Projeto 30 Anos Alunorte
Entrevista de Daniele Cristina Pontes de Novaes
Entrevistada por Lígia Scalise
Barca Arena, 14 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
00:21
P1 - Eu vou te pedir para começar falando o seu nome inteiro, sua data de nascimento e onde você nasceu.
R: Eu me chamo Daniele Cristina Pontes de Novaes, eu sou natural de Belém do Pará. Eu nasci no dia 30/12/1983. E moro na Vila dos Cabanos há 16 anos, mais ou menos.
00:46
P1 - Quando você nasceu, Dani, como é que estava a situação da sua família? De onde vinham seus pais? Como que você tinha irmãos ou não?
R: Quando eu nasci, eu tinha dois irmãos, nós somos uma família de três mulheres e um homem. Então, quando eu nasci, só existia uma mulher e um homem. Aí eu nasci e depois de mim veio mais uma mulher. Quando eu nasci, meus pais… meu pai é de Cametá, que é o interior do Pará, uma outra cidade. E minha mãe é de Vigia, do Pará, também uma outra cidade, interior do Pará. A minha mãe já morava em Belém e meu pai veio de Cametá. Aí meu pai veio para servir o Exército. Serviu, depois terminou a fase de servir o Exército, ficou em Belém. Aí conheceu minha mãe lá no Jurunas, que é um bairro daqui de Belém do Pará. E quando ele conheceu a minha mãe, ela tinha a minha irmã mais velha, aí ele registrou a minha irmã, porque a minha mãe era mãe solteira, registrou a minha irmã e começou a criar ela como se fosse filha, né? E depois foi tendo os outros filhos.
02:05
P1 - Qual é o nome deles?
R: Meu pai é o Benedito Novaes e a minha mãe é Sandra Novaes.
02:10
P1 - Benedito e Sandra. Como que eles parecem fisicamente?
R: Eu pareço fisicamente com o meu pai. O meu pai não é mais vivo hoje, ele está só em memória, faleceu em 2021. A minha mãe ainda mora em Belém do Pará, lá no bairro de Ananindeua, na cidade de Ananindeua, no bairro do Coqueiro. E sempre que eu posso, estou lá, nos finais de semana, quando dá, eu dou um pulinho...
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Entrevista de Daniele Cristina Pontes de Novaes
Entrevistada por Lígia Scalise
Barca Arena, 14 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
00:21
P1 - Eu vou te pedir para começar falando o seu nome inteiro, sua data de nascimento e onde você nasceu.
R: Eu me chamo Daniele Cristina Pontes de Novaes, eu sou natural de Belém do Pará. Eu nasci no dia 30/12/1983. E moro na Vila dos Cabanos há 16 anos, mais ou menos.
00:46
P1 - Quando você nasceu, Dani, como é que estava a situação da sua família? De onde vinham seus pais? Como que você tinha irmãos ou não?
R: Quando eu nasci, eu tinha dois irmãos, nós somos uma família de três mulheres e um homem. Então, quando eu nasci, só existia uma mulher e um homem. Aí eu nasci e depois de mim veio mais uma mulher. Quando eu nasci, meus pais… meu pai é de Cametá, que é o interior do Pará, uma outra cidade. E minha mãe é de Vigia, do Pará, também uma outra cidade, interior do Pará. A minha mãe já morava em Belém e meu pai veio de Cametá. Aí meu pai veio para servir o Exército. Serviu, depois terminou a fase de servir o Exército, ficou em Belém. Aí conheceu minha mãe lá no Jurunas, que é um bairro daqui de Belém do Pará. E quando ele conheceu a minha mãe, ela tinha a minha irmã mais velha, aí ele registrou a minha irmã, porque a minha mãe era mãe solteira, registrou a minha irmã e começou a criar ela como se fosse filha, né? E depois foi tendo os outros filhos.
02:05
P1 - Qual é o nome deles?
R: Meu pai é o Benedito Novaes e a minha mãe é Sandra Novaes.
02:10
P1 - Benedito e Sandra. Como que eles parecem fisicamente?
R: Eu pareço fisicamente com o meu pai. O meu pai não é mais vivo hoje, ele está só em memória, faleceu em 2021. A minha mãe ainda mora em Belém do Pará, lá no bairro de Ananindeua, na cidade de Ananindeua, no bairro do Coqueiro. E sempre que eu posso, estou lá, nos finais de semana, quando dá, eu dou um pulinho lá com ela, ou então ela vem aqui, que é perto, né? No final de semana retrasado, por exemplo, ela estava aqui. Vem sempre que pode, vem me visitar ou vou visitar ela.
02:44
P1 - Então você é parecida com a sua mãe?
R: Fisicamente com o meu pai. Assim, quando eu falo fisicamente, é mais a questão da cor, porque o meu pai era negro. A minha mãe é branca de olhos azuis. Então, assim, na fisionomia eu puxei para ele, mas assim, o jeito, extrovertida, assim, é minha mãe. Eu puxei tudo pra minha mãe. A minha mãe é muito parecida com a da minha mãe. Então, assim, são alguns traços que eu sou muito parecida com ela, mas é a cor, a fisionomia, assim, é mais com ele.
03:19
P1 - E você sabe como é que foi o dia do seu nascimento? Alguém te contou se você nasceu de parto natural ou de cesárea?
R: Eu nasci de parto normal. A minha mãe teve os três primeiros filhos normais, e só a última que foi cesariana, porque ela não ia ter mais filhos, aí ela ia operar mesmo. Mas os três primeiros partos foram normais.
03:40
P1 - Você nasceu no hospital?
R: Eu nasci na maternidade Guadalupe, que fica lá próximo ao Shopping Boulevard, lá em Belém.
03:48
P1 - Ela te contou alguma coisa de como é que foi esse dia, a gravidez, até o parto? Você sabe de alguma coisa?
R: Não. A única coisa que ela falou, porque como ela é branca dos olhos azuis e eu nasci morena, bem moreninha, as pessoas sempre perguntavam muito, desde criança, se eu era adotada, essas coisas. Porque é difícil. Hoje em dia já é muito comum nascer uma criança negra numa família branca, mas assim, as pessoas ainda perguntam muito sobre essas coisas. Apesar de o racismo está sendo cada vez mais protegido, as pessoas lutarem pela causa, mas ainda assim, a gente sabe que existem pessoas que fazem esse tipo de pergunta. Mas a minha mãe disse que sofria muito com isso, porque eu nasci no mesmo ano que o meu irmão antes de mim, ele nasceu em janeiro de 83 e eu nasci em dezembro de 83. Então, a minha mãe ficou com duas crianças pequenas e quando ela saía com os dois, meu irmão nasceu branco e eu nasci morena, as pessoas perguntavam se eu era adotada. Aí minha mãe dizia: “Não, ela é minha filha. Tem meu marido.” Ela tinha que explicar toda a história. Acabava tendo que explicar uma coisa que nem era preciso. Mas ela conta mais isso, assim, de curioso, quando a gente era criança, entendeu?
05:08
P1 - E o nome, ela explicou por que ela te deu o nome de Daniele?
R: Nunca ela me falou nada sobre o meu nome. Ela falou que, parece que foi a minha madrinha que deu a ideia, assim: “Por que tu não colocas Daniele?”. Aí ela aceitou. Mas não tem nada de algum significado, foi só mesmo uma sugestão e ela aceitou.
05:30
P1- Como é que chamam seus irmãos?
R: O meu irmão é Bruno, antes de mim, a minha irmã mais velha é a Lucélia e a minha irmã mais nova é a Ellen.
05:38 - Tudo diferente, né?
R: Tudo diferente, não tem uma sequência, assim, tudo com J, não tem. A única coisa que ela fez foi o seguinte, que eu sou Daniele Cristina, a Lucélia é Lucélia Cristina e a Ellen é Ellen Cristina. Aí eu disse: “Mãe, por que a senhora não botou Bruno Cristiano, que ia ficar legal.” Porque é Bruno Alberto o do meu irmão. Mas ela colocou de todas nós iguais o sobrenome, né? O segundo nome, no caso. Tudo Cristina.
06:06
P1 - E aí você tem uma diferença bem pertinho do seu irmão.
R: Do meu irmão. A gente chega a ficar com a mesma idade no ano, né? Por exemplo, agora ele fez aniversário em janeiro, fez 42, nós não estamos com a mesma idade. Aí quando chegar dia 30 de dezembro, eu vou fazer 40, desculpa, ele fez 42, ele está com 42, eu estou com 41, quando chegar dia 30 de dezembro, eu faço 42. Aí até o dia 24 de janeiro, a gente fica com a mesma idade, a gente fica um mês com a mesma idade. Aí quando chega dia 24 de janeiro, ele faz 43.
06:35
P1 - Gente, ela tinha acabado de parir, engravidou de novo.
R: Isso. Nós saímos no mesmo ano.
06:42
P1 - E dos seus outros irmãos é pertinho também?
R: Não, da minha irmã mais velha para ele foram cinco anos. E de mim para minha irmã mais nova foram 2 anos.
06:50
P1 - E ela explica o que foi que aconteceu?
R: Ela disse que só faltou enlouquecer quando viu que estava grávida de novo, porque quando eu nasci, ele ainda não tinha feito um ano, ele ia fazer no dia 24 de janeiro, faltava um mês ainda para o aniversário dele, menos de um mês para o aniversário dele quando eu nasci. Então foi bem difícil assim no começo, com duas crianças pequenas, foi bem difícil.
07:17
P1 - E a amamentação, ela fala alguma coisa?
R: Ela disse que teve que tirar ele do peito pra poder me amamentar. Ela disse que no começo ele chorou bastante, porque ele era muito pequeno ainda, mas ela teve que tirar.
07:32
P1 - Caramba. E eles faziam o que da vida nessa época em que você nasceu?
R: Meu pai sempre trabalhou com transporte, ele era fiscal de linha de transporte urbano. Tipo assim, aqueles fiscais que ficam lá no final da linha, que despacham os ônibus para fazer a rota. Meu pai sempre foi fiscal, desde quando eu me entendo por gente, ele sempre foi fiscal de linha, até quando ele faleceu, a profissão dele era essa. A minha mãe sempre foi autônoma, ela era costureira, depois cabeleireira, sempre foi autônoma, sempre trabalhou por conta própria. E hoje em dia ela não está mais trabalhando tanto assim na parte de salão, nem costurando, por conta da vista, por conta que ela também lesionou aqui a munheca, e também fica ruim pra ela trabalhar. Mas hoje ela vive de pensão, né?
08:23
P1 - E quando você nasceu, Dani, você sabe se eles passavam algum aperto, se era uma vida já um pouquinho mais tranquila, como é que estava a situação?
R: Sempre foi bem difícil, sabe, Lígia? Porque eram quatro crianças. Então, assim, ele trabalhava, e ela trabalhava em casa, mas quem trabalha assim nem sempre tem dinheiro todo dia. Então, assim, ele era o maior provedor, né? Ela trabalhava, mas nem todo dia tinha dinheiro, né? Tem vez que tinha, tem vez que não tinha. Então, sempre foi bem difícil, sabe? Assim, sempre quando um pedia uma coisa, era difícil de atender, porque pra dar pra um tinha que dar para os quatro. E, assim, com 15 anos de idade, por exemplo, eu comecei a trabalhar em casa de família, lá próximo da minha casa, eu fui ser babá, porque eu queria algumas coisas. Aí eles diziam: “Ah, mas não dá, porque se der pra ti vai ter que dar para os teus irmãos.” Então como eu queria ter meu dinheirinho, eu fui cuidar de duas crianças, fui ser babá lá próximo da minha casa mesmo. Eu continuava estudando, estudava à tarde e de manhã eu ficava com essas duas crianças.
09:23
P1 - Algo que você já aprendeu desde pequena, que você tinha que correr atrás, né?
R: Exato.
09:33
P1 - Como que era a casa que você cresceu?
R: A minha casa fica lá no bairro do Guajará, na Cidade Nova. Logo no início, eu lembro que quando meus pais compraram a casa, era um modelo da Cohab, que é a empresa que gerenciava as casas naquela época lá no Guajará. E eles compraram a casa, era só um salão aberto, não tinha divisão, quarto, sala, cozinha. Aí eles foram fazendo devagarinho, sabe? Quando eles compraram era só o salão aberto e um banheiro, assim, bem no meio do salão. Aí eles foram construindo devagarinho, devagarinho, até ser a casa que é hoje. E a minha sempre mexe na casa, fala que nunca o homem termina de fazer obra lá, porque ela vive mexendo. Mas a casa era bem simples mesmo, né, foi construindo com bastante sacrifício, fazendo as coisas com bastante sacrifício.
10:25
P1 - Era de alvenaria?
R: Era, era de alvenaria.
10:31
P1 - E você no começo não tinha quarto, aí depois você teve um quarto?
R: Isso, no começo, dormia todo mundo no salão, era só as camas, assim. Aí depois foi fazendo os quartos, eram dois quartos, dois para cada filho, né? Ficava dois num quarto, dois no outro. E o quarto deles, do casal.
10:52
p1 - O que você lembra da sua infância que é muito marcante para você? Vocês brincavam do quê?
R: A nossa rua lá era muito animada, a gente brincava muito na rua, assim, de pira se esconde, de pé na garrafa, que hoje a gente não vê quase essas crianças brincando disso, né? Mais a internet, celular, essas coisas, mas a gente viveu muito a nossa infância, a gente brincou demais, assim, na rua de casa, sabe? A nossa rua era muito animada, vinha pessoas de outras ruas brincar com a gente, porque a nossa rua era bem animada. Então eu lembro muito disso na minha infância.
11:23
P1 - Então a diversão era a rua?
R: Era a rua.
11:26
P1 - E era você, seus irmãos, todo mundo?
R: Todo mundo. Era bem legal nessa época.
11:32
P1 - Você tinha algum brinquedo que era importante para você?
R: Eu sempre gostei muito de Barbie, tipo, eu tinha algumas bonecas. Eu adorava brincar de Barbie. Então eu fazia a casinha da Barbie, a cama da Barbie. Sempre gostei muito da Barbie. Acho que eu brinquei de Barbie até uns 15 anos, eu acho, brinquei muito.
11:54
P1 - Que legal. E a escola? Como era ir para a escola? O que você lembra do caminho?
