Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Álvaro Chaves
Entrevistado por Márcia de Paiva
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB554
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Bom dia!
R – Bom dia, Márcia!
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que o Senhor nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Álvaro Duarte Chaves. Nasci em Minas Gerais em 15 de julho de 1939.
P/1 – Qual a cidade?
R – São Francisco de Salles. Não posso dizer que não existe, porque existe, mas é pequeninha. Nasci na fazenda, nesse município. Fui criado em Uberaba, tanto que a minha terra natal por vontade é Uberaba. Foi lá que eu tive a minha infância, a minha adolescência, até sair de Uberaba.
P/1 – E saindo de lá, o Senhor foi pra onde?
R – Eu fui pra Ouro Preto, tentar o vestibular lá de Minas e Metalurgia. Não fui feliz e fui pra Belo Horizonte, onde eu comecei a trabalhar.
P/1 – Começou a trabalhar em que área?
R – Eu fui jornalista. Não parece não, mas fui jornalista da Última Hora, do Samuel Wainer, até 1964. Os mais antigos sabem por que o jornal foi fechado...
P/1 – Conta pra quem não sabe.
R – Simples. Última Hora apoiava o governo que, na época, era do Jango. Era um governo tido como de esquerda, comunista, e quando houve a revolução - em 31 de março, parece – fecharam o jornal em Belo Horizonte – ele continuou no Rio – e nós fomos dispensados. No dia primeiro de maio de 1964 eu fui para o Rio. Fiquei lá no Rio, comecei a trabalhar num laboratório farmacêutico, depois trabalhei no Rei da Voz, que era uma loja de departamentos da época. Do Rei da Voz eu fui para a TV-Rio, trabalhei lá uma temporada. Posteriormente, fui para a Petrominas. Em 1966, o acervo da Petrominas na área do Rio de Janeiro, foi comprado pela Petrobras.
P/1 – A Petrominas?
R – É. A Petrominas é o Petróleo de Minas Gerais, que era uma...
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Depoimento de Álvaro Chaves
Entrevistado por Márcia de Paiva
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB554
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Bom dia!
R – Bom dia, Márcia!
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que o Senhor nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Álvaro Duarte Chaves. Nasci em Minas Gerais em 15 de julho de 1939.
P/1 – Qual a cidade?
R – São Francisco de Salles. Não posso dizer que não existe, porque existe, mas é pequeninha. Nasci na fazenda, nesse município. Fui criado em Uberaba, tanto que a minha terra natal por vontade é Uberaba. Foi lá que eu tive a minha infância, a minha adolescência, até sair de Uberaba.
P/1 – E saindo de lá, o Senhor foi pra onde?
R – Eu fui pra Ouro Preto, tentar o vestibular lá de Minas e Metalurgia. Não fui feliz e fui pra Belo Horizonte, onde eu comecei a trabalhar.
P/1 – Começou a trabalhar em que área?
R – Eu fui jornalista. Não parece não, mas fui jornalista da Última Hora, do Samuel Wainer, até 1964. Os mais antigos sabem por que o jornal foi fechado...
P/1 – Conta pra quem não sabe.
R – Simples. Última Hora apoiava o governo que, na época, era do Jango. Era um governo tido como de esquerda, comunista, e quando houve a revolução - em 31 de março, parece – fecharam o jornal em Belo Horizonte – ele continuou no Rio – e nós fomos dispensados. No dia primeiro de maio de 1964 eu fui para o Rio. Fiquei lá no Rio, comecei a trabalhar num laboratório farmacêutico, depois trabalhei no Rei da Voz, que era uma loja de departamentos da época. Do Rei da Voz eu fui para a TV-Rio, trabalhei lá uma temporada. Posteriormente, fui para a Petrominas. Em 1966, o acervo da Petrominas na área do Rio de Janeiro, foi comprado pela Petrobras.
P/1 – A Petrominas?
