Projeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Manduca Wapichana
Entrevistado por Tiago Nhandewa
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba / Boa Vista), 13/01/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV033
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Ghirardello
P/1 − Primeiramente boa tarde parente, Manduca. Quero agradecer a sua presença, dizer que é uma honra para nós todos do Museu de tê-lo aqui para ceder essa entrevista que vai compor um acervo de trinta entrevistas de vários parentes de todo Brasil. Uma forma de valorizar a história de vida de cada indígena que vai dar essa entrevista, que vai servir de história para gerações atuais e, também, para gerações futuras. E as pessoas não indígenas que também vão assistir essas entrevistas lá no site do Museu da Pessoa, do Brasil e, também, fora do Brasil. Um reconhecimento pela história de vida e de luta dos indígenas. Então, gostaria que o senhor se apresentasse, falasse o nome do senhor em português e se também tem um nome indígena do povo ao qual o senhor pertence? Então, é como o senhor aí a palavra.
R − Boa tarde Tiago! É um prazer conhecê-lo. Eu sou Manduca Tavares Neto, da etnia Wapichana, da região da Terra Indígena São Marcos, município de Boa Vista, estado de Roraima. No momento eu não tenho nome em língua Wapichana, só em português.
P/1 − Muito bem! Agora pensando nessa origem do povo, também da família do senhor. Em que ano o senhor nasceu e se o senhor pudesse contar um pouco da história de como foi o dia do nascimento do senhor? Se os pais, ou mãe, alguém contou como foi esse dia? O dia que o senhor nasceu.
R − Eu nasci em 1962, tinha um local restrito, não era um local adequado. E pela informação dos meus pais, da minha mãe, do meu pai e alguns dos meus irmãos que são mais velhos um pouco, eles me disseram que eu nasci na beira de um rio chamado Rio Surumu, no sítio chamado São Paulo. Então, desde lá, eu comecei a vivenciar a minha...
Continuar leituraProjeto: Indígenas Pela Terra e Pela Vida
Entrevista de Manduca Wapichana
Entrevistado por Tiago Nhandewa
Entrevista concedida via Zoom (Curitiba / Boa Vista), 13/01/2023
Entrevista n.º: ARMIND_HV033
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Bruna Ghirardello
P/1 − Primeiramente boa tarde parente, Manduca. Quero agradecer a sua presença, dizer que é uma honra para nós todos do Museu de tê-lo aqui para ceder essa entrevista que vai compor um acervo de trinta entrevistas de vários parentes de todo Brasil. Uma forma de valorizar a história de vida de cada indígena que vai dar essa entrevista, que vai servir de história para gerações atuais e, também, para gerações futuras. E as pessoas não indígenas que também vão assistir essas entrevistas lá no site do Museu da Pessoa, do Brasil e, também, fora do Brasil. Um reconhecimento pela história de vida e de luta dos indígenas. Então, gostaria que o senhor se apresentasse, falasse o nome do senhor em português e se também tem um nome indígena do povo ao qual o senhor pertence? Então, é como o senhor aí a palavra.
R − Boa tarde Tiago! É um prazer conhecê-lo. Eu sou Manduca Tavares Neto, da etnia Wapichana, da região da Terra Indígena São Marcos, município de Boa Vista, estado de Roraima. No momento eu não tenho nome em língua Wapichana, só em português.
P/1 − Muito bem! Agora pensando nessa origem do povo, também da família do senhor. Em que ano o senhor nasceu e se o senhor pudesse contar um pouco da história de como foi o dia do nascimento do senhor? Se os pais, ou mãe, alguém contou como foi esse dia? O dia que o senhor nasceu.
R − Eu nasci em 1962, tinha um local restrito, não era um local adequado. E pela informação dos meus pais, da minha mãe, do meu pai e alguns dos meus irmãos que são mais velhos um pouco, eles me disseram que eu nasci na beira de um rio chamado Rio Surumu, no sítio chamado São Paulo. Então, desde lá, eu comecei a vivenciar a minha vida, cheguei até sete anos, entrei na escola, para poder falar o português, porque eu nasci em 1962 e até 1967 eu não falava a Língua Portuguesa. Então, eu comecei a participar da escola e comecei já a ver uma realidade diferente de onde eu nasci. Mas até esse momento, eu dou graças a Deus aos meus pais, são analfabetos, não sabiam ler e nem escrever, falava pouco português, mas eu dou graças a eles, primeiro lugar, a Deus, segundo, a eles, que me construíram dessa forma, até chegar nesse momento. Então, eu não entrei na escola como tem hoje, e já sei a forma que eu passei na escola, eu cursei até Ensino Fundamental, eu não tenho estudo aprofundado, apenas eu cheguei até o Ensino Fundamental, mas graças, pela misericórdia do Senhor, eu estou aqui falando com vocês o que eu aprendi, nesse momento.
P/1 − Muito bem! O senhor falou dos seus pais, eu gostaria que o senhor contasse um pouco da história da sua mãe, qual o nome dele? Como o senhor a descreveria, a origem dela?
