00:00:00 DEBI
Depois eu passo para vocês a gravação. Então, eu queria, assim, só começar...
00:00:06 DEBI
Como…Quando vocês chegaram em Israel?
00:00:11 ABRAÃO
Chegamos em março de 2018.
00:00:21 DEBI
Ok. E como é que surgiu a ideia de vir para Israel?
00:00:30 ABRAÃO
Nós sempre fomos sionistas, sempre incentivamos a ligação com Israel, nós éramos pessoas ligadas à comunidade judaica de São Paulo, na área de educação, na área de serviço social, na área de vida comunitária na sinagoga, fazia a parte do do Conselho da Hebraica, do Conselho da Unibes, a gente era voluntário no *inaudível*, enfim, estava inserido em todo o contexto comunitário, mas sempre focado em Israel. E nossos filhos começaram a fazer Alliyah, nós estávamos ainda ligados com...
00:01:25 ABRAÃO
o meu pai estava vivo e eu sou filho único, a filha é a única mulher, ela tem dois irmãos, mas a mãe dela também estava viva. Ambos faleceram, meu pai primeiro, depois faleceu a mãe dela.
00:01:44 ABRAÃO
E aí a gente começou a focar em pensar em vir para cá. Aí veio uma filha nossa, a Ivete, primeiro.
00:01:53 ABRAÃO
Aí depois veio... a minha neta para estudar no Mozenson, a filha da Gisela, a Clara.
00:02:02 ABRAÃO
A Gisela veio atrás com a outra neta, com a Letícia. Aí viemos nós.
00:02:11 ABRAÃO
Meu filho estava morando na Argentina, nós tínhamos sobrado só nós em São Paulo. Aí nós viemos para ficar mais perto dos filhos, dos netos, ver eles crescerem.
00:02:26 ABRAÃO
E para complementar, o mês passado meu filho da Argentina também veio de Allyiah com a esposa e mais duas netas.
00:02:39 DEBI
Uau. Isso é muito legal, né? Ter toda a família reunida aqui.
00:02:43 ABRAÃO
Vamos ter pela primeira vez, depois de muitos anos, um seder com todos os filhos em volta da mesa e com os filhos deles também.
00:02:53 DEBI
Uau! E como é que é esse sentimento de estar aqui e ter toda a família junto?
00:03:04 FRIDA
É um sentimento...
Continuar leitura00:00:00 DEBI
Depois eu passo para vocês a gravação. Então, eu queria, assim, só começar...
00:00:06 DEBI
Como…Quando vocês chegaram em Israel?
00:00:11 ABRAÃO
Chegamos em março de 2018.
00:00:21 DEBI
Ok. E como é que surgiu a ideia de vir para Israel?
00:00:30 ABRAÃO
Nós sempre fomos sionistas, sempre incentivamos a ligação com Israel, nós éramos pessoas ligadas à comunidade judaica de São Paulo, na área de educação, na área de serviço social, na área de vida comunitária na sinagoga, fazia a parte do do Conselho da Hebraica, do Conselho da Unibes, a gente era voluntário no *inaudível*, enfim, estava inserido em todo o contexto comunitário, mas sempre focado em Israel. E nossos filhos começaram a fazer Alliyah, nós estávamos ainda ligados com...
00:01:25 ABRAÃO
o meu pai estava vivo e eu sou filho único, a filha é a única mulher, ela tem dois irmãos, mas a mãe dela também estava viva. Ambos faleceram, meu pai primeiro, depois faleceu a mãe dela.
00:01:44 ABRAÃO
E aí a gente começou a focar em pensar em vir para cá. Aí veio uma filha nossa, a Ivete, primeiro.
00:01:53 ABRAÃO
Aí depois veio... a minha neta para estudar no Mozenson, a filha da Gisela, a Clara.
00:02:02 ABRAÃO
A Gisela veio atrás com a outra neta, com a Letícia. Aí viemos nós.
00:02:11 ABRAÃO
Meu filho estava morando na Argentina, nós tínhamos sobrado só nós em São Paulo. Aí nós viemos para ficar mais perto dos filhos, dos netos, ver eles crescerem.
00:02:26 ABRAÃO
E para complementar, o mês passado meu filho da Argentina também veio de Allyiah com a esposa e mais duas netas.
00:02:39 DEBI
Uau. Isso é muito legal, né? Ter toda a família reunida aqui.
00:02:43 ABRAÃO
Vamos ter pela primeira vez, depois de muitos anos, um seder com todos os filhos em volta da mesa e com os filhos deles também.
00:02:53 DEBI
Uau! E como é que é esse sentimento de estar aqui e ter toda a família junto?
00:03:04 FRIDA
É um sentimento muito bom, de união, de prazer, muito prazer de ver os netos, ter eles aqui, vem todo mundo pra cá, vem todo mundo pra lá, muito bom. Realização, né?
00:03:23 DEBI
De realização. E essa realização tem alguma coisa a ver com lembranças do Brasil, por exemplo?
00:03:33 ABRAÃO
Olha, saudosismo. Escuta, a gente viveu mais de 60 anos da nossa vida no Brasil.
00:03:42 ABRAÃO
Só conhecendo aquilo. E, realmente, como eu falei, agora a sensação de poder ver a família toda de novo, nós tivemos a oportunidade de fazer um Kabbalat Shabbat já com todos os filhos, com todos os netos, e todos sentados à mesa, a gente estar junto, traz recordações do passado de quando eles eram crianças e estavam juntos à nossa mesa.
00:04:09 ABRAÃO
Então, a gente vê...
