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Personagem: Anônimo
Por: Claudio Bezerra, 27 de maio de 2025

“As Sombras do Pátio”

Esta história contém:

\\\"As Sombras do Pátio”

Ano: 1993 – Cidade de São Paulo

Carlos Henrique tinha 17 anos quando entrou no Colégio Estadual Martins Fontes, no bairro de Higienópolis. Negro, alto, cabelos crespos bem aparados e uma inteligência que chamava atenção desde criança. Sempre foi o primeiro da turma em matemática e ciências, e sonhava em ser engenheiro.

Vinha de uma família humilde da zona leste. Seu pai era motorista de ônibus e sua mãe, empregada doméstica. Com muito esforço, conseguiram uma bolsa para que ele estudasse num colégio de maior prestígio. Carlos sabia que ali estava uma chance rara — e perigosa.

Nos primeiros dias de aula, sentia-se deslocado. Era o único aluno negro em uma sala de trinta estudantes. Percebeu olhares enviesados, sorrisos disfarçados e comentários sussurrados que cessavam quando ele se aproximava.

Tudo veio à tona durante uma aula de história. A professora falava sobre o Brasil Império, e mencionou brevemente a escravidão. Um colega, rindo, murmurou:

— Se ainda fosse como antigamente, o Carlinhos tava servindo café pra gente.

A sala riu. A professora fingiu não ouvir. Carlos não riu.

A partir dali, o isolamento cresceu. Nas aulas em grupo, não o chamavam. No pátio, diziam que ele “cheirava diferente”. Uma vez, encontrou a palavra “macaco” rabiscada em sua carteira. Ele denunciou à direção, mas disseram que \\\"não era nada\\\", e que \\\"os jovens às vezes exageram\\\".

Carlos chorava escondido. Só a mãe sabia o que se passava, e dizia com a firmeza de quem já tinha vivido o mesmo:

— Eles tentam apagar tua luz porque sabem que ela brilha mais forte.

Ele se agarrou a isso. Estudou com mais força. Passou no vestibular da USP em Engenharia Civil. No dia da matrícula, cruzou o olhar com um ex-colega do colégio, que não havia conseguido passar. O mesmo que o havia chamado de “servo de café”.

Carlos apenas sorriu.

Décadas depois, ele se tornaria...

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