P - O seu nome, local e data de nascimento. R - Carlos Manoel Branco Nogueira Fragateiro, nasci a 6 de março de 1951, no Porto, Portugal. P - Qual que é a sua atividade? R - Minha atividade nesse momento é múltipla, ou melhor, é dupla: sou por um lado professor na cidade de Aveiro, no departamento de comunicação e arte, sou professor de teatro, teatro, arte e tecnologia, e didáticas das artes, e sou diretor de um teatro público que se chama Teatro da Trindade de Lisboa. P - Você quer falar uma pouco mais sobre o teatro? R - Sobre o Teatro da Trindade? P - Sim. R - O Teatro da Trindade é um teatro que pertence a um instituto, Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores, que é Inatel, que é um instituto ligado ao Ministério da Segurança Social e o do Trabalho. E o Teatro da Trindade é um teatro italiano com 136 anos, é um teatro antigo, situado no centro de Lisboa, que hoje, para mim, é ... - considerando que o melhor teatro tem que ser o teatro de interverção, não pode ser um teatro ligado a movimento social, das dinâmicas sociais, e tendo consciência de que hoje a grande questão social, para além das diferenças econômicas, são mais diferenças ao nível do conhecimento e da inteligência, são as diferenças para o futuro, que poderão superar ou não as diferenças econômicas - para mim é o grande benefício hoje para as pessoas com déficit da inteligência, tanto que é neste sentido, a minha intervenção social é mais trabalhar nesse sentido, quer dizer, a minha programação, que eu organizo, Teatro Trindade, que é um teatro que fundamentalmente produz os seus espetáculos mais do que acolhe, está centrado em um trabalho sobre a memória, fazemos trabalhos sobre a história de, no fundo, de Portugal, e da sociedade em geral, pois consideramos que quem não conhece a sua memória não pode construir uma nova realidade no futuro, depois trabalhamos hoje, no mundo de hoje, sobre...
Continuar leituraP - O seu nome, local e data de nascimento. R - Carlos Manoel Branco Nogueira Fragateiro, nasci a 6 de março de 1951, no Porto, Portugal. P - Qual que é a sua atividade? R - Minha atividade nesse momento é múltipla, ou melhor, é dupla: sou por um lado professor na cidade de Aveiro, no departamento de comunicação e arte, sou professor de teatro, teatro, arte e tecnologia, e didáticas das artes, e sou diretor de um teatro público que se chama Teatro da Trindade de Lisboa. P - Você quer falar uma pouco mais sobre o teatro? R - Sobre o Teatro da Trindade? P - Sim. R - O Teatro da Trindade é um teatro que pertence a um instituto, Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores, que é Inatel, que é um instituto ligado ao Ministério da Segurança Social e o do Trabalho. E o Teatro da Trindade é um teatro italiano com 136 anos, é um teatro antigo, situado no centro de Lisboa, que hoje, para mim, é ... - considerando que o melhor teatro tem que ser o teatro de interverção, não pode ser um teatro ligado a movimento social, das dinâmicas sociais, e tendo consciência de que hoje a grande questão social, para além das diferenças econômicas, são mais diferenças ao nível do conhecimento e da inteligência, são as diferenças para o futuro, que poderão superar ou não as diferenças econômicas - para mim é o grande benefício hoje para as pessoas com déficit da inteligência, tanto que é neste sentido, a minha intervenção social é mais trabalhar nesse sentido, quer dizer, a minha programação, que eu organizo, Teatro Trindade, que é um teatro que fundamentalmente produz os seus espetáculos mais do que acolhe, está centrado em um trabalho sobre a memória, fazemos trabalhos sobre a história de, no fundo, de Portugal, e da sociedade em geral, pois consideramos que quem não conhece a sua memória não pode construir uma nova realidade no futuro, depois trabalhamos hoje, no mundo de hoje, sobre questões, um novo quadro de pensamento, e que é que são questões que ( trecho inaudível ) sobre as três linguagens estruturais da construção da inteligência, que é por um lado a língua -dos três é a partir da língua que nós construímos as nossas idéias, e ao construirmos nossas idéias de forma inventamos novas -, uma segunda linguagem, que é a linguagem da matemática - que as pessoas geralmente recusam da sociedade, mas é a linguagem que permite desenvolver um trabalho, um pensamento rápido e um pouco abstrato, da abstração -, e por último outra linguagem que é música - que dá toda essa dimensão, dimensão da sensibilidade. Portanto no fundo, trabalhando sobre a memória, também trabalho as questões do teatro musical, faço muito teatro musical, penso que musical é fundamental para qualquer construção de novo discurso, depois das novas temáticas, trabalha