Entrevista de Vera Lúcia Aleixo Silva
Entrevistada por Marli Gomes e Simone Silva Gesteira
1 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV001
0:20
P1 - Para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome?
R - Meu nome é Vera Lúcia Aleixo Silva
P3 - Você pode falar também seu local e data de nascimento?
R - 15/11/56, Gesteira.
0:45
P2 - Sobre sua família, Vera?
R - Eu sou casada com Amador da Silva, tenho três filhos, dois homens e uma filha moça. O mais velho Ricardo, o do meio Júlio César, mais nova Suelen.
1:07
P1 - Qual a origem da sua família Vera?
R - Brasileira.
P3 - Eles eram aqui de Gesteira mesmo?
R - Nascidos e criados aqui no Gesteira, lá onde que a lama passou e levou a nossa casa, levou a nossa história. Toda a minha história estava ali naquela casa, porque os meus filhos, eles saiam, trabalhavam e retornavam aos finais de semana para casa, porque eles adquiriram família, mas não eram casados, eram solteiros, todos os três.
1:52
P2 - Conte um pouco da sua história antes do rompimento da barragem em 2015?
R - A minha história antes da barragem, desse crime, da Vale, Samarco e BHP, eu era uma mulher feliz, uma mulher realizada, tanto comigo, meu esposo, meus filhos e com a comunidade, que eu tenho muita saudade da alegria da nossa comunidade, tenho saudade dos momentos festivos, religiosos, culturais, momentos de brincadeira, momentos de lazer. São momentos fortes da nossa vida, da nossa história, que não tem como ela retornar de novo. Aos finais de semana, feriado, a minha casa era cheia de parentes, de amigos, um horário desse, um tempo de calor, cada um pegava o seu instrumento e ia para a beira do rio, nós íamos conversar, nadar, os meninos brincar, divertir. E hoje não temos, não temos esse lazer, que é muito importante para nós, para nossa saúde, para o nosso bem-estar. Tinha também os momentos de festas religiosas, festas culturais, que eu tenho muita saudade. Inclusive, os meus filhos...
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Entrevistada por Marli Gomes e Simone Silva Gesteira
1 de março de 2023
Projeto Memórias do Rio Doce
MRD_HV001
0:20
P1 - Para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome?
R - Meu nome é Vera Lúcia Aleixo Silva
P3 - Você pode falar também seu local e data de nascimento?
R - 15/11/56, Gesteira.
0:45
P2 - Sobre sua família, Vera?
R - Eu sou casada com Amador da Silva, tenho três filhos, dois homens e uma filha moça. O mais velho Ricardo, o do meio Júlio César, mais nova Suelen.
1:07
P1 - Qual a origem da sua família Vera?
R - Brasileira.
P3 - Eles eram aqui de Gesteira mesmo?
R - Nascidos e criados aqui no Gesteira, lá onde que a lama passou e levou a nossa casa, levou a nossa história. Toda a minha história estava ali naquela casa, porque os meus filhos, eles saiam, trabalhavam e retornavam aos finais de semana para casa, porque eles adquiriram família, mas não eram casados, eram solteiros, todos os três.
1:52
P2 - Conte um pouco da sua história antes do rompimento da barragem em 2015?
R - A minha história antes da barragem, desse crime, da Vale, Samarco e BHP, eu era uma mulher feliz, uma mulher realizada, tanto comigo, meu esposo, meus filhos e com a comunidade, que eu tenho muita saudade da alegria da nossa comunidade, tenho saudade dos momentos festivos, religiosos, culturais, momentos de brincadeira, momentos de lazer. São momentos fortes da nossa vida, da nossa história, que não tem como ela retornar de novo. Aos finais de semana, feriado, a minha casa era cheia de parentes, de amigos, um horário desse, um tempo de calor, cada um pegava o seu instrumento e ia para a beira do rio, nós íamos conversar, nadar, os meninos brincar, divertir. E hoje não temos, não temos esse lazer, que é muito importante para nós, para nossa saúde, para o nosso bem-estar. Tinha também os momentos de festas religiosas, festas culturais, que eu tenho muita saudade. Inclusive, os meus filhos patrocinavam também, esses momentos. Eu tenho muita saudade da minha casa, muita saudade de tudo aquilo que tinha dentro daquela casa, que foi tudo embora, tá tudo enterrado debaixo dessa lama, a minha história, as minhas lembranças. Tudo isso me traz a refletir, uma saudade muito grande, uma perda muito grande que não tem dinheiro que pague. O que eu perdi não tem dinheiro que pague. E mesmo que eu lutar para buscar o meu direito, que acho que tenho, eu não vou ter retorno, porque as empresas não valorizam o atingido e nem aquilo que o atingido perdeu. Nem o que foi do atingido, nem a história do atingido não comovem o coração deles, para estar passando para nós atingido uma indenização adequada.
4:36
P2 - Qual era sua ocupação antes?