R − Bem, a minha mãe, o nome dela é Maria Ineide, conhecida como Maria Ineide, mas ela foi batizada com o nome Ignês de Benedicta, e a origem dela é Wapichana com inglês.
P/1 − Muito bem! Interessante! E o pai do senhor? Gostaria que o senhor pudesse contar um pouco sobre ele, da origem dele? Como o senhor o descreveria?
R − Meu pai é Gustavo Tavares, mas ele era conhecido como Gustavo Jucuruaru. Anteriormente, o pai dele era o Manduca Jucuruaru, mas ele foi criado com os não indígenas, chamados paraibanos, aqui mesmo no município de Roraima, do estado de Roraima. Eles tiveram esse contato com o meu pai e adotaram ele, para que ele fosse o filho adotivo dos paraibanos. E fizeram um registro dele, tiraram o Gustavo Jucuruaru, botaram Gustavo Tavares. Esse é o nome do meu avô. Aí o meu pai ficou como o Gustavo Tavares. E o nome do meu avô era Manduca de Caruaru, aí colocaram Manduca Tavares. E hoje meu pai foi registrado como Gustavo Tavares e os filhos já também nasceram como Tavares. Meu pai é de origem Wapichana, também é ligado aos ingleses.
P/1 − O senhor ouviu a história de como os pais do senhor se conheceram? A mãe do senhor e o pai do senhor, como que eles se conheceram?
R − Sim! O meu pai e minha mãe gostavam de falar comigo, eles colocavam isso para mim, porque eles foram criados quase juntos, meu pai e minha mãe, tinha uma população indígena, os parentes, que conviviam, não tinha igual hoje, comunidades indígenas, aldeias indígenas, era um povoado. Então, o meu pai e minha mãe eram muito parente do meu avô e da minha avó, do meu pai e da minha mãe, então eles se entendiam muito bem. O meu pai começou a gostar da minha mãe e a minha mãe também e, por fim, se casaram.
P/1 − Além do senhor, o senhor tem irmãos, irmãs? Quantos filhos são?
R − Somos oito pessoas, somos sete homens e uma mulher.
P/1 − Os irmãos do senhor, eles moram por aí? Como eles vivem por aí? Estão na aldeia, estão na cidade?
R − Meus irmãos moram na aldeia, tudo é aldeado.
P/1 − Bom, voltando um pouco, para falar do senhor agora, gostaria que o senhor contasse um pouco de como foi o tempo de criança, a infância? Brincava muito, ouvia as histórias? O senhor lembra desse momento?
R − Muito bem! O que eu vou lembrando, eu vou colocando, porque muitos anos atrás, nesse momento eu tenho agora, tenho sessenta anos. Então, dentro da minha criança, de convivência, eu fui uma pessoa tranquila, brincava muito, mas também eu tinha tarefas a fazer, que o meu pai destinava e a minha mãe. Falavam isso, “vocês podem brincar, vocês podem brincar, mas tem uma hora que vocês tem que fazer a sua atividade”. Então, desde os cinco anos, já entendia o que era para fazer. E como eu fui para escola com sete anos, já entrei na escola conhecendo um pouco o alfabeto, alfabetizado pelo meu próprio irmão, que ele já tinha uma noção de fazer com que as pessoas entendesse as palavras, porque ele já tinha estudado numa escola, então ele já passava isso para mim também. Era o único irmão que fazia isso para mim. Então, quando eu entrei na escola, eu comecei a abandonar as minhas brincadeiras de criança de cinco anos, aí comecei já puxar para o lado da escola, para o lado dos coleguinhas, colegas, então a gente foi indo assim. Então, quando eu cheguei a completar os dez anos, eu me retirei do meu pai, eu fui com o meu irmão para uma fazenda, aí eu passei dois anos na fazenda com o meu irmão, retornei para casa do meu pai com treze anos. E com treze anos, eu fui fazer um trabalho de adolescência, na área de administrativa da FUNAI, chamado hoje São Marcos, fui para uma SESI (Secretaria Especial de Saúde Indígena), eu fiquei um ano e meio na FUNAI, como um servidor mirim, com treze anos, eu passei um ano e meio. Aos quatorze, quinze anos, eu saí da responsabilidade da FUNAI, porque eu estava cuidando do patrimônio da FUNAI na sede de São Marcos. Aí eu fui estudar numa escola chamada Missão, essa missão era dos padres, na região do Rio Surumu, Raposa Serra do Sol. Então, eu passei dois anos, praticamente três anos estudando, já na missão São José, escola Padre José de Anchieta. A minha carreira estudantil dentro das minhas condições, porque a minha condição era pobre, meu pai e minha mãe não tinham como me manter, diretamente dentro dessa missão, mas indiretamente eles fizeram esse apoio para mim. Então, em 1977, eu fui para FUNAI, em 1978 eu fui para Missão, estudar. No finalzinho de 1980, retornei para a casa do meu pai, já com a idade de dezessete anos. E depois disso daí, eu comecei a fazer as minhas responsabilidades com trabalho particular nas fazendas. Eu gostava muito das fazendas, eu já sabia manter a forma que é para ser, trabalhar com os não indígenas. Aí depois, em 1985, eu construí uma família, já com praticamente 23 anos, eu me casei com a esposa que eu tenho hoje em 1986, na verdade, eu estou com 38 anos de