Nome do Projeto: Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Alfonso Hugh
Entrevistada por Márcia de Paiva
Local de gravação e data completa: Rio de Janeiro – 12/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento: PETRO_CB619
Transcrito por: Luciano Fernandes Urban
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que o senhor nos forneça seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Alfonso Hugh, nasci em 16 de março de 1950, em (Houlftorf?) no sul da Alemanha.
P/1 – Senhor Hugh, o senhor poderia contar pra gente de forma sucinta como é que foi sua trajetória profissional e até mesmo a sua trajetória pessoal chegando aqui no Brasil?
R – Como lhe disse, nasci numa fazenda no sul da Alemanha, minha origem então é rural. Depois fui pra escola de segundo grau em um convento, meus pais queriam que eu fosse padre, também no sul da Alemanha. Mas desisti dessa carreira de teologia e estudei literatura comparada e lingüística e estudos culturais em (Fraibrugh?), Berlim, Dublin na Irlanda e em Moscou na Rússia. Em 1980 ingressei no Instituto Goethe, ou seja, Instituto Cultural alemão que tem mais de 120 sucursais no mundo todo e fui diretor de várias delas, por exemplo, em Lagos na Nigéria já nos anos 80, em Medelin na Colômbia, em Caracas, em Brasília no início dos anos 90 e foi lá que a Bienal me chamou no ano 2000, se eu não queria ser curador da 25ª edição. Eu comecei a fazer minhas primeiras curadorias já na África nos anos 80 porque o Instituto tinha uma das poucas galerias da cidade.
P/1 – Na África em qual cidade?
R – Em Lagos na Nigéria, na África Ocidental. Então começamos a organizar mostras individuais e coletivas de artistas nigerianos e africanos e desde então eu tenho acompanhado a produção contemporânea da África. Também fui um dos curadores na Bienal de Dakar, acho que foi em 98 que teve a Bienal no Senegal. Também fui curador entre 94 e 98 na...
Continuar leituraNome do Projeto: Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Alfonso Hugh
Entrevistada por Márcia de Paiva
Local de gravação e data completa: Rio de Janeiro – 12/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoimento: PETRO_CB619
Transcrito por: Luciano Fernandes Urban
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que o senhor nos forneça seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Alfonso Hugh, nasci em 16 de março de 1950, em (Houlftorf?) no sul da Alemanha.
P/1 – Senhor Hugh, o senhor poderia contar pra gente de forma sucinta como é que foi sua trajetória profissional e até mesmo a sua trajetória pessoal chegando aqui no Brasil?
R – Como lhe disse, nasci numa fazenda no sul da Alemanha, minha origem então é rural. Depois fui pra escola de segundo grau em um convento, meus pais queriam que eu fosse padre, também no sul da Alemanha. Mas desisti dessa carreira de teologia e estudei literatura comparada e lingüística e estudos culturais em (Fraibrugh?), Berlim, Dublin na Irlanda e em Moscou na Rússia. Em 1980 ingressei no Instituto Goethe, ou seja, Instituto Cultural alemão que tem mais de 120 sucursais no mundo todo e fui diretor de várias delas, por exemplo, em Lagos na Nigéria já nos anos 80, em Medelin na Colômbia, em Caracas, em Brasília no início dos anos 90 e foi lá que a Bienal me chamou no ano 2000, se eu não queria ser curador da 25ª edição. Eu comecei a fazer minhas primeiras curadorias já na África nos anos 80 porque o Instituto tinha uma das poucas galerias da cidade.
P/1 – Na África em qual cidade?