R: As escolas sempre eram perto. Tipo, eu estudei uma boa parte em escola de governo. Eu estudei, acho que uns dois anos, durante a minha adolescência, em escola particular, mas a maioria do tempo foi escola pública. Era próximo. Eu estudava numa escola chamada Antônio Gondim Lins, que fica próximo, era cerca de umas quatro ruas depois da minha casa, quatro ou cinco ruas depois da minha casa e a gente ia andando mesmo, já na adolescência a gente ia andando. E eu e meu irmão, como a gente nasceu muito próximo, eu sempre estudava uma série depois da dele, só que aí depois ele repetiu, acabou que a gente ficou estudando junto, né? Eu lembro, assim, na escola que eu defendia muito ele de briga, meu irmão era muito inquieto, aí, às vezes, os meninos queriam bater nele, eu defendia ele, sabe? A gente brinca até hoje, né, que eu sempre defendia ele das confusões e tal. Mas era bem legal, assim, sabe? Eu lembro muito disso. Uma vez que uns meninos queriam mexer com ele, aí eu fui pra cima dos meninos. Mas, assim, esse meu irmão trabalha aqui hoje. Trabalha, ele trabalha aqui. Ele é operador, trabalha de turno.
13:26
P1 - Então, você era a defensora do irmão?
R: Sim.
13:27
P1 - E seus pais, eles eram bravos, calmos, carinhosos?
R: Meu pai era bem bravo. Ele não gostava que a gente ficasse muito na rua, não. Se a gente chegasse do trabalho, assim, e visse a gente na rua, ele já chamava, já brigava. Nossa, meu pai, ele era muito bravo! Teve uma vez que ele falou assim: “Olha, você está de castigo, você não vai pra rua.” Só que eu sabia o horário que eu chegava do trabalho. Então como ele chegava por volta de nove horas da noite, eu falei: “Eu vou e vou chegar antes do meu pai chegar do trabalho.” Só que, nesse dia, ele chegou cedo, ele me pegou na rua. Ele foi atrás de mim. Aí lá veio meu pai: “Falei que não era pra ti ir pra rua. Bora pra casa agora!”. Me levou pra casa, brigou, brigou e brigou. Ixi, eu achando que eu estava: “Ah, eu vou sair e vou voltar. Ele não vai nem saber que eu saí.” Mas ele me pegou.
14:19
P1 - E a briga era só falada?
R: Não, às vezes ele batia. Nesse dia, eu apanhei. Nesse dia, eu apanhei. Eu apanhei porque ele falou: “Eu falei que não era pra você sair, você me desobedeceu.” E daí nesse dia eu apanhei.
14:32
P1 - E sua mãe?
R: Ah, minha mãe tentava defender a gente na medida do possível, mas quando não dava, tipo nesse caso, não teve como ela me defender. (risos) Mas ela sempre defendeu a gente na medida do possível.
14:47
P1 - Eu estou te escutando e estou imaginando que você era uma menina bem esperta, né?
R: Sim, sim, sempre fui. Uma vez, como eu te falei, meu pai era bem brabo, eu queria me meter nas coisas, assim, dançar quadrilha, fazer capoeira e aí eu ia pedir pra ele, ele: “Não, você tem que estudar, você não tem que fazer esse tipo de coisa, entendeu?”. Ele era muito brabo, assim, eu queria sempre fazer as coisas, dançar, não sei o quê, dançar quadrilha, e ele não deixava. Não tinha jeito.
15:12
P1 - E, Dani, quem eram as pessoas que te cercavam, além de pai, de mãe, de irmãos? Às vezes tem avô, tem tia, tem algum vizinho que era importante nessa época?
R: Assim, a minha mãe, além da gente morar na casa, ela sempre criou alguns irmãos dela, porque a mãe dela faleceu. Eu nem cheguei a conhecer a minha avó, porque quando ela faleceu, eu estava com menos de um ano. Então ela ficou com alguns irmãos pequenos e ajudou na criação desses irmãos. Então sempre em casa estava morando algum irmão dela. Então eu sempre tive algum tio. Desses irmãos, eram cinco irmãos que ficaram pequenos, sempre algum desses meus tios ficavam em casa, em algum período. Passava um ano, um, dois anos, o outro, sempre morou alguém. Mas eu lembro muito de uma tia minha, que foi bem presente na nossa vida, que também ajudava a criar a gente, o nome dela é Ana. Inclusive, esse final de semana que passou, ela até estava aqui na Vila dos Cabanos, ela veio com a minha mãe aqui, e a gente até conversou, lembrou um pouco dessa fase que ela morou com a gente. Eu lembro muito dela, da minha infância, que ela ajudou a criar a gente, ajudava a minha mãe a criar a gente.
16:27
P1 - Bonito, né? Então mesmo com uma situação ali, regradinha, sua mãe ainda colocava os irmãos em casa.
R: Exato. A minha mãe sempre ajudou a criar esses irmãos dela, que ficaram pequenos quando a minha avó faleceu.
16:37
P1 - E seu avô? O pai da sua mãe.
R: O pai da minha mãe eu também não cheguei a conhecer, ele morreu ainda primeiro que a minha avó. E depois a minha avó arrumou outro marido. Esses cinco filhos que eu estou falando para você, é do segundo marido, ele não é o pai da minha mãe, ele era padrasto da minha mãe. Eu tive pouco contato com ele, de vez em quando ele aparecia lá na casa da minha mãe, mas era bem difícil. Ele era um pai um pouco ausente dessas cinco crianças, sabe? E assim, eu não tive muito contato com ele, não.
17:11
P1 - E da parte do seu pai?
R: Da parte do meu pai, ele não conheceu o pai dele, eu também não o conheci. A minha avó, a mãe dele eu conheci, eu acho que ela morreu, eu tinha uns 15 anos quando ela faleceu, minha avó materna. Ela era bem legal, assim, e ela morava lá em Belém também, acho que, o nome daquele bairro eu não sei, mas é próximo da Marambaia, de vez em quando a gente ia lá visitar ela. E ela ia uma vez ou outra na casa da minha mãe. Mas eu tenho boas lembranças da minha avó.
17:46
P1 - E essa tia Ana, o que você mais lembra que ela fazia com vocês?
R: Ela era bem brincalhona, assim, ela brincava com a gente. Ela era assim, tipo, hoje eu tenho 42, eu acho que ela é uns cinco anos mais velha que eu, assim, acho que uns sete anos mais velha que eu. Então ela era toda brincalhona com a gente, levava a gente pra rua, brincava também com a gente, sabe? Ela era bem brincalhona. Eu lembro bem dela jogando, embalando a gente na rede, sabe? Essas brincadeiras, assim, de ficar embalando altão? Ela fazia isso com a gente. Lembro-me bastante.
18:30
P1 - Tinha alguma coisa da sua infância que você lembra até hoje? Não sei, uma festa de aniversário, umas férias, alguma coisa no domingo, nesses momentos mais de lazer, assim?
R: Deixa-me pensar aqui. Da minha infância, eu acho que, eu acho que teve um tempo, assim, que lá na rua da minha casa tinha uma vizinha que tinha uma casa em Mosqueiro, e ela sempre falava pra minha mãe, assim: “Olha, Sandra, eu vou para Mosqueiro, eu vou levar as crianças, você não deixa as meninas irem?”. Aí ia eu e a minha irmã mais velha, todo mundo. Aí a minha mãe fazia umas compras para ela levar. A gente ia, assim, alguns anos pra casa dela, sabe? Aí quando alguém aprontava, minha mãe dizia: “Quando chegar em julho e a fulana convidar você, você não vai!”. Se fizesse alguma malcriação, sabe? Mas, assim, teve uns anos seguidos que nós íamos para Mosqueiro com essa vizinha, que ela levava os filhos e convidava a gente. Ela passava o mês todo em julho e cuidava de todas as crianças lá, sabe? Eu lembro disso.
19:46
P1 - Qual era o nome da vizinha?
R: A Claudete.
19:51
P1 - E vocês brincavam nas férias?
R: Brincávamos. Era em Mosqueiro, lá no São Francisco, que é uma praia bem tranquila lá em Mosqueiro, não tem muita aglomeração, né? Era bem tranquila essa casa que a gente ia, era a casa do sogro dela, não era nem dela, assim, sabe? Era do sogro dela. E a gente ia pra lá, nossa, era muito animado! Era um monte de crianças, assim, sabe? Era bem legal.
20:15
P1 - Numa época que não tinha telefone pra matar a saudade de mãe e pai, né?
R: Não, não tinha. Não tinha como mandar mensagem, nada. Não tinha nada.
20:20
P1 - Ou seja, ela confiava.
R: Confiava, confiava.
20:24
P1 - E vocês também não queriam voltar?
R: É, e também a gente se comportava, né? Porque ela dizia: “Olha, se acontecer alguma coisa, se alguém não obedecer a você, você avisa que eu não deixo mais eles irem.” Aí tinha que se comportar, tinha que ajudar lá, lavar a louça, não sei o que, tinha que fazer tudo direitinho.
20:41
P1 - Você tinha algum sonho quando você era menina?
R: Eu tinha, assim, eu lembro que eu sempre pensei muito em me formar, sabe? Eu sempre, dos quatro filhos, eu sempre fui a que mais estudei, né? Tanto que chegou um período, acho que eu estava com 15, 16 anos, que eu passei pro primeiro ano de ensino médio, aí uma amiga da minha mãe tinha um conhecido na escola Cearense, era uma escola particular que tinha em Belém e lá tinha cursinho, essas coisas, preparava pro vestibular, né? E eu consegui uma bolsa integral para estudar lá nessa escola, minha mãe conseguiu. Aí eu fiz o ensino médio lá nessa escola particular, que é a escola Cearense. Aí eu estudei o primeiro, o segundo, e o convênio lá. Aí estudei, estudei, estudei, e quando foi na hora do vestibular, eu não passei. Eu fiquei bem frustrada, sabe? Fiquei bem arrasada mesmo, porque, tipo assim, eu era esperança dos meus pais. Mas assim, eu não desisti, fiquei, continuei estudando, mas aí aconteceu uma pequena coisa, com 21 anos… eu terminei meu ensino médio bem nova, eu ia fazer 18 anos, 17 pra 18 anos. Aí eu não passei no vestibular nesse primeiro ano, nesses anos, acho que eu tentei em 2019 também…
21:54
P1 - Você prestou para que?
R: O primeiro que eu fiz foi para pedagogia. Aí no segundo, eu fiz pra pedagogia também. Aí quando eu estava com 21 anos, eu estava com o namorado lá e eu engravidei. Aí eu comecei a trabalhar nesse meio termo, eu consegui um emprego pra mim lá no shopping.
22:16
P1 - Então antes você estava trabalhando de babá, né?
R: Isso. Eu tinha 15 anos quando eu trabalhava de babá, né? Aí depois que eu terminei o ensino médio, fiquei um ano e pouquinho de babá, eu terminei o ensino médio e fui trabalhar no shopping.
22:30
P1 - Vendedora?
R: Numa livraria que tinha no shopping lá em Belém. Aí quando eu saí de lá e fui pra outro emprego… não, desculpa, primeiro eu fui trabalhar no McDonald's, isso, no McDonald's. Quando eu terminei o ensino médio, fui pro McDonald's, fazia sorvetinho lá. Aí depois do McDonald's eu fui pra Ponta e Vírgula. Na Ponta e Vírgula, nessa livraria, quando eu cheguei lá, no primeiro mês, descobri que eu estava grávida. Ou seja, eu saí do McDonald's e eu estava grávida, só que eu não sabia, né? E quando eu estava lá na outra empresa, eu descobri que eu estava grávida.
23:10
P1 - Vou chegar aí. Quando você começou a trabalhar como babá, o que que você fez com o seu dinheirinho?
R: Ah, não era muita coisa que eu ganhava, né? Eu comprava roupa, comprava brinco, comprava só essas coisinhas que eu queria, assim, que tipo, a minha mãe: “Se eu comprar para você, tenho que comprar para seus irmãos.” Eu comprava minhas coisinhas, assim, roupa, sapato.
23:34
P1 - Coisinhas pra vocês, né? E você era uma menina, cuidando de criança.
R: Eles eram bem pequenos, a Naila e o Pedro. Nossa, hoje eles estão imensos. É Naila e Pedro. E eles eram lindos! Sabe aquelas crianças de revista? Eles eram branquinhos, com os olhos azuis. E eu também ia com eles para Mosqueiro no mês de julho, que eles entravam de férias, a esposa me levava pra cuidar deles lá em Mosqueiro, sabe?
24:01
P1 - Você dormia na casa dessa família?
R: Não.
24:04
P1 - Só nas férias?
R: Só nas férias. Durante o dia, né? Eu só cuidava deles durante o dia e depois eu ia pra escola. Eu estudava à tarde.
24:11
P1 - Você gostava de ser babá?
R: Gostava. Eu gostava.
24:15
P1 - Não era muito difícil pra uma menina?
R: Não. Eu gostava, porque eram crianças e eu só cuidava deles, assim. Eu não cuidava da casa, eu cuidava só deles. Só dava comida. Cuidava deles, passava roupa, era só isso. Não era algo pesado, sabe?
24:32
P1 - Ah. E aí de babá você já queria ser professora, então?
R: Isso.
24:36
P1 - Aí depois de babá você foi trabalhar no McDonald's. E aí, como é que foi?
R: Aí lá era puxado, viu? Porque lá, você aprende desde fazer sorvete, até limpar o chão. Era bem puxado. E eu trabalhava lá, na época, eu pegava seis horas de trabalho. E eu pegava, acho que, quatro horas da tarde e largava dez horas da noite. Aí ia pra casa. Aí no outro dia de manhã eu ficava em casa, não estava fazendo cursinho mais, às vezes eu ficava estudando só em casa. Eu acho que eu fiquei um ano e pouco no McDonald's. Aí foi depois que eu deixei o currículo. Porque eu ficava pensando assim: “Égua, essa vida aqui de restaurante é ruim.” Porque eu trabalhava de domingo a domingo. A praça de alimentação é bem puxada. Então, assim, uma data bem marcante pra mim, foi no dia 25 de dezembro que eu fui trabalhar, e eu fiquei pensando: “Égua, eu não quero isso aqui pra mim, não. Eu vou arranjar outro emprego.” Eu comecei a deixar meus currículos nas outras lojas que tinham no shopping, nessa livraria Ponto e Vírgula. Aí me chamaram para fazer uma entrevista de operadora de caixa para essa livraria. Aí eu passei e fui. Só que eu estava grávida.
25:58
P1 - E aí você estava namorando quem nessa época?
R: O pai do meu primeiro filho. Eu tenho dois filhos, um filho de 19 anos e tenho um filho de dois anos.
26:08
P1 - Tá, então você estava no primeiro namoro com o pai do seu primeiro filho. E era um namorinho ou era um namoro sério?
