Aqui é Eliane Regis, cozinheira por vocação e por herança. Carrego no peito, com orgulho, as minhas origens e tudo aquilo que me formou.
O Natal, para mim, sempre teve cheiro, som e calor. Cheiro de comida no fogão a lenha, som de risadas ecoando pelo terreiro e o calor do afeto vivido lá no sítio dos meus pais, na zona rural de Lagoa Seca, na Paraíba. Natal sempre foi nascimento, amor e pertencimento.
Na nossa casa, a ceia nunca foi luxo, foi verdade. Comida da roça, feita com respeito ao tempo e à natureza. E na mesa, como manda a tradição, não podia faltar o peru torrado. Um peru criado solto, com tempo para crescer do jeito certo. Abatido no dia 23, descansando no tempero para no dia 24 ganhar vida na panela de barro, sobre o fogão a lenha. O fogo manso, a tampa entreaberta, e a água sendo pingada devagar… tudo no tempo certo, como a vida ensina.
Do caldo do peru nasce o arroz de festa, carregado de sabor e memória. Ao lado, a farofa d’água, simples e perfeita, como tudo que vem da roça. A mandioca, herança indígena, transforma-se em farinha, ingrediente indispensável na mesa do nordestino. Usamos farinha, água quente, sal, cebola roxa, cebolinha verde e, claro, coentro para dar sabor. Cada prato conta uma história; cada garfada guarda uma lembrança.
Essa comida não é só alimento. É herança. Aprendi com minha mãe, que aprendeu com minha avó. Hoje, levo adiante esse saber com as mãos, o coração e a alma, mantendo viva uma tradição que atravessa gerações, temperada com amor, afeto e saudade boa.
Porque cozinhar, para mim, sempre foi isso: contar histórias através do sabor.