R – Em Lagos na Nigéria, na África Ocidental. Então começamos a organizar mostras individuais e coletivas de artistas nigerianos e africanos e desde então eu tenho acompanhado a produção contemporânea da África. Também fui um dos curadores na Bienal de Dakar, acho que foi em 98 que teve a Bienal no Senegal. Também fui curador entre 94 e 98 na Casa das Culturas do Mundo em Berlin que se dedica a promoção das culturas extra-européias, ou seja, da América Latina, da África e da Ásia. Cheguei em São Paulo em janeiro de 2001, tivemos pouco tempo para preparar a 25ª edição, um pouco mais de um ano, então reuniu um time de curadores internacionais. O tema na época era iconografias metropolitanas em base de 11 metrópoles que escolhi, era a mesma São Paulo, Caracas, Nova York, Londres, Berlin, Moscou, Joanesburgo, Istambul, Beijing, Tóquio e Sydney. Cada uma dessas cidades enviava cinco artistas. A Bienal deu certo, ela teve um público recorde de 670.000 pessoas que foi recorde mundial para uma mostra de arte contemporânea na época. Então a Bienal decidiu me manter no cargo, fizemos a 26ª edição que está em cartaz no momento que já teve 500.000 mil visitantes em sete semanas, então parece que vamos bater o recorde anterior.
P/1 – Nessa Bienal o que norteou a visão para a própria organização? O que o senhor tinha em mente quando o senhor definiu o tema?
R – Bom, o tema do território livre é uma preocupação minha desde alguns anos na medida em que eu queria saber como se relaciona a arte com a liberdade, como a arte se relaciona com, digamos os acontecimentos da vida real, obviamente o artista se inspira na matéria prima terrena, mas ele normalmente não duplica essa matéria prima senão ele faz algo diferente, algo alegórico, algo simbólico. Esse processo de transformar coisas da vida real para o reino da estética, esse processo me interessou, então o território livre ficou muito bom como título até porque as pessoas, todo ser humano busca sempre a liberdade e onde tem a chance de encontrar um pouquinho de liberdade ele vai. Esse é o caso da Bienal, ela tem tido uma enorme repercussão junto ao grande público e deve ser em grande parte por causa do próprio título que promete a busca da liberdade.
P/1 – Essa escolha que é muito feliz, que tem todo esse lado de autonomia da arte, de sempre ter um lado mais livre mesmo, de que forma essa arte com toda essa concepção de liberdade e que procura criar espaços, territórios e até mesmo outros mundos que tem a sua concepção específica com a sua realidade própria que ela não procura enfim duplicar como o senhor estava falando, não procura duplicar o mundo, de que forma essa realidade estética, própria e livre ela pode se relacionar com o mundo real mesmo?
R – Ela interage, o artista não deixa de ser um cidadão como nós, ele vive nos mesmos conflitos, nos mesmo dramas urbanos, então ele se alimenta desses, digamos, conflitos e só que nunca vai ser uma abordagem jornalística espero eu, o bom artista não é jornalista, não é repórter. Até porque a reportagem e o bom jornalismo conhece só uma verdade, como a ciência conhece novamente uma verdade, a arte então é mais plurívoca, é mais complexa, ela oferece várias leituras as vezes contraditórias, então embora existe a verdade na arte, mas normalmente não é uma coisa que você pode comprovar de forma científica, não tem um termômetro que você enfia e mede a temperatura.
P/1 – Nem ela se propõe a isso, a ter esse caráter científico?
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R – Não, claro que a arte contém a sua própria lógica, ela constrói um mundo paralelo ao mundo real, acho que essa é a principal função dela. Existe um mundo administrado como o filósofo alemão (Adorno?) disse, o mundo é administrado, que é o mundo real em que vivemos e sofremos e depois existe o universo da arte que é contrário ao mundo real ou pelo menos paralelo ao mundo real. Também tem o elemento da utopia à arte, mas isso não é invenção nossa, isso existe desde sempre, um lugar da utopia onde você formula novas formas de convívio humano, aí reside a função humanista da arte e a função política. A função política da arte não está necessariamente no tema, se tem uma guerra no Iraque não posso pedir que isso se reflita imediatamente na obra, a função política da arte é outra, ela é mais sutil e talvez até superior porque ele fortalece o indivíduo, a abordagem à arte as vezes é difícil, requer um julgamento por parte do visitante, exige formação de critérios, uma toma de posições, ele tem que dizer se ele gosta ou não, já é a primeira decisão básica: gosto ou não gosto. Ele então toma partido, ele cria um critério, com isso ele fortalece o indivíduo e como sabemos o indivíduo é base da democracia e da sociedade moderna, também economicamente moderna, aí está a função política da arte.
P/1 – Pergunta também bem simples: como é que é fazer a curadoria de um evento tão grande que envolve outros curadores?