R: Era um namorinho. Não era um namoro sério, era um namorinho mesmo. Eu tinha 18 anos e ele tinha 16.
26:23
P1 - E seus pais deixavam você namorar?
R: Eu namorava escondido. Tipo assim, ele não foi lá pedir para o meu pai, pra me namorar, entendeu? Foi namorinho escondido mesmo.
26:35
P1 - E aí quando você descobriu, mulher, que você estava grávida?
R: Nossa! Meu pai só faltou de me matar. Meu pai ficou meio que de mal comigo, assim, mal falava comigo. Foi bem difícil. Aí teve uma noite que eu falei assim: “Nossa, o senhor fica me tratando assim?”. Porque ele me tratava mal. Eu falei assim: “O senhor fica me tratando assim, parece que é o fim do mundo.” Ele disse: “É o fim do mundo mesmo pra mim.”
26:55
P1 - E você continuou na casa dele?
R: Aí eu saí. Quando eu vi que ele estava me tratando muito mal, o pai do meu filho falou pra minha ex-sogra, falou assim: “Olha, mãe, a Dani está passando isso e isso lá.” E a minha ex-sogra falou: “Não, traz ela pra cá.” Aí eu fui morar lá. Era tudo perto, a gente morava próximo também. Aí eu fui morar lá na casa da minha ex-sogra.
27:15
P1 - Mas deve ter sido difícil sair de casa, né?
R: Foi, foi bem difícil. A minha mãe não queria, né? Mas...
27:20
P1 - E aí você largou o trabalho na livraria?
R: Não, porque eles já tinham assinado a minha carteira. Eu fiquei trabalhando com barrigão. Eu ia de Ananindeua para o shopping com barrigão. Assim, logo no começo não era barrigão, mas até o final da gravidez eu ia de ônibus todos os dias de Ananindeua para o centro de Belém de ônibus. Às vezes eu enjoava no ônibus, dava vontade de vomitar. Eu até levava uma sacola caso me desse enjoo, né? Mas eu trabalhei até o domingo e ele nasceu na terça-feira. Tipo assim, depois do meu último dia de trabalho, passou só um dia e ele nasceu. Nasceu de parto normal.
28:04
P1 - Parto normal?
R: Foi.
28:07
P1 - E qual é o nome dele?
R: Paulo. Paulo Roberto.
28:09
P1 - E aí o Paulo Roberto nasceu e você estava na casa da sua ex-sogra?
R: Isso.
28:13
P1 - E ficou lá?
R: Ficamos lá, acho, que até ele completar mais ou menos um ano. Aí depois, eu conversei com o meu ex-marido e falei assim: “Bora morar só?”. Aí a gente começou a morar numa quitinete. Aí é aí que começa a história de por que eu vim pra Vila dos Cabanos. Porque ele foi criado aqui. O meu ex-marido foi criado aqui. O pai dele trabalhou aqui na Alunorte muitos anos, na área do porto como eletricista. E ele sempre falava assim pra mim: “Eu tenho tanta vontade de voltar pra Vila dos Cabanos porque lá é muito bom de emprego e tudo mais.” E a gente já tinha vindo em algumas férias pra cá, só passear. E eu também achei legal a cidade, gostei da cidade. Aí eu peguei e falei assim pra ele: “Então, quando tiver oportunidade, a gente vai.” Só que nesse meio termo, eu troquei de emprego de novo, eu saí da livraria. Depois que eu voltei da licença maternidade, eu trabalhei mais um pouquinho. Depois eu fiquei botando currículo. Eu botei currículo na Big Ben que era uma farmácia que tinha aqui. Só que dentro dessa Big Ben, tinha uma empresa que trabalhava com pagamento de contas, você ia lá e pagava contas dentro da farmácia. E eu deixei currículo para trabalhar nessa empresa e fui chamada. Quando eu fui chamada, eu deixei o currículo pra cá para a Vila dos Cabanos, pra trabalhar pra cá. Aí eu fui chamada para seleção. Eram várias mulheres, várias, várias, várias. Só que ficou para o final, para a vaga, eu e mais uma, para essa vaga daqui, Vila dos Cabanos. Aí quando terminou a seleção, quem ficou com a vaga foi a outra moça, não fui eu. Só que eles gostaram tanto de mim, que eles falaram assim: “A gente não queria perder você. Você concorda em trabalhar em Belém?”. Aí eu falei: “Sim.” Eu falei que minha mãe morava em Belém e tal, que pra mim não tinha problema. Aí eu fiquei trabalhando em Belém.
30:13
P1 - Em uma farmácia lá?
R: Sim, numa farmácia em Belém, lá dentro. Aí eu falei para essa minha supervisora assim: “Eu vou ficar em Belém, mas quando tiver vaga na Vila dos Cabanos, você me avisa?”. Aí ela disse: “Aviso.” Aí fiquei trabalhando. Trabalhava até na Cidade Nova, lá na Cidade Nova 8, na farmácia Big Ben, lá dentro. Quando chegou um tempo, acho que passou um ano, ela falou: “Daniele, você ainda tem interesse em trabalhar na Vila dos Cabanos?”. Ela me ligou, né? Aí eu falei: “Sim, tenho, mas eu vou conversar com o meu marido. Quando chegar em casa eu te dou uma resposta.” Aí eu cheguei em casa e falei para o meu marido, meu ex-marido, falei assim: “A minha supervisora me falou que tem uma vaga lá na Vila dos Cabanos. E aí, a gente vai?”. Só que assim, imagina, a gente tinha só os pais dele que moravam aqui e que a casa não era muito grande, né? E tinha eu, ele, mais uma criança. Aí tinha isso, não tinha onde a gente ficar, porque a casa era pequena. Aí ele ligou para um amigo dele de infância, esse amigo dele tinha tipo uma quitinete na frente da casa dele. Aí ele disse: “Olha, vem sim. Vem te embora daí. Traz a tua mulher, aqui a gente dá um jeito.” A gente veio com a cara e com a coragem. Pensa?
31:39
P1 - Que ano?
R: Era 2007, por aí assim. O meu filho estava com dois anos, ainda ia completar três anos. Estava com dois aninhos. Aí falei pra ele: “Tá, aceita.” Aí viemos. A gente não tinha quase nada de mudança, né? A gente tinha geladeira, fogão, só o básico, assim. Aí viemos. Ficamos morando de favor na casa desse amigo dele, na frente da casa dele, assim.
32:07
P1 - Mas aí você tinha emprego e ele não?
R: Exato. Aí ele que ficava com o neném. Só que, o que a gente fez? Como ele queria vir para cá para estudar e trabalhar, quando eu cheguei, ele se inscreveu em um curso técnico, pra fazer curso de mecânica. E eu trabalhava de manhã, chegava em casa… ele ficava o dia todo com o neném. Aí eu ficava com o neném à noite para ele estudar à noite. Aí foi assim que a gente foi vivendo, eu trabalhava, ele ficava com o neném de manhã, de noite eu ficava com o neném e ele ia fazer o curso. Aí assim foi. Quando passou acho que uns dois anos do curso técnico dele, ele conseguiu um estágio em uma empresa aqui, na Imerys. Aí ficou na Imerys, trabalhou esse período de estágio, depois quando terminou o estágio, disseram assim: “Aguarde em casa que nós vamos ver se aparece uma vaga. Nós gostamos muito de você e tal.” Aí apareceu. Ele ficou uma semana só em casa, aí ligaram pra ele: “Olha, apareceu uma vaga, só que é em Ipixuna do Pará, não tem aqui no momento a vaga.” Aí ele não queria aceitar, não queria aceitar. E nesse meio termo a gente conseguiu um terreno do lado da casa dos pais dele, e a gente foi construindo uma casinha lá devagarinho, devagarinho. Aí a gente saiu da casa do amigo dele, ficou morando na nossa casinha, que a gente construiu, era tudo bem simples. Quando a gente se mudou para lá, ainda não tinha nem luz, a gente pegou o bico da casa da tia dele, botou uma extensão, só para passar para dentro da casa. Aí a gente ficou morando, a casa bem cruazinha assim e a gente foi morando lá. Aí ele não queria aceitar essa proposta de trabalhar em Ipixuna do Pará, mas aí conversei com ele, falei: “Olha, tá vendo a casa como é que tá? A gente precisa ajeitar essa casa. Você precisa aceitar. Vai dar tudo certo, seus pais moram aqui do lado, vai dar certo.” Aí ele não queria aceitar, não queria aceitar, até que aceitou.
34:13
P1 - Era longe?
R: Ipixuna é. São cinco horas daqui. Aí ele ia passar dez dias lá e folgar quatro. A escala era essa, eram dez dias e folgava quatro. Aí no começo foi bem legal, porque já começou a ajudar mais, ele tinha o ticket dele, tinha o salário, já começou a ajudar bastante. Mas aí, depois que passou mais ou menos um ano dele trabalhando pra lá, o negócio já foi ficando difícil porque, como é que eu posso falar isso? Ele me traiu pra lá. Aí foi difícil por conta disso, porque eu estava aqui com a criança, né, trabalhando, fazendo de tudo pra gente vencer, pra gente dar certo. Só que aí aconteceu isso, ele me traiu pra lá e eu descobri. Aí foi um momento bem difícil, bem difícil! Assim, passava um filme na minha cabeça, tudo que eu tinha feito pra chegar aqui e de repente as coisas irem por água abaixo. Desculpa. (choro)
35:21
P1 - Imagina.
R: Mas assim, eu sempre falava pra Deus, que Deus sabia de tudo o que eu tinha feito. Porque assim, eu abri mão nesse momento de fazer uma faculdade para pagar o curso dele. Eu não fiz faculdade logo, porque eu queria pagar o curso dele. E deu tudo certo, eu paguei o curso dele, ele se formou e conseguiu um bom emprego. E de repente aconteceu isso, né.
35:56
P1 - Era muito sacrifício, né, Dani?
R: Era, era bem difícil, porque quando ele começou a trabalhar pra lá, eu tive que arrumar uma pessoa pra ficar com o Paulo, porque eu tinha que continuar trabalhando, não podia sair do emprego. Então, essa moça que eu consegui, a Louise até é o nome dela, foi um anjo assim na minha vida, porque eu passava o dia trabalhando, eu chegava e ela ficava morando comigo, passou a morar comigo. Então quando isso aconteceu, ficamos morando só nós três, ele saiu de casa.
36:30
P1 - Você que separou? Você que pediu pra separar?
R: Eu pedi. Primeiro eu pedi, aí depois ele quis mesmo. Depois ele ainda pediu pra voltar, a gente ainda tentou, mas não deu mais certo não. Aí nesse momento eu pensei em voltar para Belém, porque eu não tinha família aqui, né. E eu falava assim: “O que eu vou ficar fazendo aqui?”. O custo de vida aqui é um pouco alto e eu ainda não trabalhava na Alunorte, eu trabalhava nessa farmácia que eu falei pra você. Então, meu filho não tinha plano de saúde, ele não tinha direito à escola, ele não tinha nada de benefícios assim. Então ia ficar bem difícil. Aí eu ainda tinha que pagar a moça pra ficar com ele. Aí eu pensei muito em voltar para Belém. Só que teve um dia que eu estava trabalhando lá na farmácia, e chegou uma pessoa que trabalhava aqui na Alunorte, hoje em dia ele faleceu, é o seu Evandro. E ele me viu com cara de choro, ele falou assim: “O que é que você tem?”. Ele ia pagar a conta todo mês, a gente acaba criando amizade com os clientes, né? Ele falou: “O que é que você tem, Daniele?”. Eu falei assim: “Ah, seu Evandro, estou um pouco triste. Estou me separando e tal. Eu estou pensando em voltar para Belém.” Aí eu brinquei com ele, eu falei assim: “Não consegue emprego pra mim lá na Alunorte, não?”. Aí ele falou assim: “Você tem curso de alguma coisa?”. Eu falei assim: “Não tenho seu Evandro, mas pode ser qualquer coisa.” Ele falou assim: “Olha Dani, lá se você não tiver curso, você entra como operadora. Pra você ter um problema?”. Aí eu falei assim: “Não.” “Aí assim, eu também não posso fazer muita coisa, eu posso pegar o seu currículo e entregar no RH, o resto é com você. Se chamarem, se der certo, se não der, o resto vai ser com você, mas eu posso fazer isso.” Aí ele trouxe meu currículo para a Alunorte, isso foi em 2012. Trouxe meu currículo para Alunorte, aí começaram a me chamar pra fazer entrevista. Aí eu fui. Acho que meu processo começou em fevereiro de 2012 e minha admissão foi dia 02 de abril. Então demorou bastante tempo até o resultado final, assim, demorou bastante tempo, sabe? E eu entrei aqui em um período que estava entrando bastante mulheres, sabe? Toda vez que eu vinha fazer entrevista, era um monte de mulher fazendo entrevista, porque nessa época começou a entrar muita mulher aqui. Eram poucas mulheres que tinham, na época, aqui na Alunorte.
38:50
P1 - O que você escutava falar da Alunorte enquanto você não estava nela? Você estava morando em Barcarena?
R: Sim.
38:56
P1 - Você via o movimento, né?
R: Via. Via e eu achava tão bonito, sabe? O pessoal indo pagar conta com a roupa, com o uniforme, sabe? Eu dizia: “Será que um dia eu não vou trabalhar nessa empresa?”. Eu ficava assim, sabe? E eu sabia que era uma empresa boa, por conta que meu ex-sogro também trabalhava na Alunorte e eu sabia os benefícios que tinha, tinha PR, tinha um bom plano de saúde, pagava escola, tinha ticket de alimentação. Então, assim, eu sempre tive uma boa referência da Alunorte e sempre tive vontade, né? “Um dia, quem sabe, né?”. Aí fui fazendo o recrutamento, fui fazendo o processo, fui fazendo o processo. Aí, graças a Deus, assim, eu não fui mais embora para Belém, porque eu consegui entrar na Alunorte. Aí meu filho já passou a ter escola, já passou a ter plano de saúde. Então as coisas passaram a melhorar desde daí.
39:45
P1 - E qual foi o seu primeiro trabalho aqui? O seu primeiro cargo?
R: Eu fui operadora. Quando eu entrei, eu fui operadora de produção, eu trabalhava na área da clarificação e depois eu passei para a área da calcinação.
39:59
P1 - O que que você fazia?
