A Chegada da Beth
Eu devia ter uns sete anos, mas me lembro como se fosse ontem. Era uma noite especial, uma daquelas que, mesmo sem a gente saber direito por quê, o ar parece mais leve e ao mesmo tempo cheio de expectativa. A casa toda estava em silêncio, mas ao mesmo tempo havia um burburinho no ar, um suspense que rondava cada canto, cada passo, cada olhar. A mamãe estava no quarto com a parteira, e nós — os irmãos mais velhos — estávamos todos reunidos na escada, quietos, olhando em direção ao corredor.
Naquele instante, nosso mundo parecia girar em torno do papai. Ele caminhava de um lado para o outro no corredor, aflito, com as mãos para trás e os olhos perdidos, como se quisesse resolver com os passos a ansiedade que sentia por dentro. A cada som que vinha do quarto, ele parava, escutava, prendia a respiração — e logo voltava a andar.
É curioso como, mesmo tão pequenos, sabíamos que algo grandioso estava para acontecer. Nossos corações batiam acelerados, mas ninguém falava. Era como se, instintivamente, todos soubéssemos que aquele momento era sagrado.
De repente, a porta do quarto se abriu.
A parteira apareceu na soleira, com um brilho sereno no olhar. E então, nos braços dela, envolta em paninhos claros e com a pele ainda vermelhinha de quem acabara de chegar ao mundo, estava a nossa irmã. A Beth.
Ela a entregou ao papai com uma delicadeza que jamais vou esquecer. Ele a segurou com as mãos trêmulas, emocionadas, como se tivesse recebido um presente dos céus. E naquele momento, o tempo pareceu parar.
Foi como se o mundo tivesse se enchido de luz. Papai sorriu com os olhos marejados, e então ele se virou para nós. Nunca vou esquecer o olhar que ele nos lançou, como se dissesse: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Olhem, esse é o milagre. Esse é o amor.\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"
A alegria foi total. Era como se o coração de cada um de nós tivesse...
Continuar leituraA Chegada da Beth
Eu devia ter uns sete anos, mas me lembro como se fosse ontem. Era uma noite especial, uma daquelas que, mesmo sem a gente saber direito por quê, o ar parece mais leve e ao mesmo tempo cheio de expectativa. A casa toda estava em silêncio, mas ao mesmo tempo havia um burburinho no ar, um suspense que rondava cada canto, cada passo, cada olhar. A mamãe estava no quarto com a parteira, e nós — os irmãos mais velhos — estávamos todos reunidos na escada, quietos, olhando em direção ao corredor.
Naquele instante, nosso mundo parecia girar em torno do papai. Ele caminhava de um lado para o outro no corredor, aflito, com as mãos para trás e os olhos perdidos, como se quisesse resolver com os passos a ansiedade que sentia por dentro. A cada som que vinha do quarto, ele parava, escutava, prendia a respiração — e logo voltava a andar.
É curioso como, mesmo tão pequenos, sabíamos que algo grandioso estava para acontecer. Nossos corações batiam acelerados, mas ninguém falava. Era como se, instintivamente, todos soubéssemos que aquele momento era sagrado.
De repente, a porta do quarto se abriu.
A parteira apareceu na soleira, com um brilho sereno no olhar. E então, nos braços dela, envolta em paninhos claros e com a pele ainda vermelhinha de quem acabara de chegar ao mundo, estava a nossa irmã. A Beth.
Ela a entregou ao papai com uma delicadeza que jamais vou esquecer. Ele a segurou com as mãos trêmulas, emocionadas, como se tivesse recebido um presente dos céus. E naquele momento, o tempo pareceu parar.
Foi como se o mundo tivesse se enchido de luz. Papai sorriu com os olhos marejados, e então ele se virou para nós. Nunca vou esquecer o olhar que ele nos lançou, como se dissesse: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Olhem, esse é o milagre. Esse é o amor.\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"
A alegria foi total. Era como se o coração de cada um de nós tivesse se expandido para dar lugar a mais uma parte da nossa história, mais uma batida no compasso da família. A Beth chegou trazendo com ela uma nova energia, um novo laço, um novo começo.
Desde que comecei a escrever o livro da nossa família, tenho revivido muitos desses momentos. E com cada lembrança, vem junto um turbilhão de sentimentos que estavam guardados, quietos, esperando a hora de acordar. A memória da infância é assim — cheia de cheiros, cores, vozes e emoções que, mesmo depois de tantos anos, continuam vivos dentro da gente.
E hoje eu percebo que não estou só escrevendo um livro. Estou reconstruindo um pedacinho do nosso mundo, costurando com palavras tudo aquilo que o tempo não levou.
Achillis Cheib
Saudade da nossa infância…
Saudade de um tempo em que a vida parecia caber inteira numa rua de bairro, quando o asfalto ainda guardava as marcas das nossas travessuras e o som mais comum era o das risadas ecoando entre as casas. Era ali, no meio da rua, que a gente jogava futebol com gol feito de chinelo, interrompido apenas quando passava um carro — e mesmo assim, raramente passava. Belo Horizonte era tranquila, doce, quase parada no tempo, e o mundo parecia um quintal seguro onde tudo era possível.