R - No ano de 2015 eu era funcionária pública, mas já buscava uma aposentadoria que já estava no meu tempo de aposentar, quando eu fui buscar o meu tempo, o tempo com a minha idade já somava um tempo já era suficiente para me aposentar. Mas eu aposentei em janeiro de 2016, mas foi no susto, na correria, porque tinha me afastado, fui expulsa da minha comunidade. Como eu fui morar em Mariana, eu tive que recorrer a aposentadoria muito rápido, até mesmo sem ser tempo, porque eu já tinha até proposta de continuar a ser a funcionária que era, mesmo aposentando eu já tinha proposta para aposentar e continuar a trabalhar, pela minha dedicação, porque trabalhava com gosto, com prazer, com alegria, entendeu? Mas tive que me aposentar rapidamente, porque fui expulsa da minha comunidade. Que esse crime expulsou muito de nós, da nossa comunidade, afastou da nossa história, não nos deu apoio nenhum. Eu não tive apoio nenhum de empresa, de Fundação Renova, de Vale, de Samarco, de ninguém, o recurso que eu consegui foi com luta, desde o dia cinco de novembro de 2015 que eu vivo na luta, vivo sofrendo, porque foi os meus filhos que vieram me resgatar pelo mato, toda mordida de bicho, noite toda bicho me mordia. Quando eu cheguei em Mariana eu era uma pessoa deformada, frustrada, triste, só chorava. E fiquei 47 dias para mim ser reconhecida pela empresa, para me dar uma casa para morar. Eu só chorava, eu só olhava para o céu e falava para Deus, o que esse crime fez com a minha vida. No dia 23, 23 para, 22 para 23, apareceu um amigo, um companheiro aqui de Gesteira, que trabalhava na época na empresa, na Vale, foi que me reconheceu na rua e eu correndo atrás. Eu bati em Mariana eles mandaram em Barra Longa, eu bati em Barra Longa eles mandaram para Mariana, eu já estava desesperada, eu levei tempo para mim permanecer de pé, porque demorou muito a desinchar, demorou muito a minha ficha cair, para mim buscar o recurso. Quando eu fui buscar o recurso, muitas das pessoas já eram cadastradas, já estavam buscando ajuda, tinham ajuda. E eu fiquei para lá, para cá, e a Renova nem sequer me procurou para me dar socorro, por ela nós já tinha era morrido na época.
8:00
P2 - Fale um pouco sobre a sua renda extra, dos biscoitos, do salão, aqui na comunidade Gesteira, dos bordados?
R - Na época eu trabalhava com o salão domiciliar, fazia biscoito para vender, fazia crochê, bordava, era catequista, era da leitura. O dia que eu conversei com a Fundação Renova, ela me perguntou, como que eu tinha tempo de fazer tudo isso? Eu falei, o tempo quem faz é a gente! E a necessidade me levou a esse tempo, de trabalhar até as madrugadas, intercalar os horários, porque eu tinha uma filha que eu sonhava em estudar ela, e pra mim formar ela, eu tinha que trabalhar dia e noite, e Deus me dá força. Eu trabalhava as madrugadas, tinha a noite que eu dormia 2 horas, e para mim era motivo de louvor, de glória, porque eu tinha saúde e disposição. E hoje eu não tenho nada.
9:06
P1 - Vera, eu queria saber sobre a sua infância, como foi?
R - A minha infância foi saudável, feliz, na época que os filhos brincavam de boneca de milho, as nossas mães faziam boneca de pano, a nossa brincadeira era de roda, boneca de pano, de milho, quando o milho estava verde nas roças, a gente apanhava as bonecas, limpava, fazia o rostinho delas, deixava os cabelinhos. Eu era vaidosa, eu era curiosa, eu tinha boneca loira, boneca de cabelo vermelho, boneca de cabelo preto, cabelo seco, cabelo longo. Brincadeira de roda, de corda e de contar história. As nossas mães contavam histórias para nós, eram várias histórias que a gente ouvia. É uma brincadeira muito saudável também, a gente brincava com os animais, nossos pais criavam muitos animais, cabritos, porco, cachorro. E a gente fazia daqueles animais, uma brincadeira, a gente brincava com os animais, brincava com as coisas naturais. E eu sinto feliz da minha infância, era uma infância inocente, pura, que hoje é o que eu sonho para minha comunidade, para o meu território, que podia voltar ao passado, esse passado feliz, que foi a nossa infância, até chegar a adolescência, até chegar mãe, que foi muito importante também, eu chegar no período de ser mãe, porque eu não tive mãe, eu sou filha adotiva, então tenho uma história que eu sempre conto. Na minha casa tinha uma foto da minha mãe, eu sou filho de mãe solteira, minha mãe, ela me doou para minha vó, e minha vó me trouxe para mim morar aqui, e ela morava com a minha tia. E essa tia era minha mãe, e quando eu cresci, passei a fase de adolescente, casei, que tive meu primeiro filho, eu fui entender o valor de uma mãe. Então foi o momento que eu valorizei aquela foto, e era uma única foto. Eu nunca olhei para o rosto da minha mãe e falei mamãe, porque eu só conhecia ela pela foto, e a lama levou essa minha história, levou essa minha saudade, essa lembrança tão profunda, que hoje eu não tenho, eu sempre lembro dessa história, que eu contava para os meus filhos. Olhava para ela, tá vendo aquela ali? Aquela ali é sua avó, é a mãe da sua mãe. Eles faziam perguntas, “não é vó Tereza?” Eu falava para ela, “a vó Teresa também é minha mãe”. Eu fui privilegiada, eu tive duas mães! Então são momentos muito difíceis da nossa vida, são histórias que nós não esquecemos, e não volta mais. Então a gente esperava em retorno, que pelo menos a Fundação Renova, as empresas, Vale, Samarco, BHP, olhasse para nós com olhar de misericórdia, olhar de amor, de carinho, que desce pelo menos atenção. Que não fizesse da nossa história um nada, daquilo que a gente tem para contar um nada. Que escutasse, que desse um atendimento, um acolhimento e que atendesse o povo na necessidade.
