Projeto Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Tapaiuna Sateré Mawé
Entrevistada por Maiara Sateré Mawé e Cerezi Terena
Entrevista concedida via Zoom (Manaus/Parintins),10/02/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV041
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Bom dia a todos! Bom dia ao Tapaiuna, aos colegas presentes, aos professores. Para início de conversa Tapaiuna, primeiramente agradecer por aceitar o convite, quando estive conversando, entre eu e a Maiara, apareceu vários nomes, aí no caso escolhemos seu nome para a gente poder conversar, para você compartilhar um pouco da vivência quanto indígena Sateré Mawé. E as primeiras perguntas que a gente traz, para a gente poder iniciar a conversa e você falar um pouco do seu nome, da idade, de qual povo que é? Se você tem nome indígena, qual o significado desse nome indígena? Você fala um pouquinho sobre você. É isso!
R – Bom dia a todos! Bom dia aos colegas aqui presentes! Antes de iniciar o diálogo eu queria me apresentar na minha língua, que é a língua Sateré Mawé. [Fala em Sateré Mawé] Eu falei bom dia a todos, eu me chamo Tapaiuna, sou indígena Sateré Mawé e vivo no Baixo Amazonas. Atualmente, eu sou acadêmico de Design Digital, faço Design digital pela UEA. Sou do município de Barreirinhas, cresci no município de Barreirinhas, só que até os meus 6 anos eu fui para Barreirinhas, antes dos 6 anos eu morava numa comunidade chamada Inhambe, que está localizada dentro da cidade de Manaus, fica no Rio Igarapé Tarumã-açu que é no interior de Manaus. Aí quando, a minha avó acabou morrendo a gente acabou voltando para a nossa base, que foi Barreirinhas, onde fica a maior população, onde fica meu povo, eles ficam localizados no território de Amaral e eles festejam Barreirinha, Parintins, Mawé e pega uma extensão do Pará. Então, meu nome, ele tem essa origem, do povo Sateré Mawé, principalmente meu nome Tapaiuna. Quando eu nasci, foi o meu tio que me deu esse nome,...
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Entrevista de Tapaiuna Sateré Mawé
Entrevistada por Maiara Sateré Mawé e Cerezi Terena
Entrevista concedida via Zoom (Manaus/Parintins),10/02/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV041
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Bom dia a todos! Bom dia ao Tapaiuna, aos colegas presentes, aos professores. Para início de conversa Tapaiuna, primeiramente agradecer por aceitar o convite, quando estive conversando, entre eu e a Maiara, apareceu vários nomes, aí no caso escolhemos seu nome para a gente poder conversar, para você compartilhar um pouco da vivência quanto indígena Sateré Mawé. E as primeiras perguntas que a gente traz, para a gente poder iniciar a conversa e você falar um pouco do seu nome, da idade, de qual povo que é? Se você tem nome indígena, qual o significado desse nome indígena? Você fala um pouquinho sobre você. É isso!
R – Bom dia a todos! Bom dia aos colegas aqui presentes! Antes de iniciar o diálogo eu queria me apresentar na minha língua, que é a língua Sateré Mawé. [Fala em Sateré Mawé] Eu falei bom dia a todos, eu me chamo Tapaiuna, sou indígena Sateré Mawé e vivo no Baixo Amazonas. Atualmente, eu sou acadêmico de Design Digital, faço Design digital pela UEA. Sou do município de Barreirinhas, cresci no município de Barreirinhas, só que até os meus 6 anos eu fui para Barreirinhas, antes dos 6 anos eu morava numa comunidade chamada Inhambe, que está localizada dentro da cidade de Manaus, fica no Rio Igarapé Tarumã-açu que é no interior de Manaus. Aí quando, a minha avó acabou morrendo a gente acabou voltando para a nossa base, que foi Barreirinhas, onde fica a maior população, onde fica meu povo, eles ficam localizados no território de Amaral e eles festejam Barreirinha, Parintins, Mawé e pega uma extensão do Pará. Então, meu nome, ele tem essa origem, do povo Sateré Mawé, principalmente meu nome Tapaiuna. Quando eu nasci, foi o meu tio que me deu esse nome, é dado para as crianças quando os pais, eles são, tanto o pai quanto a mãe, eles são de aldeias, então dá esse nome para eles. Tanto que meus irmãos também tem, Ocoi, Umuri, ________ e vem eu, Tapaiuna e a Inara também. Ele me deu esse nome como forma de Tapaiuna. Tapaiuna que dizer índio moreno. Então, esses nomes são dados porque eles tem uma história por trás, “Não, seu nome vai ser esse porque seu clã é esse”..... da tua mãe já é Gavião, da tua avó foi Acuruí, então o teu nome vai ter essa origem. Atualmente eu tenho vinte anos de idade, já trabalhei em vários setores, mas o setor que eu sempre gostei, desde a minha infância é a questão da arte, a arte sempre foi muito presente comigo, tanto pela parte de música, quanto pela parte de artesanato, quanto pela parte de moda também. Atualmente, a gente tem esse trabalho, nós jovens que estamos na faculdade tem esse trabalho de descolonizar a moda, de contar a sua história a partir da nossa vivência, nossos diálogos, nossos entendimentos. E é muito bom a gente manter esse diálogo também com outros jovens também, porque as pessoas também vão se inspirar na gente. Eu fico muito agradecido pelo convite do Museu da Pessoa, em estar aqui hoje dialogando com vocês. Lá também fica uma bancada também com questões indígenas também, eu me sinto também muito acolhido, de parente para parente, a gente se sente mais disposto a falar. E é isso!
P/2 – Muito obrigada Tapaiuna! Você falou que até, mais ou menos, os seus seis anos de idade, você viveu dentro da comunidade Inhambe. Tem alguma história, algum conhecimento que te ocorreu nessa época da tua vida, esse processo de mudança. Tem alguma história que você gostaria de contar para nós a respeito disso, da comunidade ou desse processo de mudança, que a gente sabe que acontece muito, essa transição entre comunidade e cidade, às vezes ela afeta a gente positivamente e às vezes negativamente. Não sei, tem alguma história que você gostaria de contar?
R – Muito legal isso, a gente manter esse diálogo. Eu cresci na comunidade Inhambe. A comunidade era praticamente toda constituída por mulheres, tanto minha mãe, quanto minha tia, quanto minha avó, são seis mulheres e um homem. Então essas seis mulheres, elas acabaram fazendo todo o barracão. Então isso foi um marco que marcou minha vida, porque somente um homem carregou todas as madeiras, os paus e as mulheres, elas começaram a tecer, elas começaram a subir dentro para criar o barracão, foi onde a gente criou a comunidade Inhambe. Então, minha avó, ela é uma inspiração pra mim, a vovó Potera, ela tem uma inspiração pra mim porque ela tem esse espírito de liderança de mulher, de pessoa, Então, ela sempre foi inspiração pra mim também. Quando ela me pegava também, ele pegava a palha, aí começava a contar as histórias e cantarola. E a partir da cantarolagem vinha as músicas dela, acabaram se criando o grupo Inhambe, Inhambe Curim, que foi um grupo criado quando as filhas tiveram filhos, foi criado por netos, pelas irmãs também, __________, Marta, Moy, Milca e Zenilda, que são as 6 irmãs. E o meu tio também que é o Ramalti, o Ramal. Então esse foi um marco da história que ficou muito assim na minha cabeça, e eu me lembro muito bem, que isso não sai da minha cabeça, porque eu era pequeno, mas aquele barracão foi aquele momento de união. De pensar, não, nós estamos aqui, viemos de um município, nós viemos estudar. E isso foi um marco muito forte pra mim também. Até hoje eu lembro disso também, fora as histórias também que a vovó contava.
