Em 1997, após uma grande desilusão amorosa, mudo-me para Portugal, onde vou trabalhar como roteirista para uma série de documentários na televisão pública. Lá acabo por conhecer a pessoa com quem eu viria a casar, o realizador do documentário em que eu trabalhava. Ele 20 anos mais velho do que eu, nunca tinha se casado e também não tinha filhos, mas quando me conheceu afirmou que tinha encontrado a pessoa ideal para ser a mãe dos seus filhos. Nas suas palavras: "Se não for com essa, não será com mais ninguém!". Eu, na realidade, nunca havia pensado em ter filhos, pois o receio de passar por todo o processo da gravidez sozinha, me apavorava, "e se eu não der conta?", me indagava, mas pensei: "por que não?", e lá embarquei na aventura de ter um filho que se tornou até uma obsessão: contar dias férteis, tabelinha e todas estas paranóias. Apesar de trabalharmos juntos, quase nunca nos víamos, mas mesmo isso não serviu de alerta e o que eu mais temia, ou desejava, acabou acontecendo: engravidei!! Ele ficou aterrado, posteriormente feliz, mas deixou nas minhas mãos a decisão: ter ou não ter, eis a questão!!! Ter, foi a decisão final, depois de muitos passeios de carro até a cidade vizinha. E assim se foram passando os meses, o barrigão crescendo e sozinha, fazendo o enxoval e sozinha, primeira ecografia e sozinha, decorando o quarto e sozinha, exames e sozinha, comprando o berço e sozinha. Chegou o grande dia e fomos para maternidade, Lá ele me deixou e disse-me: "Vou dar uma saída e já volto!". Passadas duas horas, a minha filha nasceu (não deu tempo nem do obstetra chegar, foi com a parteira mesmo!!!). Já no quarto, telefonei-lhe: "Já nasceu!!!" e ele: "Já?". A minha filha acabou se tornando o centro da minha vida, uma luz, minha maior companheira. Ela chama-se Aurora. Hoje estou de volta ao Brasil, mais uma desilusão amorosa! Eu e a minha filha. E ele? Lá ficou e sozinho. Eu? Nunca mais ficarei sozinha.