13:17
P1 - Descreve Vera, como você conheceu o Amador?
R - Amador, nós fomos criados juntos aqui no mesmo território. No momento que a gente se gostou, a gente era de escola, mas a gente gostava escondido, porque os nossos pais eram muito rígidos. Então, eu conheci ele desde criança, criança de escola de 9, 10 anos, que a gente estudava na mesma série. Então aí começou, esse amor. A gente começou a se gostar desde criança e de criança chegou a adolescência, da adolescência os pais autorizava as moças. Era com 18 anos para namorar, nós não podia namorar. A gente podia gostar, mas não namorar. Aí com 18 anos nós começamos a namorar. De 18 a 23 a gente namorou e casou, entendeu?
14:24
P3 - Voltando um pouco, você falou da escola, como era a sua escola?
R - Era uma sala só! E essa sala funcionava o primeiro, segundo, o terceiro ano. Que na minha época não tinha nem a quarta série, que não tinha professor qualificado para estar dando a quarta série para os alunos. Nós estudávamos num salão, o primeiro ano, o segundo ano, e o terceiro ano. Foi nossa meta de escola, de estudo. Eu fui até o terceiro ano.
15:06
P2 - O Verá, você falou um pouquinho aí, que você passou a noite no mato, para gente que conhece a história, sabe o que você quis dizer com isso, aí se você poderia contar um pouco para as pessoas. Que aqui na comunidade, sempre teve enchente, né? Mas a água vinha, entrava dentro das casas, a água ia embora, as pessoas limpava a casa e continuava a sua vida. E você ficou aguardando essa enchente que vinha entrar na sua casa e sair para você voltar para a sua casa. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Você poderia contar para quem está ouvindo, porque você passou a noite no mato, como que foi e o por que?
R - Em 79 teve uma enchente, ela foi muito violenta. E no dia cinco de novembro, às 4:00 da tarde, era uma data muito especial, que era aniversário do meu marido. E o telefone chamou, quando o telefone tocou, invés do irmão dele dar os parabéns, ele perguntou, “é verdade que estourou uma barragem?” Aí a gente não sabia, não falou nada. “Não estamos sabendo!” Nisso, quando deu por volta de 6 horas, esse meu filho ligou, “pai, mãe, sai de casa, porque dizem que estourou uma barragem”. Só isso também, mas ele não explicou em detalhes, porque ele também não sabia a direção que ia tomar essa barragem. Aí a gente ficou naquela expectativa. Nisso, apareceu um senhor que trabalhava na empresa e estava de férias, e falou assim, “que é isso, essa barragem não vem aqui, não vai vim aqui uma água suja, não precisa ninguém sair de casa, não precisa de correr, não precisa de nada, vai passar aqui uma água suja.” Meu marido acreditou nele, nós ficamos dentro de casa, entendeu? Aí nisso cada um ligava de um jeito, ligava de um jeito, a gente ficou naquela, esperando uma enchente, como todo ano acontecia essa enchente. E ficou aguardando. Nisso, quando o meu menino ficou sabendo que ia passar aqui, ele foi ligando, não conseguiu ligar para mim, ligou para o amigo dele, o amigo dele aí foi fazendo aquele intercâmbio para chegar até nós. Porque eles tem muita amizade, então tem muito amigo. De repente um colega dele ligou, “Vera, sai de casa, que vem um mundo de água, já passou nas pedras.” Só que esse mundo de água, a gente não esperava que ele ia vim tão de repente, e ia pegar a gente assim com tanta rapidez. A gente tirou as coisas de dentro de casa, colocou num cômodo. Mas nós estávamos esperando, uma enchente violenta, não um tsunami. Porque aquilo foi para matar, para destruir todo mundo, foi uma coisa de outro mundo, eu não gosto nem de lembrar, dessa data, dessa hora, deste momento. Foi assustador, que quando ela entrou dentro do Gesteira, ela não deu 10 minutos para a gente tirar mais nada, porque quando meu marido entrou para tirar nossas bolsas, que ele estava mexendo com aposentadoria e ele voltou lá para pegar a bolsa dele e a minha, ele já voltou com a lama jogando ele longe, jogando ele longe. Ela veio assim, ela fez isso, fez isso e fez