00:04:12 FRIDA
As conversas ficam girando em torno de como éramos todos juntos, e depois separou e voltou agora.
00:04:23 ABRAÃO
É. E a gente vê também a descendência seguindo dentro da vida judaica, já temos uma neta casada, uma neta está fazendo universidade via Tsavá, para depois prestar Tsavá, que é a Clara, filha da Gisela. E sei lá, é gostoso, é prazeroso.
00:04:55 ABRAÃO
Principalmente os netos que estavam na Argentina já estavam longe. Quando estavam no Brasil, a gente via com mais frequência.
00:05:03 ABRAÃO
Mas agora ter eles mais perto é muito prazeroso.
00:05:09 DEBI
Sim. E essa história de estar todo mundo na mesa junto, traz lembranças de comidas especiais que vocês faziam no Brasil e que vocês fazem aqui?
00:05:25 FRIDA
Não, ainda não estamos nessa fase do saudosismo de comida.
00:05:29 ABRAÃO
Veja bem, a reunião familiar principal, tão bom que era no Chavada, comidas normais. Mas a comida especial de Rosh Hashanah, a comida especial do *inaudível*, a cozinha judaica mesmo.
00:05:50 ABRAÃO
O que nós vamos falar? Nós vamos falar do gefiltefixe, dos credalés, e do biúfe e da compota na sobremesa.
00:06:02 ABRAÃO
É a nossa rotina, aquilo que a gente não lembra especificamente da comida, mas a gente já sabe quem que tem que preparar o fervo, porque a gente prepara o fervo do jeito que todo mundo está acostumado. Quem faz o crender, quem faz o guifre, cada um já tem a sua parte no negócio de comida, na preparação.
00:06:25 ABRAÃO
É tudo dividido, não é que a dona Frida vai cuidar da cozinha.
00:06:33 FRIDA
Cada um faz um pouco.
00:06:35 ABRAÃO
Fez as atribuições de cada um, dividiu as tarefas de cada um e a gente sabe que todos seguem, cumprem as regras judaicas, as regras de alimentícias sobre cachruta e tudo mais.
00:06:57 DEBI
Então as festas judaicas é mesmo uma tradição de família que veio, né? Da onde vieram seus pais?
00:07:06 FRIDA
Os dois da Polônia.
00:07:08 DEBI
Então é uma tradição que veio da Polônia para o Brasil e do Brasil segue para Israel e vai assim, né? Agora a quarta geração já está começando a aprender a fazer essas coisas.
00:07:21 ABRAÃO
No início, quando nós casamos, como na diáspora, como Leona Galuz tem duas noites de festas, então, um seder de Pêssar na minha família, a outra noite de Pêssar na família dela. Prochachaná, uma noite com a minha família, uma noite com a família dela.
00:07:42 ABRAÃO
Era só nós dois. Aí começaram a nascer os nossos filhos, que eram os netos dos nossos pais, e aí a gente começou a mudar um pouquinho as regras.
00:07:59 DEBI
Isso é muito legal, quando tem toda a família reunida nas festas ou no Shabbat, né. Mas e no dia a dia assim, como vocês são em Israel?
00:08:12 DEBI
Como é o dia a dia de vocês? Vocês procuram coisas brasileiras?
00:08:19 FRIDA
Não, especificamente comida brasileira, a gente não procura. Às vezes a gente vê uma coisa, “vamos levar, porque é do Brasil, vamos comer.”
00:08:34 FRIDA
Mas nada que seja muito importante.
00:08:38 ABRAÃO
É passear na Tacaná Mercasí, que de repente você encontra uma paçoquinha brasileira, uma farofinha.
00:08:45 FRIDA
Mas é mais pelo... Mais por ser brasileira do que pela saudade.
00:08:52 ABRAÃO
É, não é só por... É um saudosismo, mas não com uma carência.
00:09:01 ABRAÃO
“Vou pegar toda a prateleira, vou levar um monte de pacote.” Vamos lembrar um pouquinho do Brasil.
00:09:08 ABRAÃO
Passar numa prateleira de supermercado, uma garrafinha de Guaraná, mesmo que seja feita em Portugal, não foi feita no Brasil, mas está bom. A gente gostava de Guaraná no Brasil, mas vive sem Guaraná aqui também.
00:09:20 ABRAÃO
E a gente compra uma só para matar o... o gosto, a lembrança, mas nada essencial.
00:09:34 DEBI
E como é que foi a transição, assim.. Vocês vieram do Bom Retiro, não é?
00:09:37
ABRAÃO
Sim.
00:09:40 DEBI
A transição do Bom Retiro para Israel?
00:09:49 ABRAÃO
É uma virada de ponta cabeça, né. Vira totalmente, é uma rotina diferente, é uma realidade diferente, é um timing diferente, não é nada igual como a vida no Brasil.
00:10:07 FRIDA
É uma língua diferente.
00:10:09 ABRAÃO
É uma língua que eu ainda…
00:10:14 FRIDA
Que eu ainda não me adaptei.
00:10:16 ABRAÃO
Para a Frida tem sido uma dificuldade.
00:10:18 ABRAÃO
E também a questão aqui, o fato de não ter domingo, por exemplo, né. Então são os Shabats, você quer guardar o Shabat, não dá para fazer muitas coisas, mas no resto dos outros dias dá. As crianças estão na escola, os pais estão trabalhando e nós dois somos aposentados.
00:10:42 ABRAÃO
Então, a nossa rotina durante a semana somos nós dois e a Duda, a nossa cachorrinha.
