Projeto Memória Petrobras
Depoimento de Ana de Holanda
Entrevistada por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PETRO_CB613
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Boa tarde. Eu gostaria de começar esta entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Ana Maria Buarque de Holanda. Não uso esse nome. Eu uso Ana de Holanda, que é meu nome artístico. Nasci em São Paulo, em 12 de agosto de 48.
P – Ana, você pode contar assim de uma maneira rápida como é que foi sua trajetória na área cultural, como é que você chegou, quais foram seus primeiros trabalhos?
R – Olha, eu trabalho com música, sei lá, quer dizer, aos poucos foi virando trabalho. Eu vivi no meio de um mundo cultural. Talvez a minha formação dentro de uma casa, filha de um historiador e que tinha uma mentalidade muito aberta, convivia com artistas plásticos, com músicos, escritores, poetas. Então, era uma tendência natural essa ligação com o mundo cultural e artístico. Eu, quer dizer, um dos meus irmãos mais velho, ele logo entrou profissionalmente na área da música. Quase no susto, de uma certa forma, mas isso aconteceu. Ele cantava muito com a gente. Nós fazíamos vocais, existia essa brincadeira em casa das irmãs menores com ele, no caso que era o Chico e as irmãs menores que eram a Ducarmo, eu e Cristina. E, quando aconteceu, eu talvez até adiei um pouquinho essa tendência a entrar no mundo da música, que teria sido bem anterior talvez. Mas o sucesso dele assustou um pouco. Mais tarde eu comecei a trabalhar com artes plásticas, com galerias, com antiguidades, com esse mundo de antiquários e de artes plásticas.
P – Isso em São Paulo?
R – São Paulo. Depois também um pouco de tradução. Eu fiz traduções. Trabalhei na área, um pouco, de literatura. Estudei teatro. Sempre fazendo música, que dizer, cantando, fazendo vocais e...
Continuar leituraProjeto Memória Petrobras
Depoimento de Ana de Holanda
Entrevistada por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista número PETRO_CB613
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Boa tarde. Eu gostaria de começar esta entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Ana Maria Buarque de Holanda. Não uso esse nome. Eu uso Ana de Holanda, que é meu nome artístico. Nasci em São Paulo, em 12 de agosto de 48.
P – Ana, você pode contar assim de uma maneira rápida como é que foi sua trajetória na área cultural, como é que você chegou, quais foram seus primeiros trabalhos?
R – Olha, eu trabalho com música, sei lá, quer dizer, aos poucos foi virando trabalho. Eu vivi no meio de um mundo cultural. Talvez a minha formação dentro de uma casa, filha de um historiador e que tinha uma mentalidade muito aberta, convivia com artistas plásticos, com músicos, escritores, poetas. Então, era uma tendência natural essa ligação com o mundo cultural e artístico. Eu, quer dizer, um dos meus irmãos mais velho, ele logo entrou profissionalmente na área da música. Quase no susto, de uma certa forma, mas isso aconteceu. Ele cantava muito com a gente. Nós fazíamos vocais, existia essa brincadeira em casa das irmãs menores com ele, no caso que era o Chico e as irmãs menores que eram a Ducarmo, eu e Cristina. E, quando aconteceu, eu talvez até adiei um pouquinho essa tendência a entrar no mundo da música, que teria sido bem anterior talvez. Mas o sucesso dele assustou um pouco. Mais tarde eu comecei a trabalhar com artes plásticas, com galerias, com antiguidades, com esse mundo de antiquários e de artes plásticas.
P – Isso em São Paulo?
R – São Paulo. Depois também um pouco de tradução. Eu fiz traduções. Trabalhei na área, um pouco, de literatura. Estudei teatro. Sempre fazendo música, que dizer, cantando, fazendo vocais e tal. Agora, eu acho que foi bom porque eu fui ampliando horizontes no mundo artístico, no mundo da criação. Então isso me possibilitou assim, eu acho que talvez um conhecimento da área cultural, da área musical também, muito grande. A tendência sempre maior pra música. Sempre mais voltada pra música. E eu fui Secretária de Cultura em Osasco. Eu trabalhei também em São Paulo, _____ vários, alguns departamentos. Enfim, vários projetos na Prefeitura de São Paulo, na Secretaria de Cultura de São Paulo. E também algumas coisas como produtora mesmo, autônoma, na área cultural. E aí eu fui convidada, esse ano, quer dizer, e isso independente da carreira que eu fui desenvolvendo há mais de 20 anos e tal na área musical. Tenho vários discos gravados. Cantora, compositora.