isso, de uma vez, do jeito que ela estourou lá, ela veio com aquela bravura, até onde ela foi amansando, para baixo de Barra Longa, ela foi amassando, aquela violência, parecendo água de mar, batendo. E neste momento, nós dois subiu o quintal, nós foi subindo, assim que ela ia subindo, nós ia subindo, quando dei por conta, já estava debaixo de um bambu bem alto, bem lá no alto. E ali foi o meu refúgio, eu passei a noite ali. E bicho me mordia, os insetos estavam fugindo da lama. Então a gente não sabe nem o que que mordeu. Eu acredito que até cobra me mordeu, porque diz que quando cobra morde a gente, a gente fica cega, e eu fiquei cega, fiquei cega uns três dias, entendeu? E ali os meus filhos apareceram no outro dia, mais ou menos umas 11, meio-dia, que eles vieram de Belo Horizonte, vieram de pouquinho, vieram descendo mata fora, até sair onde a gente estava. Porque eles conhecem o território, então eles sabiam onde que eles iam passar, roçando o mato para chegar até onde a gente chegou. E até hoje, o apoio que eu tive, é dos meus amigos, dos meus companheiros, da minha família, dos meus filhos. De empresa, eles não comoveram um minutinho com a gente, não comove o coração deles para dar para você uma atenção, um carinho, um ombro amigo, nem para te escutar. Porque quando você começa a falar, eles dão um jeito de sair fora. Então é muito revoltante, é muito revoltante. E a revolta traz para nós destruição para a nossa saúde, porque a depressão entra, a enfermidade vem, e para você recorrer a enfermidade? Ela é fácil para entrar, mas para sair é difícil. Que tem mais ou menos 40 dias que eu estou numa luta aí de enfermidade, sabe Deus o que pode acontecer. Mas ele é fiel a minha sinceridade. E eu sou de oração, sou de fé, se Deus quiser a gente vai romper isso, mas com o nosso recurso próprio e com a mão de Deus e a oração dos amigos. Porque a quem eu tenho indignação é só das empresas e os funcionários das empresas que são os chefes, e são muitos muito ingratos e são perversos, eles não olham para o ser humano com olhar humano não, o poder deles… Eles acreditam tanto neles mesmo e no poder do dinheiro, que o ser humano para eles não tem importância, porque se tivesse, esse crime não se repetia por tão pouco tempo e com um desastre maior. Porque o nosso foi ambiental e mexe com o nosso estado emocional. E o de Brumadinho? Foi humano, foi triste, foi doloroso, não recompõe aquela perca mais nunca, então dói muito, dói muito na gente a gente ver a história do outro. Eu conto a minha história pensando no outro, entendeu? Eu gostaria de ajudar todo mundo com palavra, porque eu não tenho condições de ajudar ninguém, eu tenho que ser ajudada.
22:45
P2 - O Vera, como que era festa na comunidade, aqui tinha, tinha não, tem a festa da padroeira, as cavalgadas, fala um pouco para nós?
R - Festa da Padroeira, ela me comove muito, que é muito forte, era o momento da gente encontrar os amigos, os moradores de Gesteiro, os Gesteirenses, e traziam também os amigos, que tinha muito tempo que a gente não via, era uma festa muito linda da comunidade, a padroeira, Nossa Senhora da Conceição. São momentos fortes que é saudade, é saudade, eu choro até hoje por causa dessas festas. Tem as festas culturais, que é a cavalgada. tinha a festa, os meninos criavam bailes, festa junina para arrecadar fundos para a melhoria da comunidade. A minha saudade da minha comunidade, eu acho que ela é muito profunda, porque a gente conquistou pouquinho por pouquinho. Não tinha patrocinador, tinha pessoas que faziam propaganda, até as propagandas nossa era de boca em boca, e dava certo, tudo dava certo, tudo era alegria, tudo era união, tudo era amor. E hoje você não vê isso reinar na nossa comunidade, o povo não ama um ao outro mais não, cada um está para um lado, cada um se cuida de si. E nós era tão unido, tão unido, que tudo que a gente ia fazer, a gente fazia reunião e aquela união bonita.
24:31
P3 - Você pode explicar um pouco como é a festa da padroeira, como que acontecia, o que tinha?