casado. Construí família, eu tenho seis filhos, três casais de filhos, três homens e três mulheres. Hoje, eu estou aqui colocando essa fala, para vocês, da forma que eu mantive desde o nascimento até naquele momento que eu construí minha família. Então, depois que eu construí a minha família, eu passei a morar na aldeia, já com a família, passei praticamente quatro anos na aldeia, depois retornei para uma fazenda, passei quatro anos na fazenda e voltei para a aldeia em 1992, 1993. Aí eu fui morar na aldeia mesmo. Eu me converti, eu sou evangélico, da Igreja Batista Regular. E daquele momento, eu construí a minha vida dentro da minha possibilidade, puxando a responsabilidade para minha família. Eu passei quatro anos trabalhando como obreiro na igreja, depois retornei para a minha comunidade novamente, que eu tinha saído para outra aldeia, para fazer a obra do senhor. Aí eu voltei para minha aldeia, em 1997, eu voltei para minha aldeia novamente. Aí me nomearam para ser Cacique, Tuxaua da comunidade. Então de 1997 até 2019, eu fui Tuxaua na minha aldeia, muito tempo. Então, dentro dessa carreira de liderança, na área administrativa, eu consegui fazer muitas coisas, seja para mim, para minha família, para minha comunidade, na minha posição, eu construí vários setores públicos que foram oferecidos para a aldeia, as escola, saúde, habitações e outras. Então, comecei a participar dos movimentos indígenas, seja, estadual, municipal, federal. Vários estados, eu passei para acompanhar as lideranças. Eu fui vice-coordenador por oito anos, quatro anos em cada organização indígena. Eu fui pela organização APIRR, chamada Associação dos Povos Indígenas do Estado de Roraima, e passei três anos trabalhando. E depois eu fui para uma associação dentro da Terra Indígena de São Marcos, APITSM, que é Associação dos Povos Indígenas da Terra Indígena São Marcos, passei mais três anos. Dentro desses três anos, a gente teve uma “desintrusão” dentro da Terra Indígena São Marcos, foi retirado 101 invasores, que estavam dentro da Terra Indígena, a gente conseguiu fazer todos os trabalhos, porque tinha passado uma linha de transmissão que veio, Linhão de Guri para o Estado de Roraima. Então, a gente conseguiu fazer a indenização com esse recurso da Eletronorte, em que foi feito um convênio para a organização indígena, para trabalhar dentro da Terra Indígena São Marcos, dentro das condições das organizações indígenas, para retirar os invasores que estavam dentro da Terra Indígena São Marcos. Então, dentro desse nós construímos os nossos trabalhos, como coordenador, como vice coordenador da organização, e construindo a família. Eu continuava trabalhando dentro de uma associação, onde nós tivemos uma “desintrusão” de um fazendeiro que estava dentro, a gente conseguiu a “desintrusão” dele. Então, para que a gente deixasse a nossa terra livre para o nosso futuro, para os nosso filhos, para os nossos netos. Então, eu fiquei trabalhando nessa organização para que garantisse o território para os meus filhos, para os meus netos. E dentro desse nosso território foi criado uma associação, outra associação, chamada APISTSM, Associação dos Povos Indígenas de São Marcos. E novamente eu fui nomeado como vice-presidente, para trabalhar dentro da associação, novamente, para cuidar do que foi indenizado, foi tirado dos fazendeiros e foi indenizado. E os nossos parentes tomaram conta dessas fazendas que estavam dentro da Terra Indígena São Marcos, até hoje. Então, hoje, eu deixo isso claro, porque a gente está cuidando dos nossos futuros hoje, dos nossos filhos. Eu não queria deixar o momento, para que os nossos filhos ficassem, como a gente via anteriormente, mendigavam para os fazendeiros, para poder ter o pão de cada dia. Hoje não, hoje tá mais… eles não tinham território próprio, eles precisavam fazer trabalho para não indígena, para fazendeiros…. Então, eu não queria que os meus filhos passassem por essa situação, por isso que eu trabalhei com as duas organizações, para que eles pudessem caminhar dessa forma, para que os meus filhos entrassem nessa área conhecendo um pouco da realidade do passado, para que eles não ficassem como a gente ficou. Por onde eu passei na área de administração da FUNAI, eu vi situações difíceis, é por isso que eu escolhi essa área para mim, para eu não ser funcionário, não ser empregado de nenhuma instituição, eu sou uma pessoa voluntária, trabalho para mim, eu não tenho como fazer todas essas cobranças para que o governo, seja municipal, estadual, federal, mas eu os tenho comigo, porque eu tenho minha garantia como indígena. Eu nunca fui empregado, eu fui uma pessoa trabalhadora, eu tenho como buscar. Meus filhos hoje me compreenderam, e hoje eles estão no seu canto, devido essa construção comigo, construíram dessa forma. Eles me ouviram falar para eles, para dar um bom dia a dia para eles.
