00:00:03 DEBI
Ok. Então, se ela não vai entrar... Até ela entrar, eu faço as perguntas.
00:00:13 ADRIANA RUSSI
Oi, Dov!
00:00:16 DOV
Oi! Bem-vindo a Israel!
00:00:18 ADRIANA RUSSI
Finalmente!
00:00:21 DOV
Finalmente você está aí!
00:00:24 ADRIANA RUSSI
Pois é, me sugeriram ir tomar um banho de sal grosso lá no Mar Morto, para tirar toda a...
00:00:32 DOV
É difícil. É difícil chegar até o mar.
00:00:37 ADRIANA RUSSI
Mas, finalmente, que bom. Que bom também estar com você aqui hoje.
00:00:42 DOV
Como é que está se arrumando em Jerusalém? Está bem?
00:00:45 ADRIANA RUSSI
Sim, me instalei hoje no alojamento aqui da universidade.
00:00:50 DOV
Ah, hoje você mudou lá para o…
00:00:53 ADRIANA RUSSI
Sim.
00:00:53 DOV
É um lugar bonito. Tem toda a vista da Cidade Velha lá.
00:00:57 ADRIANA RUSSI
Bem, bem bonito. Muito lindo.
00:01:02 DOV
Mas o campus é assim meio, é um labirinto.
00:01:05 ADRIANA RUSSI
Nossa, tô tentando entender. Tudo bem espalhado, muito grande também, né?
00:01:13 DOV
E tudo a mesma coisa, quer dizer, tem esses hexágonos. Quando eu passei pra lá, eu estudava no outro campus. Quando eu passei pra lá, Era uma frustração, porque cada vez eu ia, ia e estava no mesmo lugar.
00:01:31 ADRIANA RUSSI
Está um pouco confuso. Dizendo até que tem uma piada interna lá entre as pessoas que estão trabalhando e tal. que eu falei que eu me senti um pouco perdida, e aí a professora Ruth, que é a minha ofitriã, com uma colega que estava trabalhando com ela, ah, não se preocupa, todos nós nos.
00:01:51 DEBI
Sentimos perdidos aqui até hoje. Eu acho que é um dos piores campos que tem.
00:02:04 ADRIANA RUSSI
Mas combinei com o Deb, que ela vai conduzir a nossa conversa hoje.
00:02:13 DOV
Ok, estou à disposição.
00:02:16 DEBI
Obrigada. Adriana, você começa com as perguntas?
00:02:20 ADRIANA RUSSI
Sim, só queria um pouco registrar, eu sei que a Bebe já falou com você, Edóvio, a gente está estreitando...
Continuar leitura00:00:03 DEBI
Ok. Então, se ela não vai entrar... Até ela entrar, eu faço as perguntas.
00:00:13 ADRIANA RUSSI
Oi, Dov!
00:00:16 DOV
Oi! Bem-vindo a Israel!
00:00:18 ADRIANA RUSSI
Finalmente!
00:00:21 DOV
Finalmente você está aí!
00:00:24 ADRIANA RUSSI
Pois é, me sugeriram ir tomar um banho de sal grosso lá no Mar Morto, para tirar toda a...
00:00:32 DOV
É difícil. É difícil chegar até o mar.
00:00:37 ADRIANA RUSSI
Mas, finalmente, que bom. Que bom também estar com você aqui hoje.
00:00:42 DOV
Como é que está se arrumando em Jerusalém? Está bem?
00:00:45 ADRIANA RUSSI
Sim, me instalei hoje no alojamento aqui da universidade.
00:00:50 DOV
Ah, hoje você mudou lá para o…
00:00:53 ADRIANA RUSSI
Sim.
00:00:53 DOV
É um lugar bonito. Tem toda a vista da Cidade Velha lá.
00:00:57 ADRIANA RUSSI
Bem, bem bonito. Muito lindo.
00:01:02 DOV
Mas o campus é assim meio, é um labirinto.
00:01:05 ADRIANA RUSSI
Nossa, tô tentando entender. Tudo bem espalhado, muito grande também, né?
00:01:13 DOV
E tudo a mesma coisa, quer dizer, tem esses hexágonos. Quando eu passei pra lá, eu estudava no outro campus. Quando eu passei pra lá, Era uma frustração, porque cada vez eu ia, ia e estava no mesmo lugar.
00:01:31 ADRIANA RUSSI
Está um pouco confuso. Dizendo até que tem uma piada interna lá entre as pessoas que estão trabalhando e tal. que eu falei que eu me senti um pouco perdida, e aí a professora Ruth, que é a minha ofitriã, com uma colega que estava trabalhando com ela, ah, não se preocupa, todos nós nos.
00:01:51 DEBI
Sentimos perdidos aqui até hoje. Eu acho que é um dos piores campos que tem.
00:02:04 ADRIANA RUSSI
Mas combinei com o Deb, que ela vai conduzir a nossa conversa hoje.
00:02:13 DOV
Ok, estou à disposição.
00:02:16 DEBI
Obrigada. Adriana, você começa com as perguntas?
00:02:20 ADRIANA RUSSI
Sim, só queria um pouco registrar, eu sei que a Bebe já falou com você, Edóvio, a gente está estreitando uma conversa para uma parceria com o Museu da Pessoa, que é o primeiro museu brasileiro virtual que tem acervos sobre histórias de vida, e esse museu é uma uma ONG, então uma instituição sem fins lucrativos, e a nossa intenção com isso é poder preservar essas entrevistas todas que a gente vai fazer e isso gera um acervo também. Então a gente está fazendo um acordo com eles através da Universidade Federal Fluminense para que a gente possa receber o material que vai ser gerado com esse projeto, esse acervo que vai ser gerado com esse projeto, mas combinando também de quatro a cinco anos de confidencialidade, para que a gente possa ter, vamos dizer assim, o privilégio de poder estar usando esse material justamente para esse projeto, para outros projetos acadêmicos, como por exemplo o doutorado da DEB, que é também assentado nessa ideia das histórias de vida. E eu não sei se a Debbie teve oportunidade de comentar, acho que sim. A gente vai fazer assim uma pequena exposição que vai ser aqui na biblioteca da Universidade Hebraica. Então a gente quer poder alguma coisa, algum material, alguma frase, alguma fotografia, algum objeto. não o objeto em si, mas uma fotografia do objeto, alguma fotografia, alguma reprodução de fotografia que a gente pudesse estar incorporando na exposição que vai inaugurar no dia 29 de maio. É logo aí, logo aí. Pois é, a gente já rapidinho já tem que correr fazer as coisas. E aí a gente tem uma parte inicial da entrevista, que é uma parte mais assim, vamos dizer, para esquentar a nossa conversa, que seriam assim os dados da pessoa que está sendo entrevistada, então o seu nome, data de nascimento, lugar onde você nasceu, para a gente poder ir anotando todas essas coisas. Aí você pode ir contando por aí.
