O fato de ser Poeta e Negro passou a ser um grande incomodo,posto Corumbá Mt ser considerado o maior reduto dos beletristas matogrossenses.Os grandes nomes vinham de familias tradicionais,ligados ` da pecuária.Todos escreviam sobre as sagas familiares,desbravamento do Pantanal e por ai afora.De repente aparece um jovenzinho,cria de uma familia abastada,metido a poeta.E que tirava nota dez toda mão.Esse peitudo era eu aqui.Não me cansava de ler,sempre que estava de folga.Eu era o bendito pau para toda obra:a Sala está meio suja,lá ia eu passar a Vassoura de Pelo e depois pano de Chão. Móveis empoeirados?A minha incumbência,era espaná-los e ainda passar Oleo de Peroba.Alguém precisava entregar um bilhete qualquer para terceiros,quem era o estafeta? Logo eu,o neguinho sapeca.Será que dá prá emprestar seu secreta para ir à Padaria?Nem perguntavam se eu tinha tarefa de Escola para fazer ou se estava descansado.Lá ia eu.um pé aqui e outro ali.De vez em quando algumas senhoras combinavam de escovarem os dentes com Fumo de Rolo.apareciam umas cinco.Eu tinha que providenciar cinco latas vazias para elas cuspirem a baba marron enquanto as horas se transcorriam.Por volta do final da tarde,terminavam de trocarem as fofocas da semana.
De noite a rotina,às vezes era enfadonha.A familia ficava alojada no amplo Sofá,ouvindo o Noticiário ou radionovela.O chefe da casa ficava no corredor lendoJornal de fora,saboreando uma cerveja bem gelada.
A criançada nessa altura do tempo,já se agrupava na Calçada para jogarem Amarelinho,brincar de Roda, Cola Pau,Cobra Cega,Cowboy e outras brincadeiras até as 22 horas,enquanto os pais,vizinhos se aglomeravam na calçada para discutirem politica,esportes e variedades.
Em tempo de Páscoa,aconteciam trocas de Pratos:Biscoitos de Queijo,de Araruta,Bacalhoada,Coalhada,Sopa Paraguaia,Chipa,Curau ,etc.As pessoas eram mais sociáveis.Era uma...
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O fato de ser Poeta e Negro passou a ser um grande incomodo,posto Corumbá Mt ser considerado o maior reduto dos beletristas matogrossenses.Os grandes nomes vinham de familias tradicionais,ligados ` da pecuária.Todos escreviam sobre as sagas familiares,desbravamento do Pantanal e por ai afora.De repente aparece um jovenzinho,cria de uma familia abastada,metido a poeta.E que tirava nota dez toda mão.Esse peitudo era eu aqui.Não me cansava de ler,sempre que estava de folga.Eu era o bendito pau para toda obra:a Sala está meio suja,lá ia eu passar a Vassoura de Pelo e depois pano de Chão. Móveis empoeirados?A minha incumbência,era espaná-los e ainda passar Oleo de Peroba.Alguém precisava entregar um bilhete qualquer para terceiros,quem era o estafeta? Logo eu,o neguinho sapeca.Será que dá prá emprestar seu secreta para ir à Padaria?Nem perguntavam se eu tinha tarefa de Escola para fazer ou se estava descansado.Lá ia eu.um pé aqui e outro ali.De vez em quando algumas senhoras combinavam de escovarem os dentes com Fumo de Rolo.apareciam umas cinco.Eu tinha que providenciar cinco latas vazias para elas cuspirem a baba marron enquanto as horas se transcorriam.Por volta do final da tarde,terminavam de trocarem as fofocas da semana.
De noite a rotina,às vezes era enfadonha.A familia ficava alojada no amplo Sofá,ouvindo o Noticiário ou radionovela.O chefe da casa ficava no corredor lendoJornal de fora,saboreando uma cerveja bem gelada.
A criançada nessa altura do tempo,já se agrupava na Calçada para jogarem Amarelinho,brincar de Roda, Cola Pau,Cobra Cega,Cowboy e outras brincadeiras até as 22 horas,enquanto os pais,vizinhos se aglomeravam na calçada para discutirem politica,esportes e variedades.
Em tempo de Páscoa,aconteciam trocas de Pratos:Biscoitos de Queijo,de Araruta,Bacalhoada,Coalhada,Sopa Paraguaia,Chipa,Curau ,etc.As pessoas eram mais sociáveis.Era uma maravilha.