P/1 − Sobre o território, essa luta que o senhor nos contou, a “desintrusão” de todos esses invasores para que hoje os filhos do senhor, as gerações mais novas, tivessem um território para poder constituir sua família e desenvolver a cultura Wapichana. E ainda nesse assunto, e hoje, como está a situação do território, da aldeia? Está estruturado ou ainda falta lutar para mais alguma coisa na área da educação, da saúde, da agricultura? Se o senhor pudesse contar um pouco de como está isso hoje?
R − Muito bem! Na parte de educação, educação evoluiu bastante, nas comunidades indígenas, nas aldeias, só que a gente precisa melhorar, tá bem encaminhado, hoje nós temos as escolas nas aldeias, nós temos mais professores nas aldeias, da própria comunidade. E nesse sentido de dizer que a educação, ela tem uma falha devido também ao próprio governo do estado, governo do município. Então, eles deixa ainda muita coisa a desejar. Por exemplo, procurando diretamente com eles, nesse momento a gente ainda tem essa autonomia da educação está na nossa mão, o que falta que a gente assumisse essa responsabilidade escolar indígena, certo! Mas, no passado não foi, hoje nós temos. Já temos até o ensino superior indígena, ensino médio, ensino superior. Então, a gente batalhou para isso, para que a gente tivesse essa oportunidade de avançar mais um pouco. Mas a gente precisa ainda, precisa de ajuda na parte das estruturas da escolas, a mobilização das escolas indígenas, ainda a gente não tem, certo. Mas a gente está na melhoria, para que a gente caminhasse junto com as nossas lideranças aqui, dentro do nosso território, para que a gente possa ter esse bom encaminhamento para evoluir mais a nossa juventude, que futuramente eles que vão assumir esse nosso território, para que eles não fique procurando meio de viver melhor, certo. Na questão da saúde, a questão da saúde, ela desenvolveu bastante, inclusive eu saí recentemente da saúde, eu era Conselheiro da Saúde Indígena, aqui nesse estado. Eu fui uma pessoa em busca de melhorias para a saúde. Então, nós tínhamos bastante desenvolvimento na saúde, na parte de questão de estrutura nas aldeias, cada unidade, nós temos 342 comunidades aqui no estado de Roraima, aldeias, e cada aldeia tem os AIS, os Agentes Indígenas de Saúde e os AISAN, Agentes Indígena de Saneamento. Então, coloco esse encaminhamento diretamente para a saúde, para que ela fosse buscar melhoria para a nossa vida, porque saúde é uma vida. Então, por isso que nós damos essa melhoria. Então, nós tivemos a VI Conferência Nacional de Saúde Indígena, dentro da V conferência, foi criada uma Secretaria Especial de Saúde Indígena, onde teve bastante parentes envolvidos com a criação dessa secretaria. Na verdade, a gente estava batalhando para ver se a gente conseguia um Ministério da Saúde, mas não foi possível, foi criado, vinculado à saúde indígena, Secretaria da Saúde Indígena. Então, hoje a gente teve esses avanços. Mas teve alguns problemas, a gente começa a ver o lado da Saúde, ela desenvolveu, nós tivemos oportunidades de criar a Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculado no Ministério da Saúde, nós colocamos nossos profissionais indígenas, AIS E AISAN, construímos alguns polos bases dentro das aldeias, UBSI, que é Unidade Básica de Saúde Indígena. Em algumas comunidades, algumas aldeias, ainda não tem postos, mas pretende ampliar mais um pouco, depende do orçamento do governo para a saúde indígena. E a nossa criação da secretaria de Saúde Especial Indígena, eu disse que dentro do sistema, para trabalhar nas regiões, foi criado também uma equipe multidisciplinar de saúde indígena, para trabalhar em cada polo base nas suas aldeias. Então, na verdade, hoje nós temos quase 8 anos e ela desenvolveu um pouco, mas precisa mais? Precisa! Nós temos a oportunidade de criar uma cesárea, criar um distrito perto de Roraima aqui, criar um CONDISI, que é o nosso conselho distrital. E criar um conselho local dentro das aldeias de cada região, nós temos onze regiões. Então, cada região tem a sua aréa geográfica de trabalho com a saúde, e temos 34 distritos aqui em Roraima. E dentro desses distritos nós temos mais de 78 profissionais não indígenas, que são enfermeiras, técnico de enfermagem e dos indígenas, nós temos 148, técnicos indígenas, já empenhados nos seus trabalhos, nas aldeias. Então, na verdade o que falta hoje para a gente é questão de logística, nas próprias sedes aqui, o distrito ainda não tem sede, a gente vive alugando a sede para construir a saúde. E, também, nós temos problemas ainda com veículos, que nós não temos transporte próprio, tudo é alugado, tudo na conveniada. A gente precisa mais um pouco avançar nessa parte, mas em outras partes, medicação, cartesiano, posto de saúde, UBS, enfermeiros, técnicos de enfermagem, todos os profissionais, inclusive os AIS e AISAN, a gente conseguiu fazer, nessa área da saúde, mas a gente luta para que isso melhore mais, avance mais um pouco. Vai depender muito do Governo Federal para nos ajudar nesse sentido, certo. Na questão de agricultura, no momento que a gente criou uma população indígena dentro de uma unidade que existem oitenta pais de família, cento e poucos pais de família, duzentos e poucos pais de família, aí aumentou mais a população, mas também diminuiu um pouco, com anteriormente trabalhar na questão de agricultura. Vou dizer para vocês, não tem como comparar como era anteriormente, como é agora. Mas essas questão de alimentação, de agricultura, a gente tinha banana, tinha mamão, tinha cana, batata, milho, melancia, mandioca, farinha tudo, só que a gente não tinha como comercializar _____________________ [trecho inaudível], o governo ainda não deu essa oportunidade para que a gente possa avançar também na questão de agricultura. A gente ainda tá batalhando, mas para consumo, porque a gente não consegue consumir da comunidade, a gente compra na cidade porque lá a gente não tem como produzir. Dentro do nosso, falando em modo geral, 62 comunidades, 342 comunidades no estado de Roraima, 60% aqui manda seus produtos para capital, para comercializar, para poder comprar coisas que não tem na comunidade.