00:04:44 DOV
Você tem um checklist?
00:04:46 ADRIANA RUSSI
Tem um formuláriozinho aqui, que daí conforme você vai falando, vamos preenchendo junto aqui.
00:04:52 DOV
Ok, então vamos pelo formulário. O meu nome, o meu nome original, que é o nome brasileiro, não é Dov, é Bernardo. Bernardo Wiener. O Dov é um nome que eu uso desde o Brasil, que é um nome hebraico. Eu nasci em 1944, 19 de maio de 1944.
00:05:16 ADRIANA RUSSI
E você nasceu onde, Dov?
00:05:29 DOV
no Cambuci, num bairro de São Paulo.
00:05:32 ADRIANA RUSSI
Ah, Cambuci, olha aí. Eu tive uma tia que morava no Cambuci.
00:05:38 DOV
Quem morava?
00:05:39 ADRIANA RUSSI
Uma tia minha morava no Cambucê.
00:05:41 DOV
É um bairro delicioso. O meu bairro era o Ipiranga, mas a maternidade era no Cambuci. A maternidade é da Força Pública, o Hospital Closes Azul. Mas eu morei no Ipiranga, que é ao lado do Cambucê. Não é longe, não.
00:06:01 ADRIANA RUSSI
Sim. Ok. E aí você mora aqui em Jerusalém, é isso?
00:06:09 DOV
Não, eu moro em um lugar chamado TZUR HADASSAH.
00:06:16 ADRIANA RUSSI
Tzur Hadassah... Vou precisar do auxílio da minha parceira aqui para escrever o nome dessa cidade.
00:06:23 DOV
É, te escrevo. T-Z-U-R... T-Z-U-R...
00:06:27 ADRIANA RUSSI
Aham.
00:06:29 DOV
E Hadassah é H-A-D-A-S-S-A-H. Isso fica a 15 quilômetros de Jerusalém. Isso é pertinho. Mas eu morei em Bror Hayil desde 1966 até 1992. Quer dizer, mais ou menos 28 anos.
00:07:01 ADRIANA RUSSI
Boa parte da tua vida foi lá, né?
00:07:04 DOV
Foi lá, sim.
00:07:06 ADRIANA RUSSI
Ok. Aí a gente tem uma pergunta também dessas de esquentar a conversa, que é um pouco sobre a sua formação, a sua graduação, se você fez uma pós-graduação, enfim, para falar um pouquinho dessa parte mais acadêmica, vamos dizer assim.
00:07:27 DOV
No Brasil, eu estudei ciências biológicas. Estudei três anos, não terminei. O meu plano era fazer o vestibular de medicina, eu não passei no vestibular. E, paralelamente, eu fiz o vestibular para ciências biológicas e passei e comecei a cursar, mas eu não terminei. Eu vim à prisão antes de terminar o curso por uma série de razões. Agora em Israel eu estudei psicologia entre 69 e 72. Depois eu terminei a pós-graduação e o mestrado em psicologia em 84.
00:08:19 DEBI
Aonde você estudou, Dov?
00:08:26 DOV
Na Universidade Hebraica. No Brasil eu estudei na USP. Agora, psicologia eu fiz na Universidade Hebraica. Onde você está agora.
00:08:41 ADRIANA RUSSI
Quer dizer, é uma estrada.
00:08:44 DOV
Porque o bacharelato foi onde é o campus de ciências naturais atual.
00:08:49 ADRIANA RUSSI
Aliás, o setor da psicologia, pelo que eu entendi, fica exatamente do lado do departamento de geografia, aqui no campus da hebraica.
00:09:10 DOV
A maior frequência minha de aulas foi realmente no outro campus. Nesse campus aí do Iara Tsufi, eu principalmente tinha encontros com o orientador para a tese de mestrado.
00:09:25 ADRIANA RUSSI
Ok. Ainda assim, nessas perguntas mais objetivas, vamos dizer assim, que até dá para ter história a partir delas. Você, quando estava no Brasil, chegou a ter alguma atuação profissional antes de vir a Israel?
00:09:46 DOV
É difícil dizer que tinha uma atuação profissional. Apesar que o envolvimento do movimento juvenil pode ser considerado semi-profissional, porque havia uma intensidade tão grande de envolvimento que era praticamente uma ocupação, mas fora isso não me ocupei em alguma outra atividade assadariada.
00:10:17 ADRIANA RUSSI
E aqui em Israel?
00:10:21 DOV
Aqui em Israel? Aqui em Israel Como membro do Kibbutz, inicialmente eu trabalhei em agricultura, quer dizer, durante três anos. Eu cheguei, eu vim pra Israel em 66. Até 69, a minha ocupação era agricultura, que são cultivos irrigados, que era batata, cebola, esse tipo de cultivo. como traturista, como trabalho de irrigação, esse tipo de trabalho. Depois que eu terminei a universidade, eu já tinha adiantado bastante o mestrado junto com o bacharelado, mas como casei com a Silvana, e a Silvana não tinha muito interesse no kibbutz, depois me propôs duas propostas. Uma proposta era que eu trabalharia em Tel Aviv, pelo movimento, para dirigir o movimento mundial que eu pertencia, e a outra alternativa era voltar para o Brasil como enviado. Então, no final das contas, eu voltei ao Brasil em 73, 74, como enviado do Kibbutz, enviado do movimento. Quer dizer, eu trabalhei no Brasil dois anos, no início no Rio de Janeiro, depois em São Paulo, inicialmente com o Movimento Juvenil e mais tarde com o Departamento de Estudantes da Federação Israelita de São Paulo. Nessa época eu também lecionei na USP, eu dei um curso no Centro de Estudos Judaicos da USP, sobre história judaica contemporânea. Aliás, os serviços da USP eram fantásticos, quer dizer, é incrível. Quando eu penso agora, Eu pude imprimir uma apostila, eu tive a oportunidade de preparar slides para as palestras, e assim, no instante. Era só pedir, recebia sem nenhum problema. Um luxo inimaginável.
00:12:48 DEBI
Que legal isso. Como você explicava sobre o kibbutz para os brasileiros na década de 70?
00:12:59 DOV
Não entendi.
00:13:01 DEBI
Como você explicava para os brasileiros sobre a vida no kibbutz, como era trabalhar na agricultura, a vida em Israel?