P/2 – Tapaiuna a gente sabe que as mulheres Sateré Mawé tem um grande protagonismo, principalmente aqui em Manaus, a questão das próprias comunidades que criaram. E assim, a gente sabe que a tua mãe é uma grande liderança aqui em Manaus, como em Barreirinha. E eu queria que tu falasse um pouco a importância que esse protagonismo feminino ele trouxe para a sua vida, porque a gente sabe que as mulheres Sateré Mawé, são mulheres guerreiras que lutaram pela sua independência, que hoje nós estamos dentro das universidades como filhas, como netas, foi resultado de uma grande luta. E tu acompanha o movimento indígenas desde criança com a tua mãe, então eu gostaria que tu trouxesse essas histórias também, de quanto foi importante essa união e esse protagonismo feminino das mulheres Sateré Mawé para a tua vida?
R – Eu não poderia falar da luta da minha mãe sem antes falar dos meus ancestrais, _______ geração. Quando a minha mãe me contava essas histórias, porque nós estamos hoje no município de Manaus, porque nós criamos comunidades dentro de Manaus… entrando em uma roda de conversa, falando sobre a questão de família, vovó Teresa, quando ela veio de Ponta Alegre, ela vem porque o marido dela acabou morrendo com picada de cobra, então como o preconceito dentro da comunidade de Ponto Alegre _________ não tinha com quem ela ir para ter o alimento. Porque sempre as mulheres foram carro chefe das suas famílias, sempre foram a questão dos artesanatos, da farinha, mas da pesca, do pesado, nem sempre foram. Então, ela acabou indo para Manaus e criou a primeira comunidade chamada de __________. __________ foi a primeira comunidade no município de Manaus, primeira comunidade também a ser reconhecida como comunidade mesmo, comunidade indígena, que fica localizado ali no bairro Redenção Santos Dumont. E quando a minha avó veio, as irmãs acabaram crescendo e constituíram também famílias. E a minha avó acabou criando a comunidade dela chamada de Inhambé. Inhambe, ela tem essa história porque é chocalho pequeno, mas é um chocalho que é muito forte para a nossa resistência, porque é um chocalho que fica perto do joelho do menino, esse chocalho toda vez fica balançando, isso que ela ficou, “minha comunidade tem esse nome porque além de história também é um conhecimento ancestral. Então, eu vou falar de Inhambe, porque o Inhambé além de ser um instrumento musical, é um instrumento também que está em constante movimento, então, espero que vocês meus filhos, também estejam em constante movimento.” Depois disso que a minha avó criou, essa comunidade, as irmãs dela também acabaram criando as comunidades delas, como a _________, que é da Samila, que é da minha outra tia também, como as outras comunidades. Sarroapé também foi uma comunidade que é das irmãs também. E entre outras que acabaram se espalhando por dentro da cidade de Manaus. ________ alguns também foram migrados para lá. E aí nessas histórias, a minha avó sempre foi centrada, falou: “não, minha filha, nós somos indígenas, nós não falamos bem português, nós somos pobres, nós somos pessoas negras também, o que que nós vamos ser de conhecimento para os nossos filhos que virão daqui a alguns anos”. E aí a minha mãe ficou pensando nessa questão. E acabou que a vovó deu um puxão de orelha em todo o mundo e as minhas tias começaram a se espertar, então cada um acabou se entendendo no movimento social e as mulheres começaram a se juntar. Como a família Sateré Mawé sempre foi muito grande, muito extensa, a partir de seis filhos para cima são constituídas as famílias. E aí acabaram se juntando esses familiares, eles viram que também dentro da cidade de Manaus, as comunidades não eram organizadas. E aí vieram os Ticuna também, os Ticuna também vieram e se juntaram conosco. Depois vieram os Karitiana, os Munduruku migrando. E acabou que foi criado o movimento indígena, dentro da cidade de Manaus, os Tuyuka, os Desanos, os Tariana, os Baniwa. Então tudo isso se juntou dentro da cidade de Manaus, a grande maloca como os mais antigos contam, a grande maloca hoje está com uma família muito grande, não só de um povo, mas também de muitos povos. E aí acabou se criando um movimento indígena. Minha mãe também, junto com outro indígena, que me fugiu o nome também, acabaram criando o MEIAM, que é o movimento estudantil do Estado do Amazonas. Então o MEIAM, o primeiro passo que ela deu, é bater no peito e dizer bem assim: não, eu quero as cotas! Isso antes da criação da OEA, em 2001. Mas antes disso ela já tinha se articulado como mulher. Mas foi muito difícil para ela, pelo fato dela ser mulher, ser mulher e ter aquele lugar de fala e falar tão bem, tão bem, ser uma mulher, mas também ser uma mulher brava, mas também consciente do que ela tinha de luta e de resistência. E aí eu lembro que quando eu era criança a minha mãe me levou no colo para ir para uma Reitoria, acho que eu tinha entre uns três, quatro anos, já me entendia também. E aí ela falou para algumas pessoas, para o reitor, “você é louco, se eu dar para indígena eu vou ter que dar para preto, vou ter que dar para Ribeirinha, vou ter que dar para Quilombola”. E aí ela falou bem assim para ele, gritou na cara dele e falou: “Mas só que quem está aqui não é o mar, não é um quilombola, não é um ribeirinha, quem está aqui é Moy, sabe quem é Moy?” Ela se entendeu como Moy. “Sabe quem sou eu?” Aí o homem ficou todo errado, não entendeu, falou: “eu sou Moy, então quem está vindo aqui é uma mulher indígena, é uma mulher que tem o seu lugar de fala. Se o teu racismo não deixa eu falar, então deixe que meus netos, meus filhos, os parentes que virão daqui alguns anos, estudem nessa universidade.” Antes da criação da OEA. Então vieram toda essa articulação por dentro do judiciário também. Como os indígenas não tinham faculdade, não tinha conhecimento, acabou que era na porrada mesmo, era na porrada, era no tapa na cara, era um enforcando o outro, mas sempre foi assim, na história do Brasil também sempre foi assim, sempre foi na porrada, o Brasil foi constituído através de porrada, hoje nós temos constituições porque os movimentos sociais, eles tiveram esse papel principal dentro do Brasil. E falando de movimento indígena, hoje é muito mais amplo, porque tem várias organizações e hoje somos organizadas, como a COIAB a APIB, essas organizações, elas são mais articuladas, tem pessoas com conhecimento, tem pessoas com faculdade, mas se não fosse antigamente, pela luta dos nossos ancestrais, pela luta _________ Kambeba, isso seria muito mais ruim, nós ainda não estaríamos hoje na faculdade. Eu digo, Graças a Deus que hoje eu estou numa faculdade, cursando uma faculdade pública. E eu agradeço muito minha mãe também, por ter lutado por isso, ter levado Bala de Borracha em Brasília e ter feito tudo isso, porque hoje eu tenho essa universalização, esse conhecimento. E se eu não tivesse talvez… se ela não tivesse lutado antigamente, talvez hoje eu não sei o que eu seria, porque para pagar uma universidade particular é muito difícil, é muito complicado, se tu reprovar, como é que você vai pagar? Que muito mais complicado ainda. Imagina para mim também que sou da comunidade também, meus pais são artesãos, minha mãe ainda é artesã, meu pai também vive da agricultura familiar. Então eu agradeço muito essas pessoas também que foram primórdios também de tudo isso, do movimento social, que foram para a câmera, que foram para assembleias e acabaram discutindo isso.