R – É. A Petrominas é o Petróleo de Minas Gerais, que era uma distribuidora de derivados de petróleo. A Petrobras comprou o acervo dela na região do Rio de Janeiro, que abrangia Rio, a Rio-Bahia. Eu fui para a Petrominas em 1965 e em 1966 a Petrobras comprou o acervo e eu fui para a Petrobras, Petróleo Brasileiro, que na época era DECOM-SUDIST.
P/1 – E o Senhor foi incorporado também.
R – Por dois meses eu fui incorporado para passar todo acervo para a Petrobras e, posteriormente, nós fizemos um concurso – porque na Petrobras só entra através de concurso. Nesse concurso, praticamente uns quinze por cento só da Petrominas é que ficou na Petrobras, o resto não conseguiu passar.
P/1 – Nessa época, o Senhor trabalhava em que área dentro da Petrobras?
R – Vendedor mesmo.
P/1 – Entrou para a parte de vendas.
R – Excetuando a TV-Rio e a parte do jornal, eu sempre trabalhei em vendas. Eu sempre gostei de vendas. Então, entrei na Petrobras como vendedor e fiquei até 1972. No dia três de abril de 1972, eu pedi a transferência para Brasília.
P/1 – Porque Senhor pediu a transferência? Tinha alguma razão?
R – Tinha. Em 1972 a minha mulher queria conhecer Brasília – de Uberaba a Brasília é um pulinho, é uma noite só de ônibus. Era; agora é mais rápido. E ela veio conhecer. Ela era secretaria do Ministro do Trabalho, Gabinete Rio, e ela adorou Brasília. Disse: “eu quero ir para Brasília”. E eu vim aqui ao Distrito para rever alguns amigos oriundos do Rio e me fizeram o convite, porque precisavam de um supervisor aqui. Eu, analisando, pensei: “no Rio, para subir vai ser muito difícil, porque eu estou na escala, eu era o mais novo da área, seria muito difícil. E aqui, não, aqui eu teria mais chance de subir na empresa. Aí vim pra cá como supervisor, depois fui chefe de operações, fui chefe de vendas.
P/1 – Em que ano que o Senhor chegou, pode repetir?
R – Cheguei dia três de abril de 1972. Estava começando a Distribuidora aqui na região.
P/1 – O Senhor veio para a BR ou veio para a Petrobras?
R – Eu vim para a Petrobras, ainda. Logo em seguida foi criada a subsidiária Petrobras Distribuidora. Aí todos aqueles que trabalhavam na Petróleo Brasileiro tinham a opção de ir para a BR-Distribuidora. Não tinha nem opção pra mim, né, então optei. Quer dizer, foi dado baixa na carteira em um dia na Petróleo Brasileiro e, no dia seguinte, já fui contratado até me aposentar.
P/2 – Me conte um pouco como era o trabalho nessa época quando o Senhor chegou aqui, dessa parte de vendas...
R – Olha, quando chegamos aqui, estava começando praticamente a Distribuidora. Eu fiquei como supervisor. Aqui nós abrangíamos parte de Minas Gerais, parte da Bahia, Mato Grosso - que na época pegava Mato Grosso e Tocantins porque não havia ainda a divisão – e Goiás, na região de sudoeste, oeste de Mato Grosso. Então, fiquei com essa área de Goiás, na área de Goiânia, Tocantins, que seria na época, hoje é Tocantins e Mato Grosso. Mato Grosso do Sul não era desmembrado, mas fazia parte de Campinas. Então, o que a gente fazia? Montagem de postos. Eu tinha uma equipe de vendas que morava em Goiânia, já que a região era lá, e os vendedores saiam procurando os locais para montar postos, negociar montagem de postos, negociar troca de bandeira e atender também o pessoal que já estava na Distribuidora. A gente viajava muito.
P/1 – E como eram essas viagens?