as questões da... que eu penso que é o triângulo do pensamento, que é da arte, da ciência, e trabalho muito teatro em ciência, gostaria no futuro agregar a outra dimensão, que é a dimensão da filosofia, no fundo são as temáticas do pensamento, para mais tarde inventar, fazer um projeto e concretizar um projeto, que é um teatro como espaço de ficção dos novos mundos: portanto o futuro não existe, inventa-se, e o teatro, como um espaço de ficção, onde é possível inventar todas as histórias que nós quisermos, pode ser um espaço de invenção de futuro possíveis, e se relata histórias onde pessoas de várias partes do mundo consigam dizer, assim, "o futuro que imaginei é este", e que tudo isso passa de modo metafórico no interior de um barco, porque é no mar que vai se construir futuro, porque as pessoas ( trecho inaudível ) das fronteiras e a maior parte elas sairá para o mar, e os barcos de todo tipo e toda gente que sai pelos barcos das bateiras, depois não nos deixar voltar a entrar num mundo sem fronteiras, no fundo com fronteiras. Portanto há um barco que vai ficar no mar com pessoas múltiplas culturas e é aí que se vai ter que se inventar um novo mundo. Eu acho que Felinni fez um filme lá na ( trecho inaudível ) que era um pouco o prenúncio disso. P - E qual que é o público desse teatro em Portugal? R - O público é múltiplo, depende, nós trabalhamos, no fundo nós atiramos para todo lado, não há um público especifico, andamos a querer chegar cada vez a um maior número de pessoas, até porque o teatro, em termos de gestão, tem que ter receitas e nós temos que ter muito público para conseguir levar os projetos para a frente. Se nós fazemos ópera, e ópera contemporânea é um público mais restrito, fazemos ópera tradicional ao público mais largo, fazemos musicais para um determinado público, trabalhamos com as universidades, porque é um circuito que nós queríamos conseguir captar para projeto, por exemplo, da arte ciência, trabalhamos com centro de empresas ( trrecho inaudível ) aqui no fundo que tem a ver também com Inatel, os chamados centro de cultura e desporte das empresas, onde captamos uma parte regular do público que vai a Trindade, como que organizada em grupos, trabalhamos com as autarquias, também se organizam em grupos, mas um espetáculo só ultrapassa o limite desses grupos organizados quando se consegue chegar a um público que nós não controlamos, que é o grande público que compra bilhete realmente, vai até bilheteria comprar seu bilhete; quando conseguimos isso, e isso, nós dizemos assim, quando chegamos a revistas sociais e do coração, eu não sei o que que é aqui, as revistas, é Caras, essas coisas, é importante, muitas vezes nós utilizamos a estratégia, e eu penso que se utiliza muito aqui no Brasil, jogar com o artistas da televisão, das novelas, ou jogar com... Temos outra coisa para o espetáculo ( trecho inaudível ) público são escritos por um político, que já foi candidato à presidência da república ( trecho inaudível ), somos grandes amigos, foi um homem que foi o fundador do partido mais à direita do espectro português e que saiu há muito tempo, já foi presidente da Onu, que se chama Diogo Freitas do Amaral, e que neste momento é dramaturgo preferido do Trindade, que faz espetáculos sobre Viriato, que é o fundador ( trecho inaudível ) portuguesa, sobre uma crise de 62, que é a grande crise contra a ditadura, crise estudantil, e que é paradoxo um homem que seria de direita fazer uma coisa sobre uma rota de esquerda, e que neste momento tivemos a anunciar há muito pouco tempo a escrita de um espetáculo sobre um cônsul português que foi mais importante que o Schindler no salvamento, em salvar e passar vistos para os judeus, e não só na altura dos anos 40, da guerra, da invasão armada na Europa; tanto que esse, por exemplo, é o mais importante dos espetáculos dele. Nos espetáculos temos gentes das novelas, portanto jogamos com vários ingredientes para conseguir chegar a cada vez maior número de pessoas, sem ceder minimamente na qualidade dos espetáculos, é fundamentalmente isso. Mas se disser que conhecemos o público, não, não conhecemos o público, sabemos, há uma parte que sabemos de onde vem, a outra que é completamente incontrolável, e é bom quando é incontrolável, é que temos os melhores sucessos. P - E o que te trouxe aqui no fórum, é a primeira vez que você chega no Brasil, você já tinha vindo? R - Não, já tinha vindo várias vezes, uma vez tinha vindo ao Rio numa organização da cena lusófila com grupos de teatro, lusofilia, já tinha vindo a um congresso de... uma Associação Didática em Goiana, já tinha estado em Campinas na universidade para assinar um convênio... E o que é