R: Lá, por exemplo, na clarificação a gente fazia troca de tecido. Nessa época, os filtros eram tambores. Hoje em dia, não existe mais esse tipo de filtro. Mas eu fazia troca de tecido, eu fazia lavagem das sondas em cima dos DAR. Esse foi o meu primeiro trabalho na área da clarificação. Quando eu vim pra calcinação, que eu vim também pra turma da manutenção de processo, a manutenção de processo aqui já era um pouco diferente da de lá, aqui já trocava válvula, já fazia inversão de raquete, fazia outros serviços mais pesados. Aí quando eu estava com três meses de Alunorte, eu comecei a fazer faculdade de Ciências Contábeis, em Belém.
40:40
P1 - E por que esse curso? Porque eu sempre gostei de mexer com números. Desde que eu fui operadora de caixa, sempre gostei da área de finanças, de mexer com números, de fazer contas. A minha matéria preferida é matemática, eu sempre gostei. Então, assim, quando eu entrei aqui pra trabalhar, que eu vi que era pesado, eu falava assim: “Eu não quero isso pra mim, eu vou estudar.” Aí eu comecei, com três meses de Alunorte eu comecei a fazer faculdade. Ia para Belém. Eu já estava separada. Então, era bem difícil, porque eu passava um dia aqui trabalhando, e à noite eu saía daqui direto, eu não ia nem em casa, eu saía daqui direto e ia pra faculdade. Então, foram quatro anos assim. Quando eu me separei, meu filho tinha seis anos, e de seis até dez anos foi assim, o dia todo sem ver ele.
41:29
P1 - Como é que você fazia?
R: O dia todo. Chegava em casa num barco de onze horas que sai de Belém, chega aqui, um barcão dos estudantes, que chama, e chegava aqui quase uma da manhã. Então, assim, eu saía, ele estava dormindo, quando eu chegava, ele estava dormindo.
41:47
P1 - E a Luiza que estava cuidando dele?
R: E a Luiza que estava com ele. Aí depois a Luiza saiu de casa, veio outra pessoa morar comigo, mas foi do mesmo jeitinho, sabe? A pessoa que morava comigo. Teve um dia, que foi o dia mais marcante pra mim, foi quando a moça falou assim pra mim: “Dani, o Paulo falou que antes de você sair pra trabalhar, ele quer te ver.” E aí, nossa, meu coração, nesse dia. E você acredita que quando eu acordei de manhã cedo, ele estava sentado aqui no sofá me esperando? Nossa, nesse dia foi difícil. Aí eu sentei do lado dele, aí eu falei: “Olha filho, você não vê a mamãe, mas a mamãe beija todo dia você. A mamãe chega, cheira você. Você não vê, mas a mamãe todo dia vai dar um cheiro em você. Mas a mamãe está precisando fazer isso. A mamãe precisa estudar para melhorar a nossa situação. A mamãe precisa.” Eu expliquei tudinho para ele, sabe? Tanto que, quando eu me formei, eu não queria que ninguém fosse meu paraninfo, só ele, eu o escolhi, porque foi a pessoa que aguentou ali junto comigo, que sofreu, de alguma forma ele sofreu, porque eu fiquei bem ausente, né? Imagina só, eu não estava ali às vezes pra ajudar ele a fazer o dever de casa, entendeu? Então assim, foi um momento bem difícil. Mas hoje eu entendo que foi necessário porque, senão, eu não estava onde eu estou hoje, sabe? Tipo assim, depois desses quatro anos da faculdade, logo em uma sequência eu passei para assistente administrativo aqui. Depois que eu fiquei de assistente administrativo, eu fiz um recrutamento interno, fui pra inspetora de obras e serviços, uma outra função que ganhava um pouquinho melhor. Aí de lá, de inspetora de obras, foi que eu fui para analista financeiro, que é o que eu sou hoje, né? Mas assim, foi difícil, eu só consegui isso depois da minha formação, entendeu?
43:42
P1 - Dani, essa formação, quando você começou a estudar, já era benefício?
R: Era, a Alunorte pagava 50% da minha faculdade e os outros 50%, eu fiz FIES, né? Os outros 50% eu tinha o FIES. Então assim, a Alunorte contribuiu muito na minha formação, sabe? Hoje em dia, primeiro eu agradeço a Deus e depois a Alunorte, porque me ajudou demais, sabe?
44:06
P1 - E o seu filho tinha a presença do pai de alguma forma, ou dos avós?
R: Tinha, o pai dele era presente. Ele o pegava um final de semana sim, um final de semana não. Ele já foi ficar mais ausente, depois do Paulo já estar um pouco grande. Hoje em dia eu os acho um pouco afastados, sabe? Mas ele foi bastante presente.
44:34
P1 - E você teve apoio da sua família, da família do pai dele, pra você estudar, trabalhar?
R: Sim. Da família do pai dele nem tanto, mas da minha sim. Meus pais sempre. Assim, o sonho do meu pai, como eu te falei, desde quando eu era nova, que ele falou que pra ele o mundo tinha acabado quando eu engravidei, né? Eu disse pra ele assim: “Eu ainda vou lhe provar que eu vou conseguir me formar.” Então, antes dele falecer, ele conseguiu ir pra minha formatura, ele conseguiu presenciar que a única filha dele que se formou fui eu, que tem um superior sou eu. Então antes dele falecer, eu consegui realizar esse sonho dele, sabe?
45:13
P1 - E era o teu sonho, né?
R: E era o meu sonho.
45:14
P1 - E quando você era uma menina, que você pensava em se formar, não importava em quê, era se formar?
R: Era, eu só queria me formar. Assim, ainda não tinha assim: “Ah, eu quero ser isso.” Eu já fui colocar isso na minha cabeça, depois que eu comecei a trabalhar como operadora de caixa, que eu sempre gostei dessa área de finanças, de números e tal. Aí eu já fui pensar, depois que eu comecei a trabalhar de operadora.
45:36
P1 - E por que se formar? Porque dava uma ideia de uma vida melhor, de um diploma?
R: Exato. Eu sempre pensava assim, que as pessoas que tinham superior iam ganhar mais, iam ter. Aí eu sempre botava na minha cabeça que eu queria me formar, que eu queria me formar.
45:54
P1 - E nesses finais de semana, enquanto você estudava, você conseguia aproveitar teu filho, descansar em Barcarena, ir pra praia?
R: Sim. A gente aproveitava muito o final de semana. Então a gente ia pra Belém, pra casa dos meus pais. Era bem legal, assim, no final de semana. Eu conseguia me divertir bastante com ele no final de semana, sabe? Levava ele para o clube, porque a partir de que eu comecei a trabalhar aqui, a gente tem associação com o Cabana Clube, que é o clube que tem aqui na cidade. E eu o levava para o Cabana. Eu sempre ocupava também a mente dele, eu o botava pra fazer natação, entendeu? Ele fazia aula particular, ocupava a mente dele também pra ele não ficar assim, só em casa. Eu tentava ocupar ele de qualquer forma.
46:43
P1 - Era puxado, em algum momento você pensou em desistir?
R: Depois que eu entrei na Alunorte, não. Eu pensava em desistir, assim, antes, logo que eu me separei, eu pensava em voltar para Belém, porque eu achava que, sei lá, que eu tinha voltado à estaca zero, depois que aconteceu tudo que aconteceu, sabe? Mas Deus foi bem justo, assim, na minha vida, sabe? Deus sabe tudo que eu fiz, e me honrou por isso.
47:09
P1 - E aí, depois que você entrou, a coisa foi ficando um pouquinho mais tranquila?
R: Foi. Melhorou muito, porque, nossa, a diferença de salário da Alunorte na época que eu entrei, por mais que eu era operadora, não ganhava lá…, mas era bem diferente do que eu ganhava lá na farmácia, entendeu? Aí já foi TPR, que é a participação dos lucros e resultados aqui, coisa que era bem diferente de lá, entendeu? Então, assim, ajudou muito. Aí com isso, eu fui terminando de ajeitar a minha casa, sozinha, porque ele já tinha saído de casa. A casa ficou bem crua quando ele saiu, e eu fui fazendo sozinha, puxei o pátio e fui fazendo devagarinho, entendeu?
47:54
P1 - Sozinha, sem ninguém?
R: Sozinha, sem ninguém.
47:57
P1 - O que você pensava, mulher?
R: Nossa, eu pensava assim, que até hoje eu falo, né, que é a casa do meu filho, eu preciso deixar algo, se acontecer alguma coisa comigo, eu preciso deixar o meu filho amparado, meu filho precisa ter uma casa. Então hoje em dia, a casa é dele, entendeu? Do meu filho. Se ele quiser casar amanhã, ele tem a casa dele, entendeu? É a casa dele. Graças a Deus, até que o meu ex-marido foi bem consciente, assim, ele saiu de casa, mas ele nunca veio fazer briga por causa da casa. Porque tem homem que briga por tudo, né. Mas ele não fez briga comigo, não, ele deixou, não veio querer: “Ah, eu quero vender a casa, quero a minha parte.” Nunca fez isso.
48:38
P1 - Eu estou aqui imaginando que você era aquela mulher que fazia de tudo para esse filho, você fazia pra você também? Você se cuidava? Você conseguia descansar?
R: Sim, eu sempre gostei de me cuidar, sabe? Então, assim, ainda fazendo faculdade, parece uma loucura, né? Mas ainda fazendo faculdade, chegando quase uma hora da manhã, eu ainda fazia academia às cinco da manhã. Eu fazia academia cinco, seis horas da manhã, ia lá, malhava um pouquinho e depois vinha trabalhar. Assim, sempre gostei de me cuidar, até hoje eu faço atividade física. Então assim, eu sempre pensei no meu filho, mas também sempre pensei em mim. E depois que eu me separei, eu fiquei um tempo, acho que eu fiquei uns seis meses só. Depois eu tinha uns namorados e tal, mas nada assim pra levar pra casa, nada pra morar. Sempre respeitei o meu filho, sabe? Então, assim, eu pensava sim em mim, eu pensava que a vida… logo no começo foi bem difícil, a gente acha que o mundo acabou, mas logo depois que eu consegui, que eu vi que as coisas melhoraram, eu pensei que a vida continua, entendeu? Que eu preciso me cuidar, eu sempre gostei de cuidar de mim, sim.
49:57
P1 - E aí, durante a faculdade, você ia falando pra eles que você estava se formando, para as oportunidades começarem a aparecer aqui pra você?
R: Aí ele entendeu. Ele: “Não mãe, é porque eu estava com saudade e tal.” Falou pra mim. Aí, às vezes, ele ficava acordado, até uma da manhã pra me esperar, sabe? Mas eu falava depois pra ele: “Filho, dorme, você precisa descansar.” Às vezes eu chegava, ele estava dormindo, às vezes eu chegava, ele estava acordado, mas ele estava mais dormindo do que acordado.
50:25
P1 - E ele tinha uma boa escola?
R: Tinha, ele estudava na época, no Frozi, no Dom Ângelo Frozi.
50:34
P1 - Era benefício?
R: Era benefício. Ele estudava em uma boa escola, sempre estudou depois que eu entrei na Alunorte. Teve um ano só que foi entre a saída da Louise, para a chegada da outra moça, que se chamava Janielle. Eu fiquei um ano sem babá, e nesse um ano eu tive que deixá-lo morando em Belém com a minha mãe, acredita? Aí, nesse ano foi bem complicado, porque eu trabalhava aqui e eu fiquei indo pra Belém, dormia lá três dias. Só que a gente também tem ônibus pra Belém, para funcionários, né? Aí eu vinha de Belém pra cá todo dia, nesse um ano que eu fiquei sem uma pessoa. Aí nesse ano foi bem difícil, mas depois eu consegui, depois deu tudo certo. E foi só um ano que ele estudou em Belém.
51:19
P1 - Aí voltou. E aí depois que você se formou, como é que foi o dia da sua formatura?
R: Ai, foi lindo! Foi assim, a realização de um sonho, né? Porque aquela menina pobre, preta, lá de Ananindeua, que veio pra Vila dos Cabanos, em busca de um sonho, de formar uma família. Infelizmente não deu certo por uma parte, mas deu certo de outra, né? Eu consegui me formar, consegui realizar o sonho, não só meu, como do meu pai, da minha família, da minha mãe, dos meus irmãos também. Porque os meus irmãos, apesar deles não terem formação, de não gostarem muito de estudar, eles sempre me apoiaram, sabe? Eles sempre estavam ali: “Vai, mana. Vai dar certo.” Sabe aqueles irmãos que dão força? Eles sempre foram desse jeito. Assim, não tinha esse negócio de inveja: “Ah, só ela que conseguiu.” Não tinha isso, nunca teve. Eles sempre me apoiaram, sempre, até hoje. Assim, algumas fotos minhas que você pediu, vieram de Belém, meu irmão que mandou pra mim, por um colega dele, que trouxe ontem à noite. Até hoje, eles dizem: “Vai lá, vai dar tudo certo.” Eu falei pra ele que ia fazer a filmagem e tal. Aí, eles: “Não, mana, vai dar tudo certo!”. Sempre torceram por mim, meus irmãos, sabe? A gente é muito unido, a gente é muito unido.
52:50
P1 - Me conta do dia da formatura.
R: Nesse dia da formatura toda minha família foi, meus irmãos, meus pais, no dia da solenidade eu não consegui reunir todos, mas a minha mãe e meu pai foram, o meu irmão foi, as minhas outras duas irmãs não deram pra ir, que estavam trabalhando, mas o meu irmão foi, meu pai e minha mãe. Foi bem emocionante na hora de colocar o anel e fazer o juramento, porque, como eu falei pra vocês, quem foi meu paraninfo foi o Paulo, porque, assim, para mim tinha que ser ele. Então, assim, ele, eu acho, foi a única criança de toda a minha turma que foi paraninfo, ele tinha 10 anos na época. Então, assim, ele estava todo de terninho, todo bonitinho, combinando com a cor do meu anel rosa, né? Então, ele foi todo com uma gravatinha rosa, foi todo bonitinho. Então, assim, foi bem emocionante mesmo esse dia, um dia que vai ficar bem marcado na minha vida. Eu lembro que meus pais estavam lá, meu filho, as pessoas mais importantes da minha vida estavam lá e era a realização de um sonho naquele dia. Aí depois teve o baile de formatura, que foi outro momento bem legal, todos os meus irmãos estavam lá no baile, foi bem legal! Outro dia que vai ficar marcado pra mim, é esse meu baile de formatura.
54:16
P1 - Você dançou com quem?
R: Eu dancei com meu pai, dancei com meu irmão, dancei com meu atual marido, eu já estava com ele na minha formatura. Eu ainda não tinha filho com ele, mas eu já estava com ele. Então ele foi também.