00:13:17 DOV
Isso era parte do trabalho de enviado, quer dizer, existe todo um sistema educacional dentro do movimento juvenil, Dentro desse marco, então, existem palestras semanais, existem acampamentos, existem seminários. Dentro desses seminários, então, há transmissão de história de Israel, ideologia do movimento sionista, do movimento socialista, ao qual nós pertencemos, características do kibbutz, o papel do kibbutz na sociedade israeli. Quer dizer, existem dois elementos. Existe o elemento, digamos, teórico, intelectual, em que você dá palestras, tem um marco de explicação. Existe o elemento do contato pessoal, direto, em que as pessoas procuram saber como é que funciona o kibbutz, esse tipo de coisa, se é possível estudar, não é possível estudar, como se recebem decisões, como se escolhe um trabalho no kibbutz, esse tipo de assunto. Como que a família, um assunto importante era por que as crianças não moram com os pais, esse tipo de assuntos. Mas existe outro elemento, o elemento de contato com pessoas não judias ou não do movimento. Como seria também ter palestras em outros marcos. E também com os meus alunos no curso de história judaica contemporânea. Aliás, eles me deram uma lição. Eles me disseram, puxa vida, se perseguem os judeus todo o tempo e não gostam dos judeus, deve ter alguma razão. Não pode ser. Porque que isso seja assim, se em todo lugar tem problema, deve ter alguma razão para ter esse problema.
00:15:45 DEBI
E você podia falar um pouquinho mais, assim, dessa experiência de voltar ao Brasil?
00:15:53 DOV
Experiência de quê?
00:15:55 DEBI
De você voltar ao Brasil na década de 70, porque você saiu em 66, foi para o Kibbutz, trabalhou há algum tempo lá com agricultura, estudou e regressou ao Brasil numa outra posição, como xeliar, não? Como é que foi essa volta?
00:16:17 DOV
A verdade é que a volta foi... Houve dois problemas. Um problema é que eu voltei muito cedo. Quer dizer, voltei muito cedo, quase que era uma continuação. No caso que eu era no movimento, eu fui... secretário-geral do movimento nacional. Quer dizer, eu tinha uma função quase de xilíar, quer dizer, porque de vez em quando eu pegava a cabeça e disse, por que que eu viajo tanto dentro do Brasil? Quer dizer, uma hora em Recife, outra hora em Porto Alegre, fazendo um monte de onda, sem muito resultado, né? Quer dizer, mas tinha onda. Quer dizer, em termos de... Dava a impressão que você dirige alguma coisa que é importante, que tem todos os procedimentos, tem congressos, tem esse tipo de coisa. Mas, agora, quando eu voltei, como se diz, havia um elemento que, em termos de idade, a minha idade era próxima do pessoal mais velho movimento, que eram estudantes universitários. E outra coisa, um outro problema que houve é que eu deveria vir para São Paulo, mas quem estava em São Paulo resolveu ficar mais um período. Então, em vez de ir para São Paulo, fui para o Rio. Então, comecei no Rio. Depois de alguns meses no Rio, poucos meses, depois de quatro meses, houve um incidente que A polícia foi me procurar na minha casa dos meus pais. E como a polícia veio me procurar na época da ditadura, então eu não voltei para o apartamento do Rio, quer dizer, minha mãe deu todas as informações para a polícia. E me avisou e eu não entrei mais no apartamento no Rio e viajei para São Paulo. E daí eu fiquei praticamente uns dois meses sem muito o que fazer, por causa que eu tentei consultar um advogado e para se me apresentar, quer dizer, fui consultar o presidente da Federação Israelita de São Paulo, que era um advogado amigo do meu pai, nós fomos falar com ele e ele disse, volta para Israel. Eu disse, mas eu quero me apresentar no 2º Exército, vamos lá, eu não tenho nenhum problema, vamos lá com você e a gente resolve o assunto, não tenho Nada para esconder. Ele disse, não, primeiros vão te bater e depois talvez vão te ouvir. Então, você deve voltar para a Israel. Eu não sei por que razão não voltei e as coisas continuaram sem nenhum problema. Mas logo depois teve a guerra de Yom Kippur. Quer dizer, foi uma Shlichut muito, muito... com muitos incidentes. Quero dizer, praticamente só no segundo ano da escolta é que realmente deu para fazer algum trabalho.
00:19:36 DEBI
O trabalho era... Desculpa, Adriana.
00:19:40 ADRIANA RUSSI
Não, que interessante isso tudo.
00:19:44 DEBI
Sim. E o trabalho era, entre outras, assim, aproximar a comunidade judaica a conhecer Israel e a fazer aliar?
00:20:01 DOV
O trabalho era principalmente dirigido ao movimento juvenil, quer dizer, a minha orientação não era a comunidade, a minha responsabilidade era o abonim dror. Agora, alguns elementos de trabalho com a comunidade, por exemplo, quando chegou o pessoal de Israel para a campanha da guerra de Yom Kippur, o dado, eu me lembro que eu traduzi ele na hebraica, ele falava em hebraico e eu fazia o discurso em português para ele, quer dizer, esse tipo de coisa. Mas o trabalho mais significativo que eu fiz foi com os estudantes, quer dizer, no segundo ano, eu estabeleci o Departamento de Estudantes da Federação em São Paulo, e a verdade é que eu recentemente li o relatório que eu escrevi, quer dizer, nem tudo eu me lembro exatamente, mas por acaso eu escrevi um relatório no fim do trabalho, então eu disse, poxa, eu fiz alguma coisa lá. Por isso eu me lembro mais do trabalho com os estudantes no movimento não escrevia o relatório. Se eu escrevesse o relatório, provavelmente eu teria mais o que dizer o que eu fiz com o pessoal do movimento. Mas até o segundo ano era esse principalmente o trabalho. Quer dizer, eu teria um jornal chamado Campus, que era um suplemento da resenha judaica e fiz um cadastro de estudantes universitários e promovi o estabelecimento de vários grupos universitários. Nesse elemento havia também um diálogo com o pessoal não de movimentos, o pessoal judeu envolvidos em movimentos de esquerda. Eu me lembro que eu me encontrei com o Melo, o Melo El Samuel Yasserberg, que era um dirigente da Polop, eu tentando convencê-lo de elementos sionistas, enquanto que ele tentava me convencer de elementos da Polop. Mas isso foi uma coisa não central. Havia esse elemento também. Havia também elementos de tirar... Quer dizer, tinha pessoas do movimento que estavam envolvidos, dentro da oposição à ditadura, então havia necessidade de intervenção. Eu me lembro de um rapaz na Bahia, que uma pessoa da comunidade, que era ligada ao Serviço Nacional de Informações, alertou que ele estava na mira para ser preso se ele não parasse de atividade. Então, viajei para lá conversar com essa mulher e conversei com o rapaz preso. para ele evitar de cair dentro da ditadura.
