Em 1972, eu com 14 anos, fui a uma festa na casa de uma amiga que estudava comigo: "tinha bailinho" na Vila Santa Maria. Eu morava na Cachoeirinha. De lá, fui convidado a ir ao ensaio da Camisa Verde. Os ensaios começavam na Rua João de Barros e terminavam na Rua Mario de Andrade (hoje ela atravessa a Pacaembu, antes terminava na Rua Lopes Chaves e era chamada de Rua Larga).
No primeiro dia, fiquei fascinado, pois já corria em meu sangue o ritmo. Já na semana seguinte, fui me informar sobre como fazer para tocar na bateria (eu nunca tinha tocado nada). Na época, o diretor de bateria era o "Peia", um crioulo azulão forte. Mas o coração dele era grande também, de gente fina. Chequei ao mestre de bateria e perguntei como fazia para participar. Ele perguntou se eu sabia tocar algum instrumento. Eu disse que sim, é claro. Então, ele me falou: "Quarta-feira, venha às 18h em frente ao São Paulo Chic". Passei a semana contando os minutos até chegar a hora. Nessa época, trabalhava com minha prima Dalva carregando mostruário e já ficava no carro batucando em qualquer lugar que saísse som. Chegou o dia. Cheguei à Barra Funda, aquela molecada do bairro, nascidos ali, todos malandrinhos. Cheguei para fazer o teste e, por coincidência, estavam começando a bateria-mirim: todos os moleques já sabiam tocar, um melhor do que o outro.
Cheguei, falei com o Peia e ele perguntou o que você toca? Eu falei: "Toco caixa." "É, então pega aquela ali e toca." Pequei o tal do tarol, não sabia nem como pegar nas baquetas. Então, ele falou: "Toca aí". Oteste era individual, comecei a bater e logo ele falou: "Pára, pára, pegue um tamborinzinho e vai aprender". Comecei a ensaiar com tamborim. Foi formada a bateria-mirim: Saci, Chelinho, Valtencir Neno, Pituca, Chulé, Tatu, Salvador, Argemiro, Caramujo, Cara de Cavalo, Toninho, Bucha, Neguinho do Paraíso e eu, apelidado de Alemão, mais alguns que não me lembro (aliás, só eu mais uns dois estão vivos, Glória a...
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Em 1972, eu com 14 anos, fui a uma festa na casa de uma amiga que estudava comigo: "tinha bailinho" na Vila Santa Maria. Eu morava na Cachoeirinha. De lá, fui convidado a ir ao ensaio da Camisa Verde. Os ensaios começavam na Rua João de Barros e terminavam na Rua Mario de Andrade (hoje ela atravessa a Pacaembu, antes terminava na Rua Lopes Chaves e era chamada de Rua Larga).
No primeiro dia, fiquei fascinado, pois já corria em meu sangue o ritmo. Já na semana seguinte, fui me informar sobre como fazer para tocar na bateria (eu nunca tinha tocado nada). Na época, o diretor de bateria era o "Peia", um crioulo azulão forte. Mas o coração dele era grande também, de gente fina. Chequei ao mestre de bateria e perguntei como fazia para participar. Ele perguntou se eu sabia tocar algum instrumento. Eu disse que sim, é claro. Então, ele me falou: "Quarta-feira, venha às 18h em frente ao São Paulo Chic". Passei a semana contando os minutos até chegar a hora. Nessa época, trabalhava com minha prima Dalva carregando mostruário e já ficava no carro batucando em qualquer lugar que saísse som. Chegou o dia. Cheguei à Barra Funda, aquela molecada do bairro, nascidos ali, todos malandrinhos. Cheguei para fazer o teste e, por coincidência, estavam começando a bateria-mirim: todos os moleques já sabiam tocar, um melhor do que o outro.
Cheguei, falei com o Peia e ele perguntou o que você toca? Eu falei: "Toco caixa." "É, então pega aquela ali e toca." Pequei o tal do tarol, não sabia nem como pegar nas baquetas. Então, ele falou: "Toca aí". Oteste era individual, comecei a bater e logo ele falou: "Pára, pára, pegue um tamborinzinho e vai aprender". Comecei a ensaiar com tamborim. Foi formada a bateria-mirim: Saci, Chelinho, Valtencir Neno, Pituca, Chulé, Tatu, Salvador, Argemiro, Caramujo, Cara de Cavalo, Toninho, Bucha, Neguinho do Paraíso e eu, apelidado de Alemão, mais alguns que não me lembro (aliás, só eu mais uns dois estão vivos, Glória a Deus). Dessa bateria-mirim saíram os melhores batuqueiros de São Paulo, nós éramos Show.
A Camisa Verde, nos anos seguintes, foi tetracampeã, com todos nós a cada ano mais afiados.
Isso e só o começo.
(História enviada em março de 2010)
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