00:10:57 ABRAÃO
E eu como tenho menos dificuldade do que ela com a língua, eu fui buscar serviço de voluntariado. Então, eu trabalho como voluntário no Bitoacliumi e trabalho como voluntário no Hospital Wolfson.
00:11:17 DEBI
E o que quer dizer ser voluntário?
00:11:22 ABRAÃO
No Bituaclomi eu faço a visita domiciliar, inicial para as pessoas que pedem algum tipo de assistência. Então vou lá, vou verificar as condições de moradia, vou verificar como a pessoa se alimenta, se falta alimento, como é que está a condição de moradia, se a casa está limpa, se a casa está bem estruturada, se tem ar-condicionado, se tem ar quente, ar frio, se tem geladeira, se tem um forno.
00:12:00 ABRAÃO
E agora, essas últimas, nas últimas semanas, eu passei a trabalhar com meia plus, só com pessoas com mais de 100 anos de idade. e que estão fazendo visita domiciliar, não estou procurando eles nos asilos, não.
00:12:21 FRIDA
Não, aqui na cidade.
00:12:23 ABRAÃO
Que moram aqui na cidade, em casa. Alguns moram com metapélito, tem um que fui ver semana passada que é 100% independente, com 101 anos, assim coisas deliciosas, lindas de a gente ver.
00:12:44 ABRAÃO
E no Wolfson, no Hospital Wolfson, eu também trabalho só com o pessoal de terceira idade. A Irrida Tsubula é uma ONG do *inaudível* Ministério da Igualdade Social, e que tem um ramo específico para atendimento para maiores de 70 anos, os que já entraram em idade de aposentadoria, 62 mulheres e 67 homens.
00:13:15 ABRAÃO
E eu passo visita aos internados que estão nesta faixa etária para explicar quais os direitos que eles têm por estarem nessa faixa de idade, que a maior parte das pessoas não conhece. Vou até chamar de defeito, tá?
00:13:35 ABRAÃO
Um dos defeitos aqui de Israel é que você tem um monte de direitos, mas se você não for procurar, ninguém te conta.
00:13:43 DEBI
Pois é.
00:13:44 ABRAÃO
Então, o papel é ir lá e falar, “olha, você sabe que você tem direito a isso, você tem direito a um desconto, você tem direito a pedir auxílio para o Beto Aklemi para ter uma ajudante em casa”, enfim, nesse sentido. Esse é o meu trabalho de voluntariado.
00:14:02 DEBI
E o que é ser, para você, voluntariado em Israel?
00:14:07 FRIDA
Ser voluntário em Israel?
00:14:10 ABRAÃO
Para mim, voluntariado sempre foi uma prioridade de realização pessoal. Você sente que está sendo útil para alguém.
00:14:21 ABRAÃO
Quando você vê as pessoas que... ficam agradecidas e que depois vão atrás daquilo que a gente falou e descobriram que conseguiram.
00:14:32 ABRAÃO
“Olha, que bom, obrigado por ter vindo. Olha que coisa bonita que você fez.”
00:14:39 ABRAÃO
É prazeroso saber que a gente pôde ser útil para alguém. Era o que eu fazia na Unibis, no TNA, na Hebra Kadisha, que eu trabalhei quase 50 anos com a Hebra Kadisha.
00:14:55 ABRAÃO
Enfim, sempre focado em ajudar os semelhantes.
00:15:02 DEBI
O que é o TNA? TNA?
00:15:08 DEBI
Ah, TNAdo.
00:15:10 ABRAÃO
TNAdo.
00:15:11 DEBI
Ah, ok.
00:15:13 ABRAÃO
Aquele que distribui refeições, que manda alimentos, cesta básica, cesta de laticínio, cesta de carne, manda ir na casa das pessoas que não têm condições de vir lá fazer refeição no refeitório comunitário.
00:15:44 DEBI
Sim. E o dia-a-dia de vocês aqui em Israel, em relação a almoço, janta…
00:15:45 FRIDA
É normal.
00:15:46 DEBI
Vocês conservam algum gosto?
00:15:47 DEBI
Que que é normal?
00:15:48 FRIDA
Normal igual do Brasil.
00:15:49 DEBI
Como é?
00:15:51 FRIDA
Eu faço comida normal. E a gente faz ginástica duas vezes por semana, andamos na praia.
00:16:03 FRIDA
A vida é essa, a gente não tem, assim uma obrigação. Fora o voluntariado, a gente faz a ginástica e passeia.
00:16:14 ABRAÃO
Uma vez por semana a gente ou vai comer uma pizza fora, ou vai comer um almoço fora.
00:16:24 DEBI
Como se fazia no Brasil, né?
00:16:25 ABRAÃO
Exato.
00:16:26 ABRAÃO
Mais ou menos.
00:16:29 FRIDA
Lá a gente não comia tanto fora, só no domingo. Na verdade, mas...
00:16:34 ABRAÃO
Não todo domingo.
00:16:35 FRIDA
Não todo, mas nos domingos a gente costumava sair.
00:16:39 ABRAÃO
Aqui a gente faz dia de semana.
00:16:43 DEBI
E o que é a comidinha normal do dia a dia que você faz, Frida?
00:16:48 FRIDA
Eu continuo fazendo arroz com feijão, carnes de panela, alguma coisa daqui a gente faz.
00:16:58 ABRAÃO
Schnitzel.
00:16:59 FRIDA
Aí schnitzel para variar. É bom e é prático.
00:17:05 ABRAÃO
Salada.
00:17:06 FRIDA
É, muita salada todo dia. E é assim, continuo cozinhando normal.
