Identificação
Meu nome é Glória da Cunha em homenagem a Nossa Senhora da Glória, porque eu nasci na véspera do seu dia.. Meu pai era Serafim José da Cunha e minha mãe, Dalva da Cunha.
Eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1943.
Origem/Família
Tanto os avós maternos como os paternos vieram para o Brasil vindos de Portugal. O meu pai veio atrás do pai dele que tinha se divorciado da minha avó em Portugal. Eles eram 12 irmãos, mas meu pai não quis ficar lá. E daí começou a saga dele, aos 17 anos.
Confeitaria Colombo
Meu pai foi empregado de uma leiteria muito famosa aqui no Rio de Janeiro. Depois ele passou para a Confeitaria Colombo, onde teve a sorte de progredir muito. Aos 18 anos, começou fazendo embrulhos, pacotes. E logo depois passou a trabalhar na seção que dava para a 7 de Setembro, quando morreu o comprador da firma. Então meu pai foi convidado pelo senhor França e o senhor Jorge, os sócios majoritários, para ser o comprador da Colombo. Iniciou aí uma grande carreira. Comprador, naquela época é o que hoje se chama diretor comercial. Só mudou o nome. Então meu pai ficou 25 anos como comprador ou diretor comercial da Confeitaria Colombo. Todos os produtos na época eram importados. As coisas boas que tinha naquelas vitrines, que hoje em dia estão quase vazias, é porque a mercadoria era muito cara e hoje não dá mais. Todas elas eram importadas e muitas vezes a própria Colombo pagava para meu pai, eu e minha mãe irmos para a Europa fazer as compras. Meu pai comprava vinhos, os bombons franceses, todas as mercadorias que tinha naquelas vitrines, inclusive as porcelanas que acomodavam aquelas coisas gostosas. Elas eram compradas em Vista Alegre, uma grande fábrica de porcelanas em Portugal.
Casamento dos pais
O meu pai conheceu a minha mãe por intermédio de um português que trabalhava no Rio e que também era comerciante. Esse português convidou meu pai para ir à casa da namorada dele, que...
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Identificação
Meu nome é Glória da Cunha em homenagem a Nossa Senhora da Glória, porque eu nasci na véspera do seu dia.. Meu pai era Serafim José da Cunha e minha mãe, Dalva da Cunha.
Eu sou carioca, nasci no Rio de Janeiro em 14 de agosto de 1943.
Origem/Família
Tanto os avós maternos como os paternos vieram para o Brasil vindos de Portugal. O meu pai veio atrás do pai dele que tinha se divorciado da minha avó em Portugal. Eles eram 12 irmãos, mas meu pai não quis ficar lá. E daí começou a saga dele, aos 17 anos.
Confeitaria Colombo
Meu pai foi empregado de uma leiteria muito famosa aqui no Rio de Janeiro. Depois ele passou para a Confeitaria Colombo, onde teve a sorte de progredir muito. Aos 18 anos, começou fazendo embrulhos, pacotes. E logo depois passou a trabalhar na seção que dava para a 7 de Setembro, quando morreu o comprador da firma. Então meu pai foi convidado pelo senhor França e o senhor Jorge, os sócios majoritários, para ser o comprador da Colombo. Iniciou aí uma grande carreira. Comprador, naquela época é o que hoje se chama diretor comercial. Só mudou o nome. Então meu pai ficou 25 anos como comprador ou diretor comercial da Confeitaria Colombo. Todos os produtos na época eram importados. As coisas boas que tinha naquelas vitrines, que hoje em dia estão quase vazias, é porque a mercadoria era muito cara e hoje não dá mais. Todas elas eram importadas e muitas vezes a própria Colombo pagava para meu pai, eu e minha mãe irmos para a Europa fazer as compras. Meu pai comprava vinhos, os bombons franceses, todas as mercadorias que tinha naquelas vitrines, inclusive as porcelanas que acomodavam aquelas coisas gostosas. Elas eram compradas em Vista Alegre, uma grande fábrica de porcelanas em Portugal.
Casamento dos pais
O meu pai conheceu a minha mãe por intermédio de um português que trabalhava no Rio e que também era comerciante. Esse português convidou meu pai para ir à casa da namorada dele, que vinha a ser prima da minha mãe. Chegando lá ele conheceu a minha mãe, ainda garotinha, até comprou um saco de pipoca para ela. A diferença de idade era bastante, até. Então minha mãe foi crescendo, e aos 16 anos ele resolveu que já dava para casar, e casou com minha mãe.