P/1 – Como é viver nesses dois mundos enquanto indígena e estar inserido dentro da universidade?
R – É muito legal essa questão da pergunta. Mas antes de eu responder essa pergunta eu vou falar sobre como é que foi para eu entrar na universidade, como é que teve toda essa questão. Eu tentei prestar vestibular quando eu acabei saindo do ensino médio, faziam dois anos que eu não fiz mais vestibular. E aí eu prestei dois vestibulares e acabei não passando, primeiro eu fiz para uma área da saúde, que era uma área que eu me identificava muito, até hoje eu me identifico, mas hoje já longe dos meus caminhos. E segundo para questão da arte também. E aí eu prestei dois vestibulares depois que eu terminei e eu acabei não passando. Eu acabei me dedicando no estudo, falei, não, esse ano vai ser o meu ano e eu vou passar, eu vou conseguir entrar na universidade Federal do Estado do Amazonas. E segundo eu prestei para a UEA, que é a Universidade Federal da Amazônia. Eu vi que aquele ano ia abrir, era o primeiro ano do designer digital na UEA. E eu falei, não, é a área que eu faço, né! E aí eu falei que esse ano seria meu ano, e eu acabei passando em dois vestibulares. E aí quando eu entrei eu fiquei muito feliz, porque a minha irmã, no ano anterior ela já tinha entrado para a UEA em geografia, que é a Inara, minha irmã mais velha. E logo quando ela entrou a gente ficou muito feliz, nós somos filhos de artesãos, de mulheres também. Então essa foi a primeira oportunidade, a minha irmã entrou e ela começou a lembrar de como foi a luta dela, de como isso foi muito bom. Quando a minha irmã passou, a minha irmã passou em Geografia na UEA. A minha mãe ficou muito feliz, ela acabou lembrando da luta dela, dos 20, dos 18 anos dela, quando ela foi coordenadora também do MEIAM, ela acabou lembrando de todas as histórias, ela começou a contar de novo. Ela falou: “Eu não levei cacetada, não levei bala de borracha à toa não, foi por vocês e por todas as pessoas que virão, pelos meus netos também. E aí minha irmã ficou muito feliz, eu também fiquei. Depois eu fiquei pensando, poxa, ela passou e eu nada de passar. Aí eu comecei a estudar de novo, estudei, estudei, estudei. E acabou que naquele ano, que foi no ano de 2019, não, foi no ano de 2020, eu acabei passando. E aí para ela também foi uma grande alegria também, ela falou: “Caramba, mais um dos meus filhos entrou na universidade”. Desculpa o palavrão, mas foi essa frase que ela disse. E aí ela ficou muito feliz, ela começou a chorar de novo. E aí ela falou bem assim… Eu falei: “Não vai ser dentro da cidade de Manaus, vai ser em Parintins”. Aí ela falou: “Ah, melhor”, mas só que ela não tinha levado em conta que eu tenho parentes em Parintins, mas eu não tinha vivência com eles. E eu acabei vindo fazer a minha inscrição, de sair de Manaus e fiz minha inscrição em Parintins. E aí passei dois meses dentro de um aluguel, depois eu consegui entrar aqui na Casa do Estudante, na República da Casa do Estudante aqui. E aqui a gente vê que tem várias pessoas também que são como eu, que tem sonhos, são pessoas sonhadoras, que são de famílias humildes, que são de famílias ribeirinhas, são de famílias quilombolas, são de famílias indígenas. Aqui em Parintins tem muita essa população. Eu tenho até uma colega minha que também cursa também Design, ela é de Coari, de Tefé, Tefé é um município muito longe daqui, mas ela veio para prestar vestibular, em busca de um sonho também. Como as pessoas também que entram na universidade, vão para outro local, se deslocam dessas comunidades, se deslocam das suas casas, se deslocam do seu convívio social para tentar algo melhor para o futuro. É muito mais difícil também, porque a gente vai ficar pensando, poxa, é montar de novo o nosso ciclo social, agora é outro ciclo. Então dentro da Universidade como indígena é muito difícil para mim, porque toda hora a gente tem.. é provado para a gente, a gente tem que provar que a gente está naquele local porque a gente é capaz, a gente vê que tem um preconceito nivelado, tem um preconceito fechado. Esse preconceito é uma opinião sua que a pessoa não aceita, é num trabalho seu que acabam tirando a sua ideia, ou acabam reformulando para dizer que não é sua ideia. Eu sofro muito com isso, mas eu não falo nada. Mas eu acabo trazendo essas questões através do meu trabalho também. E eu começo a falar bem assim, se vocês não me ouvirem, vocês não vão ouvir mais ninguém. E acabaram que nessa parceria de trabalho de aula, de trabalho em grupo. Eu não gosto muito de fazer, eu gosto de fazer sozinho, mas acaba que a gente tem que trabalhar em grupo também. E aí os trabalhos no meio acadêmico também é um preconceito também dos professores também, mas dentro da Universidade aqui onde eu estou, não tive preconceito dos professores, pelo contrário, eles sempre me apoiam, os trabalhos que eu faço, em todo o trabalho desenvolvido também eles falam, “eu nunca tinha pensado nessa ideia”. Então, tudo isso eu tenho para fazer. O meu curso de Design Digital é um curso muito capitalista, é uma questão de replicar, de replicar, de replicar uma ideia, mas eu penso também como designer também, mas eu penso também como indígena também, como Ribeirinha. Que finalidade final vai ter o meu produto depois que ele não tiver mais utilidade? Então eu sou muito adepto ao ecodesign, todos os trabalhos que eu faço eu faço com produtos reaproveitáveis, eu faço uso da natureza, eu faço com a tinta do Jenipapo, que é tinta que eu trabalho, uma tinta natural, que não degrada a natureza. Eu trabalho com urucun, eu trabalho com os panos leves também, com tecidos leves. Nesse mundo onde eu trabalho também, é onde eu posso ter o meu lugar de fala, então o design surgiu para mim que o mundo digital também. E acaba que dentro do meu curso as pessoas agora começam… eu trago esse diálogo também sobre, o que que vai acontecer com o seu produto quando ele não tiver mais utilidade, é o ecodesign, que eu falo para mim, é o eco designer. As pessoas acabam pensando também nesse diálogo. E eu acho muito importante nós, indígenas, termos esse local de fala, ter esse local também de conhecimento dentro da universidade, porque esses locais, esse passo que a gente vai dar agora, serão um passo para as pessoas futuras também, para as pessoas que querem pensar também, não a minha TV, que tem tanto lixo eletrônico. Que produtos eu poderia utilizar nele? Que sacola plástica eu poderia utilizar para não degradar mais a natureza. Aqui no município de Parintins tem a questão dos Bois Bumbá, Garantido e Caprichoso, no festival folclore de Parintins, que é o melhor, que é o maior evento popular do Brasil. E aí acaba que dentro desses eventos as pessoas consomem muito, jogam muito lixo. E acaba que a cidade também fica poluída com esse lixo. Então a gente traz esse diálogo aqui, poxa isso que vocês utilizam hoje, o que que ele pode servir para amanhã? E é muito importante falar esse diálogo da universidade.