00:17:15 ABRAÃO
De vez em quando chips. No inverno a gente faz uma sopa boa “pra” de noite, quentinho.
00:17:25 DEBI
E tem coisas especiais que os filhos e netos pedem?
00:17:31 FRIDA
Tem. Eles pedem estrogonofe, alguns pedem alguma comida judaica. Canja, eles gostam.
00:17:43 FRIDA
Assim, coisinhas que a gente fazia também no Brasil.
00:17:48 ABRAÃO
Caxi.
00:17:49 FRIDA
É, caxi.
00:17:52 DEBI
Uau. Então mais ou menos, vocês..
00:17:59 ABRAAO
O campeão é a maionese.
00:18:04 FRIDA
É, maionese de batata.
00:18:06
Ah. Salada de maionese.
00:18:09 FRIDA
Eles falam que do jeito eu faço fica melhor do que o da mãe.
00:18:06 FRIDA
Sei lá, nunca fica igual.
00:18:17 DEBI
Vocês meio que copiaram um pouquinho, né, a vida do Brasil para cá.
00:18:24 FRIDA
Sim, continuando, é.
00:18:25 DEBI
Falando português também, conservando a língua.
00:18:29 FRIDA
Sim. Sim.
00:18:32 FRIDA
Se ele falasse hebraico comigo, eu teria aprendido mais, mas continuou o vício do português.
00:18:40 DEBI
Sim, é difícil desprender, assim, uma língua.
00:18:47 FRIDA
É.
00:18:48 DEBI
E alguma coisa, outra experiência que vocês queriam contar sobre a vinda a Israel, como é viver aqui, como brasileiro?
00:18:57 DEBI
Vocês encontram…Quando você vai nas suas visitas, Abraão, você fala que você é brasileiro?
00:19:02 ABRAÃO
Olha, nas instituições, no Wolfson e no Bituacrim, eles sabem que eu sou brasileiro, e a lista de prioridades para quando tem alguma situação de dificuldade, de emergência, e que a pessoa não fala sequer o inglês ou só fala português, seja porque é Olé Khadash, seja porque é turista. Por exemplo, no hospital várias vezes me chamaram porque não tinha comunicação, a pessoa não conseguia se expressar para o médico para dizer o que sentia, e não conseguia entender o que a enfermeira estava falando.
00:19:41 ABRAÃO
Então, eles me chamam, eu vou até lá e faço essa ponte entre brasileiro e o israelense. A mesma coisa para o Mithua Kleumig, precisa, ele precisa se inscrever, ele precisa pedir ajuda, e a gente vai e faz toda a assistência.
00:20:01 ABRAÃO
Eu estou já há mais de oito meses. Eu tô dando assistência para uma família aqui em Batiame, de Olinda, no Brasil. É um rapaz de cinquenta e poucos anos, que fez Alliyah com o pai de *inaudível*, e uma mãe de 94, então…
00:20:20 ABRAÃO
E ele também tem os problemas dele?
00:20:31 ABRAÃO
Ele tem os problemas psicológicos dele, não importa. Mas não consegue, não consegue desatar nó nenhum, não conseguia desatar nó numa estrada plena pra sentar, pra tirar carteira, ou dar 18, sem ter 18, não fazia *inaudível*.
00:20:44 ABRAÃO
Imagina abrir conta no banco pra uma pessoa de 98 e outra de 94, que tem medo de assinar, que tá entregando a vida dele. Então, até conseguir ganhar confiança e poder...
00:20:58 ABRAÃO
Até hoje, tem... tem um monte de pendências que a gente ajuda.
00:21:04 ABRAÃO
Então, eles sabem que não adianta mandar alguém falando russo que tem de monte, que não vai adiantar nada. Então, a gente se sente útil, e é prazeroso ser útil, e a gente tá nessa aqui.
00:21:20 FRIDA
É agora aqui, coisas boas, tem muito a nossa liberdade de ir e vir sem ter medo de ser roubado, de puxarem correntinha. A segurança em geral, apesar de ter problemas, mas a gente não sente assim, tanto quanto no Brasil.
00:21:47 FRIDA
Isso é uma coisa muito importante.
00:21:51 ABRAÃO
Nós olhamos de frente para o mar, e aqui em Batial. Então, sair na Mirpé, meia-noite, uma hora da manhã, praia iluminada, e as pessoas passeando, os jovens passeando, conversando, os pais não estão preocupados em casa com a segurança, “será que o meu filho vai chegar? Não vai acontecer nada?”
00:22:11 ABRAÃO
Então, não tem aquela questão “me liga quando estiver aqui”, “me liga quando”... Não existe essa tortura psicológica. Então, aqui é muito tranquilo. Isso muito importante, e isso dá uma qualidade de vida diferente para as pessoas.
00:22:31 ABRAÃO
Não fica essa tensão o tempo todo.
00:22:36 FRIDA
É, você vai para a praia, larga a sacola na cadeira, vai para o mar e a sacola fica lá, ou você vai andar e continua lá, tudo bem. Enquanto que ali não dava no Brasil.
00:22:51 ABRAÃO
Se você esquece alguma coisa num banco, vai embora e você volta no jardim onde você estava, está lá, ninguém pega.
00:23:03 FRIDA
Ninguém pega.
00:23:06 DEBI
Então, essa sensação de segurança, segurança pessoal, um pouco de falta de violência.
00:23:11 FRIDA
É importante, ainda para a gente que já tem mais idade, não dá para sair correndo atrás de pessoas, esse tipo de coisa. Então, a gente se sente mais seguro.