R – Olha, essas viagens eram o seguinte: quando eu saia para a Belém-Brasília – praticamente toda semana, porque a minha era lá e eu só morava aqui, então saía para viajar lá; às vezes ficava aqui uma semana. Se fosse parte burocrática, despachava, mas normalmente viajava quase toda a semana. Era de terça è sexta ou sábado.
P/1 – E o estado das estradas?
R – Na época da seca era boa. Muita poeira, mas a gente vai acostumando. Era um fusquinha bom, que nunca me deixou na mão. Eu pegava o vendedor da Belém-Brasília em Goiânia e a gente saía, eu viajava com ele. Nós visitávamos o que tinha que ser visitado. Quando tinha que viajar para o sudoeste, ia até Cuiabá. Quando ia para Cuiabá, a gente demorava em torno de 15 dias.
P/1 – Por causa das estradas?
R – Não só por causa das estradas, mas por causa da distância mesmo, era muita. Porque a gente ia parando, visita um cliente, visita alguém da concorrência para ver se a gente tinha condições de trocar a bandeira, ver contrato, fazer amizade...
P/1 – O que é trocar a bandeira?
R – Trocar bandeira é quando o contrato de determinada distribuidora que, na época, era de um concorrente, podia não estar satisfeito com a concorrente, então a gente ia fazendo o trabalho de amizade, mostrando que era vantajoso focar na Petrobras, mostrando tudo que era interessante para ele trabalhar conosco. E, se houvesse interesse dele, a gente ia marcando para quando terminasse o contrato, ele viesse para nós. A gente normalmente fazia contrato e, na época que terminava o contrato, normalmente à meia-noite, chegávamos lá eu, os vendedores, dois ou três, o pessoal da manutenção; o que a gente fala troca de bandeira é isso: a gente tirava as bombas da concorrente, tirava o poste-emblema da concorrente, botava o nosso posto. Normalmente, anoitecia a bandeira X e amanhecia a bandeira Petrobras. Era uma festa, né, para nós era uma festa.
P/1 - E vocês fizeram muito isso?
R – Muito, muito mesmo. E não foi só aqui não, foi no Brasil todo. Essa era a negociação. Hoje em dia, não sei, já tem 11 anos que eu estou afastado, não sei como é feito. Parece que tem um respeito maior. E é bom também porque, se nós somos as maiores, nós temos uma vidraça bem maior para ser quebrada. Na época, nós estávamos começando, então era necessário você não querer só montar posto, e havia esse tipo de negociação. Mas era muito interessante, era uma festa. Quem trabalhou e fez isso vai entender o quanto era gostoso você derrubar – você falava derrubar –, quer dizer, tirava o poste, não podia quebrar se não dava problema. Tirava o poste, guardava e botava o nosso.
P/1 – Como é que a população recebia essa mudança de bandeira?
R – O brasileiro é muito patriota, né? Sempre, sempre quando há uma troca de bandeira significa que o dono do posto não está recebendo daquela fornecedora a atenção necessária. Então, alguma coisa existia. E, se ele não estava satisfeito normalmente ele poderia não estar dando um atendimento a contento. A gente fazia esse trabalha, dava atenção, deixa sempre alguém ali por um dois ou três dias para orientá-los. Não era só vender combustível. Nós tínhamos uma orientação do tipo de atendimento, tipo de negociação. A Petrobras tem até hoje um núcleo que vai ao posto, dá orientação. Hoje em dia tem até fiscalização - entre aspas – quer dizer, verificar se o produto está bom.
P/1 – Teste de qualidade?
R – É, teste de qualidade. Já existia isso na época, não nos moldes de hoje, é lógico, era bem precário, mas com a que a gente tinha, já sabia se estava contaminado ou não. Foi um período bem difícil. Teve um período quando houve a equalização de preços, em que havia muita gente querendo se beneficiar dessa diferença. Porque existia uma alíquota em que o Governo pagava para a equalização. Ou seja, ele zerava o frete para todo lugar, você tinha que pagar a transportadora ou para o dono do posto que levava o produto. Então, tinha muita gente que pegava produto para determinado lugar, vendia nas imediações do posto e ficava com aquela diferença. Essa parte é que foi uma das mais difíceis nossas, essa fiscalização.