P – Você compõe também?
R – Também. Eu demorei muito pra compor. Quer dizer, compunha e jogava fora. Mas pra assumir esse lado compositora, tenho várias obras aí, parcerias e tal, gravadas e tal. E, o ano passado, eu fui convidada pra dirigir o Centro de Música da Funarte. E aí pra mim foi um novo desafio. Quer dizer, no âmbito Federal eu nunca tinha desenvolvido um projeto grande. E aí eu acho que foi esse o meu encontro inclusive com a Petrobras pra desenvolver o Projeto Pixinguinha.
P – Então, antes da gente chegar no Projeto Pixinguinha, como é que você concilia também esse lado de produtora com esse lado mais artístico, ser o mesmo, cantora, compositora?
R – É difícil conciliar. Eu realmente sempre tive, eu acho que de uma certa forma, o lado da cantora e compositora, de uma certa forma, sai às vezes prejudicado. Eu não tenho deixado de cantar, eu não tenho deixado de estar sempre em contato com músicos, acompanhando, quer dizer, isso pra mim é um alimento. Eu acho que a arte me alimenta de mil formas, acompanhando, vendo. Me estimula, inclusive, a usar também esse meu lado de cantora. Mas, a vida inteira, eu tive um pouco de problemas porque a gente se envolve no trabalho e às vezes necessita de um tempo enorme, dia e noite. E a coisa da música, da criação, às vezes você precisa ter um tempo vazio mesmo, pra vir, pra se manifestar. Então, eu tenho sofrido algumas dificuldades. Mas to cantando, eu to conseguindo fazer. Tenho algumas obras, novas parcerias com Elvis Vilela, Niveri (?), Nivaldo Ornelas, enfim, alguns músicos muito bons têm me dado músicas pra letrar. Isso é muito estimulante. Agora, inclusive quando eu vim aqui pra, quando fui convidada, o Grace me convidou pra Funarte, eu não queria aceitar não. Eu não queria porque justamente eu fiquei com esse medo, com esse receio. Mas o Grace falou: “Não, o Gil não vai parar. Eu não estou agora atuando mas, se tiver oportunidade, eu vou atuar. E eu acho que você também tem que continuar na música porque somos pessoas que sempre conhecemos o outro lado, quer dizer, o lado do produtor cultural, daquele que está fazendo. Mas somos pessoas que temos uma visão política também. Uma visão do que falta, do que é necessário. E às vezes o gestor puro, aquele que só pensa de uma forma distante, não sabe certas sutilezas que existem. E a realidade mesmo de quem está, a necessidade, a liberdade que tem que existir na criação. Enfim, a oportunidade de se criar e de se respeitar o que já foi feito, o que existe. Essa troca permanente. Eu acho que esse processo da criação às vezes falta ao gestor. Então, eu acho que essa aliança, essa visão que nem sempre se dá mas em alguns casos dá muito bem. Essa aliança eu acho que, o Gil por exemplo, tem isso, o Grace tem isso, de saber compreender os dois lados. Isso é muito importante.
P – Isso é legal. Ana, você falou que, antes de você assumir o seu lado de compositora, você compunha e jogava fora e tudo. Aquela pergunta bem típica, que você já deve ter ouvido, mas eu não vou me furtar de fazer. Pesou ter irmão e irmã? Você se sentia assim, se cobrava você mesma?