00:23:27 ABRAÃO
Tem coisas pequenas, mas que faz diferença, que é essa de você pôr o pé na faixa de pedestre e os carros, de vez em quando não para, mas não é que nem no Brasil, que sempre não para.
00:23:40 FRIDA
Sim, eles não têm essa educação.
00:23:42 ABRAÃO
Não tem, é um outro tipo de formação. Muita coisa mudou.
00:23:50 ABRAÃO
A gente está acostumado mais, quando vai a um lugar, a uma loja, para fazer uma compra, você conversar. Aqui não, quer, quer.
00:24:04 ABRAÃO
Não quer, não pega. “Tem outra coisa?”
00:24:06 ABRAÃO
“Não, é o que tem aqui. Você acha que se tivesse aqui, eu não ia mostrar para vender?”
00:24:12 ABRAÃO
Eles são muito secos, não são agressivos, eles são ríspidos. É uma característica do israelense.
00:24:22 ABRAÃO
É muito... Tarklis, não é, não é.
00:24:26 ABRAÃO
Você quer, quer. Não quer, não quer.
00:24:27 ABRAÃO
Acabou. Não tem muito...
00:24:31 ABRAÃO
É o famoso Zé Machiej. É o que temos.
00:24:33 ABRAÃO
É o que temos para hoje. É isso.
00:24:36 ABRAÃO
A gente não está muito acostumado com isso. A gente estava mais acostumado no...
00:24:44 FRIDA
Na paparicação.
00:25:24 ABRAÃO
É, no falar mais aconchegante, mais próximo.
00:24:51 ABRAÃO
E também na questão de alimentação, que você tá focando, para nós, na questão do nosso paladar, na culinária israelense, a mudança nos temperos. São temperos muito…
00:25:08 FRIDA
Fortes.
00:25:10 ABRAÃO
Muito fortes, muito marcantes.
00:25:12 ABRAÃO
Você tem o chilli, você tem os apimentados, você tem o haribe, você tem o ultra picante, você tem a cúrcuma que pingou na roupa, é uma loucura, o molho de tomate que mancha, que é uma beleza. O tomate é mais ácido.
00:25:34 ABRAÃO
Então, algumas coisinhas de paladar que a gente sentiu diferença, mas não... Nada de negativo nisso, simplesmente que é diferente.
00:25:51 DEBI
Sim, a comida sempre é diferente de um lugar para o outro. Depende da região também.
00:25:57 ABRAÃO
Claro.
00:26:02 DEBI
Isso também...
00:26:02 ABRAÃO
Em 60 e tantos anos da vida, a gente viveu no...
00:26:09 FRIDA
Sem pimenta. (risos)
00:26:11 FRIDA
E agora nós estamos entrando na pimenta.
00:26:14 DEBI
Ah, você já tá cozinhando com pimenta?
00:26:18 FRIDA
Não, eu não cozinho com pimenta, mas se come fora e é um pouquinho ardidinho, tá? Não é pra rejeitar e falar não, não vou comer porque tá picante.
00:26:30 FRIDA
A gente come um pouco.
00:26:31 DEBI
Mas já tá se acostumando.
00:26:33 FRIDA
É.
00:26:34 ABRAÃO
Às vezes a gente vai num lugar para conversar, pra comer, a gente estranha. A gente, uma vez por mês, pelo menos, a gente vai num local que chama de buffet, né, que é comida pronta para o shabat.
00:26:49 ABRAÃO
Não precisa cozinhar para o shabat, a gente vai e compra, não tem problema. Então, já vem temperado tudo.
00:26:57 FRIDA
É, tem que ficar perguntando se é rarito, se não é, senão a gente acaba pegando o carinho.
00:27:09 DEBI
Aí tem que tomar muita água, não é?
00:27:12 FRIDA
É. (risos)
00:27:13 ABRAÃO
É desagradável você querer comer pelo prazer de uma alimentação diferente e você fica lá que nem um dragão botando fogo. (risos) A gente vai para ser prazeroso.
00:27:32 DEBI
Sim. Alguma outra experiência da vida no Brasil, em São Paulo, para a vida daqui?
00:27:43 DEBI
Algumas diferenças, algumas coisas que vocês continuam?
00:27:50 FRIDA
Tem relação também com empregados, que aqui a gente não tem nada disso, das mordomias…
00:27:58 ABRAÃO
Empregada doméstica.
00:28:00 FRIDA
mas dá para se virar. O apartamento aqui é metade e não é nosso, não se pode fazer o que quer.
00:28:09 FRIDA
Então, a gente nunca viveu de aluguel, desde que casamos. Então, a gente estranhou um pouco, realmente.
00:28:19 FRIDA
Mas, fora isso, nada de diferente, assim que seja…
00:28:29 ABRAÃO
É. Aqui, quando você fala em Menaquera, é quem vem fazer a…
00:28:35 FRIDA
A limpeza.
00:28:37
Limpeza. “O vidro eu não limpo, azulejo eu não limpo.”
00:28:41 ABRAÃO
A gente não está acostumado com isso. Está certo que, comparando o que acontece aqui com o que tinha no Brasil, por mais respeito e mais que a gente tratasse bem uma empregada doméstica, uma diarista, né.
00:28:54 FRIDA
É, era só diarista, não é que nem aquiolista.
00:28:59 ABRAÃO
Era mais no estilo e lembrança do escravagismo no Brasil, que tem que fazer tudo, tem que cozinhar, tem que lavar, tem que limpar. Aqui não.
00:29:10 ABRAÃO
“Eu sou faxineiro, não mexo com comida.” Tudo não me toca, e não me…eu toco no relógio, ó!