R - A festa da padroeira, a gente promovia a novena, montava a novena, primeiro, segundo, terceiro, quarto. E aí a gente vinha trazendo os convidados, cada dia tinha um convidado, era uma comunidade, era um pregador, que a gente buscava de fora, entendeu? Para ir desenvolvendo o povo na fé, na experiência de oração de um pelo outro, entendeu? E isso virou tradição, que foi para a cidade, foi para as outras comunidades. A gente criou uma barraca de pastel, é tanto que toda comunidade faz o pastel e fala que é o pastel de Gesteira, entendeu? Esse movimento foi criado aqui com a gente, que a gente ia… cada ano a gente queria criar uma coisa nova, uma coisa diferente. E todo ano tinha aquela renda, aquela renda o que que a gente fazia? Investia na comunidade. Infelizmente, não é falando mal, mas a nossa prefeitura é muito devagar pela nossa comunidade. Ela luta muito pouco. Falando aqui, não falando mal, falando realidade. A nossa prefeitura, ela não luta pelo atingido, muito menos pela comunidade. A nossa comunidade, ela cresceu com os nossos méritos, de idosos, crianças jovens. É tanto que a nossa comunidade, ela tem aqui como referência de esforço de comunidade de trabalho de juventude, que aqui tinha um campeonato, que ele nunca perde, Gesteira. A gente fala com muita honra, com muita glória! E tudo isso é incentivo de homem e mulher, não é só os homens que trabalhava para esse futuro não, quando os meninos ia lá para fazer os ensaios, a gente estava ali para dar força, para ajudar, incentivar, “para você ser um profissional, você tem que lutar, você tem que ser um jogador, joga bonito, não dá chuteira, entendeu? Então tudo isso é muito profundo para nós da comunidade. Festa religiosa, festa da Nossa Senhora da Conceição, era aprendizado para nós e para as outras comunidades. Depois nós criamos a cavalgada, a primeira cavalgada, a segunda cavalgada. E aí a gente vai ampliando, cada ano a gente criava uma coisa diferente. Que se tornou a última, que a gente teve o privilégio de contemplar ela, a da lua cheia, muita saudade, muita saudade, de tudo, de toda a nossa história, né Simone? O nosso companheirismo, a nossa amizade, o nosso amor um pelo outro. Nossa, eu tenho saudade, eu amo minha comunidade, como eu amo meus filhos. Eu acho que ninguém ama mais que uma mãe pelo que um filho. Mas hoje eu choro por ela, que eu não vejo mais, ela está morta, a comunidade morreu, o rio morreu, às festas morreram, tudo morto. E a quem recorrer para a gente resgatar de novo. Você vai para um lado, é não! Você vai para outro, dificuldade! Muito difícil! Eu não acho impossível, não! Mas eu acho difícil! Porque a gente começa um trabalho, aparece um lá, e dá uma rasteira na gente. Então isso dói, dói muito, porque nós estamos espalhados agora, nós não estamos unidos, Se eu não puder ajudar distante, como que eu vou ajudar presente, se eu estou longe? Eu morava dentro da comunidade, hoje eu tive que reconstruir a minha vida aqui, porque o reassentamento não traz solução, a justiça trava, o povo trava, não tem ninguém que ajude. E empresa bloqueia, e o povo fica tudo de mão atada, que ela recorre. Todo o nosso direito que nós busca, a Fundação Renova recorre, recorre para ir ganhando tempo e desanimando o povo, distanciando o povo, desinstalando o povo. Eu mesmo tô aqui, não sei por como eu tô falando, eu tô, sabe? Tem quase dois meses que eu tô quase caindo, com uma perna só, mas Deus vai me resgatar.
29:30
P2 - Vera, vamos falar mais um pouquinho da nossa comunidade, da nossa história. Vamos falar do patrimônio, como que era a manutenção e o cuidado com a igreja, com a escola, com o salão, que foram vocês que arrecadaram verba para poder construir. Como que era, fala um pouquinho para a gente?
R - A nossa igreja, ela era uma Igreja histórica, muito bem cuidada. Nos períodos de festa, pintava ela todo ano, dava uma manutenção todo ano, então ela era super conservada, limpeza manual era toda semana, tinha as equipes que limpava, para ela conservar bem bonita, cheirosa, a qualquer momento que apareceu alguém para vim visitar, que a nossa imagem da Nossa Senhora da Conceição, ela tem um valor muito grande, um valor histórico muito grande, então vinha muita gente de fora para visitar. Ela era de madeira, entendeu? Então, ninguém acreditava, ela tinha os olhos de diamante. Então, vinha gente de longe para visitar e conhecer, que ninguém nem acreditava, que uma imagem tão falada. E a gente tinha que conservar a igreja super limpa, super cuidada, tinha a equipe de pessoas por mês, tinha duas, três, cada, de duas a duas por semana era trocado, era tudo organizado, muito bem organizado nossa igreja. E também tinha a nossa escola, que era uma escola muito boa, com três salas, dois, três banheiros, cozinha, dispensa, e muito bem cuidado também. E diferente de prefeitura, quem trabalhava lá, tinha que manter aquilo impecável, tanto Professor, quanto serviçal, tinha que manter aquilo ali impecável. E eu trabalhava nela, viu gente! Eu era uma das funcionárias da igreja, ali eu cuidava, de escola, salão, igreja. Ainda dava tempo para mim fazer as minhas coisas em casa, como diz a Renova, “como que você arrumava para conseguir fazer tudo isso?” A minha resposta para eles, disposição, necessidade e saúde, que eu tinha. Então duas horas que eu dormia para mim na época, era o suficiente, não precisava dormir mais não. Mas então, esse salão, ele era enorme, esse salão paroquial, ele foi construído pelos resultados das festas, das festas da igreja, festas culturais, as quadrilhas. A gente inventava uns bailes, dava vontade de arrastar os pés, nós fazia uns bailes temporão também, né Marli? Ficava bom demais! E hoje você vê a sua igreja escorada de madeira, por falta de atender o pedido de uma comunidade. Porque ela não caiu, com a lama! Deus permaneceu ela ali! Era só reformar! Eles não atenderam o povo da comunidade que chegou no que chegou, caiu toda! Não tem mais o sino! O telhado dela veio abaixo. Aí o que que eles fizeram agora? Escoram ela lá de madeira. As paredes sem ter pintura, sem ter nada do que era centenária, tava lá! Não tem madeira, não tem o sino, não tem mais nada! A história foi embora! Encheu lá de madeira e deixou por isso mesmo, não reúne com a comunidade, nem com a paróquia, nem com a cidade, para dar uma satisfação, e fica por isso. Fica a nossa história, uma história morta, uma história que não tem continuidade, em matéria da igreja. Da igreja, escola, salão, isso aí acabou. Campo de futebol, acabou! Que eles não vê que jovem precisa de preencher a cabeça de jovem, você não pode deixar o jovem solto, e já cansamos de pedir, “vamos providenciar o campo gente, uma área para esses jovens encher a cabeça deles, que eles estão enchendo a cabeça de porcariada.” E aí?