R – Olha, eu vou falar uma coisa. Quando eu, realmente sempre pesou, a dúvida, agora isso pra mim já ta muito claro. Nessas alturas da vida todo o, as minhas hesitações, talvez, em assumir. Eu talvez tivesse, eu cantava sempre com as minhas irmãs, mesmo depois. Quer dizer, eu estou falando das irmãs, eram as menores. E eu já era bem mais velha, já morava fora e tal. E a gente cantava com o Chico, ar irmãs menores e tal. E aí, quando ele estourou, foi uma coisa assustadora. E eu continuava a fazer de uma forma amadora com as minhas irmãs. Fazíamos vocais e tal. Eu tinha um grupo amador mesmo, tal, lá em São Paulo. Mas, de uma certa forma, inibiu um pouco talvez um processo que eu pretendia, inclusive tinha um trabalho com a Cristina específico aí. A Cristina foi convidada pra fazer um disco, aí também aconteceu muitas lágrimas. Aí deu aquela assim de “Não, vou fazer outra coisa porque a oportunidade já foi, já tem muita gente na música. Vou ficar a irmã de Chico, a irmã de não sei.” Essa coisa me incomodava um pouco. E eu resisti muito mesmo. Agora, chegou uma hora, tem tal hora na vida que a gente balança, quer dizer, eu adoro música, eu gosto de música, eu fazia vocal pra muita gente e tal. Mas não assumi o lado solo. Então teve uma hora que eu, me bateu essa e eu disse: “Não, eu vou assumir.” Eu acho que não foi fácil mesmo, não foi. Mesmo porque existia muito essa desconfiança assim, até, pra mim e pras outras também, pra Miucha e Cristina. A Miucha já tinha voltado, também tava fazendo a carreira dela. As irmãs do Chico são isso. As irmãs do Chico é uma instituição só. As irmãs do Chico.
P – Um bloco.
R – É um bloco. E cada uma era uma, cada uma buscando o seu caminho. O registro vocal de cada uma é diferente e tal. Mas isso se chama ‘as irmãs do Chico’. Então, que é fulana, que é beltrana, as cantoras novas que estão pintando por aí. E as irmãs do Chico. Então, houve uma certa desconfiança, como se fosse um certo oportunismo da nossa parte. E não era isso, porque a gente cantava lá em casa muito antes de se pensar até em cantar profissionalmente. Era uma relação muito constante isso, essa troca, essa coisa.
P – na própria casa mesmo?
R – Na casa. E as pessoas que iam lá em casa, quer dizer, Vinicius era muito amigo do meu pai. Ele ia lá em casa. Ele é, nossa, me lembro de muitos músicos, do Ba (?), da Laride (?), pessoas maravilhosas. Nossos deuses indo lá em casa. Então, essa proximidade também nos atraia muito pra música. Agora, eu adiei muito essa, assumir o lado cantora. Depois, e realmente tinha um problema. Eu vivendo em São Paulo. São Paulo fica muito à margem do mundo da música popular. Fora pop, rock e tal, tem uma, quer dizer, se cria muito. Mas a projeção maior ta no Rio de Janeiro. Ta em quem está vivendo no Rio de Janeiro. E eu resisti um pouco. Daí eu ter feito outras coisas, até assumir estes trabalhos públicos voltados pra área cultural. Mas não injetei tanto, que eu devia ter injetado um pouco mais de energia na minha carreira mesmo musical. A compositora, então, demorou muito mais. Porque, assim, cantar tudo bem. Agora, compor? Aí tem um peso no sobrenome muito forte mesmo. Então, no disco que eu gravei em 2001, aí eu tomei essa coragem também. São aqueles lampejos na vida que a gente diz assim: “Não, é agora ou...”
P – Maturidade, né? Essa discussão é tão boba também.
R – É, é verdade. E eu fazia, mas eu jogava fora. E depois disso, e eu gosto muito de escrever também. Tenho pouca música e mais letra. Mas eu acho que esse processo de compor, você tem que ter uma sensibilidade musical, você tem que ter um bom ouvido pra perceber o quê que ta dizendo aquela música. Quer dizer, ela me remete a algum sentimento de alegria, de tristeza, uma certa nostalgia, eu não sei. E você tem que buscar as palavras. Porquê que ela sobe aquele momento? O quê que você tem que dizer com essa ênfase? Porquê que ela ta tão grave? Então, essa busca pra mim é uma coisa que realmente a música vai me conduzindo e vai me levando. Então, é uma coisa muito gostosa. Mas demorei muito. E to percebendo assim muita gente, muitos compositores estão me propondo trabalhos, parcerias. Isso ta sendo muito bom porque eu vejo que todos esses meus bloqueios realmente não tinham motivo de ser. Quer dizer, ta tudo certo.
P – Eu penso que você chegou em tempo. Não pensa que perdeu muito tempo. Ta em tempo.
R – Sempre tempo, né?
P – É. Ana, então vamos falar um pouco do Projeto Pixinguinha. Aí você assume lá na Funarte.