54:34
P1 - Onde vocês se conheceram?
R: Aqui. Ele trabalhava aqui. Hoje ele não trabalha mais aqui, mas ele trabalhava aqui.
54:45
P1 - Então pera, quero saber dessa fofoca.
R: Eu o conheci na primeira área em que eu trabalhei, que foi na clarificação. Conheci ele lá. Ele foi meu gerente, lá na clarificação.
54:53
P1 - Como ele se chama?
R: Jules.
54:56
P1 - Julles?
R: É, Julles Lima. J-U-L-L-E-S.
55:00
P1 - Você olhou para o Julles e aí?
R: Não, não foi amor à primeira vista, sabe? Demorou um pouco. Não foi amor à primeira vista, mas a gente começou a ficar, acho que eu já tinha uns dois anos na Alunorte. Eu fiquei meia travada para homem. A gente se conheceu aqui. Depois eu mudei de área, porque também era complicado, porque ele era meu gestor. Então não podia. Depois que eu mudei de área é que o negócio foi de fato acontecer, porque na época não podia. Depois que eu mudei de área, a gente foi conversar melhor, entendeu? Ele também estava se separando na época, entendeu? Então assim, ele estava se separando e eu tinha vindo de um relacionamento. E aí a gente ficou junto, acho que desde 2014, até agora, a gente está junto.
56:03
P1 - Aí de pouquinho em pouquinho vocês foram se aproximando?
R: Isso.
56:04
P1 - E ele mora aqui também em Barcarena?
R: Ele já morava aqui. Ele não é daqui, mas ele já morava aqui. E ele, na época, era supervisor aqui e já tinha uma casa aqui, morava na casa da empresa. Só que antes dele sair, ele comprou a casa, conseguiu comprar a casa, que é a casa que hoje a gente mora. A casa que eu construí aqui, aquela que eu te falei que foi com todo sacrifício e tudo mais, ela ainda existe, só que eu a alugo. No momento ela não está alugada, porque eu parei para fazer uma reforma, mas eu a alugo. Hoje eu não moro nela, eu moro na casa que era do Julles.
56:51
P1 - O Julles é de onde?
R: Imperatriz do Maranhão.
56:52
P1 - E ele veio pra cá só pra trabalhar?
R: Ele veio pra cá com o pai dele, que também era funcionário da Alunorte. E acho que hoje ele já mora aqui há uns 25 anos. Ele veio pra cá com 17 anos. E o pai dele trabalhava aqui na Alunorte, aí não demorou muito, ele entrou também para a Alunorte, ele e o irmão dele também começaram a trabalhar aqui. O irmão dele até hoje trabalha, ele saiu. Ele saiu, acho que foi em 2018, por aí assim.
57:25
P1 - A Alunorte te deu uma família, né?
R: Sim. A Alunorte já me ajudou muito.
57:30
P1 - E aí, quando vocês começaram a namorar, rolou um pedido de casamento? Como é que foi?
R: Não, pior que nem rolou pedido, assim, as coisas foram acontecendo, né? Foi acontecendo, a gente foi ficando, ficando, ficando, e quando a gente viu, a gente já estava morando junto. Aí foi, ele falou: “Vem logo pra cá com teu filho.” Aí fui morar com ele. A gente nunca casou na igreja e tudo mais, a gente só tem essa união estável mesmo. Porque quando ele saiu da empresa, ele ficou sem plano de saúde e tudo mais, aí eu fiquei muito preocupada, porque ele é hipertenso e tal, aí eu falei: “Não, vamos.” Aí a gente fez a união estável, ele passou a ser meio dependente e tudo mais, teve benefícios que a empresa proporciona para o companheiro.
58:33
P1 - Quando é que vocês engravidaram?
R: 2022.
58:37
P1 - E foi planejado? Foi decidido?
R: A gente já queria. A gente tentou engravidar em 2020, mas a gente não conseguiu, sabe? Foi bem difícil, porque a gente não conseguia. A gente nem achou que fosse ter essa dificuldade, porque eu nem tomava remédio na época, eu só usava preservativo mesmo. Mas teve essa dificuldade, a gente não conseguiu engravidar em 2020. Aí ele fez uns exames, os meus exames estavam tudo ok, o dele deu que ele estava com, acho que é varicocele o nome, que é um tipo de empecilho que dificulta a passagem dos espermatozoides, morrem a maioria. Aí ele foi tentar fazer tratamento, o médico falou: “Olha, ou você opera, ou você faz tratamento, ou você fica tentando, mas as chances são mínimas.” O médico falou pra ele, né? Aí ele já tinha uma filha, ele tem uma filha, né? A minha enteada tem 28 anos. E eu já tinha meu filho, que é o Paulo. Na época o Paulo tinha 15 ou 16 e a Juju estava com uns 24, por aí assim. Aí eu falei assim: “Você já tem a Juju, já tem o Paulinho, tá tudo bem. Então vamos deixar quieto.” Isso em 2020, final do ano 2020. Aí deixamos quieto. Quando foi um certo dia, que tinha acabado o preservativo, e a gente foi lá, já estava lá na hora mesmo, aí eu peguei e brinquei com ele, falei assim: “Ah, mas você tem varicocele, não vai acontecer nada não.” Porque já tinha acontecido isso outras vezes, e a gente tinha tentado também um tempão sem, achava que não fosse. Mas aí, um belo dia, eu estava lá em Salinas, nas minhas férias, tinha passado no mercado, aguardando que a minha menstruação viria. Aí não veio. Aí eu achei muito estranho, porque ela sempre foi muito certa, sempre veio certinho no dia. Aí quando eu fiz o exame, comprei lá mesmo onde eu estava, em Salinas, que é um lugar que tem praia aqui. Aí eu estava lá e quando eu fiz o exame no outro dia de manhã, eu estava grávida. Eu não acreditava, eu olhava, eu não acreditava de jeito nenhum, por que eu não acreditava? Porque assim, de 2020 que eu tentei engravidar, a gente decidiu que estava tudo bem, ele tem a filha dele, eu tenho meu filho, “A gente não tem mais outro filho.” Eu fiz cirurgia, eu botei silicone, eu fiz lipo, então eu estava bonitona na época, assim, sabe? O meu corpo estava lindo, malhado, o corpo bonitão, estava toda daquele jeito. Aí de repente, eu fiquei um ano só com a cirurgia. Eu fiz a cirurgia em maio de 2021, e eu descobri que eu estava grávida em agosto de 2022, julho de 2022. Então assim, eu fiquei um ano com a cirurgia, entendeu? Tipo assim, eu olhava e dizia assim: “Meu Deus, eu não acredito. Eu não acredito que eu tô grávida!”. Mas assim, depois foi bem aceito, assim, né. Filho é bênção. Então assim, a gente quis muito, né. Mas aí na hora, assim, a ficha parece que não caía, sabe? Mas depois ficou tudo bem, ficou tudo certo.
01:01:03
P1 - Como é que foi? Aí muda tudo, né?
R: Mudou tudo, mudou tudo. Mudou tudo porque, quando eu descobri que eu estava grávida, ele tinha acabado de sair da Alunorte também, foi em 2020 que ele saiu. Então estava assim, só eu trabalhando em um emprego bom. Mas ele trabalhava numa empresa terceirizada. Mas aí deu tudo certo, porque depois ele conseguiu um outro emprego que ganhava melhor. Só que esse outro emprego que ele conseguiu, foi pra São Luís…
01:02:55
P1 - Olha a história.
R: Foi pra São Luís. Aí eu fiquei assim, foi um período que eu não vou mentir, eu comecei a fazer terapia, porque, imagina só? Eu grávida aqui, passava um filme, né? Porque eu fui traída à distância, a pessoa que me traiu trabalhava à distância também. Então eu dizia assim: “Ah, eu não quero mais isso pra mim.” Então foi um período bem difícil. Mas aí a gente se falava sempre e tal. Eu dizia para ele que eu não queria que ficasse assim. E ele dizia assim: “Mas eu preciso trabalhar, agora eu tenho o Davi vindo aí e tal. Mas vamos tentar, que daqui a pouco eu estou de volta aí.” Aí o que aconteceu? Quando foi para o Davi nascer, ele falou: “Vem ter o Davi pra cá, para São Luís.” Aí eu falei: “Tá, vou conversar com a mamãe, se a mamãe topar ir comigo quando eu for ter, eu vou.” Aí quando chegou próximo do Davi nascer, os 15 dias antes que pegam de atestado, eu já tinha conversado com a minha mãe. Ela falou: “Tá, eu vou contigo.” Aí eu fui. O Davi nasceu em São Luís, o Davi é ludovicense, nasceu lá. Ele estava trabalhando lá na época. Nasceu lá, outro parto normal, o Davi nasceu de parto normal também. E deu tudo certo, assim, o Davi nasceu e eu fiquei cinco meses de lá, da minha licença maternidade, fiquei cinco meses, a minha licença maternidade é seis e mais um de férias, sete, sete meses. Aí eu fiquei cinco meses lá. E eu ia ficar seis, só que ele ficou colocando o currículo pra voltar, porque ele sabia que estava chegando o tempo de acabar a licença e quando ele viu o filho dele nascer, ele ficou muito apegado, ele participou do parto todinho. Ele disse assim: “Como é que tu vais com essa criança e eu vou ficar aqui? Não, não. Vou ficar colocando o currículo, eu vou voltar. E deu certo, quando o Davi estava com cinco meses, chamaram ele pra fazer entrevista numa empresa aqui, ele fez, e ele voltou. Deu tudo certo. Porque estava terminando a minha licença também, e ele voltou.
01:04:59
P1 - Então você passou a gestação sem ele, a distância, né?
R: Sim, a distância. Ou ele vinha pra cá quando ele tinha fogo ou ia pra lá num feriado, era assim.
01:05:08
P1 - Por que é de avião, né?
R: É, mas não é perto. É de avião, ou então de ônibus, né? Tipo, eu cheguei de ônibus grávida.
01:05:15
P1 - Quantas horas?
R: Ixi, é umas 10 horas.
01:05:22
P1 - Nossa!
R: Umas 10 horas. Passei uma madrugada toda viajando de barrigão.
01:05:26
P1 - E a terapia te ajudou durante a gravidez, a se manter?
R: Ajudou. Ajudou muito mesmo, porque eu ficava pensando em várias coisas: “Ah, será que está me traindo, será que não tá?”. A mulher quando engravida já fica bem frágil, né? Tudo dá vontade de chorar. Eu já estava desse jeito, a mulher fica frágil que só, aí eu tive que pedir ajuda, fiz terapia por um tempo. Mas deu tudo certo, aí ele voltou.
01:05:55
P1 - Você teve acolhimento nessa época da gravidez? Do seu filho, dos seus colegas?
R: Sim, tive, sim. Até aqui na Alunorte a gente tem um grupo de mulheres que engravidam. A gente tem um grupo das mulheres aqui, que se precisar de alguma coisa, a medicina dá todo o apoio. Aí eu tive, sim, tive apoio tanto da minha família, quanto da empresa. Tive bastante apoio. A minha sogra também mora na vila, né? Então, assim, minha sogra estava sempre comigo, também sempre estava na casa da minha sogra. Foi bem. Era mais a questão do psicológico mesmo, pra não ficar pensando besteira, sabe? Era mais essa questão.
01:06:43
P1 - Nessa época que você foi lá pra São Luís, nessa licença maternidade, o Paulo ficou aqui estudando?
R: O Paulo ficou. Eu o chamei pra ir, né? Ele já estava com 17 anos. E ele: “Não, mãe, eu quero ficar.” Ele gostava da escola, ele estava trabalhando e também estava namorando, aí ele não quis ir, mas assim, eu me arrependo disso, sabe? Porque eu ficava muito preocupada com ele. Eu chamei uma pessoa para ir lá limpar a casa, pra ir lá fazer as coisas pra ele, mas, mesmo assim, eu ficava preocupada. Sabe quando você vai almoçar, você fala: “Será que o meu filho já comeu?”. Eu ficava, assim, sabe, preocupadíssima. E, assim, às vezes, quando eu vinha, quando tinha um feriado, alguma coisa, que a gente vinha, eu via que ele não estava comendo direito, eu via que às vezes, quando era pra ele acordar para ir pra escola, ele passava do horário. Aí eu disse pra ele: “Olha, tu me prometeste que ia te fazer tudo direitinho. Tá fazendo tudo errado. Ainda bem que eu já estou voltando, porque não dá, não dá certo. Aí ele ficou, mas, assim, foi bem difícil, eu ficava muito preocupada com ele. Ele já tinha 17 anos, mas fazia muita besteira ainda.
01:07:56
P1 - Mãe é mãe, né? E quando você teve o Davi e voltou a trabalhar, como é que foi isso?
R: Foi legal, assim, porque aqui a gente tem o apoio da gente tem creche, a empresa tem o benefício da creche, né? Então, assim, eu vim de lá de São Luís, o Davi estava com cinco meses. E quando ele fez seis meses, eu já tinha botado o nome dele na lista lá da creche, pra ele começar na creche com seis meses, não com sete, quando eu voltaria, porque eu queria acompanhar esse um mês antes de eu voltar, como seria a adaptação dele, a introdução alimentar também, que é nesse mesmo período, eu queria acompanhar. Aí eu o botei com seis meses na creche, ficava acompanhando todo dia como ele estava. E ele se adaptou super bem, até hoje o Davi vai pra creche, nunca chorou, se adaptou super bem, sabe? Assim, foi bem diferente de, por exemplo, quando eu voltei a trabalhar do Paulo, nossa, quando eu voltei a trabalhar do Paulo, por mais que, quando eu voltei a trabalhar, ele ficou com uma pessoa minha de confiança, que era a minha ex-sogra e tudo mais, mas, mesmo assim, eu chorava, ficava preocupada com ele e tudo mais. Mas com o Davi já foi bem diferente, sabia que ele estava bem cuidado, a creche é boa, entendeu? Eu sabia. Então, assim, foi bem melhor do que a experiência com o Paulo, por exemplo, eu fiquei mais tranquila.
01:09:26
P1 - E a rede de mulheres, você teve apoio? Você usou? Você amamentava e tirava leite? Como é que foi?
