1986. Araçatuba, interior de São Paulo.
Estava eu, um menino feio, com baixa auto estima, que não sabia jogar bola e, portanto, não tinha muitos amigos, em pé, ao lado da mesa da professora de inglês dos anos finais do Ensino Fundamental, uma japonsa gordinha de óculos redondos com armação escura.
Eu era um de seus desafetos, pois não tinha facilidade no aprendizado do idioma. Por isso, para mim e para poucos outros alunos, ela resolveu dar uma \\\\\\\\\\\\\\\"chamada oral\\\\\\\\\\\\\\\" como prova final daquele bimestre.
A avaliação consistia em decorar a lista de verbos irregulares em inglês. Ela iria dizer a tradução de um verbo irregular escolhido aleatóriamente e, nós, alunos desafetos, deveríamos dizer o infinitivo, o passado simples e o passado partícípio.
Eu não decorei a lista de verbos irregulares. Até hoje, não sei passar a linha no fundo de uma agulha, então, o que o verbo costurar (irregular em inglês) me acrescentaria naquele momento?
Enfim, a única coisa que eu sabia responder para a professora era \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\", que significa \\\\\\\\\\\\\\\"eu não sei\\\\\\\\\\\\\\\" em inglês.
Como a prova valia de zero à dez e eu respondi \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\", ela me deu 0,5 (meio) de nota naquela avaliação. Não considero que a nota foi injusta, afinal, não alcancei o objetivo que a professora queria. Porém, o após mudaria tudo.
Como se não bastasse eu estar em pé, ao lado da mesa da professora, respondendo \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\" e meus colegas de classe rindo da minha performance caricata, após a declaração de minha nota, a professora me olhou e disse em alto e bom som para todos ouvirem: \\\\\\\\\\\\\\\"Você é burro e nunca vai aprender inglês. Vá sentar-se!\\\\\\\\\\\\\\\".
Até hoje, as risadas demeus colegas de classe ecoam em minha mente. Mas, aquilo me deu combustível para aprender...
Continuar leitura
1986. Araçatuba, interior de São Paulo.
Estava eu, um menino feio, com baixa auto estima, que não sabia jogar bola e, portanto, não tinha muitos amigos, em pé, ao lado da mesa da professora de inglês dos anos finais do Ensino Fundamental, uma japonsa gordinha de óculos redondos com armação escura.
Eu era um de seus desafetos, pois não tinha facilidade no aprendizado do idioma. Por isso, para mim e para poucos outros alunos, ela resolveu dar uma \\\\\\\\\\\\\\\"chamada oral\\\\\\\\\\\\\\\" como prova final daquele bimestre.
A avaliação consistia em decorar a lista de verbos irregulares em inglês. Ela iria dizer a tradução de um verbo irregular escolhido aleatóriamente e, nós, alunos desafetos, deveríamos dizer o infinitivo, o passado simples e o passado partícípio.
Eu não decorei a lista de verbos irregulares. Até hoje, não sei passar a linha no fundo de uma agulha, então, o que o verbo costurar (irregular em inglês) me acrescentaria naquele momento?
Enfim, a única coisa que eu sabia responder para a professora era \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\", que significa \\\\\\\\\\\\\\\"eu não sei\\\\\\\\\\\\\\\" em inglês.
Como a prova valia de zero à dez e eu respondi \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\", ela me deu 0,5 (meio) de nota naquela avaliação. Não considero que a nota foi injusta, afinal, não alcancei o objetivo que a professora queria. Porém, o após mudaria tudo.
Como se não bastasse eu estar em pé, ao lado da mesa da professora, respondendo \\\\\\\\\\\\\\\"I don\\\\\\\\\\\\\\\'t know\\\\\\\\\\\\\\\" e meus colegas de classe rindo da minha performance caricata, após a declaração de minha nota, a professora me olhou e disse em alto e bom som para todos ouvirem: \\\\\\\\\\\\\\\"Você é burro e nunca vai aprender inglês. Vá sentar-se!\\\\\\\\\\\\\\\".
Até hoje, as risadas demeus colegas de classe ecoam em minha mente. Mas, aquilo me deu combustível para aprender inglês.
Anos mais tarde, me formei como bacharel em Tradutor e Intérprete. Como meu trabalho de conclusão de curso era relacionado a interpretação em contextos médicos, meu trabalho foi enviado por minha então orientadora para um congresso e foi aceito. Eu fui palestrar sobre interpretação na área médica para dos alunos da harvard Medical School em Boston, Estados Unidos. Essa palestra me abriu portas para ser convidado por mais quatro universidades americanas a palestrar para seus alunos.
Fiz pós graduação em Docência do Ensino Superior, Licenciatura em Letras Português, Inglês Espanhol e suas literaturas, Mestrado em Educação e hoje estou em vias de terminar meu Doutorado em Educação.
Nesse contexto, recebi do Facebook uma sugestão de amizade. Surpreso, reconheci o nome de minha antiga professora de inglês do Ensino Fundamental. Enviei uma solicitação de amizade perguntando se ela se lembrava de mim e dizendo o que eu havia alcançado em minha vida acadêmica.
Ela não me respondeu e me bloqueou.
Enfim, só quero dizer que se você é professor, pense na experiência de Paulo Freire e como um simples gesto de seu professor deu ânimo para que ele se tornasse o escritor e pensador que foi. Se você é aluno, use as palavras de seus professores como combustível para você alcançar seus objetivos, pois somente você pode dizer o que você pode ou não alcançar em sua vida.
Vai ser fácil alcançar? Não, mas valerá a pena. Valerá muito a pena.
Recolher