00:23:11 DEBI
Era outro período, né?
00:23:13 ADRIANA RUSSI
Você lembra o mês em que você fez a Liá? Você falou que foi em 1966, né?
00:23:19 DOV
Sim.
00:23:21 ADRIANA RUSSI
Que mês que você fez a Liá?
00:23:23 DOV
Eu fiz em maio. Em geral, eu marco o primeiro de maio como um dia que cheguei, mais ou menos, quer dizer, eu viajei em abril e nós passamos pela Europa, quer dizer, viajamos até a Itália e da Itália tomamos um trem. Viajamos até Gênova, em Gênova tomamos um trem até Bari e de Bari viemos para Israel. Se viajava de navio, quer dizer, não se viajava de avião.
00:23:56 ADRIANA RUSSI
Quanto tempo de viagem, Dor?
00:23:59 DOV
Levava uns 14 dias, uma coisa assim. Eu creio que são 11 dias até a Itália, depois mais três dias para ir para Israel. E depois a gente pernoitou na Itália. Eu não lembro os detalhes, mas no translado, na passagem de Genova para Bari, nos pediram para ficarmos encarregados num grupo de imigrantes que estavam indo para Israel, num trem, uma coisa assim. Mas... Ah, uma coisa que eu não lembrei é que, em termos de formação, eu estive um ano em Israel em 1961. Quer dizer, eu tive um curso, tive o privilégio de fazer um curso de um ano no Instituto para... se chama... em.
00:25:02 DEBI
Jerusalém, né?
00:25:03 DOV
Em Jerusalém. Isso se chama, a tradução, o Instituto para Jovens Líderes do Exterior. Isso foi uma experiência muito importante, porque quando eu fiz a D.A., quando eu cheguei, eu já tinha... sabia a língua, conhecia a geografia do país, nós viajamos por todo o país, quer dizer, conhecemos o país desde o norte até o sul, quer dizer, tivemos excursões para cada região do país e conhecemos, tivemos cursos também de geografia, cursos de bíblia, de língua, de canções, de pedagogia, quer dizer, esse é um curso bem intensivo, E também a experiência de viver no kibbutz, alguns meses, em Bronheim e também em Erez, que era então o kibbutz que o nosso movimento fazia aliar, era o kibbutz Erez. Quer dizer, esse ano é um ano importante em termos de formação.
00:26:08 DEBI
E quais foram as suas experiências com a sociedade israelense?
00:26:13 DOV
Sim, sim. Quer dizer, não é com a sociedade israelense, Você está dentro de um marco, quer dizer, é um marco, não é a sociedade de Israelenses, quer dizer, você está no marco de pessoas da Argentina, da África do Sul, do Brasil. Esse é o marco que você convive, quer dizer, você está em contato constante. Agora, também você está no kibbutz, quer dizer, no kibbutz você encontra o pessoal Isso é parte da sociedade israeli, mas não assim em termos muito amplos. Quer dizer, se estuda em termos de, nas palestras, nos estudos de uma consciência, estuda sobre Israel, quais são os problemas de Israel. E o problema maior na época era o fato que o Israel, tinha se estabelecido só 13 anos antes, e ainda estava sob o impacto da grande imigração dos países árabes, da imigração do pessoal que vieram dos campos de displaced persons. Existe um elemento importante do Mahone Madrikim, um elemento ligado ao papel do movimento juvenil dentro da construção da sociedade israeli. Quer dizer, o movimento juvenil tem uma autoconsciência de elite, elite de serviço, quer dizer, um grupo que se identifica com as necessidades coletivas do no caso do povo judeu, quer dizer, e no caso de Israel, no caso de dizer que não dá para construir um país com o pessoal que veio dos países árabes e com o pessoal que saiu arrasado dos campos de desplêcias persos. Quer dizer, para construir o país se precisa de pessoal que vem com uma formação mas com uma identificação maior com o projeto de estabelecer o país, e também com a formação adequada para fazer isso. Então, a ideia era o kibbutz como instrumento nesse processo de formação do país de uma forma mais adequada.
00:28:49 DEBI
Como era o dia-a-dia no kibbutz, o contato entre essas duas culturas? Uma cultura que vem do Brasil, com a experiência de ser participante de um movimento juvenil no Brasil, e a chegada no kibbutz em Israel. Como se deu o dia-a-dia desse conjunto de culturas, experiências, raízes?
00:29:20 DOV
Esse é um elemento importante, que nós estamos praticamente em contato com brasileiros. Quer dizer, tanto em Brunheir como em Eres. Em Eres, Eres era o que pôs de aliado o movimento do Brasil. Ele estava numa crise muito grande. Eu não senti essa crise, porque eu O meu desenvolvimento no movimento foi rápido demais. Quer dizer, o pessoal que estava em Eras eram os instrutores dos meus companheiros de grupo do McCormack Madrikim, mas não eram meus instrutores. E eles estavam numa crise muito brava. E o fato é que o pessoal que veio comigo para o Mahó, logo que voltou para o Brasil, todo mundo saiu do movimento. Eles imediatamente saíram, porque eles não viram em que condições eles estavam, e eles estavam em más condições, principalmente pela dificuldade de se entender com os israelis. Quer dizer, o kibbutz Erez é um kibbutz fundado pelo pessoal da Palmar, pessoal que lutou na Guerra da Independência, pessoal israelí, quer dizer, com tudo de bom e de ruim que tem de israelí. E principalmente com a demanda deles de que os brasileiros falassem hebraico, por exemplo. Não suportavam que eles falassem português entre si. Mas isso não me afetava, porque eu não tinha muito Muita ligação com os brasileiros que estavam lá. Quer dizer, foi uma experiência de um kibbutz. Agora, em Bruxelles, era o pessoal que a gente estava, que eu já conhecia, que era o Seu Chiriquim, que tinham me mobilizado para o movimento. Quer dizer, era uma... Também, em geral, você recebe uma família para visitar a tal família, apesar que eu não me lembro qual era a família que eu visitei durante uma holomaturgia, mas é um ambiente familiar, você está no Brasil praticamente.
00:31:42 DEBI
O que quer dizer você estava no Brasil? Você pode dar exemplos?