R – Eu assumi e falei de cara quando conversei com Grace. Tive essa conversa. Eu não queria assumir por causa justamente de eu estar, trabalhava muito mais com música e, assim, fiquei com um certo medo de, mais uma vez, interromper. Eu fiquei com medo. Mas aí eu comecei com a Grace. E a Funarte já foi o máximo. A Funarte fazia tudo. Aí comecei a falar dos projetos. E, de todos eles, sem dúvida o Pixinguinha foi um dos projetos mais bem bolados, dos projetos mais amplos. O mais amplo que já existiu na música.
P – Quem bolou mesmo? Por quem foi bolado?
R – E, na realidade, ele foi criado pelo Hermínio Bello de Carvalho, em 77. Ele mesmo conta, quer dizer, ele diz: “Não, a idéia não era bem minha, era do Albino Pinheiro.” Quer dizer, que desenvolvia aqui no Rio o Projeto Seis e Meia. De juntar um show de um artista mais veterano com um novo. Então, a partir dessa idéia, o Hermínio criou o projeto, que trabalhava na Funarte como funcionário, dirigia a área de música popular. Trouxe pra Funarte e pra levar pro Brasil. Uma circulação pelo Brasil. Quer dizer, em 77, claro, era tudo muito mais difícil fazer. E foi, teve. Ele conseguiu um crédito até da direção do Ministério e tal pra desenvolver esse projeto. Foi um sucesso total. Quer dizer, um projeto que lançou nomes hoje internacionais. Quer dizer, uma Zizi Possi, um Djavan. Até a Cássia Heller, Fagner, grandes...
P – Era uma _____, né?
R – Elba Ramalho. Fantástico. E também com os veteranos. Quer dizer, o Cartola participou, a Elizete Cardoso. A Nara Leão chegou a fazer. Enfim, grandes músicos. João do Vale, Gonzagão, Gonzaguinha. Grandes artistas puderam levar a música brasileira pra várias partes do país. Até hoje, quer dizer, a gente voltando pro Projeto Pixinguinha, não precisou nem se divulgar tanto o projeto. O nome já atrai. Que as pessoas têm lembranças de que viu na primeira vez fulano de tal quando passou lá, sei lá, em Aracajú. Foi aqui que eu vi pela primeira vez fulano. Porque essa oportunidade de se levar esses artistas ao vivo, quer dizer, os grandes nomes assim de projeção, de mídia. Tudo vão, claro. Ou então outros nomes vão para teatros caros, clubes e tal. E, pro público mesmo, assim, com menos poder aquisitivo, fica mais difícil. Então, esse projeto assim é muito democrático. Porque preços, ou até no máximo até R$ 5,00, ou de graça e tal. A gente trabalha nessa parceria com as Secretarias de Cultura Municipal, Estadual. Esse projeto, quer dizer, ele teve, de 77 pra cá ele teve várias transformações. Parou algumas vezes.
P – E teve muita dificuldade até financeira mesmo, né?
R – Financeira. Ele foi parando por, quer dizer, tem questões políticas quando, uma época, foi suspensa. Quando o Collor acabou com a Funarte.
P – Uma mudança de Governo.
R – Parou. Depois voltava. Mas anos 90 foi muito prejudicado. Quer dizer, foi mais no final dos anos 70 e 80. 90 ele foi meio capengando, até que parou definitivamente. Agora não. Mas parou em 97. Inclusive, eu iria participar. Tava já até com a programação, material e tal, impresso, quando foi suspenso por falta de verba. Então, esse projeto ficou assim no ar. Tinha gente que tava pra sair, pra viajar daqui a 15 dias. E parou. Foi avisado de uma hora pra outra que não ia ter mais nada. Bom, agora, quando eu assumi, então eu, lembrando pro Grace dos grandes projetos, eu falei: “Mas, de todos mesmo, era o Pixinguinha.” Esse projeto, mais do que nunca, ele se faz necessário. Porque a televisão, as rádios, a gente sabe como que é o processo. Quer dizer, eles estão muito fechados pra diversidade da música brasileira. Eles estão muito num trabalho já de mercado, das grandes gravadoras e tal, tocando o tempo todo. Então, a diversidade, a riqueza da música brasileira não tem oportunidade. E, então eu tenho aquela esperança de sair do país. Mas o projeto, eu acho que a gente foi até usando muito do que foi feito, da experiência, ouvindo o que aconteceu e pensando. Ouvindo também pessoas de outros estados. Então, buscando uma forma de aperfeiçoar. A gente sempre vai aperfeiçoar, mas eu acho que chegamos num formato até bem melhor do que era porque nós fizemos essas parcerias com os Estados. Então, um dos processos foi as Secretarias fazerem indicações de, quer dizer, cada Secretaria indicou dez. Se era Municipal e Estadual, então cada Estado teve 20.