00:29:16 ABRAÃO
Tá aqui, tá correndo o tempo. A gente não está acostumado com esse estilo, mas…
00:29:30 DEBI
Essa questão é mesmo diferente do Brasil.
00:29:33 ABRAÃO
Muito.
00:29:36 DEBI
Vocês levantaram vários assuntos que dá para entender uma diferença do costume de vida que se tinha em São Paulo e do costume de vida que se tem aqui em Israel. Mas eu acho que o mais, quando a gente começou a conversar, a lembrança que vocês trouxeram de estar todo mundo batendo o papo em volta da mesa, e é o que está realmente acontecendo agora.
00:30:05 DEBI
Você disse, né, Abraão, o último Kabbalat Shabbat, vocês fizeram juntos, agora você… Então, essa lembrança de ter a família junta em volta da mesa é muito emocionante, né?
00:30:17 ABRAÃO
Sem dúvida.
00:30:21 DEBI
Sim. Eu acho que é isso, só se vocês quiserem falar mais alguma coisa.
00:30:31 ABRAÃO
Nada de especial.
00:30:34 ABRAÃO
Aqui também… a gente está… É engraçado, só como um fato curioso, aqui todo mundo sai de shabbat. No calçadão, tem performances de grupos, de pessoas que cantam, que dançam, que fazem mágica, palhaços para crianças. Enfim, tem um monte de atividades, principalmente no verão. No inverno é…
00:31:02 ABRAÃO
Aí no verão, parece que estou ouvindo o som de berimbau. Saímos na varanda, era o som de berimbau, e a gente estava escutando lá, “marinheiro, marinheiro, marinheiro só” Ah vamos descer! Vamos lá. A gente foi lá, tinha uma roda ali.
00:31:29 FRIDA
Deve ter brasileiro.
00:31:30 ABRAÃO
Claro, claro, a gente procura, batemos numa cidade com muitos brasileiros, a gente sempre procura encontrar algum. Fomos lá, tinha a roda de capoeira, tinha o pessoal dentro fazendo performance, a roda, todo mundo cantando, tocando berimbau e tambores e tudo mais.
00:31:49 ABRAÃO
Aí cheguei perto de um, falei, “e aí, tudo bem?” Ele falou “inaudível”.
00:31:56 ABRAÃO
Vocês não são brasileiros? Brasil?
00:32:01 FRIDA
E ninguém era do Brasil.
00:32:02 ABRAÃO
Todos os israelenses, todo o grupo, até o mestre lá da capoeira são todos israelenses (risos). Todos os israelenses.
00:32:11 ABRAÃO
Tanto que o português não sabe o que estão cantando, porque é a música que canta no ritmo da capoeira. Ficou assim meio espantado com isso, mas foi bacana.
00:32:25 DEBI
É um pouquinho do Brasil em Israel, né?
00:32:29 FRIDA
É. E o pessoal gosta de capoeira.
00:32:33 DEBI
Sim, o pessoal gosta muito de capoeira. Eu só queria complementar com alguns dados.
00:32:43 DEBI
Eu vou começar com o Abraão e depois com você, Frida. Abraão, você podia dizer a data de seu nascimento?
00:32:50 ABRAÃO
11-12-49. 72, 72 no momento.
00:33:06 DEBI
Você nasceu em São Paulo?
00:33:07 ABRAÃO
Sim.
00:33:13 DEBI
E agora você mora em Baquiao, não é?
00:33:15 ABRAÃO
Isso.
00:33:17 DEBI
E qual que é a sua formação escolar?
00:33:21 ABRAÃO
Eu sou da área de educação, formado bacharel licenciado e pós-graduado em pedagogia e em educação.
00:33:45 DEBI
No Brasil, além de ser professor de Barmitzvah, qual que era o cargo… Diretor do Renascença, né?
00:34:00 FRIDA
Da faculdade.
00:34:02 ABRAÃO
Diretor da faculdade. É a faculdade Renascença.
00:34:08 ABRAÃO
Tem 11 cursos.
00:34:09 DEBI
Renascença eu vi que completa 100 anos agora.
00:34:22 ABRAÃO
Sim. Eu fui aluno do Renascença antes de trabalhar na Renascença.
00:34:31
Uau
00:34:32 ABRAÃO
A frida também.
00:34:37
É. Eu parcialmente.
00:34:48 DEBI
Ok. Agora eu vou fazer com a...
00:34:54 DEBI
Com a frida. E também, qual que é a sua data de nascimento?
00:35:12 FRIDA
13 do 11 de 50.
00:35:18 DEBI
Também em São Paulo, né?
00:35:25 FRIDA
É.
00:35:27 DEBI
Ok. E qual é a sua formação?
00:35:30 FRIDA
Também é pedagogia.
00:35:50 DEBI
Ok. O resto é igual, né?
00:35:55 FRIDA
Ah, e eu trabalhei na escola supletiva Moisés Weiner nos últimos 10 anos.
00:36:03 DEBI
Como professora?
00:36:04 FRIDA
Como coordenadora.
00:36:07 DEBI
Coordenadora.
00:36:11 FRIDA
Coordenadora pedagógica.
00:36:13 DEBI
Coordenadora pedagógica, não?
00:36:14 FRIDA
Isso.
00:36:16 ABRAÃO
E antes ela foi professora.
00:36:17 FRIDA
É, sempre fui professora. Só no supletivo que eu fui coordenadora.
00:36:25 DEBI
Ok. E agora aposentada.
00:36:29 FRIDA
É.