34:24
P2 - A igreja é de 1701?
R - Sim!
P2 - Vamos falar um pouquinho também, que ali era o ponto de encontro da comunidade.
R - Um ponto de encontro da comunidade, tanto para festa, tanto casamento, quadrilha, batizado e etc, etc, etc.
34:46
P3 - Você participava como desses encontros, dessas participações, o que você costumava fazer na igreja?
R - Na igreja eu fui coordenadora, catequista, eu fazia parte da liturgia. No momento, eu tinha acabado de formar para a liturgia. Mas eu já fazia antes, que desde quando eu comecei a dedicar a igreja, que eu era tudo, só que depois, de tempo em tempo, a igreja também vai inovando. Então exige curso, participação. Eu tinha acabado de me formar para a liturgia, entendeu. É tanto que quando eu retornei a comunidade, que eu vi as mulheres com uniforme, e o meu foi embora, sabe, eu chorei muito, que o meu foi embora novinho. Eu participava na comunidade, tanto dentro da igreja, nas movimentações, nos trabalhos, quanto eu dava força lá para fora, o que tinha que fazer lá fora, barraquinha, vender, fazer propaganda, que a gente não tinha recurso. A gente fazia essas propagandas tudo de boca em boca, bilhete, que nem telefone as outras comunidades não tinha. A gente fazia isso em boca em boca, e dava tão certo. E hoje você ter tudo dentro da comunidade e não ter nada.
36:18
P1 - Eu vi falando Verá, de uma história, quando trouxe a Santa para cá de outra igreja, que ela voltava, você sabe um pouco contar?
R - Eu vi eles contando quando a gente começou no grupo de base, com assessoria, que a santa, ela ficava na fazenda da Conceição, tinha uma antiga Fazenda, que eles demoliram. Aí o dono da fazenda, quis trazer ela para a igreja. Disse que punha ela na igreja e ela voltava. Mas essa história eu vi contando ela quando a gente puxou em memória, no grupo de base, com assessoria. Eu não sei contar essa história muito profunda não, mas eu ouvi essa história. Diz que punha ela lá na igreja, ela amanhecia na Fazenda, voltava com ela para a igreja, ela amanhecia na Fazenda, entendeu? Então isso é muito profundo. Tem que contar ela assim com mais detalhes, mas que existiu essa história, existiu, que eu ouvi contar.
37:20
P3 - E que histórias você lembra que a sua vó contava? Você disse antes que ela costumava contar bastante, sua tia.
R - Elas contavam umas histórias, que elas criavam, entendeu? Elas contavam história de boi, de mula sem cabeça, entendeu? Mas aquilo era para preencher a mente da gente, que fazia aquela roda de criança, e ia contar para a gente essas histórias.
37:53
P2 - E como você se sentia ouvindo essas histórias?
R - Muito bem! Eu sentia feliz, eu me senti importante! Que depois a gente brincava contando as histórias para as nossas amiguinhas, não era Simone? A gente ia levando, entendeu? Eu contava para os meus filhos essas histórias da minha mãe, da minha avó, que é minha mãe, que me pegou para criar. Então eu levei isso para frente. E hoje vendo a minha neta, o que eu conto para minha neta? Eu não tenho nada para contar para minha neta. Porque a minha história de hoje é uma história sofrida e hoje a criança tá muito esperta ela pode até traumatizar, entendeu? Eu não consigo contar a história da lama para minha neta hoje. Você tem que contar uma coisa gostosa, que te faz feliz e a nossa história é hoje ela é sofrida, ela traz dor, ela traz choro para nós.