P/1 − Bom, eu quero também… eu não fiz essa pergunta, mas a respeito também da língua que o senhor estava contando lá atrás, do avô do senhor, que tinha a língua ainda muito viva, a língua Wapichana. E hoje como está a situação da língua aí na terra indígena, ela está sendo mantida, ensinada? E, também, outros pontos da cultura, outros aspectos, por exemplo, ainda caçam, ainda pescam? Como está a situação da cultura? Da língua e dos outros aspectos da cultura?
R − Sim, hoje, nas aldeias, ainda se mantêm as línguas. No meu caso, eu sou falante, sou falante. Eu falo a língua Wapichana. Agora, só não escrevo porque não estudei para escrever. Mas eu aprendi com os meus pais, no dia a dia, sempre falando a língua materna. E outras comunidades têm mantido ainda, mas não é mais aquilo 100%. Eu sei que metade, metade, 50% ainda mantém as suas culturas, as suas missões. Então, no caso dos meus filhos, eles ouvem, eles entendem, mas pouco eles falam, porque não foi falado direto com eles, raramente eu falava com eles, assim. Mas eles aprenderam a escrever, se eu falo para elas, que já aprenderam escrevendo…. Então, só tem um porém, eles não falam, mas eles escrevem, eu já falo e não escrevo, tem esse probleminha comigo. A minha esposa fala, ela não escreve, mas a gente entende, se escrever uma palavra eu já sei a palavra que escreveram, só que eu não escrevo. Todas as escolas têm os seus profissionais, tem os professores de língua materna, de língua Wapichana, de língua Macuxi, de língua Taurepang, língua Ingariko, língua em inglês. Então tudo isso tem seus profissionais, já dentro da escola. Então, nossos filhos, os alunos, já estão aprendendo na escola, já não estão aprendendo de nós. No passado os nossos filhos aprendiam com os pais e hoje estão aprendendo na escola. Mas é assim, a gente está levando, mas a gente convive nas aldeias, a gente ainda tem toda a nossa cultura, a nossa tradição de fazer algo melhor, por exemplo, hoje, estando ali, a gente pode fazer mutirão para pescar, se uma reunião, faço uma reunião, digo, “quem que vai pescar? Quem que vai caçar? Então eu não vou pescar, eu vou caçar.” A pessoa sai para caçar, sai para fazer mutirão e algumas comunidades não fazem, porque já tem o patrimônio, a monocultura, tem peixe, tem frango, mas alguns ainda ficam mantendo a sua cultura de trabalho. E na comunidade a gente ainda come caça, as vezes a gente não caça, mas tem quem caça, se eu não caço mais, então eu compro do caçador. A própria comunidade ajuda naquela família. ____________________ [trecho inaudível]. Então se a gente não quer comprar, a gente vai caçar. Então é isso, a minha vida foi sempre assim.
P/1 − Como foi lidar, como a comunidade se deu com o Covid-19? Como vocês fizeram para se proteger? Teve alguma perda na família ou na comunidade? Se o senhor puder contar como foi esse período que começou em 2020 e a gente ainda está vivendo isso.
