Cenário pós-pandemia. No asfalto do centro, achatados, como ficam os corpos atropelados de ratos e pombos, cinzas, imiscuídos ao chão, estavam achatados bebês. Eram de um cinza sem cor, como ficam aqueles cadáveres sobre os quais passamos apressados nas avenidas, relegados ao tempo e ao desinteresse. Os bebês mortos, achatados no asfalto, eram o novo cenário. Carros e ônibus continuavam passando. Como pombos e ratos, achatados numa morte que pouco importa à cidade que segue trabalhando, os bebês eram mortos por atropelamento. Havia uma manchete no jornal explicando que, ao atropelar um bebê, o carro deveria passar com a roda em cima do corpo, e não da cabeça, para não danificar a roda.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Minhas impressões: eu havia planejado engravidar em 2020 e cancelei meus planos assim que começou a quarentena... por medo, por achar que já não seria possível um bebê nessas condições, até mesmo pela minha idade, caso uma pandemia prolongada atrase demais as coisas. Senti, ao acordar, que evitar uma gravidez seria como compactuar com esse novo mundo anti-vida. Mesmo assim, com algum pesar, evitei a gravidez. E estou trabalhando mais do que nunca. Relato esse sonho agora, meses depois, porque talvez eu esteja tomando coragem e mude esse cenário.