00:31:48 DOV
Você fala português? A língua é o português, as pessoas são pessoas conhecidas. Quer dizer, não há muita... Não há muito... Como dizer, como que é o Brasil?
00:32:09 ADRIANA RUSSI
Bom... Tinha a ver também com a comida também, além da língua, o dia a dia, sim ou não?
00:32:19 DOV
Não, quer dizer... Realmente, é difícil para mim me lembrar. Uma coisa que eu me lembro era que o refeitório era terrível, por causa que o refeitório era um refeitório que, antes de ser construído um refeitório de tijolo e concreto, era um refeitório que estava no fim da carreira dele. É um galpão de madeira sujo de uma maneira terrível. E isso era assim porque já estava no fim. Estavam acabando de construir um novo refeitório, então não cuidavam desse refeitório. A impressão do kibbutz, naqueles meses que esteve lá, não era uma impressão muito... muito boa em termos de condições físicas ou condições de vida. Quer dizer, eram condições bem primitivas relativamente. Mas a verdade é que eu não me lembro muito em termos do que... Fora de que o pessoal falava português e que o nosso grupo também era um grupo que se autossustentava, porque nós éramos oito, quer dizer, cinco do nosso movimento, e mais três no outro movimento que juntaram. O movimento no Rio se chama ARI, em São Paulo se chama SIP, e eles se juntaram ao nosso grupo, e praticamente fizemos quase todo o ano juntos.
00:34:04 ADRIANA RUSSI
E quem cozinhava, Adolfo?
00:34:06 DOV
No Kibbutz tem cozinha, né? No Kibbutz tem o refeitório, Não se cozinha.
00:34:18 DEBI
Não se cozinhava em casa?
00:34:21 DOV
Não, não se cozinha em casa. Evidentemente, um grupo...
00:34:25 ADRIANA RUSSI
Mas tinham pessoas que estavam encarregadas de fazer a comida, ou cada um fazia a sua própria comida? Como é que funcionava?
00:34:34 DOV
No kibbutz, no kibbutz, existia uma cozinha central. E dentro dessa cozinha central, se prepara o... O café da manhã, se prepara o almoço e se prepara o jantar. Quer dizer, quando você sai para trabalhar cedo de manhã, você passa por lá e toma um café. Depois de umas duas, três horas de trabalho, se volta para o café de manhã. Quer dizer, lá para as quinze, para as nove, nove horas, se vem tomar o café de manhã. Depois, lá para uma hora, mais ou menos, se vem almoçar. e lá para as quatro horas se termina o dia de trabalho no campo. Agora, a preparação da comida às seis da manhã, o café, o primeiro café, não são as cozinheiras que preparam, é o guarda, o guarda noturno, ele tira algumas coisas da geladeira e prepara um café, uma marmelada, um pedaço de pão, para o pessoal passar lá, pegar alguma coisa e sair para o campo trabalhar. Depois, quando você volta às nove horas, é um café reforçado, é um breakfast mesmo, com uma salada, com todo o ritual que se corta pepino, se corta cebola, se corta o tomate, se faz a salada israeli e tem uma seleção de queijos, e de coalhada, e café, e chocolate. É mais ou menos isso, é o café da manhã. Depois dá para uma hora que você vem almoçar, depois você volta para o trabalho, e depois de noite você tem o jantar. Porque o jantar é semelhante ao café da manhã.
00:36:34 ADRIANA RUSSI
E logo quando você chegou, você sentiu saudades de alguma coisa que você tinha costume de comer no Brasil? Como é que foi?
00:36:44 DOV
Você está falando ali ou do ano em geral? Por acaso, o que havia na época? Havia uma… O pessoal gostava muito de receber café do Brasil. Aqui em geral, a moeda… divisas era racionada, quer dizer, havia um controle muito grande de dólares. Então, era difícil o pessoal comprar café. Então, uma coisa que muito, todo mundo pedia para se trazer do Brasil era trazer café. Se trazia Nescafé, se trazia café em grão para ser torrado, etc. Isso era grande, isso para a família, tinha família aqui em Israel, ou para o pessoal do kibbutz. Isso tanto na época do Mahone, em 61, quanto na época que fizemos a Liá, em 66. Isso ainda havia esse elemento. Mas fora isso, não. Quer dizer, no decorrer dos anos, Mais tarde, depois que eu fiz aliás em 66, havia o elemento de saudades, digamos, de comida. Por exemplo, uma das coisas, quando eu me preparei para a entrevista, eu tentei fazer a lista de comidas. Então, uma das coisas que eu me lembrei é que plantei milho. em frente da minha casa para fazer o curau. Quer dizer, eu consegui fazer curau. Pamonha não fiz, mas quer dizer, mas curau preparei. Quer dizer, esse tipo de coisa havia. E nesses termos, como vocês queriam... Não sei se você está entrevistando agora sobre comida, porque... Sim, sim, sim. Rápido. Tá aí.
00:38:48 DEBI
A cachaça.
00:38:49 DOV
Mas fora isso também tem… Ah, olha só. Eu tenho chá para preparar o quentão. Quer dizer, minha mãe é do interior, quer dizer, apesar que ela nasceu na Ucrânia, ela cresceu no interior. Então, em junho ela fazia o quentão. Então, eu tenho aqui o chá para preparar o quentão. Tem também canjica, olha.
00:39:24 ADRIANA RUSSI
Olha aí, que legal.
00:39:27 DOV
Vou também fazer o sagu.
00:39:32 DEBI
Uau, quando sempre não ouço essa palavra.
00:39:34 DOV
Quer dizer, esse tipo de coisas, isso faz parte da... da tradição dentro da família, esse tipo de comida. Aliás, em termos de tradições brasileiras, pelo jeito no Rio não se conhece o pique, mas em São Paulo deve se dar o pique. Quando eu introduzi praticamente como cerimônia nos aniversários da família, se dá o pique. Se dá o pique é que se dá um grito pra... Deve nada!
00:40:25 ADRIANA RUSSI
É pique, eu não... Sim, sim. Como é que é?
00:40:30 DOV
É pique, é pique. Ah, lógico. É pique, é pique. É hora, é hora. É hora, é hora, é hora. Isso é cerimônia, quer dizer, todo o pessoal da família, americano, israeli, brasileiro, quer dizer, argentino, quando tem aniversário, tá claro que tem que se dar o pique.
00:41:00 DEBI
Ah, legal!
00:41:01 ADRIANA RUSSI
Que divertido!
00:41:03 DEBI
Mas eu não conheço o Quintão.
00:41:07 DOV
Como que é?
00:41:08 DEBI
O Quentão.
00:41:13 DOV
Quentão?