R − Sim! Muito bem! Então, a gente estava já prevendo isso, 2019, como eu fazia parte da saúde indígena, maioria dos meus amigos já comentavam isso. Aí eu queria que chegasse pra eu ver a forma que ela era. Aí quando chegou 2020, primeiro caso que teve foi no aeroporto, aqui no estado de Roraima. Aí foi diretamente para a Assembleia Legislativa e já começaram comunicar que realmente já tinha pessoa infectada, que chegou da viagem de outro estado e está sendo isolado por isso. Então, imediatamente a gente se preveniu para que a gente fizesse um grupo de comunidade, por região, como eu coloquei, nós somos onze regiões dentro do estado de Roraima. Então, a gente começou articular com isso. A partir de março, a gente começou, em 2020 a gente começou articular, falar sobre isso. E a gente começou a distribuir para os pacientes. E a gente começou a falar sobre isso, dar palestra. E comecei a falar nas regiões, consegui articular as onze regiões, mas eu não consegui articular as 342 aldeias. Eu fui pelos polos. E por fim, a primeira pessoa que foi infectada dentro da aldeia minha, fui eu! Por mais que eu estava prevenindo os meus parceiros, meus amigos de outras comunidades, meus irmãos, meus parentes, mas o primeiro que foi infectado dentro da minha comunidade. Passei quarenta dias isolados, graças, pela misericórdia, fui curado. A gente usou metade da medicina tradicional, a gente usou medicação ocidental também, que a gente sempre… a equipe ia lá. Mas a gente conseguiu sair dessa. A maioria das comunidades teve uso de medicina tradicional, maioria. Então, eu digo isso porque eu acompanhei. Até eu mesmo, eu tomei bastante remédio caseiro pra que a gente tivesse, colocando agora, falando para vocês. Mas não deixamos também de tomar medicação que é da farmácia, esse só para controlar. Então, para falar a verdade, eu cheguei até com 89 da minha saturação, pronto para ser entubado, mas graças a Deus eu não fui. Mas dentro da minha família eu perdi um cunhado, da minha irmã, que é a única irmã que eu tenho de mulher, que é da família, ela perdeu o marido dela, meu cunhado. E outro também, a minha cunhada também da minha comunidade, da minha aldeia. E muitos que ficaram com sequelas na aldeia, dentro da minha comunidade mesmo, inclusive eu, eu tenho uma sequela de coronavírus, nessa pandemia. Mas a gente vê que nós tivemos um desafio, nós tivemos um desafio e conseguimos sair, nos prevenimos bastante, depois que teve o caso já acontecido a gente foi se prevenir, os nossos parentes, os nossos filhos, os nossos netos. E muitas fizeram o teste e deu positivo na minha aldeia, quase 100%. Mas foi tratado, graças a Deus, hoje nós não tivemos mais nenhuma perda na minha aldeia. Mas de outras aldeias perdi muito dos meus amigos, professores, agentes de saúde, técnicos de enfermagem. E a gente perdeu muito, questão desse vírus, levou muito nossos parentes, assim, de dentro da aldeia. A gente não conseguiu tratar 100% desses parentes, mas teve muita comunidade que teve esse tratamento, isolamento, dentro da comunidade, dentro da aldeia. Tem muitas aldeias que cumpriram com o isolamento, e muitas não cumpriram. Esses que não cumpriram, foram infectados. Alguns cumpriram e alguns não. Mas graças a Deus a gente está saindo dessa ainda. Mas aqui, em Roraima, sempre está tendo algum caso ainda. Mas as pessoas estão na terceira dose de vacina já, isso está combatendo. Talvez por outro lado tá melhorando, por outro lado estão sentindo que a sequela é grande, depois que passou esse tempo aí.
P/1 − Eu vi que vocês conseguiram se organizar dentro da comunidade, orientação. Vocês tiveram alguma ajuda de fora, além da SESAI? Vocês tiveram ajuda de alguma ONG, ou do próprio governo, da FUNAI? Para ajudar tanto a controlar o vírus, mas também para ajudar as pessoas a se manterem? Porque muitas pararam de trabalhar. Como foi isso?
R − Sim! Nessa parte, a gente teve um apoio, um apoio na questão da cesta básica do governo, do governo do estado, do governo municipal e do Governo Federal. Principalmente na parte das máscaras, essas proteções. E a questão da alimentação, nós tivemos um apoio nessa parte. Algumas ONGs tiveram distribuição lá nas organizações indígenas e as organizações indígenas distribuíram para as comunidades. Levou uma faixa de 6, 8 meses, mas tivemos sim! Não foi tanto assim, da forma que a gente queria, mas deu para ajudar. Muitas pessoas não conseguiram mesmo fazer o trabalho, pararam, não tiveram mais força de trabalhar. Então, muitas pessoas tiveram mais prioridade, as pessoas que tiveram mais infectadas, então tiveram sim apoio.
P/1 − De toda essa história que o senhor contou, desde o nascimento do senhor, falando sobre os familiares do senhor, luta pelo território, agora luta pela vida, no Covid, contra o Covid-19, o senhor foi o primeiro a pegar Covid aí. E a gente está vivendo esse momento de hoje, aí eu gostaria de perguntar para o senhor, olhando para trás, para tudo isso, quais são as coisas mais importantes para o senhor hoje?
R − Olha, falar a verdade, a coisa mais importante que eu consegui, teve, até hoje aqui pra mim, minha vida. Manter a minha vida, manter a minha saúde, manter minha dignidade, manter o meu respeito, a educação. Enfim, ter uma responsabilidade, ter um compromisso com o meu povo, minha família, meus filhos, minha esposa. E os demais, meus parceiros de trabalho, nas organizações indígenas, no movimento indígena, sempre eu venho mantendo isso. Então, eu tenho respeito com isso, eu tenho carinho com isso. Então, o valor que eu tenho é a minha vida chegar até aqui.