P – Mas indicou dez o que?
R – Artistas.
P – Artistas?
R – Artistas, musicou ou grupos. E, bom, pegamos esse bolo e teve uma comissão pra escolher os melhores desses também. Porque, de qualquer jeito, a qualidade é o princípio mesmo. Depois...
(PAUSA)
R – Bom, então nós pegamos esses artistas selecionados, inclusive por, bom, esses artistas que são os indicados, alguns novos, outros menos conhecidos, mas muito conhecidos na região deles. E aí foram de todos os estados do Brasil, até Acre e Amapá. A gente, o que a gente faz? A gente traz.
P – É muito grande, né? Como é que vocês fazem? Aí faz uma seleção?
R – Houve uma seleção. Quer dizer, houve dois processos. Um foi esse, os artistas indicados pelas Secretarias. Então teve uma comissão para escolher os melhores e garantindo, pelo menos, um pra cada estado, pra ter essa representação. Depois, teve o outro processo, que foi através do nosso edital, que o pessoal se inscrevia diretamente na Funarte, mas, quer dizer, são essas vantagens. Quer dizer, existe Internet. Então o pessoal pegava, tirava a ficha, mandava pelo correio o material. Foi uma divulgação muito grande, quer dizer...
P – Vocês receberam muita coisa?
R – Muita coisa. Foi, no total, mais de 1600, não, quase 1600 inscrições. E foi lançado no Palácio do Planalto pelo Lula, quer dizer, foi um projeto que sensibilizou todo mundo, quer dizer, lançamento com o Presidente da Câmara, o Presidente da República, o Vice. Enfim, tava Executivo, tava Legislativo, tava, foi um prestígio muito grande. Foi muito divulgado. Então, isso foi muito, isso acho que ajudou muito nessa retomada e na importância que tem a música brasileira. Então, teve esses dois processos. Esse dos indicados e do pessoal, novos, veteranos, mais conhecidos, menos conhecidos. Não tinha nenhum tipo de restrição nem a estilos. Quer dizer, é muito instrumental. Os estilos rock, pop, samba, tudo entrou. Foi tudo. Nós aceitamos todo o material. E também demos pra uma comissão. E todos, assim, de críticos com trabalho reconhecido. No final foi divulgado. Inclusive, o Elias é dos críticos pra saber quem é, todos com trabalhos publicados e tal. E, de seis estados do Brasil, pra ter também essa visão bem ampla para fazer essa composição dos grupos que estão viajando. Agora, o que a gente se preocupou, por exemplo, desses artistas indicados pelas Secretarias e selecionados, escolhidos, a gente sempre pega de uma região e joga na outra. Então, de repente uma Selma do Coco, ela foi pro Sul. Uma Elizar, que é de Florianópolis, foi pro Nordeste.
P – Fez esse intercâmbio.
R – É. A Vera Capilé do Mato Grosso, ela pegou um pouco do Nordeste e Região Amazônica.
P – Legal.
R – Então, são duas visões. Uma, de abrir novos caminhos, novas oportunidades pro artista poder mostrar diretamente pro Brasil o seu trabalho. E outro, para o público ter a oportunidade de conhecer outros ritmos, outro tipo de música que não é só a da sua região. Então, quer dizer, é uma forma de o Brasil se conhecer melhor. Isso ta funcionando muito bem. Casas lotadas no Brasil todo.
P – E são quantas, vocês vão por quantas cidades? Não tem um ______ .
