Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Charles Reis
Entrevistado por: Márcia de Paiva
Local da gravação: Vitória/ ES
Data: 24/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CB ES 05
Transcrito por Flávia de Paiva
P/1 - Boa Tarde. Queria começar a entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Charles da Vitória Reis. Nasci em Montanha em seis de dezembro de 1964. Montanha no Espírito Santo.
P/1 – Charles, conta pra gente como foi o seu ingresso na Petrobras.
R – Confuso. Porque eu fiz concurso em 1983, no mês de maio, junho. Em setembro de 1983, eu fui convocado às dez horas da manhã para comparecer na área de Recursos Humanos. E quando eu cheguei, após o almoço, fui comunicado que todas as admissões haviam sido suspensas. Foi na época de 1983, quando foi editado um decreto-lei que limitou as estatais e uma série de coisas e suspenderam as admissões naquele período. Eu acabei sendo admitido em julho de 1984, sob vigência do decreto 2036 que extinguiu vários direitos que os trabalhadores tinham e que só foram reconquistados depois. Então, a admissão foi um processo...
P/1 – Complicado.
R – Já cheio de coisas, assim, bem ao estilo da Petrobras.
P/1 – Meio estilo da Petrobras por que?
R – Porque, nesse período todo, a gente viveu esses momentos de mudanças constantes. A Empresa sofreu durante muito tempo por ser estatal e ser vista como um órgão do Governo e não como uma Empresa que pudesse tocar. E só bem recentemente é que teve uma mudança nesse nível. Mas ainda assim, nós defendemos que a Petrobras continue sendo dos brasileiros e estrategicamente utilizada pelo Estado para gestão da política de energia do país.
P/1 – Charles, me diga: então, você entrou e, depois desse processo complicado, você foi trabalhar em que área?
R – Fui trabalhar na área de suprimento. Seis meses depois, eu fui para a área financeira. Fiquei na área financeira...
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Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Charles Reis
Entrevistado por: Márcia de Paiva
Local da gravação: Vitória/ ES
Data: 24/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CB ES 05
Transcrito por Flávia de Paiva
P/1 - Boa Tarde. Queria começar a entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Charles da Vitória Reis. Nasci em Montanha em seis de dezembro de 1964. Montanha no Espírito Santo.
P/1 – Charles, conta pra gente como foi o seu ingresso na Petrobras.
R – Confuso. Porque eu fiz concurso em 1983, no mês de maio, junho. Em setembro de 1983, eu fui convocado às dez horas da manhã para comparecer na área de Recursos Humanos. E quando eu cheguei, após o almoço, fui comunicado que todas as admissões haviam sido suspensas. Foi na época de 1983, quando foi editado um decreto-lei que limitou as estatais e uma série de coisas e suspenderam as admissões naquele período. Eu acabei sendo admitido em julho de 1984, sob vigência do decreto 2036 que extinguiu vários direitos que os trabalhadores tinham e que só foram reconquistados depois. Então, a admissão foi um processo...
P/1 – Complicado.
R – Já cheio de coisas, assim, bem ao estilo da Petrobras.
P/1 – Meio estilo da Petrobras por que?
R – Porque, nesse período todo, a gente viveu esses momentos de mudanças constantes. A Empresa sofreu durante muito tempo por ser estatal e ser vista como um órgão do Governo e não como uma Empresa que pudesse tocar. E só bem recentemente é que teve uma mudança nesse nível. Mas ainda assim, nós defendemos que a Petrobras continue sendo dos brasileiros e estrategicamente utilizada pelo Estado para gestão da política de energia do país.
P/1 – Charles, me diga: então, você entrou e, depois desse processo complicado, você foi trabalhar em que área?
R – Fui trabalhar na área de suprimento. Seis meses depois, eu fui para a área financeira. Fiquei na área financeira por alguns anos. Depois, voltei para a área de suprimento e fiquei mais uns dois anos, até 2002. Em 2003, em vim para a área de RH, de Recursos Humanos, onde eu estou agora, na área de Ambiência Organizacional da UN-ES.
P/1 – Sempre aqui, em Vitória?
R – Em São Mateus e, de 2001 para cá, em Vitória.
P/1 – Antes você trabalhava em São Mateus então?
R – De 1984 até 2001, em São Mateus.
P/1 – Conta um pouco desse seu trabalho em São Mateus. Como é São Mateus? Conta pra gente, porque a gente não conhece. Como foi?
