Ericky Nakanome nasceu em 9 de junho de 1985 em Parintins (AM), cresceu entre tradições ribeirinhas e herança japonesa. Filho de Regina, funcionária pública e artesã do chocolate de cacau, e Leonardo, vaqueiro e pescador nipo-descendente, sua infância foi marcada pela casa de madeira no bairro Santa Clara, na zona leste de Parintins, onde dormia em redes com a família. As férias eram divididas entre a comunidade ribeirinha do Paraná do Espírito Santo (herança materna) e Urucará, onde a família paterna se adaptou na Amazônia ao migrar do Japão após a Segunda Guerra Mundial. “Meus avós vieram no pós-guerra e depois desse período eles tiveram que viver com uma outra lógica, que é a lógica amazônica. Então perderam, por exemplo, um filho afogado no porto, neste porto morreu um tio meu, e foi justamente por não conhecerem a região amazônica” conta Ericky. Apesar disso cresceu em uma comunidade muito unida, tinha vários amigos, se divertiam em brincadeiras de rua, brincavam de "barra-bandeira" e recriavam o Festival de Parintins em miniatura, Ericky desde pequeno tinha curiosidade pelo Boi Caprichoso. “A gente sempre reproduziu o festival de Parintins em miniatura, fazer uma junção de brinquedos ou de sucatas, às vezes, de outras coisas, juntava tudo para fazer, imitando o que os adultos faziam no festival, mas de brincadeira.”
Com 7 anos, o seu pai foi morar no Japão, e foi então que Ericky começou a frequentar a Escolinha do Boi Caprichoso pelo projeto Projeto Caprichoso nas Ruas, a partir daí, o seu grande sonho de participar da arte se tornou realidade. Na adolescência, enfrentou conflitos ao
descobrir sua homossexualidade: “Eu acho que como homossexual, não tive uma adolescência saudável. Foi sempre se esconder da família católica. [...] foi um peso muito, do pecado. Eu lembro de uma conversa com um padre, e ele me dizendo que aquilo não teria problema, que Deus me amaria do jeito que eu era. E isso, para mim,...
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Ericky Nakanome nasceu em 9 de junho de 1985 em Parintins (AM), cresceu entre tradições ribeirinhas e herança japonesa. Filho de Regina, funcionária pública e artesã do chocolate de cacau, e Leonardo, vaqueiro e pescador nipo-descendente, sua infância foi marcada pela casa de madeira no bairro Santa Clara, na zona leste de Parintins, onde dormia em redes com a família. As férias eram divididas entre a comunidade ribeirinha do Paraná do Espírito Santo (herança materna) e Urucará, onde a família paterna se adaptou na Amazônia ao migrar do Japão após a Segunda Guerra Mundial. “Meus avós vieram no pós-guerra e depois desse período eles tiveram que viver com uma outra lógica, que é a lógica amazônica. Então perderam, por exemplo, um filho afogado no porto, neste porto morreu um tio meu, e foi justamente por não conhecerem a região amazônica” conta Ericky. Apesar disso cresceu em uma comunidade muito unida, tinha vários amigos, se divertiam em brincadeiras de rua, brincavam de "barra-bandeira" e recriavam o Festival de Parintins em miniatura, Ericky desde pequeno tinha curiosidade pelo Boi Caprichoso. “A gente sempre reproduziu o festival de Parintins em miniatura, fazer uma junção de brinquedos ou de sucatas, às vezes, de outras coisas, juntava tudo para fazer, imitando o que os adultos faziam no festival, mas de brincadeira.”
Com 7 anos, o seu pai foi morar no Japão, e foi então que Ericky começou a frequentar a Escolinha do Boi Caprichoso pelo projeto Projeto Caprichoso nas Ruas, a partir daí, o seu grande sonho de participar da arte se tornou realidade. Na adolescência, enfrentou conflitos ao
descobrir sua homossexualidade: “Eu acho que como homossexual, não tive uma adolescência saudável. Foi sempre se esconder da família católica. [...] foi um peso muito, do pecado. Eu lembro de uma conversa com um padre, e ele me dizendo que aquilo não teria problema, que Deus me amaria do jeito que eu era. E isso, para mim, na época, foi uma libertação”. Ericky se muda para Manaus e se forma em Artes Plásticas, nesse período, assume sua sexualidade e muda sua visão de si, do sistema, do capitalismo e da cultura.
A sua trajetória no Caprichoso começa cedo: aluno da Escolinha do Boi, tornou-se estagiário e depois arte-educador. Em 2016, assumiu a presidência do Conselho de Arte e chamou atenção pela sua gestão e juventude. À frente do Caprichoso, Ericky promoveu mudanças trazendo debates antirracistas, debates sobre gênero, debates sobre questão de identidade: combateu o racismo nos enredos, trouxe outras pautas para representação dos personagens negros (como Pai Francisco) e inseriu indígenas como protagonistas. Temas como "Sabedoria Popular" (2018) destacaram a ciência do povo e da comunidade, depois dessas mudanças no enredo, foi bastante criticado e acusado de doutrinação comunista. “Eu lembro de cartas publicadas pedindo a minha saída porque eu era alguém perigoso para a comunidade, porque eu estava trazendo espetáculos, “doutrinadores comunistas” para dentro da Amazônia, para dentro do festival. Então houveram coisas assim que me afetaram muito, com muita dor, com muita tristeza, mas foi nesse contexto que eu consegui fazer com muita luta, com muita resistência, a revolução no Festival de Parintins.”
Sua gestão uniu arte e educação, usando o festival para discutir decolonialidade e identidade, levando pautas importantes para dentro das comunidades. Agora, casado há 15 anos e pai, Ericky sonha em ser presidente do Caprichoso para ampliar projetos sociais e integrar gerações. Quer ver Parintins se emancipar pela arte, e ir além do festival. “Eu sempre brinco que não sou profissional. [...] Eu sou um apaixonado, e só sirvo para trabalhar em um lugar, em um momento, em uma circunstância, que, no caso, é o Caprichoso. E eu desejo, sim, poder ajudar outras crianças que possam fazer um outro caminho, que foi o caminho que tomei para a minha vida, o caminho das artes. [...] Então, isso é um sonho.” conta, destacando seu respeito com a comunidade que viveu a vida inteira. A história de Ericky Nakanome desde criança, fascinado pelas alegorias do festival até entrar na gestão do Caprichoso, mostra para o mundo a sua força e paixão pelas raízes e cultura popular de Parintins.
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