Infância
Eu sou filha única, morei na Tijuca até me casar. Foi em diversas ruas, na Maxwell, depois morei na Félix da Cunha também, muitos anos. Minha infância na Tijuca foi maravilhosa. Era uma Tijuca que hoje não tem mais, porque era um bairro de elite. Nós tínhamos o Tijuca Tênis Clube, nós tínhamos o Montanha. Lá todo mundo morava em casa, todo mundo era amigo. A Tijuca era um bairro assim, fantástico para se morar. Muito diferente da Tijuca de hoje.
Educação
Nós tínhamos grupos. E eu estudava na casa de uma grande amiga minha, Lúcia Cortes de Lacerda, o pai dela era o Desembargador Romão Cortes de Lacerda. Ela morava numa casa muito grande na subida da Praça Saens Peña, e eles eram da família dos donos do colégio Lafayette, que hoje em dia é a Instituição Bradesco. Eu estudei no Santa Dorotéia, estudei naquele outro colégio que fica logo depois do São José, aquele das freiras, Regina Célia. Mas nós nos encontrávamos muito era ali na Praça Saens Peña, onde tinha os cinemas que acabaram todos, o Olinda, aquele cinema Metro era o nosso ponto. E o Clube, onde a gente se encontrava também na adolescência.
Teresópolis
Meu avô materno era dono das Escadas Cunha e nós fomos uns dos primeiros a ter casa em Teresópolis, porque naquela época as duas filhas dele ficaram tuberculosas. E tuberculose não tinha remédio naquela época. Então ele comprou uma casa em Teresópolis e colocou uma empregada lá, uma governanta. Chamava-se Francis. E ela cuidou dessas minhas duas tias até se recuperarem. Daí em diante, a nossa família sempre passou a veranear em Teresópolis, até a data de hoje.
Carnaval
Agente passava o carnaval em Teresópolis. Nunca passei o carnaval no Rio de Janeiro, com uma exceção. Como a Colombo fazia o baile do Municipal, nós tínhamos uma mesa. Depois que eu fiquei mocinha, então eu vinha no dia do baile do Municipal, que eu freqüentei muito.
Comércio na Tijuca
O comércio na Tijuca, quer dizer, o comércio de bairro naquela época era muito fraco. Tudo que a gente queria comprar tomava o bonde e ia de luva e chapéu para o centro da cidade. E aí saltava, comprava tudo que era na Polar, na Predileta, na Casa Boneca, de criança. Para a moda era a Imperial, a Soares e Maia, que era na Gonçalves Dias, era a Casa Canadá, na Avenida Rio Branco, onde as grandes mulheres, as mais ricas se vestiam, e onde eu tive a oportunidade de fazer o meu enxoval. Porque no ano que a Casa Canadá acabou, foi o ano que eu me casei. Então lá tinha grandes costureiras. Era a Dona Mena Fiala e Regina, que era contra-mestra e filha de criação da Mena Fiala. Ainda continua sendo minha costureira, ela fez o meu vestido de 15 anos, fez meu vestido de casamento, e continua. Parece que até há uns anos atrás ela ainda costurava. Naquela época só tinha modistas.
Restaurantes
Restaurantes que nós freqüentávamos, assim, tinha muitos. Para comer, tomar chá à tarde. Então a gente fazia as compras e tomava chá na Casa KV, que era inclusive da família daquele Comendador Sarda. Era a Manon, que eu fui colega, foi uma das minhas colegas de colégio, a Marli Manon. E na Colombo, que meu pai era de lá, então eu tomava lanche lá, comia lá.
Escadas Cunha
Meu bisavô materno chegou ao Brasil só com uma mala. Ele chegou, não sabia bem o que ia fazer, mas num instante arranjou um jeitinho, que ele sempre arranjava um jeito. Ele veio novo, e ele bolou que no Brasil não tinha escadas. Precisava uma fábrica para a demanda que tinha de escadas. Então meu avô conseguiu uma patente francesa e montou a fábrica que se chamava Escadas Cunha, que era no Jacarezinho, com maquinaria toda alemã, onde se fazia não essas escadas de metal de hoje, mas escadas de madeira que abriam com uma parte de metal. A Light era a maior compradora das nossas escadas, que serviam para subir nos postes da Light, que eram de exclusividade das Escadas Cunha. Como a das farmácias também. Então meu avô começou um grande negócio. Um grande ramo que só foi terminar depois da morte dele, que os herdeiros não queriam mais continuar.