P/1 – Vocês faziam esse trabalho também?
R – É, de fiscalização. Porque se nós não descobríssemos ou se a gente soubesse e deixasse passar seria conivente. E isso é roubo, né, lógico. Se você se apropria indevidamente de alguma coisa que não é sua, pode querer dar o nome que quiser, mas que é roubo. Esse foi um período da década de 80, muito difícil para nós. Não foi só aqui também não, foi no Brasil todo, muito mais naqueles distritos que tinham regiões mais longínquas. Foi muito difícil, mas foi gostoso. Eu não posso reclamar não. Eu acho que se eu tivesse que voltar outra vez, eu voltaria para trabalhar na Petrobras.
P/1 – E a população recebia bem, quando vocês estavam lá montando?
R – Recebia. Existia festa, né? Tinha churrasco, tinha cerveja, tinha refrigerante, tinha famílias do pessoal que já trabalhava no posto, era uma festa, sim. E no dia seguinte, sempre aquela surpresa: “e agora?” A gente dizia: “foi para melhor, para vocês serem mais bem atendidos...” Era muito interessante.
P/1 – O Senhor estava mostrando as fotos ali para a gente do estado de conservação das estradas. Era também um trabalho de aventura passar por ali, porque chovia, o estado das pontes...
R – É, aqui e principalmente na região de Mato Grossos que nós não tínhamos asfalto. Então, na época de chuva, no período das águas, era muito difícil. Por mais que esse tentasse conservar as estradas, não adiantava, acontecia aquilo que você chegou a ver: era ponte que começava a cair, era estrada que não dava passagem, você tinha que dar voltas talvez de horas ou de dia para ir ao mesmo local.
P/1 – E quando o rio enchia? Como foi aquela história?
R – Essa história foi na rodovia que liga Goiânia a São Miguel do Araguaia. O rio Crixás passa perto da rodovia; no período das águas, o rio subia – hoje não sei mais se sobe, deve ter melhorado a canalizado dele. Em tão, ele transbordou e cobriu uma parte da rodovia que ficava perto, no final do local que nós íamos ao último cliente que nós íamos visitar. Nós chegamos lá, parte da estrada estava alagada. Aí nós tentamos ainda, tiramos a roupa e tentamos ir, mas a hora que a água deu acima do joelho eu disse: “não dá para atravessar.” A nossa volta levou um dia e meio para chegar no local que nós tínhamos que ir. Isso era comum no período das águas. Acredito também que em outras partes do Brasil que não tinham asfalto na época acontecia a mesma coisa. Mas nada desanimava, também não. É aquele negócio, para quem gosta de aventura, era bom. Mato Grosso estava começando; Cuiabá-Santarém estava sendo aberta, nós fornecíamos produtos para o IXº BEC [Batalhão de Engenharia e Construção], que é a engenharia do Exército que abriu Cuiabá-Santarém. Até recentemente eu tinha guardado comigo a autorização do Major Sukman, porque para nós andarmos na Cuiabá-Santarém faltava apoio logístico, não tinha postes em toda a extensão, eram muito distantes um do outro, ainda estava sendo aberta, estavam derrubando parte da floresta onde ia passar a rodovia. Só tinha apoio nos acampamentos do BEC. Então, ele me deu, a primeira vez que eu subi a Cuiabá-Santarém, uma autorização que dizia ao pessoal da estrada que eu estava autorizado a receber apoio logístico de abastecimento, de alimentação e de alojamento nos acampamentos do BEC.
P/1 – BEC?
R – É, Batalhão de Engenharia e Construção. Mas foi bom, até aquela parte da inauguração da Belém-Brasília que eu te mostrei a foto.