R: A rede de mulheres também foi outro ponto bem importante, porque também tinha acabado de inaugurar aqui os espaços da mulher, que é um espaço de acolhimento, para você ir lá, tirar o leite do peito, quando seus seios estão bem cheios. Então, assim, também foi outro momento de acolhimento aqui, porque quando eu voltei de licença, eu ficava o dia todo sem amamentar, né? E quando eu chegava no final, assim, perto do final do dia, estava cheio, então eu ia lá nos espaços da mulher, tirar com a bombinha, tirar o leite e tudo mais. Então, assim, foi bem aconchegante, assim, sabe? Teve um acolhimento bem legal aqui no meu retorno. E, assim, antes de eu retornar, eles fizeram uma visita para entregar o kitzinho que eles entregam, um bodyzinho com uma touquinha, com o nome da Hidro. É bem legal, sabe? Eu tenho até foto dele com essa touquinha, com esse body da Hydro, que eu bati foto dele quando me entregaram, quando eu cheguei aqui e me entregaram, né? Assim, a empresa acolhe muito nesse sentido, tem áreas que fazem festa, no retorno da mãezinha, sabe? É bem acolhedor mesmo.
01:10:59
P1 - Como é que foi seu retorno?
R: Ah, foi tranquilo, sabe? Quando eu voltei de licença, fizeram um bolo, me receberam bem, disseram: “Seja bem-vinda de volta. A gente estava com saudade.” Foi bem legal, né? As pessoas fazem festa mesmo, te acolhem, mostram que você faz falta.
01:11:26
P1 - E você queria voltar? De verdade, não fica uma divisão no peito?
R: Fica, fica. Fica sim. Mas, como eu te falei, o Julles tinha saído daqui da Hydro, querendo ou não, os benefícios do plano, a questão da escola, tudo isso pesa, né? Porque é uma criança, tipo assim, o meu mais velho conseguiu usufruir de todos os benefícios até ele se formar, até terminar o ensino médio dele, conseguiu todos os benefícios, né? E agora tem o Davi nessa jornada de estudar e tudo mais. Por enquanto ele está ficando na creche, mas ano que vem já não vai ser mais creche, já é a educação infantil. Então, já faz parte da vida dele acadêmica, vai precisar do benefício, entendeu? E aqui, a escola é cara, o plano de saúde é caro. Então, assim, pesa o lado de ter que trabalhar, sabe?
01:12:30
P1 - Mas deve ter sido muito diferente, né? Como você disse, ser mãe do Paulo e ser mãe do Davi, trabalhando em lugares tão diferentes, né?
R: Tão diferentes, exatamente. Exatamente.
01:12:39
P1 - A sua carreira como é que ficou depois da maternidade? Você cresceu nela?
R: Assim, o Davi tem dois anos, vai fazer três em março, quando eu descobri que eu estava grávida, eu tinha acabado de mudar de área. Eu trabalhava na controladoria daqui, de 2022 até junho. Aí eu fui participar de um recrutamento interno para trabalhar na área de projetos. E quando foi em julho, eu passei pra essa área de projetos. Em junho mesmo, no final de junho, a minha data de admissão para outra área é primeiro de julho. Então eu fui pra área de projetos e descobri lá, quando eu estava lá, que eu estava grávida, mas, assim, eu tinha acabado de ser promovida, tinha acabado de mudar, eu era analista financeiro jr. Eu passei a ser analista financeiro pleno. Então, assim, surgiu o medo, né? “Poxa, acabei de mudar e tô grávida.” Porque, querendo ou não, vai ter que se ausentar algumas vezes para fazer consulta, vai ter que se ausentar seis meses para ficar de licença maternidade. Então, dá aquele medo, né? Quando eu voltei, eu fiquei assim, porque tinha uma pessoa tirando a minha licença maternidade quando eu voltei. Então, assim, a gente fica: “Será que vão me mandar embora? Será que vai dar certo?”. Mas assim, eu sempre tive dentro de mim algo assim: “Eu sei do meu potencial. Eu sei do que eu sou capaz, do que eu posso, do que eu faço. E eu sei que vai dar certo.” Sabe? No fundo, no fundo, eu sabia que ia dar certo. A gente fica com aquele medinho, mas, no fundo, no fundo, eu sabia que ia dar certo.
01:14:39
P1 - Dani, quais foram os seus maiores desafios aqui dentro?
R: Maiores desafios?
01:14:48
P1 - Na sua vida.
R: Eu acho que o primeiro foi sair da área operacional para vir para uma área administrativa. Esse foi um desafio. Porque quando eu cheguei aqui, a gente escuta muita coisa. Tem pessoas que ficam aqui, que trabalham há anos aqui, e falam assim: “Você nunca vai crescer, porque aqui você vai demorar para ter uma promoção.” Só que depois você vai olhar, você vai ver, aquela pessoa nunca estudou, se acomodou, entendeu? Então, assim, te dá um certo medo, mas, ao mesmo tempo, você vê que aquelas pessoas que estão reclamando são pessoas que se acomodaram na vida, entendeu? Então, assim, eu tive que me desafiar mesmo, né? Dizer assim: “Não, comigo vai ser diferente, eu vou conseguir.” Entendeu? Eu nunca me esqueço que teve uma vez que eu estava trocando uma válvula em cima de uns tanques ali e eu estava no sol, vestindo uma roupa amarela, que a gente precisa usar aqui pra fazer esse procedimento, e eu ali no sol, suada, dizendo assim: “É, eu vou sair daqui um dia. Um dia eu vou. Um dia eu vou.” E, assim, hoje, às vezes eu passo de carro e olho pra área, assim, eu fico olhando lá por cima dos tanques: “É, eu trabalhava ali em cima.” E tem pessoas que hoje vê a gente e nem acredita que a gente era da área operacional, sabe? Porque assim como eu, outras pessoas também conseguiram, sabe? Outras pessoas também. Na própria controladoria, quando eu entrei, tinha uma colega de trabalho lá, que é a Estefani, que ela também veio da área da operação, ela também foi operadora, entendeu? Então, assim, era uma inspiração também, sabe? A história dela também era inspiradora. Então, assim, são muitas pessoas que conseguiram vencer aqui, sabe? Então eu acho que o principal desafio foi mesmo sair da área operacional.
01:16:45
P1 - Era o que você queria?
R: Era o que eu mais queria, sair da área operacional e vir pra administrativa e conseguir melhorar a vida do meu filho, melhorar a nossa situação financeira. Esse foi o meu principal desafio. E, assim, além disso, a minha formação, né? Que também está tudo interligado, né? Para eu conseguir ir para a área da operação, eu precisava me formar. Então, foi tudo um desafio grande para mim.
01:17:15
P1 - E eu fico imaginando que deve dar muita realização trabalhar na área que estudou, não é?
R: Exato. E quando eu passei de assistente para inspetora de obras, a gestora que fez a minha entrevista lá no Porto, que hoje ela não trabalha mais aqui, que foi a Raquel, eu falei pra ela na entrevista assim: “Raquel, eu estou fazendo a entrevista para vaga, inspetora, e vou agarrar com unhas e dentes essa oportunidade. Mas eu queria deixar claro pra você que o meu intuito mesmo aqui é passar para área financeira, é trabalhar na minha área de formação. E eu queria deixar isso claro pra você, né?”. E ela falou pra mim: “Não, Dani, quando chegar esse momento, você pode até contar com o meu apoio. Você pode.” Então, assim, eu me senti super acolhida, né? Porque ela poderia muito bem dizer assim: “Ah, então não serve pra mim. Se ela está pensando em vir aqui, passar só um tempo e sair, não, então não serve pra mim.” Mas não, ela me acolheu. Ainda mais que ela fazia parte e era uma inspiração pra mim. Ela fazia parte da Rede de Mulheres também, daqui da Alunorte. Então, assim, ela abraçava todas as mulheres que queriam crescer. Então, assim, ela também foi uma pessoa bem importante aqui pra mim, porque eu estava só há sete meses na área dela e surgiu a oportunidade da controladoria e ela prontamente: “Não, você já tinha me avisado. Vai lá, seja feliz, sucesso. Se precisarem ligar pra mim, eu ainda vou dar boas referências de você.” Então, assim, foi bem legal, sabe? Foi bem mesmo.
01:18:52
P1 - E seus grandes aprendizados quais são?
R: Assim, meus grandes aprendizados é nunca desistir e sempre ter fé em Deus. Eu sempre fui uma pessoa de muita fé, sabe? Muito temente a Deus! Assim, eu lembro que quando eu passei aqueles momentos difíceis lá que eu te falei, da minha separação, quantas e quantas vezes eu acordava de madrugada e me ajoelhava, porque, assim, eu queria desistir da vida, né? E eu pedia pra Deus forças para eu conseguir seguir, que eu tinha uma criança que dependia de mim, entendeu? Então, assim, eu acho que ter fé também faz parte também, né? É muito importante, me ajudou muito, entendeu? E se não fosse Deus na minha vida, eu nem sei se eu estava aqui, onde eu estou hoje. Porque foi com muita ajuda de Deus, foi muito Deus, ser fiel a tudo que eu fiz, entendeu? E ter chegado até aqui, assim, quando eu olho pra minha história, eu sinto só orgulho, né? E eu sempre falo para o meu filho, e eu vou passar pro meu menor também, que ele tem um exemplo bem grande na frente dele. Eu falo para o meu filho, porque meu filho mais velho é um pouco preguiçoso pra estudar, sabe? E eu falo assim: Poxa, tu tens um exemplo tão grande na tua frente. Olha aí a tua mãe e tal. Tu viste como eu entrei na Alunorte e como é que eu estou hoje. Então estuda enquanto eu posso te ajudar também, enquanto eu estou aqui.” A gente não sabe o dia de amanhã, eu não sei até quando eu vou estar aqui pra ajudar ele. Então ele começou a trabalhar, esse mais velho, queria porque queria trabalhar. Eu trouxe o currículo dele para trabalhar em uma empresa terceirizada. Ele está trabalhando, mas eu disse pra ele assim: “Não te ilude com isso, tem que estudar, fazer faculdade, porque esse dinheiro aí, tu vais ficar só gastando, gastando, e quando tu vês, tu já passaste o teu tempo, tu tá com a idade e não estudou. Dizendo ele, que agora no meio do ano vai começar a estudar. E eu tô pegando no pé dele, fico perguntando: “E aí, vai ou não vai?”. Porque assim, é importante, né? Eu falo pra ele que se não fosse o estudo, eu não estaria aqui. Se não fosse os estudos, eu não estaria onde eu estou hoje. E graças a Deus e também, a Alunorte, né? Que me proporcionou muita coisa da minha vida, muita coisa que eu tenho hoje, foi muita, muita ajuda da Alunorte.
01:21:19
P1 - Você falou que seu irmão está trabalhando aqui agora?
R: Trabalha. Ele trabalha aqui na área de gestão. Ele trabalha aqui. Eu vou fazer 14, ele deve ter uns 10 anos já. Se eu vou fazer 14, eu acho que ele vai fazer uns 11, porque a diferença é de 3 anos, mais ou menos, eu, pra ele. A minha irmã mais nova também trabalhou aqui, só que ela teve uma bebê, e depois quando ela teve, não conseguiu ninguém para ficar com a bebê, e ela preferiu ficar com a filha dela. Aí ela entregou o lugar. Ela trabalhou aqui dois anos e alguma coisa, a mais nova.
01:21:59
P1 - E eles vieram seguindo os seus passos, né?
R: Sim. O meu irmão, quando pediu para eu trazer o currículo dele: “Não, mana, leva lá o meu currículo, porque eu quero trabalhar nessa empresa, que eu vejo que é uma empresa boa e tudo mais.” Aí trabalha aqui até hoje.
01:22:12
P1 - E ele estudou também?
R: Não, infelizmente não.
01:22:16
P1 - Mesmo com os benefícios para estudar?
R: Mesmo com os benefícios, ele põe muita dificuldade, porque ele trabalha de turno, né. Ele fala que turno é muito ruim pra estudar. Mas não é, pra mim, falta um pouco de força de vontade, porque várias pessoas do turno estudam, conseguem se formar, entendeu? É porque não quer mesmo, sabe?
01:22:39
P1 - E a sua irmã, você trouxe o currículo também?
R: Também.
01:22:43
P1 - Tantas pessoas te pedem isso?
R: Antes era mais fácil, porque o RH era aqui. Aí você conseguia trazer o currículo, botar no escaninho, e era tudo mais fácil. Hoje em dia o RH é em Belém, e hoje em dia as inscrições são feitas tudo online, ninguém recebe mais currículo assim. Naquela época era você que colocava o currículo, tinha um escaninho para colocar os currículos, você colocava e era mais fácil. Agora não, agora não tem mais isso. Então, eles entraram nessa época, que tu colocavas o currículo no escaninho e eles chamavam as pessoas para participar e tal. Mas hoje em dia é bem mais difícil, né? As inscrições são online, você não consegue mais trazer um currículo, assim. A pessoa, se quiser se inscrever, tem que se inscrever no site.
01:23:27
P1 - E tá aí pra todo mundo, né?
R: Pra todo mundo.
01:23:29
P1 - Você viu isso aqui crescer muito em 14 anos, Dani?
R: Muito. Nossa, cresceu muito mesmo. Muito mesmo. Melhorou muita coisa aqui.
01:23:40
P1 - O que você vê de mais diferente, assim, de antes e depois?
R: Primeiro, como eu te falei quando eu entrei, eram poucas mulheres. Poucas mesmo, no geral, tanto Hydro quanto terceirizadas. E hoje em dia você vê muita mulher já. Quando eu entrei, eu estava entrando na levada de mulheres para compor um quadro de, acho que era 5% na época, era algo assim. Hoje em dia a gente tem 25% de mulheres. Então, assim, aumentou muito, né? E assim, quando a gente vê essas áreas, por exemplo, o espaço da mulher, quando a gente vê as coisas que foram feitas. Hoje em dia você vê que os banheiros ali estão adequados para receber mulheres. Antes os banheiros não eram adequados para receber mulher, né? Eram mais homens que trabalhavam aqui. E hoje em dia você já vê os banheiros adequados, você já vê o Espaço da Mulher, você vê muitas mudanças aqui, pra melhor.
01:24:53
P1 - E no tratamento também?