R – São Mateus é uma cidade história, tem quase 500 anos. Todo o desenvolvimento da Petrobras no estado foi a partir de São Mateus. È uma cidade com uma raiz histórica muito grande, com quilombos enfim, uma cidade com muita cara de Brasil, tem histórias maravilhosas. E a Petrobras foi um agente indutor importante, é, até hoje, um agente indutor da economia, da cultura. Enfim, é um grande parceiro da cidade, da região toda, né, e agora, muito mais, do Estado praticamente inteiro, né? Acho que a presença da Petrobras no Espírito Santo, nesse novo momento do petróleo no Espírito Santo, é muito importante. E na região norte, São Mateus, Linhares, Conceição da Barra, Javarã, não só pelos royalties que os municípios recebem, mas a presença da Petrobras na região tem uma marca muito forte. E nós, que tivemos a oportunidade de trabalhar na Petrobras nesse período, vivemos a evolução da cidade, da tecnologia.
P/1 – Tem algum projeto da Petrobras, lá em São Mateus, com a comunidade?
R – Vários projetos. A Petrobras foi parceira para instalação de um centro universitário lá em São Mateus, no norte do Estado. A Petrobras, os petroleiros, numa campanha forte, a Petrobras é parceira da Lira Mateense, uma banda que tem quase 100 anos, é uma história musical viva. A Petrobras foi parceira nos vários festivais de teatro que aconteceram lá. É parceira em projetos de responsabilidade social, Projeto Araçá...
P/1 – Como é que é o Projeto Araçá?
R – Com crianças, desenvolvem a aprendizagem, fazem trabalhos de reciclagem, não é? A Petrobras é parceira em várias obras do município; é parceira na conscientização com relação ao meio ambiente enfim, acho que tem uma marca forte, muito forte. As pessoas gostam da Petrobras, cobram da Petrobras, querem ser ajudadas pela Petrobras. Quando a Petrobras transfere a sede administrativa para Vitória, começou a discutir isso em 2000, houve um movimento da cidade. Porque a cidade achou que ia ter um prejuízo, inclusive financeiro, com a saída naquele momento de algumas pessoas. Mas isso foi revertido, o quantitativo de pessoas aumentou na região, também novas fronteiras, novos projetos, novas descobertas.
P/1 – E você gostou de ter vindo para cá, para Vitória?
R – Gostei. Eu acho que é importante, especialmente nesse momento que a gente tem a possibilidade de passar a ser segunda região produtora de petróleo no Brasil. E é importante que se esteja no centro, onde as coisas acontecem, próximo da infra-estrutura de logística, né, hotel, transporte, aeroporto, porto. Acho que para a Petrobras é bom, para a gente é bom, estamos no centro, mais perto para ir ao Rio, na sede na Empresa, acho que é muito mais tranqüilo.
P/1 – Charles, você é sindicalizado?
R – Fui sindicalizado e sindicalista, fundador aqui do Sindicato aqui na região. É outra história interessante. Em 1987, nós fizemos uma greve aqui e não tinha sindicato. Então, foi uma pressão muito grande. E, depois desse movimento, a gente resolveu criar o Sindicato, e a legislação proibia. Você tinha que criar uma associação pré-sindical e tinha um período de alguns meses em que você tinha que ter dois terços da base filiada. E você perdia o direito, a carta sindical não vinha se você não cumprisse. E a gente acabou não cumprindo. Chegamos a ter extensão de base territorial de Caxias aqui. E, em 1989, a gente fundou um Sindicato aqui – Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo. Primeiro, se chamava Stiep – Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e tal; depois mudou para Sindipetro. E eu estou na direção de 1989 até 2002 – estive fora um mandato só.
P/1 – Da direção do Sindipetro daqui do Espírito Santo?
R – Da direção do Sindipetro daqui do Espírito Santo. Fui diretor da FUPE, de 1998 a 2000 e de 2002 a 2003.
P/1 – E agora você está...
R – Agora, eu estou descansando do movimento sindical. Estou no RH agora, acho que cumprindo uma outra etapa aí, um novo desafio que é aproveitar a experiência acumulada no movimento, na área de ambiência por exemplo, para a gente atender às necessidades, ouvir as necessidades e transformar o nosso ambiente no melhor ambiente de trabalho possível. Acho que é um desafio importante.
P/1 – Nos seus anos de sindicância, o que você destaca como um momento importante?
R – Nós tivemos alguns momentos importantes, mas eu creio que dois momentos foram significativos na minha história pessoal: a greve de 1995 – aqui no estado nós tivemos ocupação, e a greve, não pela greve em si que foi de extremo desgaste, inclusive orgânico.
P/1 – Essa, de 1995?