R – Pois é, é uma operação de guerra, a gente até conseguiu manter o bom humor dentro da equipe que é fundamental, a equipe da Bienal.
P/1 – Eram quantos outros curadores?
R – Têm dois segmentos: tem o segmento das representações nacionais que são 55 países que a Bienal convida, quase de forma oficial através das embaixadas. Esses países a sua vez escolhem um comissário ou um curador nacional que a sua vez escolhe um artista, então são 55 artistas que os países enviam sem nossa interferência, eles recebem o meu conceito, a gente chama, ele vai ao diálogo, muitos deles visitam a Bienal, mas no fundo eles são autônomos.
P/1 – E vocês não podem recusar se por acaso não tiver...
R – Teoricamente poderia, em um ou outro caso recusei porque era muito ruim. Tinha um país inclusive da América do Sul, não vou falar o nome, as vezes a gente até consegue indicar alguns nomes, consegui no caso do Equador, de Cuba, da Polônia, da Rússia, entrei em diálogo com os curadores, mas não é imposição, é diálogo. Depois tem um segundo segmento que eu faço a curadoria que são os artistas convidados, são 80, financiado e organizado pela própria Bienal. Para evitar guetos nacionais a Bienal mistura representações nacionais e artistas convidados no espaço, não tem isso de como antigamente segundo mandar só os países e no primeiro e terceiro só os indicados, não, mistura tudo, e na placa tem representação nacional da Inglaterra, por exemplo. Então, no fundo a Bienal fala em gramaticalmente dito em dois números, fala no plural através desses 55 curadores que trazem uma enorme diversidade, da China até a África do Sul, trazem também um investimento porque eles normalmente financiam a representação nacional, e fala no singular através do curador da Bienal. Mas tem sido muito positivo, sempre surgem pequenos atritos sobretudo no último mês na hora da montagem, tem uma tensão sobre os espaços no artista, sempre quer, as vezes quer mudar o espaço, não gosta da parede, isso são coisas normais mas a equipe de produção da Bienal é muito competente, como lhe disse mantivemos o bom humor ao tempo todo entre diretoria, presidente, produção e curadoria.
P/1 – Eu achei legal que todo esse lado do território livre teve uma preocupação de fazer a parte histórica, ligada à antropofagia, enfim, e até um núcleo educativo. Como o senhor conseguiu também conciliar esse lado de fazer essa mostra que tem esse caráter de liberdade, mas procurando passar esse lado didático também, sem cair naquela armadilha...
R – Isso não exclui um ou outro, a ação educativa, um dos pontos fortes da Bienal, até porque o público brasileiro é muito jovem e vem alunos, estudante, então você tem que oferecer esse tipo de serviço, as escolas agendam grupos inteiros, mas as pessoas particulares também podem agendar uma visita guiada. Tomamos o cuidado especial desta vez com audio guide pela primeira vez, depois tem textos explicativos nas paredes para cada obra. Só que o elemento didático tem seus limites, no final das contas sempre vai ser o indivíduo e a obra e o diálogo que possa surgir entre os dois, essa é a experiência artística, a experiência estética é muito subjetiva que atinge a alma do indivíduo e cada um vai ter sua própria leitura, em alguns casos quando a obra é muito boa existe um consenso quase imediato entre todos os espectadores e entre leigo e profissional, isso existe, mas em outros casos já diverge muito, até entre os críticos profissionais. Então eu sempre recomendo uma abordagem, mesmo quando vem um grupo vai ser ele e a obra, o indivíduo e a obra, e quando a obra é muito boa pula essa faísca e existe quase um diálogo entre o objeto e a pessoa. A ação educativa desta vez fizemos com a FAAP São Paulo que é uma escola de artes plásticas, os alunos deles que são de artes plásticas e de arquitetura estão se beneficiando muito, eles também estão aprendendo.
P/1 – Eles estão sendo monitores?
