Projeto: Morro dos Prazeres – Esse Morro tem história
Realização Museu da Pessoa
Entrevista de Ananda Machado
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2002
Código MP_CB032
Transcrito por Elisabete Barguth
Revisado por Eloisa Galvão
P/1 – Boa tarde Ananda, gostaria de começar o depoimento com o seu nome completo, local e a sua data de nascimento.
R – Meu nome é Ananda Machado, eu nasci aqui no Rio de Janeiro no dia 11 de abril de 1974.
P/1 – Sua formação profissional?
R – Eu comecei fazendo a Escolinha de Arte do Brasil, ali na Rio Sul na época em tinha um curso que chamava Ciai que, durava 6 meses. Depois eu entrei pra Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro] e fiz licenciatura em Artes Cênicas. Terminando esse curso, eu decidi que eu queria investir no teatro de bonecos. Aí eu fui pra França, pro Instituto Internacional de Artes de Marionetes e fiz dois anos. A formação seriam três anos, só que eu consegui uma bolsa do Brasil pra fazer esse curso, mas eu abandonei o último ano porque eu não aguentei de saudades do Brasil.
P/1 – Jura?
R – Juro. Aí eu vim pro Brasil e fui pro Nordeste aprender com os mamulengueiros de lá que realmente são mestres fantásticos, conhecem versos e prosas e sabem fazer humor de uma forma muito interessante.
P/1 – E em termo de projetos desenvolvidos aqui no Rio, trabalhou aonde?
R – Aqui no Rio eu trabalhei em escolas, eu fui sócia da NAU que é um Núcleo de Arte da Urca, trabalhando sempre com teatro na educação, sempre incluindo boneco, animação e me envolvendo em projetos ora de profilaxia dentária, fazendo teatros para que depois dentistas dessem continuação ao trabalho, ora com mil histórias mesmo, porque eu adoro contar histórias com bonecos animados, com bonecos mesmo. Fiz alguns espetáculos como Coração Mamulengo, que foi uma chance de trazer os mestres ao Rio e de fazer esse intercâmbio, de colocar um pouco da minha pesquisa em...
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Projeto: Morro dos Prazeres – Esse Morro tem história
Realização Museu da Pessoa
Entrevista de Ananda Machado
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2002
Código MP_CB032
Transcrito por Elisabete Barguth
Revisado por Eloisa Galvão
P/1 – Boa tarde Ananda, gostaria de começar o depoimento com o seu nome completo, local e a sua data de nascimento.
R – Meu nome é Ananda Machado, eu nasci aqui no Rio de Janeiro no dia 11 de abril de 1974.
P/1 – Sua formação profissional?
R – Eu comecei fazendo a Escolinha de Arte do Brasil, ali na Rio Sul na época em tinha um curso que chamava Ciai que, durava 6 meses. Depois eu entrei pra Unirio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro] e fiz licenciatura em Artes Cênicas. Terminando esse curso, eu decidi que eu queria investir no teatro de bonecos. Aí eu fui pra França, pro Instituto Internacional de Artes de Marionetes e fiz dois anos. A formação seriam três anos, só que eu consegui uma bolsa do Brasil pra fazer esse curso, mas eu abandonei o último ano porque eu não aguentei de saudades do Brasil.
P/1 – Jura?
R – Juro. Aí eu vim pro Brasil e fui pro Nordeste aprender com os mamulengueiros de lá que realmente são mestres fantásticos, conhecem versos e prosas e sabem fazer humor de uma forma muito interessante.
P/1 – E em termo de projetos desenvolvidos aqui no Rio, trabalhou aonde?
R – Aqui no Rio eu trabalhei em escolas, eu fui sócia da NAU que é um Núcleo de Arte da Urca, trabalhando sempre com teatro na educação, sempre incluindo boneco, animação e me envolvendo em projetos ora de profilaxia dentária, fazendo teatros para que depois dentistas dessem continuação ao trabalho, ora com mil histórias mesmo, porque eu adoro contar histórias com bonecos animados, com bonecos mesmo. Fiz alguns espetáculos como Coração Mamulengo, que foi uma chance de trazer os mestres ao Rio e de fazer esse intercâmbio, de colocar um pouco da minha pesquisa em prática em outros espetáculos. A gente tá ensaiando um espetáculo agora chamado Luz e Lua, com patrocínio da Prefeitura, vai estrear no Café Pequeno, em setembro. É um projeto do coração, as esculturas estão belíssimas, as ideias estão pipocando e eu acho que vai ficar bem legal.
P/1 – E o elo com o Casarão dos Prazeres, como se deu?