que me trouxe aqui, eu já participei de um fórum regional em Portugal, depois eu penso que interessa muito discutir as coisas da cultura, e da cultura no centro do desenvolvimento; eu acho que o problema, neste momento, dos modelos de desenvolvimento é que não têm a cultura em seu centro, e a cultura não só como coisa que integra o patrimônio, as artes, mas que é capaz de integrar o triângulo, tem os cientistas, que também é cultura, tem os artistas, mas também tem os filósofos. A cultura deveria ser no fundo aquilo que dá unidade ao mundo, é o cimento da sociedade, onde reforça o que existe e ao mesmo tempo deixa que o novo possa emergir, e esta rede, e esta perspectiva da cultura em desenvolvimento, que começa a aparecer, penso que a mim me interessa muito, e depois eu sou fascinado por uma coisa que é a nossa relação da língua, acho que nós nos entendemos pouco, mas é preciso entendermo-nos mais, e mais até do que a língua portuguesa só, deveríamos reforçar a rede ibero-americana. Eu acho que nós e os homens do castelhano nos endendemos perfeitamente, eu vou a Buenos Aires e as primeiras pessoas de teatro são grandes atores em Buenos Aires, sentimos que tiveram no teatro em Portugal, e por exemplo, chego a Buenos Aires e eles têm grandes relações com Porto Alegre, se calhar Porto Alegre tem mais relações com Buenos Aires que o Rio de Janeiro. Eu acho que essa ... Nós também temos nossos portos voltados para os espanhóis, e fomos tendo tanta coisas em comum, nos entendemos, falamos uma língua muito próxima... Eu vou a Nova Iorque, não falo inglês, e consegui me entender lá a fazer meu espanholês. Me interessa muito esta idéia da nossa língua, a língua do português, mas para além disso interessa muito a questão da ibero-américa, uma rede ibero-americana a nível cultural. P - E me fala da cultura brasileira, o que é que você gosta de ouvir, que música, o que você lê, cinema... R - O que é que eu gosto da cultura brasileira? Acho que tem uma dramaturgia fabulosa e um teatro fabuloso, pois gosto de ver as novelas, andava a acompanhar a Celebridade que aqui já acabou, mas em Portugal ainda não, pelo tema, mas pela Malu Mader que eu acho que é uma mulher muito bonita (RISOS), depois gosto muito da música, é verdade. O que é que eu ouço mais? Dos antigos, Chico Buarque, a Simone, Caetano Veloso... Que mais? Eu sei uma música que vou confessionar aqui, no fundo tem relação com o corpo, com o ritmo, essa idéia, basta uma percussão para pôr as pessoas a mexer, acho que isso é fundamental para o aparecimento do novo homem, tem que ser uma pessoa que viva seu corpo, e aqui vive-se, como eu encontrei em Cuba há uns anos; de repente ele punham o som a tocar e de repente estava tudo em movimento. Essa mestiçagem, essa... Porque nós fomos um pouco essa... No fundo somos mestiços, temos a música cá dentro, só que nós em Portugal nos inibimos muito, já estamos muitos inibidos, temos uma cultura muito forte que nos prende, aqui é assim muito mais solto, a relação da distância, do mar, da relação no fundo com o espaço é muito maior, muito mais liberta. Tanto de ... A nível de literatura, a nível de literatura Jorge Amado, que é o escritor que no fundo eu li mesmo. P - As pessoas lêem muito Jorge Amado em Portugal? R - Pelo menos leram muito Jorge Amado, leram muito; eu li Gabriel Garcia Márquez, o Jorge Amado tem coisas completamente fabulosas, para mim os Capitães de Areia é uma coisa fantástica, agora uma coisa pequenina, o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, que é uma coisa bonita, inclusive foi espetáculo, fizeram isto em teatro em Portugal, uma das coisas mais bonitas que eu vi a nível do teatro, sei que agora tá em cena acá também. P - Ok, você quer falar mais alguma coisa, para a gente encerrar? R - Gostaria que nós conseguíssemos, a nível do teatro, que é a minha área, houvesse uma aprovação muito maior, e nós pudéssemos rever muito do que aqui ( trecho inaudível ) escrita, aqui do Brasil. Outra coisa que me interessou foi, vi o filme que era com Fernanda Montenegro, que ela ia com o miúdo na central de caminhonagem, não sei com é que se chama o filme, e agora este último, que é o Cidade de Deus, fabuloso. Eu acho que há um problema de investimento nas cinematografias minoritárias; a espanhola criou um gênio como o Almodóvar, mas o Brasil tem também gênios, de tal forma que tenha sido nomeado, acho que já duas vezes nos últimos anos, nomeados para o Oscar, mas penso também que há países com a maior potência para a construção desse futuro que andamos a procura. P - Então o Museu da Pessoa te agradece. R - Eu também agradeço ao Museu da Pessoa.
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