P/2 – Existe algum canto, algum canto que tu te lembra que a tua avó cantava? Tu fala que quando ela ia tecer a palha, buscar a palha, ela sempre trazia um canto. E aí tu gostaria de trazer para a gente um canto que tu lembre que ela cantava para ti quando tu era criança?
R – A minha avó Cotera ela sempre… eu trago ela também como referência para os trabalhos, porque Cotera também, ela não foi apenas uma mulher, ela foi também uma precursora da resistência, ela foi também uma mulher colaboradora de ideias, ela foi também uma mulher que sempre foi forte nos conhecimentos dela. Então minha avó, eu trago ela também como referência nos meus trabalhos, porque ela pensava, que roupa eu vou usar, que roupa eu vou usar sendo que eu mal a mal tenho roupa para dar para as minhas filhas. Então quando ela veio da aldeia, ela acabou utilizando o pano cru, então é essa é a história do pano cru, porque nas apresentações nós utilizamos o pano cru, primeiramente o pano cru é um dos panos mais baratos e é um dos mais fáceis de costurar, o tecido cru. E aí esse tecido, acabou que a vovó fazia os grafismos nele, então essa questão da moda decolonial eu trago muito isso também, sobre a história dela, sobre o que cada traçado tem, o significado. Então a minha avó sempre contava que se a gente não mudar as nossas criações no tempo de agora, no futuro elas não serão mais a questão da crença, da cultura. Então ela acabava que para ensinar a gente ela acabava fazendo música. Então é a música da farinhada, é de como é que a farinha ela move toda uma comunidade, porque para se fazer a farinha acontece os puxirum. O puxirum é toda a comunidade, ela se move nisso, nessa questão, todo mundo vai lá, tira a mandioca, rala a mandioca e no final tem os comes e bebes, que é a comilança. Acabou que ela cria nessas vivências, cada uma história tem as suas histórias. Tem o Inhambé também, que é a história da música, porque do Inhambé. Tem a questão também da ___________ o porquê do ritual da Candera. Eu gosto muito do _____________, porque ela tem uma história muito forte também com nós, com as mulheres também. Eu vou cantar um trecho que ela fala bem assim: são bravas formigas guerreiras da selva e nelas consagram guerreiros Tupã, são bravas formigas guerreiras da selva e nelas consagram guerreiro Tupã. Então no meio do ritual vem essa… “bebendo o meu __________, o meu Sateré Mawé, minha forma é lagarta de fogo, o meu sangue é Sateré Mawé.” Então tem essas histórias dentro dessa música. Quem são as _________, as ___________ são as curandeiras, mas também são bravas formigas guerreiras da selva, são bravas mulheres também que são essas formigas, que perpetuam toda essa origem e elas consagram Tupana. Tupana também é Deus que criou todo esse universo, criou todos os clãs, criou ____________ que é o nosso lugar sagrado. Então para comemorar a gente toma o Tarubá e a gente toma o chibé que é para comemorar esse rito de passagem da criança para a fase adulta, para consagrar quem? Tupã que é Deus, todo esse ritual é uma forma de comemorar, é uma forma de lembrar toda essa resistência. Então essa música é uma música que me marca muito, eu lembro que quando ela tava tecendo, ela estava cantarolando…. Então ela pegou Marquinho, Marquinho era o namorada da minha tia que estava lá e acabou que, “Marquinho faz uma música disso, fala da Tucandeira, fala do ritual”. Então a minha avó contou a história para ele, ele acabou fazendo a música, mas também teve o cantarolá dela para se fazer toda essa música. Então a minha avó era muito aleatória assim, “ai gente eu tô cansada, eu não quero mais só pintar, hoje vamos fazer outra coisa”. Ela era muito eclética, “ah vamos fazer farinha, vamos mudar a nossa roupa”. Porque tinha outros grupos também musicais, tinha __________ que era um grupo musical também Ticuna, tinham outros grupos musicais também. Então acabou que todas as vezes eles mudavam repertório deles, todas as vezes mudavam as músicas. E aí a vovó era muito aleatória, por isso também eu acho que nos meus trabalhos eu também sou muito aleatória, porque a minha avó sempre mudava de ideia. E ela falava assim, que as ideias surgem do nada, e essa nada se transforma em muita coisa. E é muito legal pensar nisso, porque as ideias que eu tenho também surgem muito aleatória, eu vou escrevendo elas para depois não perder. E os trabalhos que eu faço, como no artesanato, como na questão do estilismo, como modelo também, na passada também, os desenhos digitais também, que agora eu to me colocando também, nos tingimentos também tecidos, nós vemos que todos esses conhecimentos ancestrais no branco é, “ó, nossa, que surpreendente”. Mas isso para nós não é tão surpreendente, porque a gente já tinha esse conhecimento, e é muito legal contar essas histórias também, porque a minha avó também tinha essa inspiração na minha vida como força, como resistência, como mulher que nunca se contentou com um só, mas sim com várias coisas. E é isso, a minha avó, eu falo dela isso também, sobre todas essas histórias, mas também minhas tias também, elas têm todas essas histórias, marca também, tem uma grande luta também na questão das mulheres. As mulheres também sofriam muitos preconceitos, então a questão da Maria da Penha, dentro do Estado do Amazonas, ela lutou por isso, nós também, pela educação, pela saúde diferenciada no território, não só em Engenheiro Amaral, mas também em todo o território do Amazonas. Ilca também, que sempre teve essa questão de falar também das roupas. Inara também, que é minha irmã, na questão de falar do artesanato, “não, o artesanato que tu usa não é apenas um artesanato, o artesanato não vem como uma bijuteria, mas sim como uma forma de proteção, então eu estou te dando isso para te proteger. E entre outras mulheres também que me inspiram, hoje, atualmente, ATEAMAM, é uma associação, uma organização que trabalha diretamente com a confecção de artesanato dentro do município de Barreirinha, que minha mãe voltou para base e hoje trabalha com elas. O ATEAMAM tem várias histórias também para contar de mulheres também guerreiras. E é isso.