R – Se deu pelos horizontes culturais, Ariana Maia estava dando curso de teatro aqui e, durante a colônia de férias, ela pediu pra eu substituí-la e eu imediatamente comecei a ver que a linguagem do boneco funcionava muito bem aqui porque é uma maneira de... por exemplo, quem tá ali é um objeto, é um boneco, então se solta mais numa questão do início, no caso de timidez. Pra questão, até na imaginação é uma maneira de dar um pulo, eu acho, no sentido do teatro. Então o que aconteceu, eles foram se soltando e, hoje em dia, nas brincadeiras e simulações que eu proponho, antes eles ficavam mais acanhados e hoje eles se soltam muito mais, porque eles já experimentaram essa maneira de se mostrar sem estar ali evidente, né. E fora isso, o boneco é poesia pura e aí a gente começou, fez primeiro luvas, mamulengos com papel machê e a partir daí eles inventaram uma história que tá rendendo até hoje; hoje eles vão apresentar essa história que se chama Um Amor quase Impossível, uma temática que eu achei até engraçado pra idade deles.
P/1 – Qual é a idade?
R – Oito, nove anos a maioria, né, e falando disso, de um menino pobre que quer casar. Ele se apaixona pela menina e o pai proíbe porque é pobre e ele lá triste acha uma lâmpada do gênio. Esfrega e consegue ficar rico, casar com ela e viajar.
P/1 – É menino e menina na turma?
R – Menino e menina. É engraçado que tem mais menina e elas têm frequência mais regular. Tem alguns meninos que vem e ficam uns dias sem vir, depois voltam. Uma coisa que experimentei há pouco tempo foi levá-los ao teatro. A gente foi ver O Cavalinho Azul e foi muito interessante, eles se comportaram super bem, gostaram e amanhã a gente tá se programando para ir ao cinema assistir Príncipes e Princesas. Pretendo, a partir daí, trabalhar teatro de sombras, porque esse filme trabalha com silhuetas que eles colocaram no computador e fazem toda aquela coisa da animação, aí eu tô querendo investir nisso, aquela coisa de contar história mesmo. Acho que não tem nada mais confortante do que você ouvir uma história que tem um sentido, que tem toda essa estrutura, toda essa coisa que a gente busca na vida mesmo.
P/1 – Como que é esse tipo de trabalho numa comunidade como Morro dos Prazeres?
R – Olha, tem essa coisa da frequência. Tem um grupo pequeno que frequenta assiduamente, mas tem pessoas que vêm, passam... Teve um dia que a gente tava confeccionando os bonecos, isso foi muito interessante. A gente ficou ali fora, a massa do papel machê ali e passava gente da comunidade, senhora, garoto, garota e todo mundo se interessava e às vezes botava a mão na massa. Vamos supor que eram pra ter 15 bonecos e fizemos 30 bonecos, entendeu? Então foi uma experiência muito boa, eu acho que eles se interessam muito quando eles percebem que pode dar fruto, que aquilo ali pode dar algum tipo de fruto que eles podem trabalhar com aquilo, que eles podem se descobrir ali por uma forma, que aquilo tem utilidades pra eles, no sentido de... Tanto que quando teve essa história de fazer boneco pro teatro, eles: “Ah, não sabe fazer travessa”. Então eles têm esse interesse de construir também coisas mais práticas mesmo, eu acho que financeiramente descobrir um caminho.
P/1 – O que significa o Morro dos Prazeres pra você?
R – Pra mim, eu acho que é um sonho. Eu sempre quis chegar perto, mais perto de uma comunidade pra entender e, de repente, eu to aprendendo muito mais aqui do que ensinando. Eu acho que é uma troca muito grande e eu fico encantada a cada dia com os depoimentos de crianças, com o comportamento e com o funcionamento, que você vai percebendo aos poucos as questões mais difíceis que realmente eu vou reconhecer e que eu tenho que vencer um monte de barreiras internas minhas. É porque eu fui criada na roça e essas coisas de violência me assustam um pouco. Mas eu acho assim, eu acredito que pode transformar e é por isso que eu tô aqui. Eu acredito em uma semente germinando e brotando e aí em breve teremos frutos.
P/1 – Tá bom, então pra finalizar o que você acha desse projeto de memória, de registrar e preservar a memória da comunidade dos Prazeres? E o que você achou de dar o seu depoimento?
R – Olha, eu acho fundamental, é muito importante que eles saibam da história, porque eu acho que qualquer pessoa que sabe onde está sua raiz pode crescer de uma maneira mais produtiva e menos massificada. Eu acho que quem não sabe de onde veio fica até mais difícil de saber o caminho que tá percorrendo, sonhar aonde vai querer chegar. Fica meio perdido nesse movimento de massa, principalmente a televisão que oferece o modismo.
P/1 – Tá bom, super obrigada Ananda, obrigada pelo depoimento.
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