Me chamo Makelis Godinho Paim, nasci dia 19 de janeiro de 1967 na cidade de Vacaria RS. Sou produtora Rural de pitaias orgânicas e tenho uma marca de Biojoias que eu desenho e monto. Desde pequena sempre fui apaixonada por cristais , catava pedrinhas nas barrocas da Fazenda do Umbu de propriedade de meu avô materno, André Hofmann Godinho. Cresci em meio às borboletas que mais pareciam fadas no jardim de papoulas de todas as cores da minha avó Amália D\\\'Ávila . As árvores, os rios, os pássaros, a lua cheia e o pôr do Sol sempre fizeram parte da minha existência de uma forma muito profunda. Eu era a sétima mulher da família, batizada pela irmã mais velha pra não ser amaldiçoada com um dom que as pessoas temiam desde a Idade Média. Mas o fato de ser a número sete me fez caminhar ao lado desse ser místico e ter comigo até hoje o carinhoso apelido de \\\" bruxa\\\".
Na minha mocidade vim morar em Florianópolis, que fui descobrir muito tempo depois era chamada de \\\" Ilha das Bruxas\\\".
O tempo passou, me casei , tive dois filhos que cresceram numa velocidade tal que quando vi voaram do ninho . Missão de mãe cumprida. O marido, jornalista muito conhecido na cidade , com a profissão consolidada, filhos independentes, então senti necessidade de busca pela minha essência . Quem eram as minhas metades? Nessa busca , descobri que minha avó paterna, a Emília Nunes Paim, não tinha certidão de nascimento, como assim ? Pois é, indígenas não tinham certidão de nascimento . Descobri aí uma metade. Aí vieram as lembranças em mim adormecidas de que minha avó dizia que colocavam os cachorros pra correr atrás dela porque a consideravam um \\\"bicho\\\".
E a outra metade ? Encontrei num documento na Ilha Terceira dos Açores, Catarina Bernarda que veio na primeira leva de açorianos povoar a Ilha de Santa Catarina em 1748.
Eis-me aqui. Uma metade portuguesa que , vivia fazendo novenas e cumprindo promessas de ir na missa durante nove...
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Me chamo Makelis Godinho Paim, nasci dia 19 de janeiro de 1967 na cidade de Vacaria RS. Sou produtora Rural de pitaias orgânicas e tenho uma marca de Biojoias que eu desenho e monto. Desde pequena sempre fui apaixonada por cristais , catava pedrinhas nas barrocas da Fazenda do Umbu de propriedade de meu avô materno, André Hofmann Godinho. Cresci em meio às borboletas que mais pareciam fadas no jardim de papoulas de todas as cores da minha avó Amália D\\\'Ávila . As árvores, os rios, os pássaros, a lua cheia e o pôr do Sol sempre fizeram parte da minha existência de uma forma muito profunda. Eu era a sétima mulher da família, batizada pela irmã mais velha pra não ser amaldiçoada com um dom que as pessoas temiam desde a Idade Média. Mas o fato de ser a número sete me fez caminhar ao lado desse ser místico e ter comigo até hoje o carinhoso apelido de \\\" bruxa\\\".
Na minha mocidade vim morar em Florianópolis, que fui descobrir muito tempo depois era chamada de \\\" Ilha das Bruxas\\\".
O tempo passou, me casei , tive dois filhos que cresceram numa velocidade tal que quando vi voaram do ninho . Missão de mãe cumprida. O marido, jornalista muito conhecido na cidade , com a profissão consolidada, filhos independentes, então senti necessidade de busca pela minha essência . Quem eram as minhas metades? Nessa busca , descobri que minha avó paterna, a Emília Nunes Paim, não tinha certidão de nascimento, como assim ? Pois é, indígenas não tinham certidão de nascimento . Descobri aí uma metade. Aí vieram as lembranças em mim adormecidas de que minha avó dizia que colocavam os cachorros pra correr atrás dela porque a consideravam um \\\"bicho\\\".
E a outra metade ? Encontrei num documento na Ilha Terceira dos Açores, Catarina Bernarda que veio na primeira leva de açorianos povoar a Ilha de Santa Catarina em 1748.
Eis-me aqui. Uma metade portuguesa que , vivia fazendo novenas e cumprindo promessas de ir na missa durante nove sextas feiras e a metade indígena que andava descalça pelo campo e pelos bailes da sociedade, que falava com as árvores, que fechava os olhos pra sentir o vento que chegava em noites de lua cheia , que amava a conexão com a terra .
E as meninas começaram em mim um burburinho. Se inquietaram cá dentro . Então a minha avó Emília foi até a beira do mar para esperar a chegada da próxima Nau. Embarcou e atravessou o oceano. Num entardecer onde o vento associava e agitava as ondas do mar Emília chega na Ilha Terceira dos Açores , aquela jovem indigena de pele escura , se aproxima de uma portuguesa cuja pele é branca como a luz do luar , a segura pelas mãos e em pensamento a perdoa por tudo que seu povo fez ao \\\" seu povo \\\". E de repente as duas estão bem a minha frente me dizendo que até aqui a nossa jornada não havia sido fácil, desafios, tempestades, dor e preconceito que laceravam a alma nos marcava como ferro em brasa mas que a partir de agora a luz e a serenidade envolveriam o nosso clã. E para honrá-las lá estava eu desenhando peças em cerâmica e tramas indígenas para que as minhas metades por fim pudessem retornar em paz.
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