Quando nasci era um período de muita dificuldade para meus pais. Os filhos todos em idade escolar, os dois mais velhos haviam concluído o ensino médio (na época, o científico). O meu irmão resolveu casar e minha irmã resolveu fazer vestibular para medicina. E eu resolvi nascer. As minhas outras quatro irmãs estudavam em escola pública, diferentemente dos meus dois primeiros irmãos, que estudaram no Colégio Lourenço Filho, em Fortaleza/CE.
Quando comecei a ir para a escola, fui matriculada em um colégio particular. Moramos na mesma casa ainda. Naquela época, porém, nossa família era a que detinha uma melhor situação financeira. Eu tinha brinquedos, ia a escola particular e, principalmente, tinha limites. Podia brincar à vontade, mas também tinha que estudar. Também não era permitido ficar na rua até tarde, antes da 21h tinha que entrar, tomar banho e dormir, para acordar cedo e ir para o colégio. Apesar de ganhar bonecas, nunca gostei de brincar com elas. Gostava mesmo era das brincadeiras dos meninos: jogar bila, soltar arraia, brincar de bola e de triângulo, tomar banho de chuva no meio da rua, brincar de pega-pega, esconde-esconde, bandeira, macaca e andar de bicicleta. Era tudo bom demais.
Ganhei minha primeira bicicleta do meu padrinho, que era noivo de uma das minhas irmãs. Adorei o presente e logo aprendi a andar, fazia mil piruetas em cima da bicicleta. Ela foi a primeira e única bicicleta que tive. Quando ela não serviu mais, acabou minha festa. Só vim a andar de bicicleta novamente depois de casada, quando o pai do meu filho e eu compramos uma para fazermos exercícios e para ele ir ao colégio onde dava aulas. Hoje, ainda ando de bicicleta, que pertence ao meu filhote. Minha infância foi muito boa, apesar de eu ter na lembrança momentos muito ruins, momentos em que eu me sentia sufocada e sem vontade de estar onde eu estava. Sonhava em viajar, conhecer lugares, conhecer pessoas novas, comprar coisas bonitas, ter histórias...
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