00:36:29 DEBI
Ok. Então, sobre isso tá tudo bem.
00:36:36 DEBI
Então, eu só queria explicar. Depois que eu receber a gravação pelo Zoom, eu envio pelo seu...
00:36:46 DEBI
Você podia me escrever, Abraão, no WhatsApp, o seu e-mail? Porque o file é pesado, então não dá para mandar por WhatsApp.
00:36:58 DEBI
Eu posso enviar por e-mail. Nesse primeiro momento, a gente vai usar algumas frases para fazer os pôsteres da exposição.
00:37:09 DEBI
Depois, quando a exposição for virtual, a gente também vai usar partes do vídeo, que é a história contada.
00:37:19 DEBI
Mas eu estou passando para…
00:37:21 ABRAÃO
Só mais uma coisinha.
00:37:22 ABRAÃO
Você falou que que sente saudosismo do Brasil?
00:37:26 FRIDA
De comida.
00:37:26 DEBI
Sim, por favor.
00:37:27 ABRAÃO
Sem ser comida.
00:37:29 FRIDA
Ah, sem ser comida.
00:37:31 DEBI
Sem ser comida, o que você quiser.
00:37:33 ABRAÃO
Televisão, novela…
00:37:36 DEBI
Televisão.
00:37:37 ABRAÃO
Jogo do Corinthians…
00:37:39 DEBI
Oó!
00:37:41 ABRAÃO
Mas a gente... Nós trouxemos um aparelhinho que...
00:37:48 ABRAÃO
Muita gente assistiu os canais de televisão do Brasil para acompanhar o noticiário do que passa no Brasil. Na hora do almoço, aqui, assistir o “Bom Dia São Paulo”, a manhã do dia em São Paulo, na hora da janta, assistir o que acontece na hora do almoço no Brasil.
00:38:09 ABRAÃO
O fuso horário.
00:38:10 DEBI
É por causa do fuso horário, né?
00:38:13 DEBI
É, mas isso faz parte da rotina do dia a dia, né, assistir ao jornal, assistir à novela, conservar a língua.
00:38:23 FRIDA
E de comida, você falou que tem saudades do pãozinho fresco.
00:38:28 ABRAÃO
Pãozinho da padaria, não tem. Não achamos aqui em lugar nenhum.
00:38:40 ABRAÃO
Pão francês…
00:38:46 DEBI
Não tem aqui…Nem o pão na chapa, né?
00:38:50 ABRAÃO
Não, o que falta aqui é o bar da esquina.
00:38:53 DEBI
Isso.
00:38:54 ABRAÃO
Tomar uma caipirinha, tem que se virar em casa.
00:38:58 FRIDA
Tem um monte de cafeteria.
00:39:00 ABRAÃO
Tem um monte de cafeteria.
00:39:05 DEBI
Sim.
00:39:05 DEBI
Quer ir no bar?
00:39:10 ABRAÃO
Não é a mesma coisa que pé no balcão, num bar…
00:39:15 FRIDA
Ou numa padaria, ficar em pé lá
00:39:16 ABRAÃO
E batendo papo.
00:39:16 FRIDA
E comer um pedaço de pizza.
00:39:22 ABRAÃO
É diferente. Aliás, a pizza aqui, por sinal, a pizza aqui é lamentável.
00:39:28 FRIDA
Falta recheio.
00:39:32 ABRAÃO
As pizzas são raras. A pizza no Brasil era bem caprichada nos queijos, nos inaudível.
00:39:43 ABRAÃO
Aqui uma pessoa está mais preocupada com a massa do que com a cobertura. Lá a gente queria mais a cobertura e menos a massa.
00:39:50 DEBI
Sim.
00:39:53 ABRAÃO
Coisinhas bobas.
00:39:54 FRIDA
Não é nada que deixa a gente assim…
00:40:00 ABRAÃO
Catupiry.
00:40:04 DEBI
(Risos) Catupiry é boa.
00:40:07 ABRAÃO
O pão de queijo recheado de catupiry.
00:40:12 FRIDA
É, dá um bom...
00:40:14 ABRAÃO
Tem isso, não tem problema.
00:40:15 FRIDA
Lógico. A gente acostuma com tudo.
00:40:19 ABRAÃO
Não que a gente está desesperado, vou para o Brasil, não vou nem sair do aeroporto, já vou lá no balcão do pão de queijo. Não é assim, mas...
00:40:30 DEBI
Não, mas são lembranças, né? Porque a gente, como Olino Radaxi, traz uma bagagem cultural, traz nossos costumes do Brasil e chega aqui e existem outros costumes, né?
00:40:46 DEBI
Aí tem a fase da adaptação, que a gente se adapta a novos costumes, mas ainda aquele…a falta de uma coisa, como a padaria, eu também, inclusive porque a gente tinha três perto de casa, né. Eu posso entender.
00:41:04 ABRAÃO
O conceito de padaria aqui é totalmente diferente.
00:41:08 DEBI
Exatamente.
00:41:09 DEBI
O que eles propõem também é diferente.
00:41:15 FRIDA
Porque aqui não tem coxinhas, empadinhas, essas coisas, mas tem aqueles mil tipos de burecas que lá também não tem. Então, é costume diferente.
00:41:27 DEBI
É costume diferente. Muito legal, é verdade, o bar da esquina, o barzinho da esquina, muito bem lembrado.
00:41:42 DEBI
Mais alguma coisa?
00:41:47 ABRAÃO
Sei lá. Lá era uma outra realidade. Tem saudade de um chocolate da Copenhague.