R – É, tem acho que quase 400. Uma mostra de arte contemporânea como aprendizado de um idioma, eu muitas vezes comparo com aprender inglês, ninguém nunca chamou o inglês de elitista só porque ele é difícil, ninguém chamou a matemática de elitista só porque ela é difícil, ela é difícil pelo menos pra mim, o inglês menos mas a matemática nunca entendi que é isso, agora eu não posso chamar isso de elitista só porque não entendo, mesma coisa com a arte contemporânea, existe vários graus de aproximação e de domínio, tem um nível básico, nível intermédio, nível avançado, nunca existe domínio total da arte até porque é um universo tão vasto que até os críticos mais veteranos sempre vão achar uma dúvida e ficam inseguros, eu mesmo acho que devo ser a pessoa que mais aprende nesse processo todo. Mas a pessoa que vai pela primeira vez, o jovem normalmente que vai pela primeira vez no nível básico eu diria é como você aprender as primeiras mil palavras no inglês. Isso não devemos de jeito nenhum negar ou desprezar, é um aprendizado e são várias fases na vida da pessoa e claro uma vez iniciado ele deve voltar nas seguintes edições, espero eu.
P/1 – Bom, é a primeira vez que a Bienal está abrindo como entrada franca? Ela está livre né?
R – Está livre, acho que é a primeira vez, agora não me lembro, a Bienal tem 53 anos, pode haver tido algumas edições dos anos 50 e 60, eu não sei. Agora as últimas décadas sim a primeira vez.
P/1 – Isso também é um lado de um convite maior?
R – Olha, a última cobramos ingresso, acho que foi oito reais, na última tivemos público recorde mundial. Eu não vejo digamos uma grande diferença no perfil do público, o que eu vejo é que as pessoas vem várias vezes, uma pessoa que não quer visitar uma mostra de arte não vai vir só porque é de graça. Isso não existe. Eu também não vou no jogo de futebol só porque é de graça, se não me interessa não me interessa, pagando ou não pagando. Então temos que... o que essa entrada gratuita facilita que em vez do pai vai toda família, as pessoas que vão no parque, que os jovens possam visitar várias vezes, isso é importante porque é uma Bienal muito grande, você precisa vários dias para dirigir tudo, só um dia para os vídeos, um dia para a pintura, então isso eu tenho observado que vejo pessoas que vêm três, quatro, cinco vezes, isso é muito bom sobretudo para o jovem artista, para o estudante, bom os da área... vejo pessoas da periferia de São Paulo também, mas isso a gente teve na última edição também porque as escolas ganhavam desconto, então não é totalmente diferente, sempre vai ser um público interessado em arte.
P/1 – E o apoio da Petrobras, como é que o senhor percebe, foi a primeira vez que a Bienal contou?
R – Bom, a última não teve. Essa vez foi uma conquista de a Bienal poder trabalhar junto com a Petrobras que é uma empresa de ponta, uma empresa voltada para o futuro, do ponto de vista da tecnologia muita avançada, do ponto de vista de repente da gerência e da administração também, um produto digamos com muito potencial voltado para o futuro. E a Bienal é junto desde os anos 50, junto com a fundação de Brasília que ocorreu na mesma década, um pouco mais tarde, abriu o caminho do Brasil em direção a modernidade, ela foi um dos elementos fundamentais para que o Brasil culturalmente entrasse na modernidade, confrontou várias gerações de artistas com as tendências mundiais, então se estabeleceu um diálogo global. Acho que isso é uma das premissas da Petrobras também que é uma empresa internacional, cada vez mais, com interesse na África, no Oriente Médio, na América Latina, então tem um pouco a ver o alcance global, a abordagem criativa e digamos dinâmica voltado para o futuro. Então você une duas casas digamos com perfil bastante progressivo.
P/1 – É muito difícil, como é que é trabalhar com cultura no Brasil para o senhor?
