Meu nome é Oluwa Seyi Salles Bento, filha de Paulo e Rosemeire, nascida na década de 90 na capital de São Paulo.
O legado que recebi e também deixo é o da Literatura.
Escrevo, desde muito jovem, como forma de me assegurar que estou viva, mas viver de literatura, por anos, não passava de sonho e atrevimento. Escrevia para a família, para os amigos, para os amores, mas a maioria do que era produzido ficava escondido.
Quase como um caminho natural, escolhi a escrita, a leitura e a crítica como meu norte. Em 2011, ingressei no curso de Letras da Universidade de São Paulo. Grande fã da saga de Harry Potter, inicialmente pretendia me tornar tradutora de Língua inglesa e, quem sabe, traduzir futuras obras do universo mágico do jovem bruxo, porém outro destino me escolheu.
Já no terceiro ano de graduação, cursando uma disciplina optativa, conheci a obra de Conceição Evaristo e então a literatura produzida por pessoas negras tornou-se meu objeto de pesquisa e reflexão mais apaixonante. Cursei todas as disciplinas que poderiam tratar a experiência negra no Brasil, em África e outros países da Diáspora e finalmente, em 2016, me formei em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa.
Depois da graduação, ingressei em 2018 em um mestrado também na área da literatura. Estudando a presença do Orixá Oxum em narrativas de Mário de Andrade, Jorge Amado e Conceição Evaristo, pude estar mais próxima de dois vetores da experiência negra que me importam: a produção literária e a mitologia dos deuses afro-brasileiros. Aulas, conversas, palestras e artigos sobre a importância da literatura para o povo negro ao redor do mundo.
Mesmo respirando a literatura de outras pessoas, demorou muito para que eu passasse a assumir que também respirava minha própria arte. Apenas em 2020, submeti um conto a uma chamada de publicação de coletânea. “Passarinha“ foi a primeira narrativa de minha autoria que vi publicada e impressa, no livro \"Escritas...
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Meu nome é Oluwa Seyi Salles Bento, filha de Paulo e Rosemeire, nascida na década de 90 na capital de São Paulo.
O legado que recebi e também deixo é o da Literatura.
Escrevo, desde muito jovem, como forma de me assegurar que estou viva, mas viver de literatura, por anos, não passava de sonho e atrevimento. Escrevia para a família, para os amigos, para os amores, mas a maioria do que era produzido ficava escondido.
Quase como um caminho natural, escolhi a escrita, a leitura e a crítica como meu norte. Em 2011, ingressei no curso de Letras da Universidade de São Paulo. Grande fã da saga de Harry Potter, inicialmente pretendia me tornar tradutora de Língua inglesa e, quem sabe, traduzir futuras obras do universo mágico do jovem bruxo, porém outro destino me escolheu.
Já no terceiro ano de graduação, cursando uma disciplina optativa, conheci a obra de Conceição Evaristo e então a literatura produzida por pessoas negras tornou-se meu objeto de pesquisa e reflexão mais apaixonante. Cursei todas as disciplinas que poderiam tratar a experiência negra no Brasil, em África e outros países da Diáspora e finalmente, em 2016, me formei em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa.
Depois da graduação, ingressei em 2018 em um mestrado também na área da literatura. Estudando a presença do Orixá Oxum em narrativas de Mário de Andrade, Jorge Amado e Conceição Evaristo, pude estar mais próxima de dois vetores da experiência negra que me importam: a produção literária e a mitologia dos deuses afro-brasileiros. Aulas, conversas, palestras e artigos sobre a importância da literatura para o povo negro ao redor do mundo.
Mesmo respirando a literatura de outras pessoas, demorou muito para que eu passasse a assumir que também respirava minha própria arte. Apenas em 2020, submeti um conto a uma chamada de publicação de coletânea. “Passarinha“ foi a primeira narrativa de minha autoria que vi publicada e impressa, no livro \"Escritas femininas em primeira pessoa\", da Editora Oralituras. Depois disso, escrever e publicar tornou-se indispensável.
Hoje, em 2023, já perdi a conta de quantas coletâneas de contos e poemas levam meu nome, e este é um dos meus maiores orgulhos.
Em 2022, mais um voo: outra chamada de publicação, desta vez de obra completa, permitiu-me a realização do que a criança que fui almejava. Dentre 400 livros submetidos de pessoas do estado de São Paulo, meu livro de poesia, \"O que há de autêntico em uma mãe inventada\", foi um dos 25 escolhidos da Editora Urutau para ser publicado.
Poucas coisas sobre mim engrandecem-me mais do que saber que estou eternizada em tinta e papel em centenas de pratileiras mundo a fora. Minha vida ganha mais vida cada vez que me leem, e isso é indescritível.
Primeiro livro voando, mestrado concluído, doutorado em processo, outros livros já sendo redigidos e a vida toda pela frente tendo a literatura dos meus e a minha própria como companheira. Hoje, muito mais que sonho e atrevimento, realidade e certeza. O compromisso ancestral com as muitas que vieram antes de mim e pavimentaram o caminho da escrita e da intelectualidade para mulheres negras como mais um dentre os muitos possíveis.
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