P/1 − E pensando num futuro, um futuro próximo, ou a longo prazo, quais os sonhos do senhor? Que sonho que o senhor tem ainda pela frente? E qual é o legado que o senhor gostaria de deixar para os jovens de hoje, para quem ouvir falar do senhor daqui para a frente?
R − Certo! Existe o futuro a curto prazo e tem o futuro longo, porque hoje a gente não sabe, mas na verdade, espero, quem vai dizer isso somente Deus, a vida de cada um. Então, futuramente eu quero deixar isso para a juventude de hoje, eles enfrentar, desafiar essa situação que hoje a gente vê que, não somente no Brasil, no mundo inteiro, que a gente vê que as coisas não estão fáceis. Então eles tem que manter, assim como nós vamos mantendo até hoje aqui. Eles precisam ter coragem, ter força, eles terem essa condição de lutar pela vida, pelo trabalho, buscar melhoria para que eles possam ter esse futuro na mão. Então é isso que eu quero colocar aqui para a juventude de hoje, que eles possam ter um bom pensamento e buscar essa melhora, buscar essa melhoria de vida, para que eles possam chegar até onde Deus permitir. E desse longo prazo, eu preciso, se eu chegar até lá ainda, eu vou ver a forma que vai ser, porque meu pai chegou até 80 anos, meu irmão mais velho tem 80 anos. Então, na verdade eu não quero expor aqui a minha vida fazendo a minha vontade, mas sim a vontade do senhor, a vontade de Deus, se ele permitir chegar com essa idade que o meu irmão chegou, que o meu pai, com certeza, eu vou viver muitas coisas ainda, melhores, ou não sei. Mas só, eu quero deixar isso para os futuros, para os meus filhos, demais meus parentes que tiver aí no Brasil inteiro, porque a gente sabe que existe muito parente, quase 900 mil indígenas no Brasil, precisa evoluir, desafiar nossa vida até onde der.
P/1 − Que o senhor viva muito tempo! Que vai ter muita história para contar ainda, muitas experiências de vida e de grandes vitórias. Eu fiz várias perguntas para o senhor, mas gostaria de deixar aberto também, caso eu não tenha feito alguma pergunta, que o senhor gostaria de ter respondido. E se o senhor quisesse contar alguma coisa que eu não perguntei durante a entrevista, o senhor pode falar agora. Olha, isso eu tinha esquecido e não falei, eu quero falar isso. Tá aberto!
R − Sim! Contando um pouco da minha convivência com a minha família. Eu tenho uma família muito experiente, porque, eu estou falando dentro da minha família em geral, seja os meus irmãos, minhas cunhadas, meus cunhados, meus filhos, minha esposa, meus netos. Então, dentro da minha família, só eu tenho 30 pessoas, só na minha família, essas 30 pessoas são pessoas que tem uma visão boa, as pessoas que precisam evoluir na carreira estudantil, precisa melhorar na vida, buscar condições de vida. Então eles tem esse bom pensamento, porque eu construí falando sobre isso. E dentro dos meus irmãos, eu tenho amor aos meus irmãos também que são umas pessoas já com idade e a gente conversa muito, a questão de família, dialoga muito, a gente cria um grupo, um grupo de família, toda dia a gente começa a dialogar e contar a nossa história, dizia, “lá naquele tempo com os nossos pais a gente não fazia isso, hoje nossos filhos estão fazendo, ‘bora’ melhorar aqui”. Então a gente fazia isso, fazia não, a gente faz ainda. Então, cada um dos meus irmãos foram construindo a família dessa forma, com a educação, com respeito e carinho. Então, os meus irmãos me ouvem, por mais que sejam mais velhos. A gente sabe que dentro do movimento social é diferente do que você conviver a parte social dentro da sua casa. Às vezes, você olha para fora, aí você quer trazer para dentro da sua casa, aí é onde nós batemos um pouco de frente com os nossos filhos. Mas é assim, graças a Deus, nos temos essa nossa convivência dia a dia. A vida de um Wapichana é uma vida mais tranquila. A vida Macuxi é uma vida tranquila. Então, cada língua, cada etnia, cada língua tem suas especificidades. Então, dizer que é diferente um do outro, a nossa convivência, é. Mas no momento em que você se mobiliza, se organiza, tudo é conjunto. E Macuxi, Wapichana, Turepang… tudo, Taquara, tudo, tudo. Se juntam e fazem uma união só. E assim nossa convivência no estado de Roraima, nas onze regiões com essas sete etnias.
P/1 − O senhor me fez pensar numa pergunta. Que o senhor falou que vocês costumam se reunir mais de trinta pessoas para falar como era a vida antes, como é agora. Vocês costumam contar algum tipo de história para os mais jovens, qualquer tipo de história, pode ser da cultura, história que marcou a vida de vocês? Porque os mais velhos sempre tinha aquela, reuni todo mundo, vou contar uma história. Ou da criação do mundo, como surgiu os Wapichana. Tem alguma história que vocês costumam contar?