P/3 – Você saindo da comunidade, da aldeia e indo para a universidade, você já falou todas as coisas muito importantes e bacanas que você está fazendo na sua arte, várias possibilidades. Quando você pensa nas pessoas que ainda moram na aldeia, os jovens que ainda estão lá, você pensa que o que você está aprendendo… para a sociedade geral é muito importante, tem uma força incrível. E para as pessoas que continuam morando lá, como é possível ter algum retorno? Se você pensa nisso, se é possível? Porque a gente sempre fica pensando coisas, mas vocês sabem se é possível ou não.
R – A minha ideia depois de me informar é trabalhar dentro da minha comunidade indígena. Então esse retorno a gente também trabalha com essas pessoas, a gente fala, “não, vocês tem que voltar para a comunidade de vocês”. E todos eles voltam, a maioria que faz Universidade de volta depois da Universidade com esse conhecimento. Quando eu falo desse conhecimento também é porque a gente sempre está junto e dentro do Município de Barreirinha, toda vez que eu vou para lá, eu me toco para as comunidades, vou embora para as comunidades, para o Guaranátuba, para Ponta Alegre e outras comunidades que tem. Meu pai tem um barco, então ele acaba conhecendo várias pessoas e nesses diálogos a gente acaba incentivando os jovens, logo no meu ensino médio, o meu primeiro trabalho que eu tive para conscientizar os jovens, foi a questão da gravidez precoce, dentro do Maré Belém, que foi a minha última escola do ensino médio, eu trabalhei essa questão da gravidez precoce, da Universidade, como é que a gente tinha essa possibilidade. Então foi um retorno muito grande, quando eu voltei agora, depois que entramos na universidade, várias pessoas também entraram, depois falavam, “olha, se tu não tivesse dado aquela palestra para a minha família, sobre a questão da Universidade que é muito importante para nós, ter esse lugar de fala, talvez eu estaria naquele estigma muito grande, de ser uma mulher, casar, ter filhos e procriar. Atualmente tem uma amiga minha também que faz história, que é a Raina Andrade, eu cito muito ela também, porque a gente viveu junto, a gente cresceu junto e hoje ela também é acadêmica de história, historiadora também, e hoje ela também é pesquisadora também, pelas bolsas que tem. E ela traz esse retorno para comunidade, a gente traz porque a gente fala para eles bem assim, “não, é muito importante a gente falar sobre isso, porque nós vamos contar essa história a partir da nossa vivência, não da vivência de um branco, que a história que os livros contavam. E acaba que quando a gente foi da última vez e voltou para o Natal e Ano Novo, teve esse pequeno recesso, a gente descobriu que uma queria fazer direito, “poxa, eu quero muito fazer direito”. Aí, “bora amiga, bora!” Ela acabou vindo para a prestar vestibular e ela passou, ela vai reiniciar agora depois de abril, em junho. E eu fiquei muito feliz, porque se não fosse simbora, vamos juntos, talvez ela não tinha se espertado nisso. Então é muito bom ter um jovem também falando com outros jovens, porque a gente se entende, a gente sabe, vai ser difícil, mas simbora se ajudar. A gente fala com animação, bora, vai ser difícil, mas a gente vai se ajudar, andar junto. Se não tem 1,80 pro R1, vamos juntar cotinhas para a gente almoçar. Então isso é muito legal, a gente estar nessa vivência também, conhecer outros indígenas também. E também relembrar as pessoas que estão fora da comunidade, que estão no nosso município, da nossa vivência social. Depois que eu terminar eu penso em voltar também, para trazer esse conhecimento do branco, mas também do indígena também, sobre essas histórias, o que que tu pode fazer com isso.
P/3 – Além desse estímulo, que você anima outros jovens, que é super importante. E para cultura, que eu também vi que você valoriza muito, cultura ancestral, ou a cultura tradicional. Não sei se é possível, mas de tudo que você aprendeu, é possível fortalecer a própria cultura nas comunidades, a cultura tradicional de algum jeito? Não sei se é possível, queria te ouvir.
R – Sim, é muito possível, porque no meu território a língua Sateré Mawé é muito falada, então ela não teve muita interferência do homem branco, a maioria das pessoas que ainda são de comunidade indígenas, eles ainda são falantes da língua, então dentro da comunidade tem as Rari, que são os velhos e esses velhos eles têm muito conhecimentos, então a gente acaba que a gente ainda ouve eles, a gente acaba sentando para ouvir ainda. E como é que a gente pode perpetuar esse conhecimento, é escrevendo, como na universidade, escrevendo, depois de um tempo, porque ainda na nossa comunidade, é muito presente ainda. Então a gente pega senta e conversa, mas como é que a gente vai perpetuar isso? Escrevendo! É por isso que eu acho importante a pessoa entrar na universidade, porque aí ela vai começar a escrever, “não, essa história é desse jeito, meu avô contou desse jeito e é desse jeito que eu vou escrever para outras gerações quando vierem escreverem também dessa mesma forma, sem diferença também. E dá para se manter ainda mais forte essa Cultura.
P/2 – Tapaiuna, eu queria que você falasse um pouco sobre os dois mundos que a gente vive, esse mundo indígena e o mundo não indígena, a gente sempre fala disso, muitas das vezes a gente se perde, muitos se perdem entre esse dois mundos e acabam esquecendo um pouco das nossas tradições. E aí eu queria que tu contasse como foi esse processo de fortalecimento da sua identidade, saiu da comunidade, veio para Manaus, depois tá indo para Parintins cursar uma faculdade, como se deu esse processo de fortalecimento da sua identidade. Enfim, eu gostaria que você falasse um pouco mais desse processo de se reconhecer quanto um jovem indígena.