R – Não, não acho difícil, o país tem uma boa infra-estrutura sobretudo nas artes plásticas, sobretudo em São Paulo onde há cada ano se criam novos centros culturais, museus, galerias, falta ainda um elemento internacional que a Bienal está cumprindo por isso ela é imprescindível, os museus muitas vezes são voltados ainda para a produção local, acho que isso pode ser um problema porque temos que abrirmos, não pode ter reserva de mercado, sempre os mesmos nomes, os mesmo artistas. Eles tem que fazer um esforço de trazer o melhor dos Estados Unidos, da Europa, da África, da China. Mas eu diria em geral, não só nas artes plásticas também no cinema, no festival de cinema do Rio, por exemplo, o maior da América Latina com 220.000 visitantes onde vocês também são patrocinadores também acredito. Tem festivais de dança, de teatro, em geral a infra-estrutura é a melhor na América Latina, acho que até melhor que na Argentina eu diria. O púbico é jovem, o público brasileiro tem uma enorme curiosidade, isso eu observo na Bienal, o público brasileiro muitas vezes feminino eu diria 60, 65% público feminino, são mulheres jovens entre 20 e 30 anos que tem uma enorme curiosidade, uma vontade de aprender, de descobrir os mistérios. No fundo porque uma pessoa visita uma exposição de arte? Ela quer saber como o vizinho vive, como as pessoas vivem num prédio em São Paulo não tem mais contato com ninguém. Então se você quer saber que loucuras o vizinho está fazendo, o próximo, a sociedade, você vai em uma exposição de arte. Aí você vê aqueles vídeos malucos e a pessoa quer saber, é uma questão de contemporaniedade saber como o próximo vive, é um dos motivos pelo qual a pessoa visita uma mostra de arte. O público brasileiro tem uma certa sensibilidade que é quase espiritual, a arte as vezes tem a ver com religião. E elas vão lá, é uma grande aventura para a maioria do público.
P/1 – Não sei se é possível fazer uma comparação desses 50 anos da Bienal o que mudou na arte mesmo? Uma avaliação na arte e até na maneira de você conceber uma exposição. Vamos deixar a arte de lado que é uma discussão que é pra vida inteira, mas enfim... uma forma de expor...
R – O que estou observando é que é uma maior inclusão da chamada periferia, antigamente você tinha os grandes centros, os Estados Unidos, primeiro Paris na primeira metade do século XX, depois migrou para Nova Iorque depois da Segunda Guerra Mundial e Nova Iorque ficou a grande metrópole das artes plásticas. Depois tinha na Alemanha Colônia, um pouco depois Berlim, hoje Londres cada vez mais. Isso foi digamos o cenário até os anos 90. A partir dos anos 90 eu observo, até porque morei muito na periferia, na Nigéria, na Colômbia, Venezuela, morei na Indonésia também, uma maior produtividade, um aumento de qualidade na chamada periferia, por exemplo os países andinos antigamente não tinham uma grande tradição modernista e tinha pouca arte contemporânea boa, isso mudou, hoje você tem bons artistas até em Bolívia, Equador, Peru, que era difícil achar até na Bienal 10, 15, 20 anos atrás. Então isso mudou, o sistema da arte virou global, em parte por causa das Bienais, 50 anos atrás você tinha só duas Bienais, a de Veneza que é centenária, mãe de todas as Bienais e a de São Paulo que é a segunda mais antiga.
P/1 – É de 51 não é?
R – É, então hoje tem mais de 50 Bienais, das quais acho que devo ter visitado 40, então o sistema ficou multipolar, você tem hoje a maioria dessas Bienais nos últimos 20 anos na Ásia, na América Latina, na África, então onde tem Bienal normalmente melhora a qualidade da produção local, isso é uma lei que eu posso comprovar em quase todos os casos, seja Istambul, (Wang Ju?) na Coréia, ou Xangai na China, tudo isso levou a um aumento de qualidade da produção local, caso de São Paulo também. A produção brasileira melhorou muito depois da instalação da Bienal de São Paulo. Então isso mudou o sistema é mais multipolar, ele é menos hegemônico, ele é mais multipolar.
P/1 – O senhor gostaria de deixar mais alguma coisa registrada nesta entrevista? Falar alguma coisa...
R – Foi um prazer ter esse vínculo com a Petrobras, a Bienal está bastante feliz com essa cooperação e eu posso mesmo eu saindo porque não vou poder fazer mais uma Bienal, espero que haja uma continuidade na cooperação entre as duas instituições. Uma industrial e a outra cultural, mas as duas ligadas através da criatividade.
P/1 – Obrigada pela sua participação.
(fim da fita _________).
Palavras em dúvida:
Houlftorf;
Fairbrugh;
Plurívoca;
Adorno;
Wang Ju.
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