R − É, na verdade a gente começa a conversar com família, aí tem o neto, a neta, então o filho, vai perguntar: “Mas o senhor viu? Como é que o senhor sabe e está contando aqui para a nós? Senhor tem certeza disso?” Eu disse: “Olha, nós temos sim! Pergunta pra mim, pergunta pro teu tio, pergunta teu avô. Sim, nós temos sim, por isso que nós estamos contando essa história aqui para que não venha chegar afetar vocês”. Quer dizer, tem uma história que é de aproveito e tem uma história que, às vezes, você fica se perguntando, “será que é verdade?” São 3 coisas que a gente cita aqui, tem uma história de Macunaíma, Perequê e Isiquerã. Então, essas pessoas, historiadores vão passar. E gente falando para os nosso filhos, assim, “olha, o Macunaíma ele tem um pé de quase um metro”. “É verdade?” É uma coisa que a gente vem ouvindo. Quando eu falo essa história, eu levo até onde é o local, onde Macunaíma passou, onde desenhou, onde escreveu, chamado Pedra Pintada, aqui na nossa região, tem tudo, a escritura dele, pintura dele, o tamanho, dá para a gente perceber que o Macunaíma não é uma pessoa pequena, é uma pessoa grande. Uma pedra muito grande, quase dez metros de altura, ele conseguir escrever. Certo! Então, quando a gente coloca isso, fala para os nosso filhos, nosso netos, nossos parentes, aí tem dúvida: “Como é que esse Macunaíma escreveu lá em cima? Essa altura aí? Tem escada para isso?” Aí a gente diz: “Não, é o tamanho dele!” “Como é que está escrito?” “Só ele que entende!” Então, tudo isso, os desenhos dele bem perfeito, a pintura dele, a escritura dele. Então, são várias histórias que a gente conta. Fala sobre Macunaíma, Sirquirã, Ainique, são os irmãos que conviviam lá no passado que a gente não tem acesso com a história deles assim. Mas os nossos pais já vem falando, porque o pai deles falava isso, aí foi transmitindo para o filho, o filho foi transmitindo para os netos, os netos foi transmitindo para os filhos, aí chegou para nós. Então, hoje a gente sabe que são várias histórias. Agora tem alguma histórias que a gente fala, mas a história não tem nada a ver com a história do Brasil, a gente as vezes nem... E os nossos filhos da mais atenção, “não, quero estudar Português, quero estudar História”. Mas nós temos uma história real da nossa região, do nosso território, esse precisa a gente falar, a gente precisa colocar. Então, na verdade nós, eu como pai, eu tenho uma história, assim, a forma que eu convivi até hoje, né. Essa história aí, ela tá garantida minha. Só que aí, alguém das pessoas já vieram fazer um entrevista comigo, eu disse para eles, “olha, eu não posso fazer entrevista com vocês no momento, porque eu não tenho essa autoridade de eu mesmo estou fazendo pra mim, não posso colocar isso pra vocês, vocês vão escrever e vão colocar isso, vão dizer que vocês tiveram essa história, mas não vão dizer que eu que falei.” Essa é a minha preocupação, eu tenho bastante cuidado. Eu estou falando isso para ti parente, porque a gente sabe que nós temos essa garantia nossa, nossa história. Mas eu posso colocar uma história mais básica, como eu estou falando essas coisas assim. Por isso, que a história do Macunaíma, ele é muito delicada, assim, vamos dizer assim. Eu tenho mais ainda, eu tenho bastante história, desses três homens, só que pra gente falar isso aí e dois dias, três dias, porque a gente vai colocando de pouco a pouco a história desses parentes anteriormente, lá do passado.
P/1 − Eu concordo com o senhor dos cuidados que a gente precisa ter, principalmente para contar essas histórias desses seres sagrados para a gente, que para qualquer pessoa pode não ser tão importante, mas para gente é e por isso que a gente tem que tomar esse cuidado. E eu gostaria de perguntar para o senhor, fazer a última pergunta. Como foi contar sua história hoje para nós aqui?
R − Não, pra mim foi uma honra! De eu estar colocando aqui para vocês, se for possível colocar mais ainda. Eu tenho uma história escrita, toda encadernada, mas aí é muito tempo passar, para a gente ler, mas eu poderia pontuar essa história para vocês. Mas agora, nesse momento, eu estou muito grato com isso, porque teve essa oportunidade de trinta pessoas indígenas no Brasil, de eu ser escolhido, eu não sei como eu cheguei até aqui. Mas eu me sinto assim, orgulhoso com isso, me sinto assim, muito feliz de eu estar olhando assim para vocês, fazendo entrevista com o parente e dizendo a situação. Não foi tão boa, mas eu tenho certeza de que algumas partes vão ser colocadas. E eu sinto assim, que sempre me procures, estou à disposição para vocês. Tá bom! Eu sei que eu gostei bastante. Essa história que eu coloquei para vocês, eu tenho muito mais.
[Fim da Entrevista]
Recolher