"CONTRIBUIR ATRAVÉS DA ARTE PARA UM MUNDO MELHOR’’
Alessandra nasceu sob o céu úmido de Belém, em maio de 1982 que já anunciava a exuberância da Amazônia, onde sempre viveu e pela qual nutre grande paixão, apesar de ter familiares no centro-oeste.
Sua infância na periferia de Belém, especialmente no bairro da Cidade Velha, marcou-a com as fortes manifestações culturais locais, onde o ritmo do samba ecoava pelas ruas, impregnando sua alma desde cedo. Apesar das raízes familiares fincadas também no distante centro-oeste, seu coração se ateve à terra paraense, à melodia dos rios e à efervescência cultural que pulsava em cada esquina, na periferia que a influenciou, desenvolvendo um forte senso de comunidade e um desejo de transformação coletiva.
Seus primeiros laços comunitários foram na Igreja Católica, com foco em solidariedade. Na adolescência, a partir dos 16 anos, sua consciência social evoluiu, levando-a a se engajar em outros grupos comunitários, começando com quadrilhas juninas e depois a capoeira.
Sua trajetória estudantil começou em escolas públicas. No ensino médio, ganhou uma bolsa em um colégio de bairro chamado Aspecto, onde professores a introduziram a movimentos sociais e questões de classe. A escola proporcionava um ambiente culturalmente rico, com gincanas, apresentações musicais, de dança e teatro, compensando a falta de oportunidades para atividades extracurriculares pagas. Professores como os gêmeos Cosme e Damião Urabião, de física e química, foram importantes em seu despertar para questões sociais.
Inicialmente, Alessandra pensou em ser jornalista, mas a falta de condições financeiras a impediu de seguir o balé, sua primeira paixão pela dança, que encontrou nas quadrilhas juninas. Alessandra, a letrada, a pedagoga, a defensora dos saberes culturais amazônicos, encontrou no cursinho popular do Terra Firme sua primeira trincheira profissional e humana. Sua vida acadêmica se...
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"CONTRIBUIR ATRAVÉS DA ARTE PARA UM MUNDO MELHOR’’
Alessandra nasceu sob o céu úmido de Belém, em maio de 1982 que já anunciava a exuberância da Amazônia, onde sempre viveu e pela qual nutre grande paixão, apesar de ter familiares no centro-oeste.
Sua infância na periferia de Belém, especialmente no bairro da Cidade Velha, marcou-a com as fortes manifestações culturais locais, onde o ritmo do samba ecoava pelas ruas, impregnando sua alma desde cedo. Apesar das raízes familiares fincadas também no distante centro-oeste, seu coração se ateve à terra paraense, à melodia dos rios e à efervescência cultural que pulsava em cada esquina, na periferia que a influenciou, desenvolvendo um forte senso de comunidade e um desejo de transformação coletiva.
Seus primeiros laços comunitários foram na Igreja Católica, com foco em solidariedade. Na adolescência, a partir dos 16 anos, sua consciência social evoluiu, levando-a a se engajar em outros grupos comunitários, começando com quadrilhas juninas e depois a capoeira.
Sua trajetória estudantil começou em escolas públicas. No ensino médio, ganhou uma bolsa em um colégio de bairro chamado Aspecto, onde professores a introduziram a movimentos sociais e questões de classe. A escola proporcionava um ambiente culturalmente rico, com gincanas, apresentações musicais, de dança e teatro, compensando a falta de oportunidades para atividades extracurriculares pagas. Professores como os gêmeos Cosme e Damião Urabião, de física e química, foram importantes em seu despertar para questões sociais.
Inicialmente, Alessandra pensou em ser jornalista, mas a falta de condições financeiras a impediu de seguir o balé, sua primeira paixão pela dança, que encontrou nas quadrilhas juninas. Alessandra, a letrada, a pedagoga, a defensora dos saberes culturais amazônicos, encontrou no cursinho popular do Terra Firme sua primeira trincheira profissional e humana. Sua vida acadêmica se tornou interdisciplinar ao se envolver com a capoeira na universidade, algo que desejava desde a adolescência. Sua relação com a arte sempre teve um viés de transformação social e comunitária, não individualista.
Seu primeiro trabalho no nível superior foi como supervisora do programa Pró-Jovem.
O cursinho visava não apenas o ingresso na universidade, mas também a conscientização coletiva dos alunos, muitos deles em situação de vulnerabilidade e com dificuldades em priorizar os estudos. Atualmente, Alessandra está concluindo seu doutorado, pesquisando a Pedagoginga como educação antirracista e ação coletiva, com foco em seu grupo de capoeira, o Eu Sou Angoleiro Terra Firme, ligado ao Mestre João de Belo Horizonte. Ela é treinera do grupo, que atua em comunidades periféricas, quilombos e assentamentos, promovendo a capoeira como ferramenta de transformação social. É também cofundadora do coletivo de mulheres Angoleiras Cabanas, que busca trazer uma perspectiva feminina para a capoeira, historicamente marcada pelo patriarcado.
O coletivo Eu Sou Angoleiro Terra Firme realiza atividades semanais para crianças e adultos na comunidade, oferecendo treinos que envolvem movimento corporal, musicalidade e contação de histórias. Enfrentam dificuldades como a falta de um espaço próprio e a resistência de algumas famílias devido a questões religiosas e ao preconceito contra a capoeira. Financeiramente, o grupo se manteve por muitos anos através de eventos e rifas, mas recentemente tem acessado editais de incentivo à cultura, buscando recursos para adquirir um espaço próprio.
Alessandra e o coletivo priorizam oficinas e a transmissão do conhecimento da capoeira em suas apresentações, buscando educar o público sobre sua história, musicalidade e potencial educativo multidisciplinar, em vez de apenas realizar performances. A preservação da memória da capoeira é um aspecto central do trabalho do coletivo, sendo abordada em rodas de conversa e nas redes sociais.
Para ela, o coletivo é sua família, a extensão de seu compromisso com a Terra Firme. Seu maior desejo é ver os jovens do bairro, outrora estigmatizado, erguerem a cabeça com orgulho de sua identidade, de sua história, de sua cultura vibrante. Em cada toque do berimbau, em cada corpo que ginga, pulsa o coração verde da Terra Firme, forte e resiliente, guiado pela paixão incansável de Alessandra. A capoeira, em suas mãos, não é apenas uma arte marcial, uma dança; é a própria essência da vida que pulsa na periferia de Belém, um legado ancestral que floresce em cada nova geração.
A região amazônica, e especialmente Belém, possui uma cultura rica e diversificada, com fortes manifestações como o boi-bumbá, o rap, as quadrilhas juninas, os cineclubes, o carimbó e os pássaros juninos. A cultura junina é particularmente vibrante, com festivais de quadrilhas e o tradicional Arraial do Pavulagem.
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