00:41:15 DEBI
Como é a ligação com a sua mãe, o Quentão, de onde ela veio? Você podia contar um pouquinho mais sobre isso?
00:41:25 DOV
Sobre o Quentão? Isso é uma coisa ligada ao Brasil, de junho, e outras coisas também. Mas, aliás, quando ela faleceu, eu pedi para o pessoal da família escreverem histórias que eles lembraram. Então, lembraram da berinjela que ela fazia. Então, pelo jeito, era uma berinjela diferente. Um dos primos disse que ela fazia berinjela. E tem quem lembrou que ela fazia o bolo de banana o bolo de abacaxi, quer dizer, essas são coisas com referência que caracterizam a casa, quer dizer, o pessoal sabe que quando vem no aniversário em casa tem bolo de banana ou bolo de abacaxi.
00:42:19 DEBI
Mas o que então é uma bebida?
00:42:23 DOV
Como?
00:42:24 DEBI
O que então é uma bebida?
00:42:28 DOV
Eu não consegui entender, desculpe.
00:42:30 DEBI
Ah, o que então? É uma bebida?
00:42:35 DOV
Sim, é uma bebida que se faz com gengibre. É uma espécie de vinho quente.
00:42:46 DEBI
Ah, ok.
00:42:48 DOV
É um vinho quente, que é característico de festas juninas. É verdade que eu não me lembro exatamente qual a receita, mas tem gengibre. Eu tenho um chá que é preparado para fazer o quentão, mas não me lembro da receita não. Mas tem outras coisas, quer dizer, fora a canja, o sagu, a pamonho, também tem outras coisas, mas isso são características da casa da minha irmã. Minha irmã, ela cozinha bastante, então tem o brigadeiro, tem a coxinha, a farofa, farofa com feijão, uma ótima farofa.
00:43:35 ADRIANA RUSSI
Ela faz farofa com feijão aqui em Israel?
00:43:40 DOV
Sim, claro. É uma farofa bem rica, com azeitona, com ovo, com cebola. Quer dizer, não é uma farofa assim, só com a farinha. É uma farofa que dá para... Seria uma refeição só comer a farofa. Mas isso vai junto com o feijão. A paçoca, quer dizer, minhas tias mandavam paçoca, ou quando elas vêm visitar, Trazem a paçoca de amendoim doce, ao pé de moleque. O pão de queijo é menos comum, mas também dentro da família tem esse tipo de brigadeiro, coxinha, farofa, paçoca, pão de queijo, pé de moleque, pastel não. Pastel pelo jeito é difícil de fazer.
00:44:32 DEBI
Hoje em dia tem gente que faz.
00:44:38 DOV
Que faz pastel?
00:44:40 DEBI
Sim, mas eu não sei fazer.
00:44:43 DOV
Mas o pastel leve, como os chineses fazem em São Paulo, porque tem um pastel argentino que é pesado, que não é o pastel leve.
00:44:53 ADRIANA RUSSI
É a empanada.
00:44:54 DOV
É, a empanada. O pastel, em geral, os chineses fazem em São Paulo. Não sei como não é no Rio, mas... É um pastel, assim, cheio de ar, e dentro tem um pedaço de queijo, ou palmito. Ah, palmito! Palmito é uma coisa importante também.
00:45:20 DEBI
A gente chamava em São Paulo pastel de feira, né? Porque tinha na feira.
00:45:27 ADRIANA RUSSI
Sim, pastel de feira. Idove, quem cozinha aí na sua casa? Quem é que faz comida na sua casa?
00:45:37 DOV
A minha mulher, a Silvana. A Silvana é italiana e ela cozinha muito bem, mas ela esteve muitos anos em Bronheim. Então, ela também... Nós estivemos dois anos no Brasil. E nos dois anos no Brasil, nós moramos na casa dos meus pais. Quer dizer... Então, na casa dos meus pais, ela cozinha também comida brasileira. Quer dizer, não muito, mas isso é mais minha irmã, que é realmente brasileira, mas a Silvana prepara o arroz, prepara o feijão, prepara a farofa também, mas a farofa da minha irmã é melhor.
00:46:24 ADRIANA RUSSI
Não conta nada para seu fã.
00:46:30 DOV
Mas ela cozinha. Agora, ela no Kibbutz, ela aprendeu português. Quer dizer, ela aprendeu português. Ela viveu dois anos no Brasil e ela estudou na faculdade no Brasil. Quer dizer, ela estava no meio dos estudos de psicologia, então ela continuou na faculdade em São Paulo, em São Bernardo, não em São Paulo. Quer dizer que ela... Ficou meia brasileira em termos de tanto de cultura como de linguagem. Aliás, em Bronheim, como ela dirigia, era encarregada de mão de obra, Se ela não soubesse português, ela não poderia ser encarregada, porque é um trabalho que exige convencer as pessoas a fazer trabalhos que muitas vezes elas não querem fazer. Então, precisa falar com jeitinho para convencer, precisa falar em português. Não adianta falar em hebraico, não convence.
00:47:29 ADRIANA RUSSI
Odovi, essas comidas que você estava falando, todas aí, que você até fez esse exercício de lembrar, tem alguma coisa que é feita no dia a dia e outras comidas que são mais assim para, sei lá, um aniversário, algum momento mais especial ou uma reunião com amigos? Como é que é?
00:47:51 DOV
No dia a dia, somente o arroz. O arroz, quer dizer, para mim, isso é uma coisa Isso é realmente uma influência brasileira total.
00:48:02 ADRIANA RUSSI
E.
00:48:05 DOV
Quando viajo na Europa, às vezes eu fico furioso por causa que servem sanduíches ou servem um monte de comida e não me adianta. Quer dizer, eu posso comer dez sanduíches sem o arroz, eu não me sinto satisfeito. Quer dizer, o arroz para mim é essencial como comida de todo dia. Agora, o feijão de vez em quando. Eu não sou muito fã de feijão, mas de vez em quando a Silvana me prepara uma preparação especial, prepara o feijão. Mas o arroz, o feijão, principalmente o arroz, ficou como parte integral da minha dieta. Também o brojairo, o arroz. É uma parte integral, era, quer dizer, atualmente não existe mais cozinha central, mas era uma parte integral da dieta do kibbutz, quer dizer, nesses termos. As outras coisas são coisas especiais, quer dizer, em aniversários ou no almoço especial, alguma coisa assim.
00:49:24 ADRIANA RUSSI
E o que te motivou a participar e ser voluntário nesse nosso projeto?
00:49:31 DOV
Como que é?
