É assim: o deslocamento foi em 1983, justamente por causa do polo industrial que se formou no final da ditadura. Tiraram o povo, todos da beirada do Murucupi, do lado de lá e do lado de cá. O único pessoal que não saiu foi o pessoal do São Lourenço, do Mário. Esse foi o único pessoal que não saiu. Mas o restante, todo mundo saiu. Ou você saía, ou eles te tiravam. Entendeu? Então, eu vejo que, ali, o pessoal, todo aquele pessoal, muita gente foi embora pra Belém, Icoaraci. Teve o Laranjal, o pessoal do CDI. E se a gente for procurar hoje essas pessoas, são poucas as pessoas que estão vivas.
Fiquei muito tempo em Belém. A decisão de voltar pra cá já foi no final de 2007. Estava em Barcarena, né? Aí me chamaram: “Sandra, bora voltar? Bora, a gente vai...". Aí eu falei: “Olha, eu vou voltar, mas eu vou voltar pra onde eu nasci". Que, no caso, era pra eu voltar pra Burajuba. Eu digo: “Não, se eu tiver que voltar, vou voltar pra onde eu nasci". E eu voltei, sabe? É engraçado que eu passei seis meses, 2008, morando embaixo de plástico. Quando nós tomamos posse da área toda, aí veio as minhas irmãs e irmãos. E hoje, assim, eles me veem assim, apesar de eu não ser a mais velha, né, mas o meu irmão mais velho me vê, assim, como... eles me falam assim: “Dona do quilombo", porque toda decisão que eles vão tomar, eles têm que vir perguntar pra mim: “Olha, Sandra, nós vamos fazer isso. O que tu acha?". Hoje a coisa funciona desse jeito.
Porque eu acho que eles reconhecem que quem voltou pra aquela terra fui eu com os meus filhos, né, eu voltei pra ali, finquei o pé ali, disse: “Não". E aí fomos buscar. Aí que entra a parte do movimento social. Que eu comecei a participar de movimento social, comecei com o Barcarena Livre, junto com os companheiros, professores da UFPA, pesquisadores e nós voltamos pra terra sem saber que a gente tinha o direito. Em 2008 a gente foi ter o conhecimento...
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É assim: o deslocamento foi em 1983, justamente por causa do polo industrial que se formou no final da ditadura. Tiraram o povo, todos da beirada do Murucupi, do lado de lá e do lado de cá. O único pessoal que não saiu foi o pessoal do São Lourenço, do Mário. Esse foi o único pessoal que não saiu. Mas o restante, todo mundo saiu. Ou você saía, ou eles te tiravam. Entendeu? Então, eu vejo que, ali, o pessoal, todo aquele pessoal, muita gente foi embora pra Belém, Icoaraci. Teve o Laranjal, o pessoal do CDI. E se a gente for procurar hoje essas pessoas, são poucas as pessoas que estão vivas.
Fiquei muito tempo em Belém. A decisão de voltar pra cá já foi no final de 2007. Estava em Barcarena, né? Aí me chamaram: “Sandra, bora voltar? Bora, a gente vai...". Aí eu falei: “Olha, eu vou voltar, mas eu vou voltar pra onde eu nasci". Que, no caso, era pra eu voltar pra Burajuba. Eu digo: “Não, se eu tiver que voltar, vou voltar pra onde eu nasci". E eu voltei, sabe? É engraçado que eu passei seis meses, 2008, morando embaixo de plástico. Quando nós tomamos posse da área toda, aí veio as minhas irmãs e irmãos. E hoje, assim, eles me veem assim, apesar de eu não ser a mais velha, né, mas o meu irmão mais velho me vê, assim, como... eles me falam assim: “Dona do quilombo", porque toda decisão que eles vão tomar, eles têm que vir perguntar pra mim: “Olha, Sandra, nós vamos fazer isso. O que tu acha?". Hoje a coisa funciona desse jeito.
Porque eu acho que eles reconhecem que quem voltou pra aquela terra fui eu com os meus filhos, né, eu voltei pra ali, finquei o pé ali, disse: “Não". E aí fomos buscar. Aí que entra a parte do movimento social. Que eu comecei a participar de movimento social, comecei com o Barcarena Livre, junto com os companheiros, professores da UFPA, pesquisadores e nós voltamos pra terra sem saber que a gente tinha o direito. Em 2008 a gente foi ter o conhecimento da Convenção 169. Fomos ver onde que a gente se encaixava. Pedimos um estudo pro Ministério Público pois nós tivemos que provar que nós nascemos naquele lugar, e foi provado através do nosso documento, boletins. Eles colocaram uns aparelhos nas árvores pra ver a sua idade. Aquela coisa.
Eles conseguiram achar, ainda, numa das árvores a digital do meu avô na seringueira. É uma coisa assim, sabe? A gente olha... é impressionante como são as coisas, né? Tantos e tantos... meu avô morreu em 1977. Como é que consegue? Pela parte da minha mãe, o povo é negro, da minha mãe e, pela parte do meu pai, é indígena. A Funai olhou o nosso relatório, disse que não tinha nada a ver: que aqui nunca teve índio, nunca teve indígena. A gente tem toda a cartografia. Então hoje tem um grupo de pessoas, no Burajuba tem um grupo de pessoas, no Gibirié tem outros, que são meus parentes e no São João, que é a minha família, a gente já se junta. A gente está tentando trazer de volta a nossa cultura.
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