Mudei-me de Brasília ao Rio de Janeiro há poucos meses. Sonhei que uma amiga minha de Brasília tinha conhecido e estava começando a se relacionar com um agente secreto do Botsuana. Início de relacionamento conturbado mas ambos se gostavam bastante. Ele até tinha mencionado seu trabalho para ela, sem quebrar nenhum sigilo. Minha amiga estava na dúvida entre dar uma chance ao relacionamento ou vir se instalar no Rio de Janeiro, perto de mim.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Me parece que, nesse momento de pandemia, estou assistindo mais séries. A última é uma série de espionagem francesa: Le Bureau des Légendes. Sou francesa e moro no Brasil há quase cinco anos. O momento de pandemia, confinamento em casa com meu companheiro que conheço há quase 7 anos — além de várias outras questões entre as quais entram os fatos de estar em uma difícil fase de conclusão de doutorado, estar me aproximando dos 30 sem nunca ter entrado no mercado de trabalho, estar deixando escapar a mente sobre outro/novos encontros e possibilidades de vida; me fazem refletir sobre o lugar em que me encontro e minhas escolhas. As coisinhas tipicamente francesas da série, o humor, certos jeitos de falar, os relacionamentos, as expressões de Jean-Pierre Darroussin (um ator que eu gosto) são reconfortantes e me fazem enxergar o ambiente como meu lar, me levam a fantasiar sobre uma possível volta ou, melhor dizendo, uma mudança pra França… enquanto estou passando por um momento delicado do meu relacionamento. Mesmo tendo amigos — em outras cidades já que mal conheço o Rio, o desejo de viver novas coisas e a possibilidade de não estar mais com meu companheiro me trazem um sentimento de solidão profunda, e a França se torna mais quentinha e confortável ainda. Ao mesmo tempo, a série evidencia muitas questões sobre meu país que criam conflitos internos fortes em mim: as coisas não ditas, a arrogância, a postura...
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Mudei-me de Brasília ao Rio de Janeiro há poucos meses. Sonhei que uma amiga minha de Brasília tinha conhecido e estava começando a se relacionar com um agente secreto do Botsuana. Início de relacionamento conturbado mas ambos se gostavam bastante. Ele até tinha mencionado seu trabalho para ela, sem quebrar nenhum sigilo. Minha amiga estava na dúvida entre dar uma chance ao relacionamento ou vir se instalar no Rio de Janeiro, perto de mim.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Me parece que, nesse momento de pandemia, estou assistindo mais séries. A última é uma série de espionagem francesa: Le Bureau des Légendes. Sou francesa e moro no Brasil há quase cinco anos. O momento de pandemia, confinamento em casa com meu companheiro que conheço há quase 7 anos — além de várias outras questões entre as quais entram os fatos de estar em uma difícil fase de conclusão de doutorado, estar me aproximando dos 30 sem nunca ter entrado no mercado de trabalho, estar deixando escapar a mente sobre outro/novos encontros e possibilidades de vida; me fazem refletir sobre o lugar em que me encontro e minhas escolhas. As coisinhas tipicamente francesas da série, o humor, certos jeitos de falar, os relacionamentos, as expressões de Jean-Pierre Darroussin (um ator que eu gosto) são reconfortantes e me fazem enxergar o ambiente como meu lar, me levam a fantasiar sobre uma possível volta ou, melhor dizendo, uma mudança pra França… enquanto estou passando por um momento delicado do meu relacionamento. Mesmo tendo amigos — em outras cidades já que mal conheço o Rio, o desejo de viver novas coisas e a possibilidade de não estar mais com meu companheiro me trazem um sentimento de solidão profunda, e a França se torna mais quentinha e confortável ainda. Ao mesmo tempo, a série evidencia muitas questões sobre meu país que criam conflitos internos fortes em mim: as coisas não ditas, a arrogância, a postura imperialista e várias outras questões que não sou capaz de nomear mas que rejeito veementemente e que fazem com que não me sinta necessariamente em casa quando vou pra lá, quando encontro com minha mãe. Por que, então, fantasiar em me mudar para Marseille, a cidade em que ela mora desde que se aposentou, cidade onde nunca morei? Ao mesmo tempo, outra possibilidade fantasiada nessa febre quarenteniana de quem tem privilégios o suficiente para ficar em casa me faz enxergar a doce aventura de assumir minha vida e criar uma família aqui, mas que seja olhando para mim mesma e tendo a coragem de encarar o que eu quero.
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