P/1 – Conta a história para quem não viu a foto.
R – A foto é o seguinte: em 1974, no dia da inauguração da Belém-Brasília, pelo menos no horário em que estava sendo inaugurado o asfalto da Belém-Brasília, num trecho que também não era longo, não deu tempo para eles terminarem por causa da chuva, eu tirei a foto do caminhão atolado. Atolado no asfalto é que não era, né? Mas também logo que começou o período da seca, foi imediato. Quer dizer, aquele trecho não ficou pronto não foi porque eles não quisessem terminar não, foi porque a chuva não deixou terminar. Mas eu tive a oportunidade e, pra mim, que particularmente andava por ali, é uma foto histórica.
P/1 – Tem mais alguma história desse período? Algo inesperado que aconteceu nas visitas aos clientes, ou alguma história engraçada?
R – Não, histórias engraçadas, engraçadas não temos. Nós temos histórias até relativamente tristes, não engraçadas. Nós perdemos um colega que estava na área de aviação, o Narcélio, até eu vi o nome da viúva dele recentemente, por isso que eu me lembrei.
P/1 – Qual é o nome dele?
R – Narcélio. Ele trabalhava na área de aviação. Na época eu era chefe de operações aqui do Distrito Federal. Foi um período de uns três ou quatro anos que eu fiquei como Chefe de Operações. E a área de aviação, montagem de postos de aviação, atendimento de combustível de aviação no interior de Goiás e Mato Grosso era feito por nós aqui de Brasília. Quando ele tinha que viajar para vistoriar esses locais, esses aeroportos de pequeno porte, ele ia e passava 15 dias em Mato Grosso. Numa das vezes, em Mato Grosso, num domingo, eu estava aguardando. Ele foi entrar no Rio Araguaia, em São Felix do Araguaia. No período da seca, o Rio Araguaia tem praias lindíssimas, é um rio muito bonito, é uma dos rios mais bonitos que eu conheço aqui no Brasil. E nos fins de semana, as famílias ribeirinhas vão até o rio, as praias são bonitas, então ficam lá, como se estivessem na “Copacabana” daqui. Então, ele foi entrar na água e foi picado por uma arraia, só que o pessoal que deu atendimento a ele, não soube deixar aberto: fizeram uma assepsia mais ou menos, fecharam e o veneno da arraia foi comendo... Quando nós soubemos, mandamos ele voltar e ele voltou de avião. Chegou aqui, fez tratamento, tirou parte da batata da perna, recuperou um período e nós achamos que ele ia ficar bom. Mas, em seguida, foi piorando, piorando e faleceu. Se você pensar: “arraia não mata!” Lógico que não mata, desde que você trate. Então, histórias interessantes não têm não, mas essa eu gostaria deixar gravado porque foi um colega que marcou muito, era muito trabalhador, eu acho que fica bem lembrar-se dele.
P/1 – Me diga uma coisa, Senhor Álvaro, o Senhor trabalhou sempre na BR? Permaneceu na BR...