00:49:33 ADRIANA RUSSI
O que te motivou? Por que você se prontificou a participar da entrevista, a participar do projeto?
00:49:41 DOV
Bom, se vocês pediram, por que não?
00:49:48 ADRIANA RUSSI
De bom conceitinho.
00:49:51 DOV
Claro. Por que não? Mas também é uma oportunidade de contar histórias, se lembrar de coisas. Isso é uma oportunidade interessante.
00:50:09 ADRIANA RUSSI
E você teve tempo de separar algumas fotos que, de alguma maneira, tem essa reunião da família, vocês comendo, alguém preparando alguma coisa, ou imagens desse tal barracão, meio assim, caindo aos pedaços, lá do Brorái? Ou você poderia separar, talvez? Você tem essas imagens com você?
00:50:35 DOV
A única coisa que eu procurei, A Kanjika, o Pitu. Agora, eu não tenho fotos com imagens. Talvez recortes. Ah, tem livros de receitas.
00:50:51 ADRIANA RUSSI
Livros de receitas, isso é legal. Isso é bacana.
00:50:56 DOV
Tem livros de receitas com receitas brasileiras.
00:51:00 ADRIANA RUSSI
Ótimo. Essa farofa da sua irmã, hein?
00:51:04 DOV
Eu não sei se isso está na receita, mas provavelmente no montuado de receitas tem receitas brasileiras.
00:51:12 ADRIANA RUSSI
Há coisas que a sua esposa faz aí no especial, nos dias dos aniversários e tudo mais?
00:51:22 DOV
Bom, isso eu posso procurar, posso procurar. Mas o que… Quando vocês falaram de fotos, eu não pensei em fotos… sobre comida, porque a Debbie tinha dito que se queriam falar sobre dois assuntos, sobre a comida e sobre a motivação para aliar. Então, em relação à motivação de aliar, eu peguei a foto do meu avô, porque... Ah, que ótimo!
00:51:51 DEBI
Que ótimo!
00:51:52 DOV
Esse queremos também. Essa é a foto do meu avô.
00:52:04 DEBI
Ah, ok. Uau, meu fé.
00:52:08 ADRIANA RUSSI
Conta um pouquinho sobre ela, Ador.
00:52:14 DOV
Meu avô, praticamente, a decisão para vir ao Instituto de Líderes do Exterior foi a decisão dele. Quer dizer, meu pai era muito apegado ao pai dele. Quer dizer, de uma maneira que eu não entendo o porquê, mas ele tinha uma autoridade sobre o meu pai muito grande. Agora, quando havia a discussão em casa se eu viria ou não viria para o Instituto. Eu era muito jovem, quer dizer, eu fui a pessoa mais jovem que veio para o Instituto em Israel. Quando eu vinha, eu tinha 16 anos. Em Israel, o pessoal que vinha tinha 18. Então, minha mãe não queria de jeito nenhum que eu viesse. E meu pai realmente não se opunha ao que minha mãe Mas, nesse caso, ele resolveu perguntar ao pai dele o que ele deveria fazer. E meu avô decidiu que sim, que ele deveria viajar. Quer dizer, meu avô tinha uma identificação sionista muito maior do que o meu pai. Todo mundo ficou sionista depois de 67, mas em termos de realmente identificação com o movimento sionista, etc., meu avô tinha mais essa identificação, tinha as fotos dos congressos sionistas, etc. Aliás, eu não tinha muita ligação com ele, eu tinha mais ligação com o meu outro avô, por causa que ele morava perto de casa, quer dizer, no Ipiranga, a família da minha mãe é muito mais influente na minha família do que a família do meu pai. Mas no caso específico do Instituto para a Liderança do Exterior, foi decisão dele e que eu viria para cá.
00:54:20 DEBI
Mas isso foi quando… Isso foi quando você veio para o Mahone Madriguin, não?
00:54:27 DOV
Para o Mahone Madriguin, sim. Todo o processo de Aliá é um processo... Praticamente não é que tomei uma decisão de fazer Aliá. Praticamente uma série de processos me levaram a fazer Aliá. Um dos elementos nesse processo realmente é a família, a tradição, porque o envolvimento no movimento juvenil é esse tipo de coisa.
00:55:08 DEBI
Até a chegada no kibbutz Brojai, onde você pode conservar as duas culturas, um pouco a cultura brasileira se absorvendo na sociedade israelense, não?
00:55:28 DOV
Não. Eu estudei... Isso é uma... A frase, como se expressa, é uma frase em termos de chegada em Bronheim. Quer dizer, meus antecedentes para chegar a uma rola madriquina, um movimento juvenil, bem antes. É o fato, eu estudei numa escola judaica, quer dizer, eu me interessava por política, quer dizer, eu lia jornais, eu estava interessado em história, isso como criança, não como adolescente, quer dizer, eu ainda me lembro que a morte de Stalin, eu li, eu tinha, provavelmente devia ter nove anos, não, É, ele morreu em 51, acho. Quer dizer, a minha bíblia era o jornal Estado de São Paulo. E o Estado de São Paulo tinha na primeira página as notícias internacionais, na última página tinha as notícias nacionais. Quer dizer, havia um elemento abertura para o mundo e também de sensação de província. Quer dizer, a sensação que o Estado de São Paulo emitia é de que você vive em uma província, porque acho que o que é importante se ocorre fora. Então, todo o tempo, muito jovem, eu sempre sonhava em fazer viagens, fazer a Pan-Americana, pegar um jipe e fazer tudo. Eu fazia recortes de jornais. Todo esse elemento de interesse em política, não acontece aqui, acontece em algum lá que pode ser, sei lá, em algum outro lugar. Isso são antecedentes importantes que levam, no final das contas, ao fato de que eu estava aberto a entrar no movimento, como estava aberto também a entrar em ativismo político brasileiro. Quer dizer, quando eu estava na faculdade, me propuseram ser candidato a presidente do Grêmio. Então, havia realmente a decisão, eu creio que foi uma decisão chave entre ser secretário do movimento ou ser presidente do Grêmio. Quer dizer, nesse momento, havia um momento de decisão importante que levar para esse lado ou levar para esse lado. Não é uma coisa… Sociedade israeli, Brasil, isso não estava na conta. Quer dizer, em termos de interesse político, às vezes as coisas estão divorciadas. Eu me lembro, por exemplo, que com o Estado de São Paulo, a gente acompanhava a revolução em Cuba. e o Castro, a Sierra Madre, a libertação de Cuba, antes dele se tornar comunista. Evidentemente, o