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Personagem: Mapuãni Huni Kuin
Por: Museu da Pessoa, 13 de dezembro de 2019

A floresta que nenhum abuso conseguiu queimar

Esta história contém:

A floresta que nenhum abuso conseguiu queimar

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Minha avó contava para mim é que os velhos, tanto os pajés, os mais anciãos tinham que se esconder para falar da tradição. Quando queriam passar os conhecimentos, a gente tinha que se esconder para poder falar a língua. Eu estou falando mesmo assim da tradição, os cantos sagrados, evocar os espíritos da Natureza, então a gente não podia muito estar ali contando, porque não tinha essa permissão do povo. A gente era visto como demônios.

No seringal todos trabalhavam, inclusive eu que era criança, por ser muito criança, eu tinha 7 anos e não me esqueço dos homens que chegaram armados e começaram a queimar as casinhas, tivemos que sair correndo. Mataram a minha avó! Foi uma grande separação da família. Eu fui deixada para uma família, porque eu não podia seguir com a minha mãe e com o meu pai, com as minhas duas irmãs, eu fiquei lá.

Fiquei em uma casa de não indígenas, ficava trabalhando na casa, cuidando das crianças, limpando, trabalhando... Eu dormia com as crianças dele e um homem dessa casa começou a vir para me tocar. "Bom, vai acontecer duas coisas: ou eu vou ficar e isso vai terminar muito mal ou eu vou ter que ir embora". Tinha um casal que trabalhava na casa também e eles me falaram "Olha, a gente está percebendo que está muito difícil para você, a gente vai lhe dar uma pista, porque eu conheço muito o seu pai. Vai embora! Eles estão no sertão".

Eu fugi! Saí do Acre com 11 anos fui pegando carona foram muitas etapas, desde encontrar pessoas, de ficar e trabalhar um pouco nas casas, nos lugares onde eu estava indo, até que finalmente encontrei com eles. Só que quando eu encontrei com eles, para mim, já tinha uma coisa ali, já tinha acontecido algo muito forte. Eu também não conseguia mais ficar com eles.

Eu fiquei meses ali, convivendo e percebendo também que, para a minha mãe assim, foi um inferno. Um inferno porque ela estava num interior pequenininho, onde as pessoas íam para a igreja e...

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Projeto Conte Sua História - Memórias Indígenas

Depoimento de Mapuani Huni Kuin Joelma Leitão

Entrevistada por Jonas Samaúma e Kerexu Mirim

São Paulo, 13 de dezembro de 2019

PCSH_HV781 _ rev.

Realização Museu da Pessoa

Transcrito por Ana Carolina Dias

Revisado por Paulo Rodrigues Ferreira

P/1 - Então, Joelma, eu gostaria que você abrisse com um canto para a gente.

R - [canto em língua indígena]

P/1 – E agora eu gostaria que você dissesse o local e a data em que você nasceu, e o seu povo.

R - Eu nasci em... Começa pela data?

P/1 - Pode ser seu nome.

R - Meu nome? Português, Mapuani, eu me chamo Mapuani. Nasci na Aldeia do Caucho, em 01/09/1972.

P/1 - Você podia só... Em geral, a gente já entra na história da vida da pessoa, mas como você vem de um povo... Dar uma pincelada da história do seu povo, que você sabe.

R – Então... É uma história que eu nasci... Eu nasci no Caucho e... Para eu falar um pouco dessa história do meu povo?

P/1 - É, e da sua aldeia. Como ela se formou.

R - A Aldeia... Eu nasci na Aldeia do Caucho, fui embora muito cedo. Meu pai conheceu a minha mãe lá, na época em que ele foi para trabalhar no seringal. E o que eu posso falar do meu povo é que eu estou voltando... Assim... Estou voltando muitos anos depois para relembrar essa história, a tradição, o que eu posso realmente falar são memórias de... Até a idade de sete, oito anos, o que eu vivi na Aldeia. Eu lembro... Lembro que tinha muita harmonia no meio de tanto caos também, porque a gente estava lidando ali com o povo da borracha, que foi um momento muito difícil. Mas falando das mulheres, da tradição, para mim foi muito forte o que eu vivi. A minha avó, a minha bisavó, a Aldeia em si, ela mudou muito, não é? Porque eu estou voltando. Ela mudou muito, muito mesmo. E o que eu posso falar do meu povo? Que eu estou representando esse povo, tanto fora, fazendo essa ponte de levar os irmãos para lá e vir aqui relembrar um...

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