R – Até me aposentar. Desde 1972, quando foi criada a Distribuidora, eu vim para a BR. Aqui eu fui: Supervisor, depois Chefe de Operações – que na época o Gerente achou que dava para assumir, porque a gente vivia tendo contato, conhecia toda a distribuição e a parte de operações, porque a gente estava sempre nas bases, conversando com o pessoal para atendimento aos nossos clientes. Passei três ou quatro anos como Chefe de Operações e voltei para Chefe de Vendas aqui, no Distrito, em Brasília. Quando foi criada a Gerência de Vendas pelo Vice-Presidente Marco Túlio, eu fui para Goiânia como Gerente de Vendas, porque lá tinha uma Gerência. Fiquei lá de 1986, quando foi criada, até final de 1991. Em 1992, houve um remanejamento de todos os gerentes de venda. Eu fui designado para Ribeirão Preto. Lá eu cheguei no dia dois de janeiro e no dia 10 de fevereiro eu assumi a gerência do Distrito de Porto Alegre. Acharam por bem que eu tinha o perfil de ser gerente do Distrito de Porto Alegre, me convidaram e eu estava até viajando no interior de São Paulo, conhecendo os nossos clientes. O Diretor Adalberto me ligou e disse: “Olha, gostaria de saber se você aceitaria ser gerente do Dispale” – Distrito de Porto Alegre. Eu disse: “se a Diretoria acha que eu tenho condições, eu aceito”. Aí, colocaram a Diretoria, eles aceitaram e, no dia 10 de fevereiro, eu assumi o Dispale. Fiquei no Dispale até haver o remanejamento de Gerentes. Foram criadas superintendências, já no começo desse novo processo da Petrobras, de departamentização dos negócios, superintendência de distribuição, de vendas, de operações. Aí, eu fui para Manaus, onde fiquei até retornar a Brasília. Na época, eu fiz uma cirurgia do coração, não cheguei a ter enfarte, eu tive uma angina pectoris em Manaus. A Petrobras foi fantástica comigo. Me colocaram no avião em Manaus, fui para São Paulo, fiz a Cirurgia – três pontes e uma mamária – fiquei 10 dias em São Paulo. Quando me liberaram, eu voltei para Manaus, comecei a trabalhar e o médico me acompanhava. Ele era um dos donos do Hospital do Coração e também atendia a Petrobras lá na Refinaria. Então, era nosso amigo porque, como superintendente, toda hora ia na Refinaria para saber como estava aquele negócio todo com relação ao produto para a nossa distribuição. Ele me disse: “Chaves, você pode trabalhar, não tem problema. Só não pode estressar”. Eu falei: “pronto, complicou a vida!” Porque como é que você pode não estressar, não ficar tenso numa atividade dessa aqui. Aí eu optei por me aposentar. O diretor na época era o Wolmer, e eu disse: “Wolmer, eu quero me aposentar”. Ele: “peraí, fique mais um pouco, até o fim do ano”. Eu: “mas não está dando. Depois que eu soube que tenho que ficar calmo, eu fiquei mais nervoso ainda com tudo”. Ele falou: “O que você quer?” “Quero voltar para Brasília”. “Mas recentemente nós mudamos todos os superintendentes”. Eu falei: “não estou querendo voltar para Brasília no cargo que eu estou. “Eu quero que você me leve de volta para Brasília, em qualquer cargo”. A vaga que tinha aqui era de Chefe do Depósito do Aeroporto. Ele falou que ia estudar. Depois me ligou: “só esse”. Eu falei: “aceito”. Ele: “mas Chaves, você hoje é superintendente, você vai ser Chefe de Depósito?”. Eu falei: “eu quero é voltar para Brasília. Eu preciso voltar porque eu tenho a impressão que, se eu continuar assim com o problema que eu tenho, eu posso me complicar”. Aí, me trouxe para cá, eu fiquei uns seis meses ainda. Eu vim para me aposentar, mas achei tão bom lá, novas coisas, esse sim, era um conhecimento novo. Eu fiquei até o momento que eu senti que estava precisando me aposentar. Eu me aposentei no dia 31 de janeiro de 1996. Porque eu fui fazendo as contas também – a gente também tem que pensar na aposentadoria nessa hora – e eu vi que a diferença de salário estava começando a diminuir a minha aposentadoria e eu me aposentei.
P/1 – O Senhor acabou trabalhando na área de vendas praticamente pelo Brasil todo, do norte ao sul. O Senhor acha que com os postos, a BR também ajudou a desbravar um pouco do Brasil?
