisas, querendo conhecer e tocar, e um instrumento é sempre caro. A gente percebe isso. O que está acontecendo também é como o grupo é formado por muitos bolsistas e, não por acaso, os bolsistas moram longe, é um movimento de investimento porque as pessoas vêm de longe, saem nove horas da noite da Pró-Arte e chegam 11, 11:30 em Barra de Guaratiba. É um trampo Você vê que a pessoa está dando valor e também já colhendo frutos, se tornando profissional, monitor. Então, tudo são possibilidades. INTEGRAÇÃO DOS ALUNOS A integração é muito legal. Isso é muito bom porque quando estamos tocando, os valores desaparecem e o que prevalece é a performance da música. Nesse momento, não tem rico, não tem pobre. É muito importante quando você tem uma linguagem que pode unificar assim. Naquele momento, o valor maior é tocar bem, cantar bem, bem dançar, e nessa hora a distinção de classe não aparece. Os projetos contribuíram para modificar valores nas crianças que tinham preconceitos. Isso é muito interessante, porque a gente convive, se você tiver a oportunidade de ver o grupo vai ver que o perfil é bem misturado: mistura de cor, mistura social, mistura mesmo. E no momento em que eles estão juntos ali, são amigos. Viajamos muito, investimos muito em viagens porque isso também coloca todo mundo na mesma condição. Temos muitas experiências de amigos que de outra forma não seriam amigos. A idéia é de juntar pela música, não juntar propositalmente, foi a música que costurou isso, a música desde sempre tem isso. Se pensarmos em Pixinguinha, por exemplo, o valor que ele tem, sempre teve essa possibilidade de ascensão social. Então, é uma profissão que tem essa tradição, de certa forma. Por vezes aquele que não tem oportunidade dá mais valor. Não todas as vezes, mas acontece, até mesmo porque você se deslocar duas horas e meia para estudar música já é um esforço. Tem determinados momentos em que se vê isso bem claro, bem claro mesmo. Temos muitos alunos também que já estão na universidade, estão se especializando, alunos de classe média. O que se percebe nas crianças menos favorecidas é a dificuldade efetiva de entrar na universidade, isso é um dado, porque não teve a mesma formação de uma criança de classe média. Na hora do vestibular, não consegue, é difícil entrar em universidade pública. Faz um, dois, três vestibulares. Estamos atentas para ver de que forma o projeto poderia ajudar esse tipo de dificuldade e investir num curso pré-vestibular, ou algo assim para possibilitar aquele que quer muito e devido às dificuldades da vida não conseguiu atingir a universidade. A vocação não tem distinção, quando se vê a flor do asfalto, uma pessoa que não teve nada, uma pessoa que mora num barraco, não tem nada e, de repente, ela vai despertar e querer conhecer Mozart ou Villa-Lobos. MARATONA MUSICAL O grupo, às vezes, é convidado para fazer apresentações em outros estados. Já estivemos em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador. Essas viagens são oportunidades de os flautistas estarem mais juntos, sempre são possibilidades de crescimento. Também investimos em maratonas, nós chamamos de maratona musical. Perto da estréia dos espetáculos, vamos para uma fazenda de um aluno e ficamos três, quatro dias só com o objetivo de ensaiar, ensaiar e melhorar. Também é uma experiência muito rica, de muita troca. PLANOS PARA O FUTURO Esse ano, nós estamos gravando um disco pelo selo da Rádio MEC, a Orquestra Flautistas da Pro-Arte. Estamos bastante animados porque é um disco que vai sintetizar o espírito do grupo atualmente, com arranjos muito bonitos. Esperamos cada vez viajar mais, mostrar mais e também despertar cada vez mais a música. A música por si só já faz isso, mas o que se percebe é que quando crianças e jovens vêem outras crianças tocando desperta o interesse. Uma vez eu vi uma criança perguntando para mãe o que ela tinha que fazer para estar do lado de lá. Quer dizer, alguma coisa a deixou inquieta, interessada. A música é uma linguagem muito profunda, muito enriquecedora. A pessoa que pode ter contato, nem que seja só para ouvir com atenção, tocar, cantar... E uma criança sendo formada com música, mesmo que ela não vire músico, ela vai ter um diferencial, ela vai ter um recurso interno, uma riqueza. E a música brasileira é assim, sem palavras Acho que quanto mais crianças puderem ter acesso à musica de qualidade – no caso específico da minha linguagem que é a música – ou qualquer acesso de expressão, se as crianças brasileiras puderem realmente ter oportunidades, eu acho que a coisa pode ficar bem diferente. MEMÓRIA PETROBRAS Eu achei muito interessante. Fico feliz de participar dessa iniciativa e realmente a música, esse projeto todo de memória envolve várias artes, vários aspectos culturais e sem dúvida tem uma importância muito boa.
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