R – É, porque foi uma greve muita pesada: polícia, exército ocupando as refinarias - a gente tinha essas notícias – a postura do governo – primeiro governo recém-eleito pelo voto popular depois do impecheament – o ataque que o governo faz aos petroleiros em particular e ao movimento sindical como um todo foi muito pesado. Então, sobreviver aquele momento, o Sindicato sob intervenção e a gente ter usar a criatividade, a colaboração para tocar não só a máquina sindical mas também o movimento sindical, inclusive com os recursos financeiros, você não tem conta bancária, suas contas estão embargadas. Mas duas coisas na greve de 1995 eu acho que foram muito importantes: mo pós-greve, os contracheques zerados foram exibidos nas tv`s e a solidariedade dos outros movimentos, dos outros trabalhadores para com os petroleiros. Eu acho que é importante. Uma outra coisa importante a ser dita é que os trabalhadores das universidades também estavam em greve naquele período e ficaram conosco durante todo o período da greve; e, no pós-greve, a solidariedade dos trabalhadores. Aqui, por exemplo, no Estado, foi feita uma coleta. As pessoas mandaram dinheiro para que a gente dividisse entre nós. Em São Paulo a gente tem histórias: o pessoal mandou cestas de alimentos, as famílias se solidarizando com quem estava na greve. Eu acho que foi um momento importante. Um outro momento importante foi, sob a presidência do Philippe Reichstul, em que a gente fechou um acordo oito meses depois de negociações. Eu acho que foi um acordo, eu não falo pelo acordo em si mas o exercício da negociação, buscar a negociação durante oito meses, eu acho que foi um exercício maduro para se viabilizar um acordo.
P/1 – Você está destacando, então, esse momento de amadurecimento político do próprio ...?
R – Movimento sindical, no pós-greve, onde estava atacado.
P/1 – De negociar, ter essa paciência para negociar...
R – E de ir até o limite, não é? Eu acho que foi um exercício necessário, o tempo exigia isso porque a co-relação de forças não permitia outra coisa. Mas, ao cabo disso, fica para mim a experiência de que buscar a negociação como elemento central da relação capital-trabalho passou, inclusive, a ser tônica da nossa ação. Não que não tenha movimentos paredistas ou mais fortes, mais combativos, mais enérgicos. Não, isso não está descasado da busca pelo acordo, da busca pelo pacto, da busca pela necessidade para as duas partes de uma convivência menos conflituosa, menos atritiva. Eu acho que nós temos posições diferentes, antagônicas em alguns momentos, mas somos necessários um para o outro, não é?
P/1 – Charles, tem alguma outra história que você gostaria de deixar registrada? Durante mesmo os teus anos de trabalho, alguma coisa engraçada que aconteceu ou um fato marcante?
R – Na verdade assim, eu registro uma coisa ruim que foi o fato de ter sido rotulado por ser sindicalista e ter sido, de alguma forma, vamos dizer assim, perseguido politicamente – a gente está falando de regime militar – Isso de um lado. Mas de outro lado, foi conhecer essa categoria, ver a capacidade de superação, ver a construção de tudo o que a gente tem feito. Aqui no Estado, por exemplo, a nossa unidade teve tudo para fechar, produção baixa, quase inviável comercialmente, e resistimos isso tudo, aprendemos a fazer as coisas mais baratas, economizamos muitas vezes exageradamente, como a gente diz, né? Mas ver a superação, ver a possibilidade e, quando a gente olha para a Petrobras inteira, o que a gente construiu nesses 50 anos, ter feito parte disso, de alguma forma nos últimos 20 anos, por exemplo, dá uma sensação de brasilidade, de exemplo da possibilidade de transformação do país, de onde a gente atua. Então, eu acho que contar histórias para os netos depois: “oh, quando a Petrobras produziu um milhão, eu estava lá, quando produziu dois, eu estava lá...” acho que vai ser muito gostoso poder repartir isso mais um tempo a frente. Vai ser legal. E também dizer que ter estado no movimento sindical nos momentos mais difíceis, de maior embate mostra ainda assim que os petroleiros não só construíram a Petrobras no Espírito Santo, no Brasil, mas lutaram dignamente e de forma gostosa - mesmo enfrentando a polícia e o exército - pela democracia, por um governo democrático. Enfim, eu acho que ter ajudado a construir o Brasil a partir da nossa realidade local, é uma conquista importante dos petroleiros. E nós somos essa história. Acho muito legal isso.
P/1 – Queria te perguntar o que você acha da iniciativa do Sindicato e da Petrobras estarem fazendo este Projeto Memória e se você gostou de ter participado.
R – Eu acho fantástico Projeto Memória! Retrata a história contada por quem viveu: a gente no Espírito Santo. Nós tivemos aqui num congresso, há uns cinco anos atrás, uma colega que fez, fizemos a história do Sindicato. A história oral contada por vários colegas e, infelizmente, não pudemos concluir esse trabalho. E essa passagem de vocês aqui remonta o que a gente tinha imaginado a um tempo atrás. Eu acho que, tanto o Sindicato quanto a Petrobras e o Museu da pessoa estão de parabéns. Eu quero ver o filme inteiro disso. Eu acho que é muito legal.
P/1 – Charles, queria agradecer a sua participação. Foi muito bom.
R – Obrigado. Tá jóia!
(fim da entrevista ES 05)
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