R: Também. Na época que eu entrei estava passando de Vale pra Hydro, né? Eu entrei nesse período, ainda cheguei a usar uniforme marronzinho. E quando eu cheguei, pra você ver como a mudança de cultura é diferente, não era Hydro ainda, um gestor perguntou pra mim na entrevista se eu pretendia ter filhos. Então, hoje em dia, fazer um negócio desse é bem complicado. Não posso fazer esse tipo de pergunta, porque você está coagindo uma mulher. E meu filho estava com seis anos quando eu entrei, eu dizia: “Não quero ter mais filhos, não. Não quero ter tão cedo.” Sabe? Querendo o emprego, eu dizia não. Então, assim, mudou muito, você percebe que a gestão é outra, entendeu? Por isso que falo, “o jeito Hydro de ser é outro”, entendeu? A Hydro não tolera muita coisa, entendeu? A hidro, ela preza muito o respeito, né? Então, a mudança de cultura foi bem forte, impactou bastante, sabe? Tanto que, muitos gestores, desde a época que eu entrei, até agora, foram desligados por não acompanhar o jeito Hydro de ser, ter outro tipo de comportamento, entendeu? Então, assim, quem não se adequou saiu, entendeu? E a empresa constantemente a gente vê fazendo esse tipo de mudança. Quando a gente vê, às vezes, tem algum gestor que foi desligado por assédio, por assédio moral, por assédio sexual, qualquer tipo de assédio, a empresa não tolera. Então, assim, pode ser o melhor gestor, mas se não seguir o que a Hydro preza, o que a Hydro prega, a Hydro desliga mesmo.
01:27:15
P1 - E você como funcionária, você se sente como?
R: Olha, eu me sinto representada, sabe, porque você trabalhar em uma empresa que te respeita, que te respeita como pessoa, que te respeita como mulher, que te respeita como funcionária, que está preocupada com seu bem-estar, eu me sinto representada. Eu tenho muito orgulho de trabalhar aqui, porque a gente tem uma empresa que está do teu lado. Tipo, quando você não está se sentindo bem, você tem a quem recorrer, a quem conversar. Então, assim, eu me sinto muito bem trabalhando aqui. Tenho muito orgulho.
01:28:06
P1 - Porque a gente sabe que tem tantos funcionários, não é? Poderia ser mais um número.
R:Exato, poderia ser mais um número. Poderia nem se importar com o que você pensa, com o que, por exemplo, vou fazer uma denúncia, poderiam muito bem só escutar por um ouvido e sair pelo outro. Não, ela se preocupa de fato em te dar uma resposta, em te dar um feedback do que você está falando, sabe? Então, assim, é o que você falou, poderia ser mais um número, mas não, ela realmente se preocupa.
01:28:41
P1 - E o que você quer daqui pra frente? Estamos em 2025, o que você olha pra frente e que você deseja construir ainda?
R: Eu olho muito pra minha carreira. Hoje eu sou analista financeiro pleno, pretendo chegar a analista financeiro sênior, especialista, quem sabe uma coordenadora, uma supervisão. Eu pretendo crescer aqui. E força de vontade não falta, e nem vontade. Então, assim, eu sei que o caminho a seguir não é fácil, tem metas, tem objetivos, e eu vou correr atrás, pode ter certeza que eu vou conseguir. Quem sabe daqui alguns anos que vem de novo me entrevistar e eu estou, “Daniela é coordenadora, Daniela é…” Sabe?
01:29:38
P1 - Que legado você quer construir para sua história?
R: Um legado, assim, de sucesso, de dever cumprido, de conseguir chegar aonde eu queria chegar.
01:30:02
P1 - Hoje como é que tá sua rotina? Como que ela é?
R: Hoje eu trabalho na área de projetos, sou analista financeira de projetos. A Alunorte tem projetos de B e A, que se chamam Bauxita e Alumina. E a gente tem as carteiras, que a gente atende. Nós somos quatro analistas financeiros e a gente se divide dentro dos projetos de B e A. E a gente atende todos os projetos da planta. E, assim, a equipe é muito boa, a equipe que eu trabalho. O meu gestor atual é o Sebastião Jorge e, assim, é uma pessoa que te deixa muito à vontade para trabalhar. A equipe também é muito boa. Eu tenho um analista lá, que é tipo como se fosse um analista líder, que é o Moisés, também uma pessoa muito boa de se trabalhar. A equipe é muito boa, sabe? Então, assim, quando a gente trabalha numa equipe boa, a gente fica feliz, né? Eu sou muito feliz na área que eu trabalho. Essa área foi reestruturada há pouco tempo, antes, a gente, os analistas, eles atendiam o gerente de cada projeto, especificamente. Hoje em dia, a área se unificou e criou-se a área financeira, de gestão de projetos financeiros, e a gente atende todo mundo aqui, né? Como se fosse um núcleo que atende todas as áreas, sob a supervisão e coordenação do Sebastião Jorge. Antes era mais segregado, era mais separado, né? Os analistas atendiam meio que separadamente.
01:31:46
P1 - Agora é tudo junto?
R: Sim. Os ripostes eram diferentes. Agora não, os ripostes são todos iguais. É um padrão para todas as áreas, entendeu?
01:31:53
P1 - E aí você trabalha de segunda a sexta?
R: Segunda a sexta. Sábado e domingo eu não trabalho. Eu sou do horário do administrativo.
01:32:01
P1 - E aí a sua rotina fora daqui como é?
R: Eu chego em casa, dou uma atenção pro meu baby, depois eu vou pra academia. Eu preciso ir pra academia, porque parece que lá é o meu momento de distração, o momento de... Eu falo que a academia é uma terapia pra mim, né, é um momento que eu escolho pra me cuidar, para pensar um pouquinho em mim. O meu marido atualmente não está nem fazendo nenhum tipo de atividade, porque ele fica com o neném pra eu ir pra academia. Mas eu até queria que ele fizesse, sabe? Porque quando eu chego da academia, eu falo assim: “Tá aqui, dá pra você fazer agora.” Porque a academia fecha às 22 horas. Mas aí ele fala: “Aí, não quero.” Então eu falo assim: “Você está inventando desculpa. Você não vai porque você não quer.” Mas eu não abro mão, eu vou no meu horário. Eu só não vou quando eu fico, às vezes, um pouquinho depois do horário aqui, mas no geral, eu estou reservando pelo menos três vezes na semana pra ir lá, sabe? Na academia. Pelo menos três dias na semana eu estou indo.
01:33:05
P1 - E os finais de semana, o que vocês fazem?
R: Finais de semana a gente vai pra casa dos nossos parentes aqui, ou então, como eu te falei, às vezes eu vou a Belém. Mas nossos finais de semana sempre têm alguma coisa pra fazer, é muito difícil a gente ficar em casa. Às vezes eu até brinco assim: ‘Égua, no nosso final de semana eu queria ficar em casa pra fazer alguma coisa, resolver alguma coisa aqui na casa.” Mas é um que chama daqui, outro chama dali, falam: “Vem almoçar pra cá.”. Aí quando a gente vê, o final de semana já passou, porque é rápido que passa sábado e domingo, né? Mas é sempre o nosso final de semana, sempre em família.
01:33:37
P1 - Você falou que seu pai faleceu, né?
R: Sim, em 2021. Ele faleceu já tinha finalizado a covid, aquele pico de covid, mas ele não chegou a pegar covid. Ele era diabético renal crônico, por conta da diabetes ficou cego e amputou alguns dedos do pé. E assim, o meu pai, enquanto ele não tinha amputado os dedos do pé, ele tinha força de vontade de querer viver, ele falava que ia voltar a trabalhar e tudo mais. Mas quando ele cegou, ele ficou depressivo, ele se entregou pra doença, sabe? Quando ele cegou, quando ele perdeu a visão, ele se entregou totalmente para a doença. Aí já não conseguia mais andar e ficou bem debilitado. Aí ele começou a fazer hemodiálise e também foi cada vez mais se debilitando, se debilitando. Aí quando chegou um certo dia, ele morreu na casa da minha mãe, morreu na casa. Eu cheguei a levar ele nos finais de semana, às vezes eu saía daqui a hemodiálise dele era terça, quinta e sábado, eu ia daqui pra levar ele pra hemodiálise de sábado. No sábado antes dele falecer, foi até eu que levei ele para a hemodiálise. E nesse sábado que eu fui lá, eu o vi bem debilitado, aí eu falei pra minha mãe: “Mãe, está tudo certinho aí?” A questão que a gente pagava, né? “A funerária está tudo certinho aí? A funerária do papai está tudo certinho? Porque, mãe, não sei, mas eu acho que o papai não vai aguentar muito tempo.” Isso era um sábado, ele ia ter hemodiálise na terça e na quinta. Aí na terça-feira, eu vinha falando com ela todos os dias, na terça-feira ela falou que ele não estava legal pra ir pra hemodiálise. E ele não foi na terça. Aí quando foi na quinta-feira… aí na quarta eu falei com ela à noite, eu falei assim: “Como é que tá o papai?”. Ela: “Ah, minha filha, ele não tá muito bem não. Vou até ligar pra tua tia (que é a irmã dele) pra ela vir aqui falar com ele, pra ver se ele se desperta.” Aí ela ligou pra minha tia e falou com a minha tia assim, a irmã dele: “Olha, se tu quiser ver o teu irmão, vem ver ele, que eu não sei não, teu irmão ele tá…” Aí quando a minha tia foi na quarta-feira lá, dormiu de quarta pra quinta, na quinta-feira, que era pra ele ir para o dia de hemodiálise, ela foi dar a comida dele, ela e minha mãe, quando ela foi dar a comida, ele não estava querendo abrir a boca para comer, aí tirou o prato. A irmã dele foi tentar dar a comida pra ele, aí ele não estava comendo direito. A minha tia saiu assim do quarto, aí minha mãe foi lá no quarto com ele, ele segurou na mão da minha mãe e só suspirou assim, sabe? Parece um passarinho assim, respirando. Aí morreu nesta quinta-feira.
01:36:28
P1 - E o que ele te deixou de aprendizado de coisas que você segue pra vida?
R: Meu pai era uma pessoa muito justa. O meu pai era muito correto, assim, ele era oito ou oitenta, não tinha negócio de enganar, ele não gostava dessas coisas não e até hoje eu levo isso pra mim, ele não gostava de mentira. E eu sempre brinco com o meu filho, brinco não, falo com o meu filho mais velho, assim: “Me fala o que tu quiseres falar, mas me fala a verdade, porque a pior coisa é você descobrir depois que é mentira. Então assim, por mais que vá doer em mim, mas não minta, fale a verdade pra mim.” Então assim, eu bato muito isso na tecla com ele, de ser sempre verdadeiro, de falar sempre a verdade. Então isso é muito forte do meu pai, porque meu pai era uma pessoa muito justa. Então assim, isso ficou muito dele em mim, sabe? Ele não gostava de negócio de mentira não. E isso dele ficou pra mim.
01:37:34
P1 - Você está com uma vida tranquila hoje, Dani? Como é que tá?
R: Sim, eu estou com uma vida tranquila. Assim, graças a Deus!
01:31:45
P1 - Está curtindo o neném?
R: Eu costumo dizer que o Davi veio mesmo pra fechar com chave de ouro, porque ele tinha que vir, porque o que faltava pra completar a nossa felicidade era o Davi. Ele é muito alegre, ele é muito. O meu filho mais velho é apaixonado por ele, ele é apaixonado pelo Paulo também, então assim, a gente é muito feliz, sabe? Ele tinha que vir. Assim, a gente é muito feliz! O Julles já é avô, meu marido já é avô, ele tem dois netos e a gente brinca, assim, porque ele já é avô e o meu filho nasceu sendo tio já, né? Ele já nasceu sendo tio, porque quando ele nasceu já tinha uma sobrinha, que é a neta mais velha do Julles. Aí depois nasceu o outro neto do Julles, mas aí quando ele nasceu, o Davi já estava. Aí, assim, o Davi é tio de dois, só que um mais velho e um mais novo. É engraçado. A gente brinca, que a mais velha, que é a Mariana, nunca vai respeitar ele, porque ele é mais novo, né? A gente brinca assim: “Como é que tu vais tomar benção do teu tio, sendo que ele é mais novo?”. Mas é isso, é bem legal! E a minha enteada mora em Campina Grande, ela não mora aqui, né. A gente vai até lá visitar ela, a gente vai sair de férias. Sempre que a gente pode, a gente tá lá visitando ela. Mas é bem legal, assim, a história, sabe?
01:39:15
P1 - Você tem uma diferença grande do Julles ou não?
R: Seis anos, são seis anos.
01:39:21
P1 - É que ele teve filho mais novo, então?
R: Sim. Ele teve a Juliane com 20 anos.
01:39:29
P1 - E aí, o que que você já teve ao longo desses 14 anos de trabalho, sei lá, foi em show, foi viajar, teve algumas oportunidades, assim, na vida?
R: Sim.
01:39:40
P1 - Que você usufruiu, né?
R: Sim, eu sempre falo que todas as férias da gente, a gente precisa viajar, descansar, porque logo que eu conheci o Julles, ele não viajava, não ia pra nenhum lugar, não sei o que. Aí eu falava: “Não, férias é pra gente curtir.” Então todas as férias a gente já programa pra viajar, pra conhecer algum lugar. Antes do Davi nascer a gente saia mais à noite, a gente ia mais pra show, essas coisas. Mas depois que o Davi nasceu a gente deu uma parada, assim, porque é um bebê, precisa de atenção. Mas sempre que a gente pode, a gente dá uma voltinha, a gente arruma alguém pra ficar com o Davi de noite. Mas ele é muito apegado ao Davi, o Julles não gosta muito de sair e deixar o Davi com ninguém. Aí a gente acaba dando uma pausa na saída. Mas a gente já se divertiu muito. Por exemplo, aqui na Hydro teve um show, que foi de algum aniversário da Alunorte, que veio o A-há pra cá. Esse show foi bem marcante na vida de todos os funcionários, foi um show que teve no Cabana Club, mexeu com toda a cidade, veio gente de Belém, porque o A-há é uma banda internacional. Então, assim, nesse ano que teve esse show, que foi promovido pela Alunorte, teve muita gente, foi bem lotado. Nessa época ele era funcionário ainda, o Julles. E foi bem legal essa festa, a gente já estava junto também, foi bem legal essa festa.
01:41:13
P1 - E ele saiu, mas ele te apoia a continuar?
R: Sim. E ele tem vontade de voltar também, ele tem vontade de voltar.
01:41:22
P1 - Aqui ele trabalhava em qual área mesmo?
R: Ele trabalhou 21 anos aqui. Ele era da área da clarificação. 21 anos de Alunorte quando ele saiu. Foi o primeiro emprego dele. Ele ainda trabalha aqui, só que é em uma empresa terceirizada. Entendeu? Ele trabalha em uma empresa terceirizada. Ele ainda trabalha aqui. E ele trabalha lá onde eu trabalho, lá nesse prédio, só que ele cuida de outro projeto, ele trabalha com outro projeto. Mas ele trabalha aqui na Alunorte.
01:41:52
P1 - E a vontade dele é?
R: Passar a ser Hydro de novo.
01:41:56
P1 - Ele fala isso?