No São João a festança deixava todo mundo alegre.Bandeirolas coloridas dependuradas em Varais.Musicas Regionais.Quentão,Caipirinhas,Pé de Moleque,Quebra-queixo,Paçoquinha,Cocada,Doce de Mamão,Doce de Abóbora,Algodão Doce,Moças Telegrafistas.Maçã do Amor,Sanfoneiros e o principal de tudo,a Quadrilha animada,que enchia os olhos e as esperanças dos participantes.
Eu por exemplo,nunca dancei numa Quadrilha.Não me sentia à vontade para uma contradança com uma daquelas meninas filhas de comerciantes,empresários ou até mesmo doutor.Por outro lado,havia uma separação tênue entre as ,classes.Brincava junto,na medida do possivel.Todavia,até nisso,sem ninguém insinuar,quem era filho de doméstica,lavadeira ou outro,não se misturava.
Nas brincadeiras de Cowboy,o Mocinho e a Mocinha,sempre eram brancos,louros,ruivos etc E os Bandidos,Ladrões.Cocheiros,Mensageiros etc.,os filhos das empregadas.No Pular Corda,quem tinham que bolear eram as filhas das Empregadas ou visitantes.
Havia um preconceito misto,mas sem atrito:tipo ré com ré e cré com cré.
Em muito das vezes,a criadagem dos que tinham poder aquisitivo maior,não se misturava com a criadagem dos que tinham menos grana.
Eu tinha o privilégio poder circular à vontade de um extremo ao outro porque estudava,declamava meus poeminhas para as garotas.
Era chamado de \"negro de alma branca\",como se o conhecimento clareasse a cor da pele.Eu até que gostava.Centro das atenções.
De maneira que numa dessas ocasiões,apareceu o Ze Baiano,sujeito falante,que li Sorte.Era Quiromante e Cartomante profissional.Li com exatidão e era também espirita.Ele se aproximou da roda de jovens,como era conhecido da maioria das pessoas,logo logo se propos a ler a Sorte,a começar por mim.E com ar solene disse:\" este aqui será muito falado por sua bela Arte de transformar tudo em Poesia.Seu nome será conhecido no Brasil e fora daqui.\" Todo mundo riu.E ele foi lendo a sorte de cada um.
A vida continuou sua caminhada.
O sucesso na Escola prosseguiu.Notas boas.Muitas atividades Culturais.Tudo muito bom.Mas sempre me via entristecido.Quem era o meu pai? Ninguém sabia me dar uma resposta. Depois,caia na leitura e me esquecia.
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Como eu era pau pra toda obra,coisa natural naquela época.Quase todas as familias abastadas tinham vários agregados,que executavam mil e uma atividades.Eu acabava fazendo as atividades rotineiras e de vez em quando \"era emprestado\" para limpar casa.E em assim sendo,um casal recente,pediu para as tres crianças que fossem ajudar a jovem recém casada.
E lá fomos nós.Limpamos tudo.Terminada a tarefa voltamos pra casa.Facamos aguardando a gorgeta.Para a nossa supresa,eis que chega o marido,furibundo,soltando fogo pelas ventas,querendo saber quem tinha comido o seu Doce de Abóbora Cristalizado que estava na Geladeira. Como iamos saber,se nós cuidamos apenas da limpeza do chão.Então ele pediu para a moça responsável por nós,uma vez que a madrinha estava em viagem.Que precisava mostrar a vasilha do Doce.E nós pobres indefesos fomos à casa que ficava enfrente.Mal cruzamos asoleira da porta,fomos levando tapas na cabeça.Palavrões.Tapas.Empurrões.Isso até chgarmos à Copa onde estava a Geladeira.reafirmamos que não haviamos mexido em nada.Tapas.Xingamentos.O cara pegou um Vidro de Pimenta e despejou na vasilha do Doce.Ficamos olhando.Agora,voces vão comer tudinho! Deu uma colher para cada um de nós.As primeiras colheradas rodaram fácil,mas depois ficou dificil. Tapas e mais tapas.Quando ele deu uma descuidada.saimos correndo pra rua.Foi a nossa salvação.Ele não foi atras de nós.
A esposa dele não fez nada.Ficou quieta.No minimo tinha medo dele.A moça encarregada de tomar conta das crianças agregadas,ficou calada,talvezcom medo de perder o emprego,a minha mãe estava na fazenda.A minha madrinha viajando.
O cara decorrido algum tempo apareceu como se nada houvesse acontecido.Continuou contando suas piadas .Como era conhecido da familia,passou batido.Trabalhava numa representação de Lambretas bem conceituada na cidade.Num belo dia ele atirou num cão de um médico ,seu vizinho,so porque o referido cão rosnara para ele,ao passar na calçada com sua Lambreta.Depois disso ele se mudou com a esposa para outra cidade.
Esse capitulo me marcou na vida.
E a história continua...
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