38:55
P2 - Emendando um pouquinho nesse assunto de história, Gesteira recebeu o nome de Gesteira por causa de um português que veio aqui para Gesteira e ele tinha o sobrenome de Gesteira. A gente sabe isso hoje, depois de vários estudos, após o rompimento. Mas qual a história que o povo da comunidade conta por que Gesteira recebeu esse nome? Conta-se de moço da perna grande… Você poderia falar um pouquinho para a gente?
R - Eles contam que ele teve nome de praia, de praia porque ele era muito grande e tinha o pé grande. Era praia Gesteira, que tomou o nome, que era um português que apareceu, que era grandão, do pé muito grande, de repente esse português sumiu… Contam até que ele foi marcar o local da igreja e sumiu. E de tempo e tempo, o tempo foi passando, apareceu um morador do lugar, muito grande, do pé grande, aí puseram o nome dele de praia, que chamava de Gesteira também, porque ele era grande. Aí a história.
40:10
P3 - Você lembra como você ouviu essa história pela primeira vez?
R - Pela primeira vez eu ouvi falar dessa história com a minha mãe, ela contava desse jeito, “ô minha filha, você sabe porque aqui chama Gesteira? Porque apareceu um homem, um homem, é daqueles homens brancos”. Aí foi que a gente deduziu, é um português, porque antigamente falava que os portugueses era uma tradição de pessoas brancas e grandes. Aí ela contando, “apareceu um homem que veio olhar o lugar para construir uma igreja, ele era muito grande, ele era branco da mão grande, do pé grande, aí pois o nome de Gesteira e praia.” Que o lugar que marcou a igreja, diz que ali era uma ilha, pois o nome de praia. Assim que ela me contava essa história. E eu ficava interessada, vontade de conhecer esse praia, que vontade de conhecer esse português. Porque a história te leva a curiosidade, te leva longe. Ah mas é muito forte, viu.
41:32
P3 - Voltando um pouco, você falou também da cavalgada, você falou que vocês foram criando, você criou a primeira, como foi essa primeira?
R - Primeira cavalgada, ela foi criada pelos jovens, os meninos jovens, criou. “vamos fazer uma cavalgada! Vamos até lugar assim, assim…” Entendeu? Então é para criar mesmo algo para comunidade, para movimentar o povo, entendeu? Trazer alguma coisa para distrair o povo, e eles começaram com a primeira e deu sequência, entendeu? Ela já tinha virado tradição, todo ano tinha que acontecer. E a última que aconteceu foi a da lua cheia, que foi muito linda, foi muito cavalo. E é os jovens.
42:32
P3 - Como foi essa da lua cheia, você lembra?
R - Tinha muito cavalo e eles conseguiram trazer cantor profissional, né Simone? Para a comunidade, então isso era um incentivo, o povo ficava feliz! Eles cantavam nessa lua cheia o tempo todo, as mulheres, as crianças, os adultos, todo mundo vivia feliz com essa festa.
42:58
P1 - Por causa do nome, chamou a atenção.
R - Por causa do nome, da lua cheia, chamou a atenção. Meus filhos, os meninos que trabalhavam fora. Então eles reuniam e faziam os movimentos. Essa da lua cheia já fez propaganda, né Marli? Conseguiu fazer convite, mandou imprimir, fazer convite, colocava no carro, mas a gente demais, né Simone? Veio gente de tudo quanto é canto, tanto de carro, quanto de cavalo, cavalo caríssimo, caminhão e caminhão de cavalo que chegou aqui. Foi muito linda a festa, muito comovente.
43:39
P2 - O Vera, para encerrar, você poderia pegar aquele pedacinho daquela música da nossa comunidade, que todas rodas de reunião, conversa, a gente canta ela, para encerrar!
R - Mas antes da gente encerrar, eu quero falar só de um ponto sobre saúde na nossa comunidade. A nossa comunidade era uma comunidade saudável, a nossa comunidade ele teve um acréscimo de uns 80% de pessoas com problemas mentais, aumentou muito o problema mental na nossa comunidade, alergia, problema de vista, problema de câncer, depressão. E aí depressão ela já vai levando o nosso povo de dia a dia, eu tô muito indignada aqui, tô muito triste, sem saber o que fazer, o que eu posso fazer para minha comunidade para ajudar? Que está demais, é três, quatro pessoas que está indo embora, suicídio. Três, né? Três suicídios, dois depressão, que é Maria Geralda e Reginaldo, câncer uns quatro, entendeu? Então isso tá, eu tô até com medo de adoecer, de tanto que eu estou preocupada. E laudo mais laudos, que está contaminado, a lama deixou contaminação, o rio está contaminado, e a fundação Renova esconde os laudos, esconde os laudos que dá que tem contaminação. E nós temos provas que tem, nós temos professores que pesquisou, que teve uma convivência com nós, é pessoas de confiança, pessoa que lutou por nós, mas está tudo às escondidas, que a Fundação Renova esconde. As empresas Vale, Samarco, BHP e Fundação Renova. Mas o pivô de tudo isso é a Fundação Renova, porque ela veio para reparar, ela veio para enganar, não para reparar. E para encerrar eu quero cantar uma musiquinha da nossa comunidade, para levar, para finalizar essa nossa história. “Eu sou feliz e na comunidade, na comunidade eu sou feliz, sou feliz e na comunidade, na comunidade eu sou feliz, a nossa comunidade se reúne todo dia, a nossa comunidade se transforma em alegria. Eu sou feliz na comunidade, na comunidade eu sou feliz.”