R – Sem dúvida nenhuma. Aqui em Goiás e Mato Grosso, a gente colocava uns postos locais que companhia nenhuma queria montar. Era uma das nossas metas não deixar local nenhum sem abastecimento, no sentido de atender a população. Isso era uma das metas da Petrobras, até se empatasse, desde que o Distrito não desse prejuízo. Se a gente tivesse perspectiva que aquele local, por um período não daria lucro, mas teria a possibilidade de lucro, essa parte de atender socialmente a população fazia parte integrante desde o início. Então, nós colocamos postos em todos os locais que a gente sentia que precisava de postos. Não montava postos de porte grande, mas você botava duas bobinhas – uma de gasolina e uma de diesel – dois tanques e a pessoa ficava lá atendendo. Por quê? Porque era muito difícil. As outras companhias pensavam única e exclusivamente em lucro, o que é de todo empresário. Não vai querer que empresário tenha a idéia de arcar com a parte humanitária, social. Não é essa a idéia de negócio, de quem é empresário. As outras companhias na época pensavam a mesma coisa, embora estivessem no interior, mas o interior onde eles estavam tinha um movimento compatível com o lucro. Se não tinha lucro, elas fechavam. Às vezes, fechavam postos em determinada cidade que praticamente nos obrigava, vinha a parte política, vinha prefeito aqui: “nós precisamos, a população toda vai ficar sem combustível, como é que vai ser?” Entrávamos em contato com a Diretoria, que dizia: “faça o estudo econômico.” Fazia, mandava. Quando é a parte social, a Petrobras também tem essa obrigação, que está dentro do nosso estatuto. Ou seja, nós temos que atender a população na parte social. E fazíamos isso. Então, nessa parte de desbravar, de atender locais difíceis, eu acredito que isso foi no Brasil todo, não só aqui na nossa região de Centro-Oeste. É lógico que a gente procurava compensar uma coisa com outra. Se você tinha um posto que não estava dando o lucro que a gente desejava, tinha que ter um posto que desse lucro suficiente para dar lucro para Empresa e amenizar aquele provável prejuízo, que também não era um prejuízo assim, às vezes empatava.
P/1 – Isso lhe deu também um pouco do espírito do petroleiro? O Senhor se sente um pouco petroleiro?
R – Eu sou petroleiro.
P/1 – Me define o que é ser petroleiro.
R – Primeiro: amar a Petrobras e o Brasil acima de tudo, entre aspas, né? Primeiro é Deus, depois a família. Mas a Petrobras está sempre em nossos corações – daqueles antigos, eu não digo dos novos porque a maioria eu nem conheço, não posso dizer por eles. Mas aqueles mais antigos, até hoje, nos comunicamos através de e-mails, de telefones. Não houve uma separação daquele vínculo de amizade da época da ativa.
P/1 – O Senhor mantém esse contato todo ainda com seus colegas da Petrobras.
R – Eu mantenho. A gente recebe constantemente e-mails; já faz parte de grupo, quando você manda para um, manda para todo mundo. A gente está sempre se comunicando, porque não pode se perder. Ser petroleiro é amar a Petrobras acima de tudo, excetuando o que eu já falei: Deus e Brasil. Se hoje eu tenho uma aposentadoria tranqüila, uma vida tranqüila, se eu consegui ter o meu apartamento, o meu carro, formar meus filhos e ajudar a família a formar os netos, eu devo isso a quem? A Petrobras. Eu não posso pensar de modo diferente. Ela me deu tudo, me deu garantia de emprego. Até hoje, eu nunca recebi dia 26, eu sempre recebi dia 25. A Petrobras nunca depositou os nossos salários a não ser naquele dia. Então a gente já podia, sem sobra de dúvida, emitir cheque para o dia 25 que o dinheiro estaria lá garantido. A garantia da assistência médica, a tranqüilidade de você saber que está empregado e que só sai se fizer alguma coisa que não seja honesta, já te deixa uma tranqüilidade muito grande de trabalho, uma vontade muito grande de ficar onde você está. Eu já dizia isso pra minha mulher, que infelizmente faleceu dia 29 de maio do ano passado e foi secretária do Ministro durante 22 anos. Ela reclamava de vez em quando: “puxa, você viaja muito”. Eu: “filha, eu tenho que viajar. Primeiro a Petrobras.” Ela: “primeiro a Petrobras?” Eu: “primeiro a Petrobras. Porque se eu não tiver a Petrobras, o que vai acontecer? Não vai ter essa tranqüilidade que nós temos aqui dentro. Só com seu salário não dá para manter o padrão de criar filhos em colégio pago, faculdade e tudo.” E ela compreendia isso e sempre gostou da Petrobras. A amizade que nós temos aqui, inclusive dentro de Brasília com aqueles que trabalharam conosco continuado mesmo jeito, um pouco mais afastado, mas às vezes a gente se encontra, se abraça. É uma coisa muito gostosa. A vida é muito curta para a gente ficar enclausurado no eu.