R – A minha avó sempre teve diálogo, a minha mãe também sempre teve diálogo comigo, então para se fortalecer tem que ter uma base muito forte, para a gente bater no peito e dizer, “não, eu sou indígena, não, eu vim de um povo, não, eu vou bater de frente com esse preconceito todo e não ligar para o que o homem branco vai falar’. A gente precisa ter uma base muito forte, uma história muito forte para ter orgulho de quem nós somos. A minha avó sempre contava para a gente também que na infância dela, quando ela foi para Cidade, a primeira coisa que fazia chacota era com a fala dela, então a fala acaba desestimulando a gente, principalmente no ensino médio também, quando eu cursei ensino médio, as pessoas acabavam tendo um preconceito nivelado, tipo, “Ah ele é índio!” Eu achei engraçado porque em Barreirinhas 80% é indígena e 30% acho que não é. E aí o pessoal falava um para o outro, só que a gente vê que esse preconceito ainda é presente porque os mais antigos não conversaram e falaram, “não, você tem que ter orgulho disso, disso e disso, não, a sua história é isso, isso e isso”. Então eu sempre tive uma base muito forte, minha mãe também sempre teve uma base muito forte, eu também tenho uma base muito forte, os meus sobrinhos também, que são filhos da Inara também tem essa base muito forte. Atualmente eles moram na cidade de Manaus, numa comunidade também. Então eu vi também que é muito mais difícil para Iará, pro Iaró, para o Israel, para Indy, para a Mayara e para Uara, por conta que tem esse mundo tecnológico, a tecnologia embora seja o caminho para a gente dialogar, falar, a história que a minha avó contava é essa. Mas também tem um caminho da gente falar, não, a minha história de resistência também é essa. Então o meu nome é isso. E para mim enquanto jovem indígena bater no peito, dizer que eu sou, foi tudo uma desconstrução, porque quando era criança eu não gostava que me identificasse como Tapaiúna, “ei Tapa, ei Tapaiuna”. E quando a minha mãe ia para reunião ela não me chamava De Adolfo, chamava de Tapaiúna, “Tapaiuna”. E todo mundo ficava rindo de mim, porque achava engraçado o nome. Uma vez eu até brinquei com a mãe, “mãe não me chama mais de Tapaiuna, me chama de Adolfo”. Ela me deu um puxão de orelha, que eu falei bem assim, “sabe o que que significa o teu nome? Sabe quem te deu o seu nome? Então tu tem que ter orgulho do seu nome. Então vou te chamar de tapaiuna e vou te fazer vergonha até você aprender.” E hoje eu digo que é muito importante ela ter esse diálogo comigo, porque eu enxerguei atualmente quem é o Tapaiúna. Tapaiúna é uma pessoa que… o Adolfo não é mais nada, é apenas um jovem que estuda, um jovem que interage, mas o Tapaiúna tem toda essa história de resistência, essa cultura por trás, essa vivência. E quando eu era criança, meus coleguinhas falavam, falavam meu nome, mas com forma de chacota. Então eu acabei que com os meus 12, 13, eu acabei me apropriando, eu sou o Tapaiuna mesmo e daí? Aí eu me identifiquei nos lugares que eu fui, “não, meu nome não é Adolfo, meu nome é Tapaiuna. E quando eu voltei para Manaus para estudar, eu falei, não, meu nome não é Adolfo, meu nome é Tapaiuna, comecei a me identificar também nos fóruns, “não, meu nome é Adolfo Tapaiuna”. E aí acabou que eu fiquei com esse nome, meus antepassados me deram, mas eu não me apropriei ainda dele, mas hoje eu sou mais apropriada ainda, porque eu sei a importância dessas histórias. Quando eu era criança eu não tinha esse conhecimento todo, porque eu queria me enturmar, eu queria muito me colocar naquele círculo social, então acabava negando as minhas origens, e é muito ruim, foi ruim para mim, porque, “tua mãe é aquela?” A minha mãe sempre andou com pena na orelha, com pena na cabeça, com um colar enorme de …. Aí falei, “é, aquela é minha mãe!” “Tu é Indígena?” “Sim!” “Poxa, mas tu nem parece”. Não andava também com uma pena na orelha, com grafismo no corpo. Então quando eu vi a importância, bati no peito, “Ah, eu sou!” E também trazer isso no ensino médio, eu sou mesmo, e aí, o que que tu tem contra mim? Contra o nome? Poxa, é apenas o meu nome, tu tem teu nome, não é Gabriel?” “Ah é, meu nome é Gabriel!” “E tu sabes a origem do teu nome ou foi dado por uma pessoa qualquer?” Aí ele ficou todo errado. Eu odeio esse Gabriel até hoje. Mas enfim, nessas histórias era muito bom, porque foi uma vivência, foi uma desconstrução também para mim, entre a minha infância, a minha adolescência e agora na minha fase adulta. Já na fase adulta, o nome Tapaiuna vem com muito mais força, eu já entendi, já tenho poder de tudo isso, mas antigamente não era assim, eu queria muito me englobar naquela sociedade branca, naquela sociedade que não me cabia, eu fiquei assim, meu Deus. E hoje eu olho para trás e fico assim vendo que é muito bom, porque eu sei quem eu sou, antigamente eu não sabia quem eu era. Mas as histórias que os meus avós contavam, hoje eu sei muito mais ainda e eu tenho consciência desse conhecimento.
P/1 – Em relação ao conhecimento tradicional que você tinha comentado anteriormente, eu queria saber qual o conhecimento que te foi repassado, que marcou sua vida?
R – Eu vou começar de novo do Barracão quando a gente estava criando o barracão. O Barracão é o lugar onde é festejado Puxirum, onde é festejado o ritual das Tucandeira, o conhecimento do ritual das Candeias, que é o rito da criança. O ritual das Candeias é um dos rituais mais temidos do mundo. O ritual das Candeias, é o rito das crianças para fase adulta, ele começa com os 9, 10, 12 anos, e tem que fazer isso 20 vezes. E esse ritual, ele foi muito importante para mim, porque é uma forma de resistência. Então esse ritual tem toda uma história, uma cosmologia, porque do ritual, porque passar pelo ritual. Aí começaram a contar, o ritual das Candeias, é o ritual para provar que você é um guerreiro, para provar que tu vai ser um bom pai, vai ser uma boa pessoa e que tu vai ser bom na caça. Então tudo isso engloba esse ritual das Candeias, essas histórias, ela é muito importante para mim também, tanto que nos meus desenhos eu enfatizo muito…, que é tucandeira, que é o símbolo principal. Outras pessoas enfatizam __________. que é o remo sagrado, outras pessoas enfatizam ___________, que é o lugar sagrado, outras pessoas enfatizam também as histórias dos clãs, como é que cada um desses clãs foram criados. E essas histórias que foram contadas também, através das músicas, através de desenhos, através de grafismos, elas têm trazido tudo isso. E hoje a gente vê que a maioria dos pesquisadores que têm em Parintins, eles descobriram as cerâmicas marajoaras, e tinha um grafismo lá, aqui dentro são projetos de pesquisa. Mas só que o grafismo já tinha no… que é o remo sagrado… hoje está para um lugar de muito antes. E os antigos contam que a história Sateré Mawé, é uma história muito bonita, mas é uma história muito difícil de se entender, porque tem muitas histórias por trás da história. E é isso.
P/3 – Porque você se identifica mais com esse que você falou?
R – Com a Tucandeira?
P/3 – É! Eu me identifico muito mais com a Tucandeira, porque a Tucandeira é a força, a Tucandeira também na história, elas são as mulheres, as mulheres guerreiras, as mulheres que os meninos vão ajudar, as mulheres que trazem toda essa força, essa feminilidade, mas também do conhecimento também. Eu lembro que a minha avó contava da Cabanagem, que foi a briga que teve entre os colonos, a briga que teve entre… E aí para se manter a língua Sateré Mawé, as mulheres pegaram todas as crianças e se meteram para o mato e foram andando. E aí os guerreiros acabaram lutando também junto nisso. E aí alguns que sobraram foram embora atrás das mulheres. Então hoje a língua Sateré Mawé é muito latente por conta das mulheres também, que pegaram as crianças e se meteram para o mato e ensinaram também para elas. É isso que eu me identifico mais com Tucandeira… por conta dessa história por trás disso tudo, por questão das mulheres.
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P/2 – E por falar em Cabanagem, tu tem uma música, tu escreveu uma música sobre a Cabanagem, sobre esse período difícil para o povo Sateré Mawé. Não sei se você gostaria de compartilhar com a gente um trecho dessa música. Falar um pouco dela também.