00:42:00 ABRAÃO
Aqui o chocolate é outro tipo de conceito, as docerias é outro tipo de conceito, o tipo de bolo é totalmente diferente. Enfim, mas nada desesperador.(risos)
00:42:15 DEBI
Mas quando você diz saudades do chocolate da Copenhague, porque onde estava a Copenhague também, como é que falava em índice? Aquele era o ponto de encontro assim, né.
00:42:27 DEBI
Não é só o chocolate também, é a lembrança. Mesmo agora já não tem lá no ponto, não tem mais Copenhague.
00:42:43 FRIDA
A gente fica com lembranças do passado, memórias de levar as crianças, sei lá.
00:42:52 ABRAÃO
O beigaleiro, aqui não tem beigaleiro.
00:42:54 FRIDA
Beigaleiro duro.
00:42:55 ABRAÃO
Aquele beigaleiro duro que o beigaleiro vendia na porta da escola, que ia na casa da namorada.
00:43:03 DEBI
Não, aqui não tem. Tem um beigale mais molinho que tem na...
00:43:07 FRIDA
Mas aí é tipo pão.
00:43:14 ABRAÃO
É. É um pão com gergelim, arredondado. Não é igual.
00:43:18 ABRAÃO
Não é a mesma coisa.
00:43:22 DEBI
São muito bonitas essas lembranças e também essas ligações que a gente faz às vezes com o passado e a comida. Mais ou menos é um pouco disso que a gente está querendo trazer nesta exposição.
00:43:40 DEBI
Essa experiência que a gente tem com o Olimpo-Radachim, imigrantes num outro país, e qual é a nossa carga…
00:43:50 FRIDA
É. Ser judeu em outro país também.
00:43:55 DEBI
cultural, familiar… Isso.
00:43:58 ABRAÃO
Você viu, por exemplo, uma coisa que também teve esses dois anos de corona, o desastre aí na, na…
00:44:05 FRIDA
Atrapalhou tudo.
00:44:04 ABRAÃO
Atrapalhou tudo. Dois anos que fizemos Seder e Peça, e eu com ela e ela comigo, não tinha jeito, mas por exemplo, lá no Brasil…
00:44:14 DEBI
E o cachorro?
00:44:19 ABRAÃO
É. O cachorro. Mas ela não é chegada na Maçã, não. Mas, por exemplo, lá na sinagoga, em São Paulo, a gente fazia Seder comunitário, cinquenta, sessenta pessoas.
00:44:35 ABRAÃO
A gente fazia cedre em Rocha Chána, fazia cedre de tubispato, com frutas, com…e aqui a gente não vê isso. A gente não vê isso acontecer aqui nas sinagogas.
00:44:50 ABRAÃO
É cada um por si.
00:44:51 FRIDA
É rezou e cai fora.
00:44:54 ABRAÃO
Quando muito você vai ter algum frequentador que vai ver que você é novo, que chegou, e vai, no dia que você quiser, vir em casa, um shabat, jantar, você é meu convidado.
00:45:09 ABRAÃO
Mas nada além disso. Não tem essa ação comunitária, como as sinagogas fazem no Brasil.
00:45:21 ABRAÃO
Fazem ainda em São Paulo.
00:45:25 DEBI
É, a realidade é um pouco diferente. A falta de comunidade que existe quando é Olimp Khadoshim.
00:45:41 ABRAÃO
Que é assim, ou você se amarra numa sinagoga e segue lá, forma uma panela com eles lá, forma um grupo com eles lá, ou você fica de lado mesmo.
00:45:54 DEBI
Sim.
00:45:56 ABRAÃO
Não tem esse aconselho, esse acolhimento. Isso funciona um pouquinho em Modine, em Ranana, onde tem Rabino Brasileiro, tem Sinagoga de Brasileiros.
00:46:13 ABRAÃO
Mas os outros… Agora estão formando lá em Harishna, também.
00:46:18 DEBI
Harish também.
00:46:19 FRIDA
Ah, tem, tem bastante.
00:46:22 ABRAÃO
É. Estão formando uma comunidade de brasileiros organizada e tal. Um monte de ex-alunos do Rio de Janeiro.
00:46:31 DEBI
Ah, estão ali?
00:46:34 ABRAÃO
É.
00:46:34 DEBI
É, essa importância quando começa a aumentar o fluxo de imigrantes do Hadashin e do Brasil para cá e começa a ter mais organizações independentes de comunidades. Realmente o número de brasileiros em Israel não é muito grande.
00:46:55 ABRAÃO
Não. E estão espalhados.
00:46:57 DEBI
E são espalhados.
00:47:00 ABRAÃO
Em Bexarba tem também uma comunidade de brasileiros. Está ligado com outros falantes de língua espanhola, mas tem um rabino brasileiro, um rabino de Washington, um rabino do México, na mesma sinagoga.
00:47:16 DEBI
Ah, ok. É importante essas organizações independentes.
00:47:25 ABRAÃO
Isso.
00:47:27 DEBI
Ok. Então, obrigada, Haksamea a toda a família.
00:47:34 ABRAÃO
Haksamea, bom persa. Tudo de bom.
00:47:36 DEBI
Bom persa. Tchau, bom ver vocês.
00:47:39 FRIDA
Tchau. Tchau.
00:47:40 ABRAÃO
Qualquer coisa que faltar do seu questionário que você ia procurar, não achou, mas… estamos à disposição.
00:47:47 DEBI
Eu entro em contato, sim.
00:47:48 ABRAÃO
Tá bom.
00:47:49 DEBI
Obrigada. Tchau, tchau.
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