Estado de São Paulo não o apoiaria como comunista, simplesmente como um projeto de libertação de uma sociedade que estava dominada. Então, era um processo que se acompanhava. E em esses termos, uma outra coisa interessante, eu me lembro quando o fez a união entre a Síria e o Egito, se chamava União Árabe, não me lembro exatamente, mas de qualquer maneira eles fizeram um concurso para a bandeira do novo país, que era a união do Egito com a Síria. E eu me lembro que eu procurei material e preparei uma um projeto da maneira, por causa disso que o Nasser era o herói da libertação dos países que estavam se libertando na África e na Ásia na mesma época. E não havia isso se existia sem nenhum problema, quer dizer, nunca me ocorreu que isso podia haver algum problema com o fato de Israel ter que lutar contra o Egito. Isso é uma coisa, isso é outra coisa. As coisas você pode viver sem que isso te preocupe resolver todos os problemas do mundo. Nesses termos, a possibilidade de ser um ativista político no Brasil, ou ser um ativista sionista, membro do Equibus, eram possibilidades, em princípio, abertas. Na realidade, não eram tão abertas assim, por causa que é uma família com uma identificação judaica extremamente forte. Quer dizer, meu pai, em especial, por causa que meu pai se adaptou. Ele chegou com 16 anos no Brasil e ele trabalhou muito imediatamente, começou a trabalhar para resgatar a mãe e os irmãos da Rússia. Trabalhou duro, conseguiu pagar o resgate, trazê-los. Mas ele se adaptou ao Brasil muito, muito bem. Muito bem, muito rapidamente. Ele, inclusive, era cantor. cantor de rádio, e o nome que ele adotou era Adelino Brasil. Adelino Brasil. Janko Wiener, ele se tornou Adelino Brasil. Agora, o pai dele estava preocupado por essa adaptação tão rápida. Então ele avisou para toda a comunidade que na data tal e tal, Jankel Wiener vai fazer um Kabbalat Shabbat nas sinagogas. E o meu pai não era chazan, mas o pai dele disse que ele vai fazer o Kabbalat Shabbat, Então ele obedece ao pai dele, então ele se preparou para fazer o Kabbalat Shabbat, fazer a cerimônia do Shabbat na sinagoga. E dessa maneira ele se tornou Khazan. De Adeline no Brasil, ele se tornou. Razão profissional, quer dizer, então ele era razão profissional. Então ele tinha um elemento que pode-se dizer que era inclusive reação-formação, quer dizer, de que ele estava tão integrado Rapidamente, porque ele tinha dons de ator, quer dizer, ele gostava de se apresentar, fazer discursos, se mostrar, quer dizer, ele tinha esse dom de se adaptar, quer dizer, ele se adaptou rapidamente. Em reação a isso, ele insistia, no momento em que ele tornou Khazan, Ele não deixou de estar inserido na sociedade brasileira. Ele era maçã, livre maçã, numa loja brasileira, a Paulista Primeira, em São Paulo. Mas ele tinha uma filiação judaica muito insistente para equilibrar o fato da atração tão grande ao Brasil. Então, havia esse elemento forte dentro da família de insistência de pertinência judaica. Quer dizer, esse é um elemento muito forte, que evidentemente influenciou as decisões.
01:03:54 DEBI
Uau, que história bonita, Adolfo!
01:03:56 ADRIANA RUSSI
Que história incrível, nossa! Muito lindo!
01:04:04 DEBI
Tem mais alguma coisa que você quer contar, acrescentar?
01:04:15 DOV
Deixa eu ver. Não, praticamente… Praticamente o que ele tinha anotado, acho que nós cobrimos. Se vocês tiverem perguntas... Acho que no momento está bom. Como?
01:04:43 DEBI
No momento está perfeito. Vamos rever de novo o vídeo e se surgir alguma pergunta a gente entra em contato. Depois que eu receber, porque eu recebo o link, eu te passo o vídeo. Entendeu? Eu recebo o vídeo, depois que eu baixar ele no computador, eu te envio.
01:05:13 DOV
Ah, tá ok. Muito obrigado. É mais fácil se você botar no Google Drive, porque as que prometem é muito grande. É mais fácil baixar no Google Drive do que mandar em correio.
01:05:27 DEBI
Ah, ok.
01:05:30 ADRIANA RUSSI
Se você puder separar as imagens, esses objetos que você separou, se você puder, de repente, tirar uma fotografia, nos mandar o livro de receitas, a fotografia que você separou do seu avô também seria muito bom.
01:05:50 DOV
Então o quê?
01:05:51 ADRIANA RUSSI
Que a gente vai montar para cada entrevistado, a gente vai montar uma pastinha que tenha a sua ficha, que vai ter a entrevista e aí esse material que vocês vão nos mandando. Aí a gente vai depois perguntar coisas mais específicas, se precisa de algum detalhe, né, Deb?
01:06:12 DOV
Ah, claro, não há problema. Estou à disposição. Eu te auguro uma boa estadia aqui, que você tenha sucesso. E quando você quiser, a gente pode marcar um encontro.
01:06:27 ADRIANA RUSSI
Ah, vai ser ótimo. Vou adorar.
01:06:30 DOV
Aliás, você pode considerar a Biblioteca Nacional como um lugar que talvez tenha material que te interesse. Existem jornais do Brasil na digitalização da Biblioteca Nacional. Tem jornais judaicos brasileiros, lá na biblioteca. É uma fonte de recursos importantes.
01:06:56 ADRIANA RUSSI
Sim, ótima dica.
01:06:57 DOV
É por isso que a gente pode se encontrar na cafeteria da biblioteca.
01:07:01 ADRIANA RUSSI
Ótimo, adorei. Aí já conheço a biblioteca também.
01:07:06 DEBI
Muito bom.
01:07:07 ADRIANA RUSSI
Adorei a sugestão. Vamos marcar, sim. Porque a Debbie tem uma agenda mais apertada do que a minha, porque agora eu estou à disposição do projeto, mas ela tem muitos compromissos, aí seria bacana um dia, um horário que ela também pudesse, né, Debbie?
01:07:25 DEBI
A gente combina.
01:07:26 ADRIANA RUSSI
Aí você combina com o Dov e eu me encontro aí com vocês.
01:07:31 DEBI
Legal. Obrigada, Adolfo.
01:07:34 ADRIANA RUSSI
Boa noite. Super agradecida. Um ótimo descanso, Adolfo. Obrigada.
01:07:40 DOV
Bom sucesso para vocês.
01:07:43 ADRIANA RUSSI
Obrigada.
01:07:44 DOV
Tchau.
01:07:44 ADRIANA RUSSI
Tchau.
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