R: Ele tem vontade. Fala. Ele se inscreve direto nos processos aí. Quem sabe uma hora vai dar certo.
01:42:04
P1 - Você tem algum sonho, Dani?
R: Eu tenho o sonho de fazer uma viagem internacional, que eu nunca fiz.
01:42:11
P1 - Para onde?
R: Estados Unidos. Tenho vontade de conhecer a Disney, tenho vontade. Quem sabe um dia.
01:42:22
P1 - Além desse sonho, tem outro?
R: Além desse sonho? Ah, eu acho que eu tenho o sonho de ver o meu filho formado, entendeu? Assim, que Deus me guarde, mas quando eu me for desta vida, eu queria que ele estivesse bem encaminhado, sabe? Não só a questão de deixar uma casa pra ele, mas deixar ele bem estruturado na vida como profissional, entendeu? Eu tenho esse sonho de ver ele um engenheiro, entendeu? O Paulo.
01:42:53
P1 - E o Davi?
R: O Davi também, né? Acho que o sonho de uma mãe é deixar os filhos encaminhados. O Davi tem um caminho bem longo pela frente, ele só tem dois aninhos. Mas também, a gente tem um sonho de deixar nossos filhos da melhor forma possível e com certeza deixar também o Davi encaminhado também é um sonho.
01:43:18
P1 - E como é ser mãe com essa diferença?
R: Nossa, é tudo de novo. Tive que aprender tudo de novo, porque são 17 anos de diferença, 17 anos. Quando o Davi nasceu, o Paulo estava com 17 anos, então, ixi, eu não sabia mais muita coisa. E assim, muita coisa também mudou, muita coisa mudou, tipo, quando o Paulo era criança, eu passava talco no Paulo, hoje em dia, os pediatras não aconselham mais passar talco, entendeu? Então, assim, muita coisa mudou. E assim, foi uma experiência também bem única, porque parece que tu aprendias tudo… parece não, você aprende tudo do zero de novo. Parece que eu não sabia mais cuidar e segurar um bebê, né? Parece que você aprende tudo de novo, literalmente. Tipo assim, eu não sabia mais nada, nada. Recomecei.
01:44:18
P1 - Que legal. Agora parou?
R: Parei. Eu não sou operada, mas eu parei. Eu não vou ter, porque eu tive normal de novo, então, assim, eu não queria fazer cirurgia, porque eu não queria ficar com cicatriz e tudo mais. Mas, assim, eu não vou ter mais, tá? Parou mesmo, porque eu não tenho mais pique pra ir atrás de menino e o Davi corre que só.
01:44:44
P1 - Agora é cuidar desse aí, né?
P1 - Agora é cuidar do Davi. Davi corre demais.
01:44:47
P1 - Tem alguma história que você queira me contar que a gente não contou? Alguma coisa importante pra você?
R: Deixa-me pensar aqui. Eu falei do papai... Ah, acho que uma história curiosa que aconteceu aqui comigo, quando a minha irmã estava trabalhando aqui, foi assim: ela foi contratada para trabalhar de turno também, e ela estava com 15 dias de Alunorte, mais ou menos. Eu estava trabalhando lá em cima do IDAR, lavando as sondas e ela me ligou. Ela ia pegar de 15h neste dia. Ela me ligou e falou assim: "Mana, eu estou com uma dor, uma dor!”. Eu falei: “Que dor? É cólica?”. Ela disse: “Não, não é cólica.” Eu peguei e falei assim: “O que que é?”. Ela disse: “Dani, uma dor que eu não sei nem te falar. É uma dor aqui na região da barriga. Não sei o que é.” Aí eu falei: Tá.” E isso era mais uma hora da tarde e ela ia pegar de 15h. Acho que era meio dia, uma hora, e ela ia pegar de 15h aqui. Aí eu falei: “Tá, toma um remédio aí e te deita um pouco. Vê se fica quietinha até perto do horário que tu vens trabalhar.” Aí eu desliguei o telefone e continuei lavando as sondas. Depois ela me ligou de novo, já chorando muito, soluçando: “Dani, a dor não passa de jeito nenhum. O que eu faço? Eu tenho que ir trabalhar.” Aí eu falei assim: “Calma.” Aí eu liguei para o meu gerente, que era o Julles. Eu liguei pra ele e falei assim: “Julles, a minha irmã está doente, está com uma dor, assim, assim, assim. Eu vou precisar ir lá na vila ver o que que tá acontecendo. Vou ter que chamar ambulância, alguma coisa.” Aí ele: “Não, vai lá. Vai lá ver o que que a sua irmã tem.” Aí beleza. Aí eu fui. Quando cheguei lá na vila, ela estava deitada na cama com muita dor. Aí eu fui, peguei o carro e fui lá no bombeiro. Chamei o bombeiro, o bombeiro foi lá para buscar ela. E eu moro assim, na rua atrás do hospital, só que não dava pra ela ir andando, nem nada. Aí eu levei o bombeiro lá. O bombeiro chegou. Aí pra levar ela pra lá foi um sacrifício, porque ela gritava muito de dor. Aí botou ela na máquina. Aí chegou no hospital, começou a fazer os exames, viu se não era aquele negócio de apendicite, que faz o toque, tudinho. Aí não era, né. Aí ficou lá um tempo esperando, fazendo os exames e nada, e nada, e nada. Sei que foi passando o tempo, foi passando o tempo, eu cheguei lá uma hora e falei assim lá pro médico, falei assim: “Olha doutor…” Eu via que não estava passando, só amenizava, chega os lábios dela já estavam brancos assim, sabe? Ela estava com muita dor. Aí eu falei: “Doutor, me mande pra Belém, porque a minha irmã está com muita dor e ela não está se aguentando.” E ela não tinha nem o cartão ainda. Eu tive que ligar pra cá, pedir um número para a assistente social. A assistente social me passou um número. Ela foi atendida só com o número. Ela não tinha cartão ainda, ela só tinha 15 dias de empresa, não tinha chegado o cartão dela ainda. Aí eu falei para o médico, eu falei: “Me mande para Belém, que a minha irmã não está aguentando de dor. Se acontecer alguma coisa com ela aqui, eu vou lhe culpar.” Falei isso mesmo pra ele, fui curta e grossa com ele. Aí ele: “Tá, tá, vou mandar.” Eu já tinha ligado pra minha mãe lá em Belém, eu disse: “Olha, mãe, me espera lá no hospital Belém. A Ellen tá assim, assim, assim. Tô indo de ambulância com ela.” Aí chegou, botaram ela na ambulância, fomos para Belém. Aí quando chegou próximo do bombeiro aqui, que é nessa rua principal lá, a Ângela gritava de dor. E nisso mandaram só eu e ela na ambulância, e o motorista. Aí eu falei para o motorista: “Volta que ela não vai gritando daqui até lá.” Cheguei lá de novo ao hospital, falei: “Moço, coloca alguma coisa pra ela ir tomando, um soro com remédio, alguma coisa, porque a menina está gritando aqui de dor. Até ela chegar lá em Belém…” Aí quando eu voltei lá, ele colocou um soro com remédio, e já mandou uma enfermeira junto. Aí chegou lá em Belém, a minha mãe já estava lá esperando a gente. Quando foi para sair da maca, outra gritaria de dor também, que ela estava com muita dor. Aí eles refizeram todos os exames de novo. Aí a médica falou pra mim e para a minha mãe, falou assim: “Olha…” Chamaram a médica de plantão pra fazer outra ação, alguma coisa assim. Ela falou: “Olha, a sua filha está com uma mancha preta assim, na parte do útero, tipo, eu não sei lhe dizer o que é, porque só parece um negócio preto. Pode ser qualquer coisa, quando a gente abrir.” Ela foi curta e grossa. “Pode ser um câncer, pode ser não sei o que, não sei o que, não sei o que.” Aí tá, a minha mãe já ficou preocupada, né? Aí: “E ela vai ter que fazer essa cirurgia de manhã, porque o médico está vindo e tal.” Aí o médico veio de manhã cedo pra fazer a cirurgia. Era um cisto no ovário dela que tinha estourado. Aí o médico falou que se demorasse mais duas horas de tempo, ela poderia não resistir, porque ele estava estourado já. Eu lembro que ele mostrou a foto pra gente na época. É um negócio horrível, assim, tipo uma poça de sangue, sabe? Muito feio mesmo. Isso também ficou bem marcado, porque, e se ela não tivesse plano de saúde? Se ela não tivesse entrado pra Hydro? Será que a minha irmã estava viva hoje? Eu tenho certeza que não. Então, mais um motivo pra eu ter gratidão pela Hydro, sabe? Pôr a minha irmã ter tido a oportunidade de ter um plano de saúde, foi curada, né? Assim, se não fosse isso, se não fosse ela ter o plano, ela não teria feito uma cirurgia, porque ela teria ido para o SUS da vida, o SUS ia só passar remédio pra mandar pra casa, entendeu? E sabe lá Deus o que teria acontecido. Então isso foi uma coisa que ficou bem marcada. Graças a Deus, ela se recuperou muito bem. Depois voltou a trabalhar, né? E isso ficou bem marcado.
01:50:39
P1 - Nossa, que susto, né?
R: Foi um susto, assim, nossa! Imagina só? Ela tinha 15 dias de empresa. 15 dias.
01:50:51
P1 - E aí ficou tudo bem na época com o trabalho dela, com o seu, que precisou estar lá?
R: Ficou tudo bem. A empresa super acolheu, mandaram a assistente social ir lá no hospital, quando ela ficou internada, mandaram a assistente social lá para perguntar como ela estava e tudo mais. Teve todo o acompanhamento.
01:51:07
P1 - Pra você, o que significa fazer parte dos 30 anos?
R: Significa… deixa eu ver aqui… significa… deixa eu ver como é que eu posso te falar. Eu acho que significa um marco, assim, um marco na vida. Eu tenho muito orgulho, acho que a palavra é orgulho, de fazer parte desses 30 anos, sabe? De poder falar da minha história, de poder ter contribuído de alguma forma para o crescimento da empresa. Porque, assim, cada um de nós faz parte da construção. A Alunorte é hoje a maior do mundo por conta de muitos funcionários, de muita colaboração, de muitas mãos. Então, assim, o significado pra mim de fazer parte desses 30 anos é o orgulho. Eu tenho orgulho de fazer parte da história da Alunorte, de poder dizer que desses 30 anos, 13, quase 14, eu faço 14 em abril, eu estive e estou aqui, entendeu? Então, assim, é bem gratificante fazer parte dessa história. Eu quero contar essa história para os meus netos, dizer o quanto foi importante pra mim. E, assim, eu entrei aqui num momento bem difícil da minha vida, então, assim, são várias marcas. Você olha a sua vida como um filme, de como eu cheguei aqui e como eu estou aqui hoje, entendeu? Eu lembro que quando aconteceu tudo isso na minha vida lá atrás, eu questionava muito Deus, dizia assim: “Por que que eu estou passando por isso? Eu sou uma pessoa tão boa, sou uma pessoa que não faz mal pra ninguém.” Mas depois você passa a entender que Deus tem propósito melhor na sua vida, que eu precisava ter passado por isso pra chegar onde eu cheguei hoje, entendeu? Então, assim, é gratidão mesmo e orgulho de fazer parte da história.
01:53:31
P1 - De ser uma das reconhecidas para estar aqui contando essa história.
R: Nossa! Eu nem acreditei quando eu vi o e-mail da Silvia, quando ela me chamou no Timing pra perguntar se eu gostaria de participar. Nossa, que orgulho! Que emoção! Assim, eu fiquei muito emocionada na hora, sabe? Porque, assim, dentre tantas pessoas, imagina? São muitos funcionários, são dois mil e poucos funcionários. Dois mil e pouco é 1% 25 pessoas, é 1% do efetivo. Então, assim, estar dentro desse 1% para fazer parte do livro, para contar a minha história, nossa, é muito gratificante. É surreal fazer parte disso.
01:54:27
P1 - E saber que a sua história agora vira um acervo, fica lá disponível no site do Museu da Pessoa. Mas a sua história inteira está lá, guardada.
R: Exato. É verdade, assim, eu vou poder depois dizer para os meus filhos, para o meu neto ir lá ler, assistir…
01:54:48
P1 - Te ouvir.
R: Exato. Nossa, é muito legal! Assim, é inexplicável a sensação. É uma sensação muito boa de poder contribuir, de poder fazer parte. Como eu estou te falando, 25 pessoas é 1% do total. Então, assim, é coisa de Deus, assim, sabe? É Deus mostrando que ele está presente, sempre!
01:55:22
P1 - E você chegou aqui de que jeito?
R: Eu cheguei aqui em um momento, como eu te falei, bem triste da minha vida.
01:55:28
P1 - Não, hoje.
R: Ah, hoje. Ai, eu cheguei hoje aqui, eu falei assim: “Gente, eu não estou acreditando que eu vou fazer essa filmagem.” Eu falei para o meu marido em casa, falei assim: É hoje a filmagem.” Então, ele: “Vai lá, amor, vai dar tudo certo.”
01:55:43
P1 - Estava nervosa?
R: Estava, estava. Agora eu estou mais tranquila, mas eu estava bem nervosa. Porque a gente fica imaginando o que será que vai ser, como será que vai ser, entendeu?
01:55:53
P1 - Como é que você está se sentindo agora?
Ah, tô me sentindo aliviada, tô me sentindo confortável, tô me sentindo bem, assim, a entrevista tá sendo bem tranquila, tá sendo leve, tô falando da minha vida, assim, como realmente ela foi, né, como realmente aconteceu. Então, assim, tá sendo bem legal, tô muito satisfeita.
01:56:15
P1 - Que bom. E é Barcarena que você quer ficar?
R: É Barcarena. Eu sempre falo quando eu vou lá em Belém visitar minha mãe, eu já quero vir embora, porque eu já me acostumei aqui, entendeu? Já me sinto cidadã barcarenense, é como se eu tivesse nascido aqui. Eu gosto muito daqui, é uma cidade que me acolheu, que a minha história continua aqui, entendeu? Começou aqui, a parte da minha vida conjugal começou aqui, eu tive o meu filho, logo na sequência eu vim pra cá. Então, assim, é uma cidade que eu tenho muita gratidão também, sabe? Foi aqui que tudo começou, a minha vida, a minha carreira profissional, entendeu? Eu já estava aqui. Então, assim, eu tenho só gratidão também pela cidade de Barcarena.
01:57:16
P1 - Que bom. Dani, obrigada!
R: Eu que agradeço. E se precisar de mais alguma coisa.
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