R – Sim! Essa música surgiu por conta… teve toda a questão do governo Bolsonaro, teve a matança dos povos indígenas também, teve a questão das queimadas dentro da Floresta. E aí eu lembrei que a minha avó contou sobre a questão da Cabanagem, então essa música ela surgiu a partir disso, sobre a matança dos indígenas, a questão também de não valorização da cultura também, a questão também da saúde que estava sendo defasada também, nos territórios, a questão também da pandemia também, quem matou muitos dos nossos anciãos e anciãs também, até minha tia também faleceu no meio da questão da pandemia. E essa música surgiu a partir disso, né! Desse meio político que nós estávamos inseridos, hoje já estamos melhor. E quando eu vi também sobre o povo Yanomami também, essa música surgiu também, de Bruno,... como é que tava aquela questão lá. E ela surgiu nesse meio, eu vou começar ela e depois eu conto mais como surgiu essa letra. Ela começa bem assim, sou indígena, sou gente da mata, me ouça seu moço com muita atenção, eu vim da grande natureza, minha beleza é minha nação, sou a costura, sou raça de um povo guerreiro em devastação, eu vim da grande natureza, minha beleza é a minha nação, eu sofri, chorei, vi tristeza e vi dor, fuga de cabanagem, massacre de um povo que Tupã não deixou, eu sofri e chorei, vi tristeza e vi dor, fuga de Cabanagem, massacre de um povo que Tupã não deixou. Mataram meu povo, roubaram o meu ouro tão triste eu fiquei, pedi ajuda a Tupã, a meu povo humilde que aqui estarei. Eu nunca fui de guerra, eu sempre só quis paz, vamos nos dar as mãos unir a nossa força, junto vencemos mais, sou nação brasileira, eu amo meu país, minha morada é floresta, meu sangue é tesouro, meu povo é raiz, sou nação brasileira, eu amo meu país, minha morada é floresta, meu sangue é tesouro, meu povo é a raiz. Então essa música, ela tem toda essa história, essa história dos avós, essa história dos meus antepassados, do Capitão França, que foi uma grande liderança do Povo indígena Sateré Mawé. Quando o capitão França descobriu que lá dentro do território que morava tinha muito petróleo e as petrolíferas queriam entrar e ia morrer muito Sateré Mawé, e foi demarcado, quando foi demarcado, lá em 88, quando foi feita a primeira constituinte. Ele pegou toda a questão do que iam fazer com o nosso povo e levou para para a França, é por isso que o nome dele é Capitão França, Capitão por conta dos Capitães que tinham, pessoas que eram lideranças, como tinha muito, como eu posso dizer, muito soldados lá, acabou que tinha o Capitão daquela nação. Então o capitão França ele teve toda essa história, então tem Capitão França por conta que levou esse pedido de socorro lá para França. Então essa música, ela tem essa história, história que naquele ano político, governo Bolsonaro, teve a matança dos povos indígenas também isolados e sub isolados. Que nós que já somos comunidades, que já vivemos com o contato do homem branco, já é difícil, imagina o povo que é isolado e o sub isolado, que não tem anticorpos, que não tem como perpetuar a língua, que é uma língua ainda nova falada. Esses povos sub isolados são pequenos, acaba que se eles pegarem uma gripe, acaba que se eles pegarem alguma doença, morre ali mesmo a cultura deles. Essa música tem toda essa força por trás.
P/3 – Muito linda! Emocionante!
P/2 – Agora queira que tu falasse um pouco sobre esse protagonismo da juventude, a gente vê que a juventude indígena hoje está criando um grande movimento, principalmente nas redes sociais e também dentro do próprio movimento indígena. Ano passado nós tivemos na ATL a primeira bancada de jovens indígenas para realmente a gente se fortalecer. Como é que tu vê esse protagonismo da juventude indígena?
P/3 – Eu vou só complementar Maiara, posso? Porque a gente já tá quase terminando. Como você vê… de você, como você vive isso?
R –Como eu vivo isso? Tá!
P/3 – Falar como você falou até agora, sempre você fala como você entrou, como você se movimenta nisso que a Maiara falou, como você se sente. Tá bom?
R – Ok! Está inserido também nesse protagonismo dos movimentos sociais, do movimento das redes sociais e também do movimento estudantil. É muito importante também, porque as visões, elas acabam mudando, a perspectiva acaba mudando, então, nada se acaba, tudo se reconstrói. E todo esse diálogo que a gente tem com o movimento indígena, é isso! Trazer o fortalecimento para os jovens, para as pessoas da comunidade também. E aí, a minha mãe, ela foi a precursora do MEIAM, aí depois foi outro Sateré e depois foi, hoje tá na Maiara, Maiara também… a gente está nesse protagonismo também. De estar nesse movimento social, de falar, não… Ainda nessa questão do movimento social, a gente já sente na pele porque a gente está inserido nessas universidades, a gente pede socorro porque a gente está inserido dentro delas, não, a gente precisa lutar por causas, por projetos de extensão, para abrir mais para indígenas, para entrar na casa do estudante por bolsa também permanência, por políticas públicas para permanência, porque a gente está inserido dentro dele, se manter dentro de uma universidade, eu digo por mim, mas também por outros indígenas também, que estão nesse meio acadêmico, é muito difícil para a gente se manter, porque a gente não trabalha, a gente vive para estudar. A maioria do nosso tempo ou é estudando, ou é estudando, a gente estuda, ou estuda, porque as provas, elas são muito difíceis, elas são muito complicadas, então não dá para trabalhar e estudar. O movimento do MEAM também tem esse papel de ajudar o estudante também, tanto da rede pública, quanto da rede privada. E é muito legal ter esse protagonismo, porque a gente fala… Eu estou falando isso porque eu vivenciei, eu estou falando isso porque eu estou na universidade, eu sei que é difícil. Maiara também tá na universidade também, ela sabe que é difícil se manter dentro da universidade. Então trazer esse protagonismo para os jovens.. antigamente, os mais antigos, eles queriam porque queriam que os filhos deles entrassem na universidade. Hoje nós queremos, porque nós queremos nos manter na universidade. Então, esse diálogo do protagonismo indígena traz essa visão de dois mundos, tanto na vivência dos mais antigos, a gente nunca esquece dos mais antigos, nós juventude indígena, nós andamos junto com eles. Não… a gente não pode entrar por aqui, por onde entrar para conversar, não, vamos por aqui. Então, são caminhos estratégicos de política que a gente tem que entender e essas políticas, não pode por aqui, vamos por aqui. A gente tem que dá, o brasileiro sempre deu essa diferença. E é muito importante também para nós, juventude indígena, também estar nas redes sociais, porque nós vamos contar essas histórias a partir do nosso ver, da nossa fala, da nossa vivência. Então tá com protagonismo, também tá com desenvolvimento de projeto também, tá também com pessoas que fazem mestrado também, doutorado, dentro do MEIAM é muito importante também, porque a gente se inspira também, você olha para o outro. Tem pessoas que está no meio também e fala, poxa, é uma pessoa tão importante pra mim, eu quero ser igual a você quando eu for maior. Aí eu olho para a Maiara e falo, “Maiara eu quero ser igual tu, eu te admiro muito!” Aí a Maiara olha pra Izabel Munduruku e fala. E eu olho também para Izabel e falo, “também quero muito