Dentro disso, tem um detalhe também, que eu gostaria que ficasse marcado. Em 1969, eu estava lá no Rio de Janeiro, na Petróleo Brasileiro. Estava sendo aberto o Vale do Bonocô, em Salvador. Na época o prefeito era o Antonio Carlos Magalhães e ele estava abrindo aquelas avenidas. Quem conhece Salvador sabe as avenidas melhoraram muito o trânsito de Salvador. E ele queria negociar com a Petrobras a compra de terrenos. Como o Distrito de Salvador não tinha número suficiente de vendedores para ser deslocado da atividade normal para lá, foi pedido ajuda lá para o Rio. Eu fui indicado pelo nosso Gerente para passar um período lá e fazer um trabalho em Salvador. Eu passei lá de julho a 24 de dezembro de 1969 fazendo esse trabalho. Era um trabalho de levantamento, fotografia, montagem, estudo. O Prefeito abriu todas as plantas para a gente estudar e então marcamos todos os terrenos prováveis de negociação, deixamos o trabalho todo lá e, dia 24 de dezembro, voltei. Deve ter surtido efeito porque nós montamos vários postos. Aí, já era a parte da diretoria, negociação. Nós adquirimos vários terrenos, em vários locais e vários postos foram montados em Salvador, na Bahia. A Petrobras também me deu essa facilidade. Passei seis meses em Salvador, ganhando, para ficar em Salvador. Como em Manaus também: eu conheci a Amazônia toda, recebendo da Petrobras.
P/1 – Uma beleza! Senhor Álvaro, eu morro de pena de terminar essa entrevista, mas a gente já está estourando o nosso tempo. Eu só gostaria de terminar perguntando se o Senhor gostou de ter participado e contribuído para o Projeto.
R – Ótimo. Esse Projeto, quando eu fui Gerente do Dispale, eu comecei. Comecei a pegar fotografias, o pessoal da NPI, que é um Núcleo de Produção e Imagem lá de atendimento nessa parte de montagem de postos. Nós começamos não só entrevistas, mas começamos com fotografias. Quando eu saí de lá, deixei muitas fotos e muitas entrevistas para o pessoal continuar. Em Manaus, também. Esse Projeto que está sendo feito hoje, eu sempre achei que deveria ter sido começado há 30 anos atrás – antes tarde do que nunca, né – ou seja, ir catalogando as coisas. Por quê? Porque tem muita coisa da Petrobras que, infelizmente, nós não vamos resgatar porque são colegas que já partiram para o mundo espiritual. É interessante porque a Petrobras não tinha memória. Acho que um dos fatos mais marcantes pelo meu ponto de vista é esse de vocês resgatarem a memória do Sistema Petrobras para que isso fique para a posteridade. Daqui a alguns anos, o pessoal que está trabalhando na ativa – não sei nem como vai ser feito esse tipo de distribuição e pesquisa no futuro – mas eles vão ficar sabendo, de onde eles estão hoje, de onde foi começado.
P/1 – Ta certo, Senhor Álvaro. Agradeço a sua participação e as suas fotos que o Senhor trouxe também.
R – Eu é que agradeço. Sucesso.
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