Fogo forte
Nós fazíamos uma fogueira na Vila Madalena, morávamos eu e o João (jornalista). Nós começamos essa fogueira... que durou cinco anos. Todo inverno a gente fazia. Então nós íamos catando gravetos, caixa de madeira, isso nas primeiras fogueiras. E tinha o Peninha que fazia comida para filmagem, e o que sobrava ele trazia mais tarde na fogueira. Então a gente ficava lá comendo, bebendo, conversando - isso diariamente, durante o inverno. E aí começou a ficar famosa essa fogueira, começaram a vir pessoas de várias partes da cidade para ver a fogueira. O interessante dessa história é que, como a coisa foi ficando muito movimentada, acabaram as caixas de madeira. Então nós começamos a colocar os móveis, os nossos móveis para não decepcionar o pessoal que ia lá ver a fogueira: "Hoje vai a cama". Para manter a chama acesa
Lua de mel
A minha casa era assim como uma pensão de alta rotatividade. Moraram lá umas chilenas punks, que estavam fugindo do Pinochet. Elas não tinham onde morar e eu disse: "Pode ir para lá". Ficaram alguns meses. Teve uma bicheira, esse meu amigo jornalista que queimou os móveis na fogueira. Uma argentina que chegou em casa à noite, e ela não sabia o que fazer, mais parece que ... sei lá, parece que aquela casa tinha uma placa invisível, mas visível para esse pessoal que estava desesperado. Então a casa era uma loucura, vivia cheia de gente e era festa diariamente. O Paulo Som estava namorando uma pessoa, chegou lá para me apresentar. Na verdade ele casou, quer dizer, juntou, e resolveu passar a lua-de-mel lá em casa . Eu não estava lá, eles não puderam entrar e então eles resolveram fazer a lua-de-mel ali mesmo, na varanda, na frente da casa. Passaram a noite ali, transaram...lindo. Aí chegou de manhã, a vizinhança indo comprar pão, tinha um casal pelado ali. Só que tinha tanto daquelas coisas lá em casa que ninguém falou nada. Um amigo foi quem me contou. E depois de alguns dias o...
Continuar leitura
Fogo forte
Nós fazíamos uma fogueira na Vila Madalena, morávamos eu e o João (jornalista). Nós começamos essa fogueira... que durou cinco anos. Todo inverno a gente fazia. Então nós íamos catando gravetos, caixa de madeira, isso nas primeiras fogueiras. E tinha o Peninha que fazia comida para filmagem, e o que sobrava ele trazia mais tarde na fogueira. Então a gente ficava lá comendo, bebendo, conversando - isso diariamente, durante o inverno. E aí começou a ficar famosa essa fogueira, começaram a vir pessoas de várias partes da cidade para ver a fogueira. O interessante dessa história é que, como a coisa foi ficando muito movimentada, acabaram as caixas de madeira. Então nós começamos a colocar os móveis, os nossos móveis para não decepcionar o pessoal que ia lá ver a fogueira: "Hoje vai a cama". Para manter a chama acesa
Lua de mel
A minha casa era assim como uma pensão de alta rotatividade. Moraram lá umas chilenas punks, que estavam fugindo do Pinochet. Elas não tinham onde morar e eu disse: "Pode ir para lá". Ficaram alguns meses. Teve uma bicheira, esse meu amigo jornalista que queimou os móveis na fogueira. Uma argentina que chegou em casa à noite, e ela não sabia o que fazer, mais parece que ... sei lá, parece que aquela casa tinha uma placa invisível, mas visível para esse pessoal que estava desesperado. Então a casa era uma loucura, vivia cheia de gente e era festa diariamente. O Paulo Som estava namorando uma pessoa, chegou lá para me apresentar. Na verdade ele casou, quer dizer, juntou, e resolveu passar a lua-de-mel lá em casa . Eu não estava lá, eles não puderam entrar e então eles resolveram fazer a lua-de-mel ali mesmo, na varanda, na frente da casa. Passaram a noite ali, transaram...lindo. Aí chegou de manhã, a vizinhança indo comprar pão, tinha um casal pelado ali. Só que tinha tanto daquelas coisas lá em casa que ninguém falou nada. Um amigo foi quem me contou. E depois de alguns dias o próprio Paulo Som me contou essa história.
Janela para o mundo
Era um lugar muito grande, bonito, era num vale. Eu chegava em casa cinco da manhã e ficava vendo lá o nascer do sol. Então foi até uma experiência meio mística, aquela coisa do pôr-do-sol. Era uma casa antiga, você descia uma escada, tinha uma varandinha, tinha um jardim de inverno, tinha uma porta à esquerda, que era a primeira porta, você entrava era uma sala, banheiro, depois um corredor, três quartos, mais duas salas, uma cozinha lá no fundo, com janelão de vidro maravilhoso... era a minha tela. E aí descendo, tinha um salão que eu aluguei para um colega meu arquiteto que fez um ateliê de gravura lá, e aí descendo um pouquinho mais tinha uma outra casinha com banheiro, onde começou a produtora do meu irmão, a "Cristal Líquido Efeitos Especiais"... fazia bonecos. Quando lançaram a revista Superinteressante tinha um monstrinho que apresentava a revista. Foi nessa época, e esse monstrinho foi feito lá. E aí, descendo um pouco mais, tinha outra área. Quando eu fui para lá tinha uns coelhos, mais depois lá ficou sendo o espaço do meu cachorro. O Nilson também morou lá desde o início. Essa casa durou cinco anos: o tempo da fogueira.
Sede dos grafiteiros
Quando eu me separei fui morar na rua Harmonia. A casa, quando eu mudei para lá, era toda pintada de preto, porque eram uns darks que moravam lá. Tinham grana, ficavam lá drogados, jogavam lixo no quintal, tinha uns quatro metros de altura de lixo. E eram duas casinhas uma em frente à outra. Aí eu mudei para esse lugar e, na mesma noite, mudou um cara chamado Ivan Viana. que é um pintor - ele, o Barnei e a Alice, que são os filhos. Nessa casa foi legal porque nós pintamos, reformamos tudo, limpamos o quintal e construímos lá, ampliamos a casa, e lá acabou sendo a sede do grafiteiros de São Paulo. A primeira sede. As reuniões aconteciam lá. Tinha muito artista plástico e muitos grafiteiros.
Figurinha carimbada
O Piriri era uma figura que morou na rua, era baixinho, preto, feio, pobre, bicha e era uma figura. Era roqueiro se vestia de uma forma extravagante. E morou na rua durante muito tempo. E conheceu aquele Odair José que morou na rua também. Eles moravam juntos em uns lugares por aí na Vila. Ele fazia uma coisa chamada "Rock in Vila" . Ele conseguia palco, autorização da regional, fechava as ruas. Fazia sozinho isso. Era um cara que não tinha apoio de ninguém. O Paulo Caruso e o Chico Caruso faziam charges dele no jornal. Ele era um símbolo da Vila Madalena. Toda a vida dele, o histórico dele ficava numa pasta, que ficava com ele, e alguém roubou. Foi uma grande sacanagem , pois ele com aquilo conseguia patrocínio. Ele morou em casa um ano mais ou menos. Ele morou num hospital abandonado também. Bons tempos. E depois acabou morrendo, no dia do meu aniversário.
Recolher