Moradia em chácara
Mas, cheguei a conhecer a fábrica. Eu ia para lá pequena, porque naquela época existia uma maneira diferente de viver no Rio de Janeiro. O meu avô tinha um grande quarteirão, que era naquela região onde é hoje o Iguatemi, o Shopping Iguatemi. Então ali meu avô tinha feito uma chácara, se morava em chácaras. Aí criava galinha, pato, tinha uma porção de empregados, forno a lenha, aquela coisa toda. E ele tinha a casa da cidade, que era essa na Rua da Constituição, que embaixo funcionava o varejo das Escadas Cunha e em cima era a residência da família, que vinha passar o carnaval, vinha passar o fim de semana na cidade, porque tudo acontecia na cidade.
Casamento
Conheci o meu marido, um arquiteto da família Monteiro, do Espírito Santo e me casei. Me casei e tive dois filhos. O Sílvio é médico, o doutor Sílvio Monteiro Filho, e Luciana da Cunha Monteiro que é publicitária, com especialização em Pesquisa e Marketing. Me casei com 21 anos. Depois de uns anos de casada, como nós viemos nos a separar, divorciar, ele seguiu o caminho dele, eu segui o meu. E aí eu resolvi fazer faculdade, porque já era meu desejo fazer desde solteira.
Faculdade
Aí eu fui fazer a Faculdade Hélio Alonso. Foi quando eu me formei em publicidade. Aí comecei a trabalhar, mas depois de um certo tempo eu achei que o meu grande dom, minha grande veia era o comércio. Então aí eu parti para o comércio, e fui ser dona de butique. Tive uma em Ipanema, a Young, que era de roupa jovem, homem e mulher, unisex. E tive confecção, que eu fazia em Teresópolis. No Rio de Janeiro, fui dona da casa de chá Te Quero Doce, também em Ipanema. Então a minha vida inteira, praticamente, eu fui comerciante, quer dizer, apesar de ter querido fazer uma faculdade, depois eu fui para o outro lado. Mas a faculdade foi boa porque, para quem vai montar negócio, a gente fica com uma estrutura de marketing. Aprende a vender melhor, a comercializar melhor, fazer essa parte toda.
Tombamento da Colombo
Eu fiz até um depoimento que deixei ali no balcão, que eu queria deixar marcado isso para o resto da vida dos cariocas. Quando passarem na calçada da Colombo, na Rua Gonçalves Dias, devem lembrar que, se hoje existe a Confeitaria Colombo, é graças ao meu pai. Porque ele, junto com o Desembargador Eumano Cruz, apostou e fez de tudo para fazer o tombamento da Confeitaria Colombo. Porque havia uma grande pressão dos herdeiros em vender todo o patrimônio da Colombo, que eles queriam mais era o dinheiro. E o seu França, que também não tinha herdeiros, pediu ao papai que fizesse uma gestão junto com o Desembargador Eumano Cruz para que a Colombo fosse tombada e que nunca desaparecesse aquela coisa maravilhosa, aqueles espelhos belgas, aquela obra de arte. No Rio de Janeiro muitas coisas se acabaram. Como aquele mercado lindo que eu ia aos domingos, que era ao lado do Albamar. Tudo ali tinha estrutura francesa. O palácio Monroe. Milhões de coisas que eu conheci na minha infância, tudo se acabou.
Comércio pobre
O comércio hoje no Rio de Janeiro é pobre. E na minha época de infância e adolescência era um comércio rico. Meu tio, o irmão do meu pai que também era Cunha, era sócio da uma casa comercial que ocupava muitos andares. Lindíssima, na Avenida Rio Branco. Hoje em dia tem um espigão, não tem nada. Tinha o Café Simpatia que era belíssimo, com móveis de vime branco. Nos outros países existe essa coisa de guardar a memória, de conservar. No Rio de Janeiro, se você olhar ali o centro, você vê uma arquitetura francesa, você vê uma mini Paris, só que muita coisa foi destruída. E Paris não foi destruída. Então isso eu lamento que os meus filhos e agora o meu neto João Guilherme, não vão poder ver. A mini Paris que foi o Rio de Janeiro.
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