fazer um mestrado”. Mas eu também tenho aquela história, poxa, sou muito apegado também a minha família. E pra mim tá hoje longe da minha família, pra mim tá longe das minha irmãs, a gente é muito apegado, nós Sateré Mawé somo muito um junto do outro, eu acho que assim como todos os povos indígenas também, come na mesma cuia, na mesma mesa, uma mesa grande, fazemos a farinha junto, falamos mal junto um do outro. E essa minha história é muito difícil, quando a gente sai, porque a gente fica sozinho, não tem com quem dialogar. E esse movimento e local, que a gente vai e se dialoga, não, eu to passando por isso, então vamos lutar por isso”. Porque essas políticas públicas que vão ser trabalhadas agora, outras pessoas que virão, vão pensar, não, eu estou aqui por uma história que foi de Maiara, que foi de Tapaiuna, que foi de Moy, que foi de Regina, que foi de Sâmela. Que são essas pessoas que fazem tudo isso, que foram do povo Ticuna, porque esses povos, Kaixana, Sateré, entre outras. Porque eles trazem essa vivência toda. Esses movimentos sociais estão sendo muito fortes por conta das redes sociais. As redes sociais elas trazem esse outro lado da moeda, porque antigamente não era assim, antigamente era por livros, então a visão do colonizador era por livros, esses livros, eles eram repassados e esses conhecimentos repassados erroneamente. Atualmente não, a vivência ela fala, não, minha avó contava assim, então eu vou contar para vocês assim. Temos vários influenciadores que falam das suas vivências. Eu vou citar uma que _________ fala também como é viver no contexto de aldeia e também o contexto da cidade também. Temos também indígenas influenciadoras, como Samila, que são ativistas também, que lutam pelas causas ambientais, temos influenciadores também aldeados, que é a questão da Cunhaporanga, que é uma das maiores tiktok também, influenciadora digital dentro do Instagram, mas que fala também da vivência dentro de comunidade, como é que vivemos dentro de uma comunidade indígena? Como se faz a farinha? Qual língua que eu falo? Porque ainda tem essa visão estereotipada que indígena não tem acesso a internet. Só que a gente vê que existe, na nossa comunidade também estamos perpetuando isso. E essas histórias são também documentadas através de vídeo. Hoje os mais antigos contam e estão documentados em vídeo e fala, não! Ele está cantando dessa forma, então vamos lá rever o vídeo. E é muito legal ter esse protagonismo na rede. na ATL também, que é acampamento terra livre, que é onde nós jovens indígenas, organizações indígenas, associações indígenas, se reúnem para discutir, dialogar e ver a melhor estratégia que nós vamos seguir durante tudo isso. Aqui dentro da cidade de Manaus tem MEAM, tem FOEM, tem Maqueree, tem Utateamã, tem entre outras organizações que estão andando em conjunto. E isso é muito importante, porque isso fortalece todo o nosso grupo social. Hoje a gente está todo mundo organizado com essas organizações, antigamente não era assim, antigamente era na porrada mesmo, “não, nós vamos lá e vamos entrar e ocupar”. Hoje o nosso local de ocupação é a internet, então vamos ocupar essas redes para que essas redes possam servir de conhecimento para as gerações futuras. Então no meu trabalho eu falo sobre isso, questão digital também, desenho digital, eu faço desenho também que fala de uma vivência de indígena aldeado, mas também moram na cidade não perdendo a cultura. Eu falo também das roupas, de tingimento naturais que são perpetuados também nas roupas, que é o conhecimento ancestral. Eu falo também como modelo também. E porque ter esse protagonismo, vê também pessoas se espelharem também nisso, como indígena também e pensar, não, se ele pode eu também posso, então eu vou sair também e correr atrás do meu sonho. Eu falo também como acadêmico, porque pra mim ainda é difícil me manter na universidade, por não receber nenhum recurso ainda, por conta de bolsa de extensão, mas pra mim é difícil, porque se não fosse pelas bolsas de extensão, seria muito mais difícil, porque o meu curso ele é o dia todo, então não tem como eu trabalhar. É muito mais difícil também pra mim conseguir um emprego, porque eles precisam de experiência, como que eu como jovem, eu não vou conseguir experiência em uma universidade. Eu falo também como indígena também, porque essas histórias, que está hoje aqui gravado, eu vou ficar muito feliz de algum tempo reviver também essas histórias, desta live aqui que eu estou fazendo com vocês, porque eu vou olhar para trás e falar bem assim: poxa, eu já sabia o que eu queria da minha vida, mas também eu já queria e tinha pé no chão e hoje eu quero ainda muito mais. E os jovens também vão olhar para essa live e pensar, se ele já era assim eu também posso ser assim. É muito importante também estar aqui falando nesse Museu da Pessoa, porque são histórias de pessoas que perpetuam gerações, e essas gerações eu sei também que daqui…. eu tenho atualmente 20 anos, daqui 30, 50 anos eu vou lembrar, eu já era daquela forma, mas também sou ainda mais daquela forma. Eu fico muito feliz pelo convite de vocês todos. Muito obrigada também a Maiara por me dar esse convite. Muito obrigada também ao meu colega que tá aqui também, ter ele também como representatividade de outro povo também. E eu fico muito feliz que dentro desse local está sendo ocupado por três pessoas indígenas também. E nosso local está sendo ainda mais ocupado.
P/3 – A gente que te agradece Tapaiuna. Eu ia ver se Cerize quer perguntar mais alguma coisa, que a gente vai terminar.
P/1 – Sim, só para encerrar. Se de repente ele quer acrescentar mais alguma coisa, contar alguma coisa que ele não pode contar durante a entrevista, porque a entrevista foi através de perguntas. Pode ficar a vontade se quiser falar alguma coisa.
R – Para encerrar a mesa, para encerrar a mesa, eu queria falar com você que é jovem também. Essa live está sendo gravada, mas eu também queria falar para você que é jovem assim como eu também tem sonhos e realizações futuras. A minha vida sempre foi muito difícil também, tanto pela parte de ser indígena, mas também pela parte de ser artesão, mas também pela parte de não me identificar com uma sociedade também. Então eu falo pra você também que é indígena, que é aldeado, que é ribeirinha, que é quilombola, que tem sonhos assim como eu a se realizar. Vá para uma outra cidade, vá para uma outra comunidade e tente viver o máximo que vocês puderem. É muito difícil! Eu vou dizer para vocês, pra mim como jovem é muito difícil, mas eu fico feliz, porque daqui algum tempo eu não vou me arrepender de tudo isso. Eu falo para você também que é jovem e está olhando essa live também, tem que ser um pouco ousado também, pensar um pouco fora da caixinha. Às vezes o comum se torna chato e o comum também se torna muito comum, mas o comum também não tem história para contar. Se tu sair da sua comunidade, se tu for para outro local e que tenha histórias para contar e essas histórias também possam também ser contadas para os seus filhos. Daqui a algum tempo, eu tenho certeza que vou ter filhos, contar, falar bem assim: “Olha, a minha infância foi essa, minha vivência foi essa”. E ter orgulho de toda essa sua vivência. Então é isso! Para os jovens que estão me ouvindo, muito obrigada!
[Fim da Entrevista]
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