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P1 - Foi muito bom você ter participado desse roteiro, Vera, muito obrigada!
P3 - Antes de encerrar, uma última pergunta. O que você achou de contar a sua história, um pouquinho dela hoje?
R - Confiante!
P3 - Por que?
R - Porque ela não vai ficar esquecida, eu creio.
P2 - Quem fundou a cavalgada foi 3 jovens, né? Claudiano, Ricardo e Ju.
R - A gente fica com medo de pecar, esquecer alguém. Eles que tiveram ideia. A cavalgada, quem fundou ela foi Ricardo, Júlio César e Vitinho. E os jovens, todos os jovens da comunidade, contribuíram para que esse evento acontecesse. A primeira, a segunda, a primeira nós não achou.
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P3 - Só voltando, essa segunda cavalgada foi quando? Você lembra?
R - Foi em 2014. 2015 já não tinha. 2014 foi a última cavalgada, porque eles estavam ampliando mais que eles queriam criar algo diferente, aí eles falaram vamos trabalhar um ano, um ano a gente trabalha, no outro ano a gente realiza. Porque essa daqui foi histórica, então eles queriam melhorar mais. Aí ficou para acontecer esse evento histórico na nossa comunidade que a lama levou, a lama levou tudo, destruiu tudo. A camisa da Nossa Senhora da Conceição, que quando aconteciam as festas, a gente fazia as camisas, pedia doação, fazia as camisas e vendia para fazer arrecadação. Então, essa camisa aqui trazia uma renda muito grande para a comunidade, para a gente investir na comunidade.
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P3 - E como vocês investiam na comunidade?
R - Em construção, em pagamento para igreja, vestimenta. A gente tinha acabado de fazer uma para Capela Velório, e tinha uma renda boa para reconstruir ela, parou! A lama levou, destruiu. Aqui é uma festa religiosa da Nossa Senhora da Conceição, nessa festa aqui a gente trouxe o grupo de oração de Ouro Preto, para estar nos ajudando animar um pouco mais, veio congado de Barra Longa. Com certeza a foto da banda de São José de Barra Longa não está aqui, mas ela esteve, em todas as festas ela estava presente. A comunidade não cabia de gente, o lado da igreja não sabia de tanta gente, eles ajudavam nos eventos, entendeu? Ficava no meio de nós, não tinha separação não, a gente tinha tanto amor um no outro, que as igrejas, elas eram unidas, entendeu? A Dona Maria Geralda, ela participava a novena toda, porque ela achava lindo, entendeu? Era maravilhoso.
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P3 - Essa foto aí é de quando?
R - Tem uma data aqui 31/05/2004, a foto da igreja, tinha acabado de pintar ela para festa, tá vendo, era assim. A gente tinha tanto amor nessa igreja como nós ama nossa casa própria, porque você quer tudo de bom para sua casa, né! Então essa casa era do povão, todo mundo queria o bem dela, ela não podia dar uma mancha. O salão que a gente tinha, aqui que a gente fazia as barracas, acolher o povo, né Simone? Cursos, encontros, quando ia fazer comida, comelança, sabe! Era aqui as feijoadas das cavalgadas, era tudo feito aqui.
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P3 - Você lembra a primeira vez que você entrou nessa igreja?
R - Eu tinha 5 anos de idade. Porque quando eu vim para cá eu fiquei com a minha avó na campina, quando a minha avó morreu que eu vim morar com a minha tia Teresa, entendeu? Foi a primeira vez que eu entrei. E eu batizei aqui com 11 anos de idade, eu batizei com 11 anos.
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P3 - Você lembra desse dia do batizado?
R - Muito! Eu lembro, foi um padrão antigo, o padre José, ele passava a mão no nariz da gente assim ó, mas doía tanto. E eu falava, “eu não quero ir batizar não, com aquele padre que vai puxar o meu nariz”. Ele fazia assim com os dedos, e apertava. Essa aqui dia 31/05/2004, é a mesma festa, porém cada ano, é cada ano. Nessa festa tinha batizado, tinha consagração, tinha época que cair até Crisma, né? Já teve uma crisma, já aconteceu uma crisma nessa igreja. Meus meninos todos batizaram ali, aqui. Eu batizei e os meus filhos batizaram.
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P3 - Você lembra do batizado dos seus filhos?
R - Muito! Uai, foi dia de missa, dia festivo, foi dia especial, dia do batizado dos nossos filhos a gente fazia festa, fazia janta para os nossos compadres, para as comadres. Então era muito importante, muito gostoso!
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