R – A média é 31 cidades, pegando as Capitais, pegando algumas outras cidades que vão variando assim. Quer dizer, de importância estratégica. E passa uma vez por mês. São quatro caravanas, cada uma pega umas sete ou oito cidades, e voltam a cada mês. E, cada grupo desse, as caravanas, cada grupo são quatro atrações. Estou falando de atrações porque pode ser um cantor, uma cantora, um instrumentista ou um grupo instrumental. E é um show que é todo ensaiado pra ter encontros mesmo, musicais, de um com outro. Então, tem, são shows com um diretor, com iluminador, com técnicos de som. Vai uma equipe acompanhando pra dar um espetáculo. Não vou dizer que é show do fulano ou beltrano. Não são quatro shows individuais. São, é um espetáculo muito rico. Então fica um resultado, esses encontros têm provocado resultados muito positivos. Pessoas que estão, até saem, quando voltam já têm parcerias que nasceram da viagem, sabe? As pessoas que todas querem, vários grupos voltaram e querem continuar. “Não, vamos fazer esse show.” Eles querem descolar lugares para fazerem o show porque o resultado ficou lindo. Depois de alguns shows então. E tem essa riqueza também, que são de estilos diferentes. Então, de repente tem, agora mesmo teve um que ta com o Monar (?), com a Tereza Cristina. Ivan Lancelote e Rock Ferreira (?) que tava pegando o Nordeste, que é uma coisa mais animada e tal. Então, mais samba. Ao mesmo tempo, pra Região Sul tava um som mais pop techno, mas com uma raiz muito brasileira, que era a Rita Ribeiro, o Totonho e Os Cabra, que é um pernambucano com um grupo muito louco. O Wado. E, costurando tudo isso, o Carlos Malta. Então, esse grupo foi ficando unidíssimo e o trabalho um com o outro, o outro com o um, todos com todos. Então, muito rico.
P – Isso, vocês têm um tempo assim para o projeto ou como é que é? Tem uma previsão?
R – Ele, esse ano.
P – Essa itinerância.
R – Todo mês são quatro grupos que saem pelo Brasil, fazendo os roteiros. E vai, foi o de setembro, está ainda até novembro. E o ano que vem, de abril até novembro.
P – Mas a idéia é poder continuar mais?
R – Continuar. A gente quer tornar permanente, porque realmente, assim, eu estou vendo os depoimentos. São fantásticos. Outro dia me ligou uma amiga minha aliás, ela é diretora do Teatro lá de Rio Branco, no Acre. E ela disse: “Olha, foi muito bom, foi fantástico. Mas eu estou preocupada só com excesso de público, porque o nosso teatro tem 500 lugares e tivemos, a nossa sorte foi porque caiu uma chuva de pedra e aí inundou, o pessoal não saiu de casa. Então a gente lotou, teve gente de pé e tal. Tudo bem. Lotou os 500 lugares e ficou até um pouco mais. Mas nós tivemos problema na portaria. Quer dizer, no dia seguinte tinha muita gente querendo voltar pra ver, que ia continuar, e não tinha.” Quer dizer, isso em Rio Branco, uma cidade desse tamanho. Ela deu graças a Deus que choveu pedra e só teve 500 e poucas pessoas. Então.
P – Imagina.
R – E assim é. No Sul, Porto Alegre, no primeiro mês tinha 3000 pessoas. Um ginásio grande, 3000. Em Manaus também. No _____ teve 2000 e poucas pessoas. Então, às vezes o teatro é pequeno, cabe menos. Mas, tem acontecido assim. E essa surpresa de também a gente poder ver um Billy Blanco assim. Ele foi, sabe, ele é um monumento na história da música. Ele começa a cantar, as pessoas: “Billy Blanco” Mas quando começam a ouvir as músicas dele, Tereza na Praia e várias outras. Gente, é ele que fez isso? Ta parecendo o Tom Jobim. Sabe?
P – Da redescoberta, né, também.
R – Uma redescoberta.
P – Essa geração mais nova que não tinha contato?
R – Fantástico. É isso, exatamente. A Alaíde Costa, quer dizer, ela é um referencial assim pra uma geração toda. Ela é uma diva. Então, ela voltando pro Brasil rever quem é essa Alaíde Costa. Às vezes, as pessoas ouvem falar. Tem fulano, tem beltrano. Mas não conhece o som. Não conhece realmente quem é, a capacidade da pessoa. Então, na região dela, na cidade é muito conhecida. Faz show sempre em uma ou duas cidades. Mas essa coisa de ampliar pro Brasil que eu acho o fantástico mesmo. Nós, aliás, eu não contei. Alem dessa seleção, nós tentamos reparar uma injustiça que eu achei na época. Aquele grupo que foi cancelado em 97. Então, eram 16 pessoas que ficaram na mão na época.
P – Do grupo do projeto que você começou a contar e não foi adiante.
R – É. Em 97, quando foi suspenso de uma hora pra outra e tal. E eles já estavam programados, já estava tudo acertado. Então, esse ano a gente chamou de volta, está chamando esses artistas de volta. Então, esses já consideramos pré-selecionados. No caso, só eu que realmente não posso fazer. E o Canhoto do Paraíba, que teve um problema de saúde, não pôde fazer. Mas o grupo que ia fazer com ele foi pro Nordeste fazer uma homenagem a ele, com o repertório todo dele. Fizeram. Chamaram ele, fizeram homenagem a ele mesmo lá em Pernambuco, onde ele ta morando. E, então, ele, de uma certa forma, a gente também resgatou esse pessoal. Quer dizer, a gente tentou cumprir um pouco porque os artistas não tinham nada que ver com o que aconteceu, as mudanças todas. Mas foi uma, e eram todos de qualidade indiscutível.
P – Deu pra recuperar um pouco aquela brecada, né?
R – É. Recuperar e dar continuidade ao projeto.
P – Ana, em que sentido o apoio da Petrobras foi assim também importante pra essa continuidade?
R – Ah, foi fundamental. Porque o orçamento, teve uma fase no passado, eu não sei exatamente em que ano foi, que a Petrobras já tinha sido o patrocinador do Projeto Pixinguinha. Quando eu voltei, eu procurei imediatamente a Petrobras porque o nosso orçamento não permitia mesmo. Agora, tem um pouco essa coisa de, depois que você joga o projeto, que ele começa a dar certo, aí o orçamento vem. E pra isso, quer dizer, talvez o primeiro crédito mesmo foi da Petrobras. A gente ainda não tinha dinheiro do orçamento quando eu consegui aprovação do projeto pela Petrobras, patrocínio pela Petrobras. Então, sem dúvida que a Petrobras foi a grande madrinha do projeto. Depois de aprovado, lançado no Palácio do Planalto e tal, aí veio também uma verba do Fundo Nacional de Cultura que completou também o que faltava. Então, esse ano vamos dar continuidade. Já temos, para esse próximo ano a Petrobras já destinou uma boa verba de patrocínio. O Governo Federal, que dizer, o Fundo vai entrar também e completar de alguma forma. Porque é importante que os dois lados entrem na parceria, que é uma parceria mesmo. E eu acho que é importante realmente. Eu acho que pra Petrobras esse viés cultural que é o, _____ artistas todos contam com a Petrobras. Talvez o Lula chama a nossa filha mais rica. Ele falou isso lá no Planalto. Mas ela tem esse carinho. E na música foi uma sensibilidade da Petrobras perceber que o projeto mais democrático mesmo era o Pixinguinha. O Presidente da Petrobras, Hélio Dutra (?), ele também falou com grande destaque do Projeto Pixinguinha. Acho que pra ele também isso é muito importante. O Santarosa, o Jacinto, a Eliane, todos, eu sinto que eles têm um certo xodó com o Projeto Pixinguinha.
P – Não é difícil né? Porque ele ta tão bem desenhado e é tão bonito.
R – Ta, e ta dando muito certo.
P – Essa idéia de ter a cara do Brasil também, esse recorte todo de troca e...
R – De troca. E o resultado ta fantástico. Realmente, eu sabia que ia ser bom. Mas os resultados inúmeros e o público ta muito bom. Ta fantástico.
P – Ana, infelizmente o nosso tempo também está terminando. Eu adoraria ouvir muito mais dessa experiência que você está, você acompanha o projeto _____?
R – _________. Não dá pra ficar o tempo todo.
P – O tempo todo acompanhando.
R – E ao mesmo tempo são shows paralelos acontecendo. Mas tenho acompanhado muito. Tenho procurado ver. Todos estão sendo gravados, estão sendo filmados pra gente ter esse registro.
P – Ana, queria agradecer a sua participação. Sucesso pra esse projeto tão bonito e pra sua carreira também.
R – Ta, muito obrigada.
P – Começado em muito bom tempo. Obrigada.
R – Nada, imagina.
Recolher