Lembro do entardecer pintando o céu de laranja, a brisa batendo no rosto e a gente nem querendo entrar pra dentro de casa. Brincar até a noite cair, sem medo, sem pressa, só com a vontade de viver mais um pouco daquele instante que, sem sabermos, seria eterno dentro da memória.
Tinha bolinha de gude rolando na calçada, pião girando no chão, e os orelhões nas esquinas — tão presentes quanto as amizades verdadeiras. Tinha o telefone fixo, os cartões coloridos de ligação, o barulhinho do disco girando, a emoção de esperar o toque e a voz do outro lado. Tinha fita de vídeo alugada pra assistir no fim de semana — e o ritual de rebobinar antes de devolver. Tinha fita cassete, gravador, e a mágica de registrar nossa própria voz, como se fosse um segredo guardado dentro de um pedacinho de plástico.
Ah, e como esquecer das pequenas aventuras? Pular o muro do vizinho pra roubar goiaba, manga, ameixa, uva ou jatobá lá do fundo do quintal. Aquele gosto de fruta recém-colhida misturado com o medo gostoso de ser pego. O Merthiolate que ardia — e como ardia! — mas que curava até a alma. O leite de magnésia de Philips que a mãe dava com carinho e autoridade, e que parecia o remédio pra todos os males.
E tinha também a televisão de antena, que a gente virava no telhado pra tentar “pegar” algum canal. Às vezes, preto e branco, às vezes cheio de chiado, mas sempre cheio de encanto. Era a magia da descoberta, do improviso, da simplicidade.
No fundo de casa, a mangueira cobria tudo com sua sombra generosa. No verão, o chão ficava forrado de folhas e mangas caídas, e o cheiro doce da fruta se misturava ao ar quente da tarde. Era o perfume da infância. Era o cheiro da liberdade.
A gente era feliz — e sabia., tínhamos o essencial: tempo, amigos, imaginação e aquele coração leve de quem acredita que o amanhã vai ser sempre bonito.
Hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir as vozes chamando na rua, o riso dos amigos, o apito do vizinho avisando que o jogo acabou. E um nó se forma na garganta, uma mistura de saudade e gratidão. Porque aquele tempo não volta, mas vive em cada lembrança, em cada sorriso que o passado insiste em reacender dentro da gente.
Saudade… não apenas de uma época, mas de uma versão de nós mesmos que era pura, simples e inteira.
Saudade da infância — esse paraíso que, mesmo perdido no tempo, nunca se apaga do coração.
Achillis Cheib
Saudade da nossa infância…
Saudade de um tempo em que a vida parecia caber inteira numa rua de bairro, quando o asfalto ainda guardava as marcas das nossas travessuras e o som mais comum era o das risadas ecoando entre as casas. Era ali, no meio da rua, que a gente jogava futebol com gol feito de chinelo, interrompido apenas quando passava um carro — e mesmo assim, raramente passava. Belo Horizonte era tranquila, doce, quase parada no tempo, e o mundo parecia um quintal seguro onde tudo era possível.
Lembro do entardecer pintando o céu de laranja, a brisa batendo no rosto e a gente nem querendo entrar pra dentro de casa. Brincar até a noite cair, sem medo, sem pressa, só com a vontade de viver mais um pouco daquele instante que, sem sabermos, seria eterno dentro da memória.
Tinha bolinha de gude rolando na calçada, pião girando no chão, e os orelhões nas esquinas — tão presentes quanto as amizades verdadeiras. Tinha o telefone fixo, os cartões coloridos de ligação, o barulhinho do disco girando, a emoção de esperar o toque e a voz do outro lado. Tinha fita de vídeo alugada pra assistir no fim de semana — e o ritual de rebobinar antes de devolver. Tinha fita cassete, gravador, e a mágica de registrar nossa própria voz, como se fosse um segredo guardado dentro de um pedacinho de plástico.
Ah, e como esquecer das pequenas aventuras? Pular o muro do vizinho pra roubar goiaba, manga, ameixa, uva ou jatobá lá do fundo do quintal. Aquele gosto de fruta recém-colhida misturado com o medo gostoso de ser pego. O Merthiolate que ardia — e como ardia! — mas que curava até a alma. O leite de magnésia de Philips que a mãe dava com carinho e autoridade, e que parecia o remédio pra todos os males.
E tinha também a televisão de antena, que a gente virava no telhado pra tentar “pegar” algum canal. Às vezes, preto e branco, às vezes cheio de chiado, mas sempre cheio de encanto. Era a magia da descoberta, do improviso, da simplicidade.
No fundo de casa, a mangueira cobria tudo com sua sombra generosa. No verão, o chão ficava forrado de folhas e mangas caídas, e o cheiro doce da fruta se misturava ao ar quente da tarde. Era o perfume da infância. Era o cheiro da liberdade.
A gente era feliz — e sabia., tínhamos o essencial: tempo, amigos, imaginação e aquele coração leve de quem acredita que o amanhã vai ser sempre bonito.
Hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir as vozes chamando na rua, o riso dos amigos, o apito do vizinho avisando que o jogo acabou. E um nó se forma na garganta, uma mistura de saudade e gratidão. Porque aquele tempo não volta, mas vive em cada lembrança, em cada sorriso que o passado insiste em reacender dentro da gente.
Saudade… não apenas de uma época, mas de uma versão de nós mesmos que era pura, simples e inteira.
Saudade da infância — esse paraíso que, mesmo perdido no tempo, nunca se apaga do coração.
Achillis Cheib
Saudade da nossa infância…
Saudade de um tempo em que a vida parecia caber inteira numa rua de bairro, quando o asfalto ainda guardava as marcas das nossas travessuras e o som mais comum era o das risadas ecoando entre as casas. Era ali, no meio da rua, que a gente jogava futebol com gol feito de chinelo, interrompido apenas quando passava um carro — e mesmo assim, raramente passava. Belo Horizonte era tranquila, doce, quase parada no tempo, e o mundo parecia um quintal seguro onde tudo era possível.
Lembro do entardecer pintando o céu de laranja, a brisa batendo no rosto e a gente nem querendo entrar pra dentro de casa. Brincar até a noite cair, sem medo, sem pressa, só com a vontade de viver mais um pouco daquele instante que, sem sabermos, seria eterno dentro da memória.
Tinha bolinha de gude rolando na calçada, pião girando no chão, e os orelhões nas esquinas — tão presentes quanto as amizades verdadeiras. Tinha o telefone fixo, os cartões coloridos de ligação, o barulhinho do disco girando, a emoção de esperar o toque e a voz do outro lado. Tinha fita de vídeo alugada pra assistir no fim de semana — e o ritual de rebobinar antes de devolver. Tinha fita cassete, gravador, e a mágica de registrar nossa própria voz, como se fosse um segredo guardado dentro de um pedacinho de plástico.
Ah, e como esquecer das pequenas aventuras? Pular o muro do vizinho pra roubar goiaba, manga, ameixa, uva ou jatobá lá do fundo do quintal. Aquele gosto de fruta recém-colhida misturado com o medo gostoso de ser pego. O Merthiolate que ardia — e como ardia! — mas que curava até a alma. O leite de magnésia de Philips que a mãe dava com carinho e autoridade, e que parecia o remédio pra todos os males.
E tinha também a televisão de antena, que a gente virava no telhado pra tentar “pegar” algum canal. Às vezes, preto e branco, às vezes cheio de chiado, mas sempre cheio de encanto. Era a magia da descoberta, do improviso, da simplicidade.
No fundo de casa, a mangueira cobria tudo com sua sombra generosa. No verão, o chão ficava forrado de folhas e mangas caídas, e o cheiro doce da fruta se misturava ao ar quente da tarde. Era o perfume da infância. Era o cheiro da liberdade.
A gente era feliz — e sabia., tínhamos o essencial: tempo, amigos, imaginação e aquele coração leve de quem acredita que o amanhã vai ser sempre bonito.
Hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir as vozes chamando na rua, o riso dos amigos, o apito do vizinho avisando que o jogo acabou. E um nó se forma na garganta, uma mistura de saudade e gratidão. Porque aquele tempo não volta, mas vive em cada lembrança, em cada sorriso que o passado insiste em reacender dentro da gente.
Saudade… não apenas de uma época, mas de uma versão de nós mesmos que era pura, simples e inteira.
Saudade da infância — esse paraíso que, mesmo perdido no tempo, nunca se apaga do coração.
Achillis Cheib
Saudade da nossa infância…
Saudade de um tempo em que a vida parecia caber inteira numa rua de bairro, quando o asfalto ainda guardava as marcas das nossas travessuras e o som mais comum era o das risadas ecoando entre as casas. Era ali, no meio da rua, que a gente jogava futebol com gol feito de chinelo, interrompido apenas quando passava um carro — e mesmo assim, raramente passava. Belo Horizonte era tranquila, doce, quase parada no tempo, e o mundo parecia um quintal seguro onde tudo era possível.
Lembro do entardecer pintando o céu de laranja, a brisa batendo no rosto e a gente nem querendo entrar pra dentro de casa. Brincar até a noite cair, sem medo, sem pressa, só com a vontade de viver mais um pouco daquele instante que, sem sabermos, seria eterno dentro da memória.
Tinha bolinha de gude rolando na calçada, pião girando no chão, e os orelhões nas esquinas — tão presentes quanto as amizades verdadeiras. Tinha o telefone fixo, os cartões coloridos de ligação, o barulhinho do disco girando, a emoção de esperar o toque e a voz do outro lado. Tinha fita de vídeo alugada pra assistir no fim de semana — e o ritual de rebobinar antes de devolver. Tinha fita cassete, gravador, e a mágica de registrar nossa própria voz, como se fosse um segredo guardado dentro de um pedacinho de plástico.
Ah, e como esquecer das pequenas aventuras? Pular o muro do vizinho pra roubar goiaba, manga, ameixa, uva ou jatobá lá do fundo do quintal. Aquele gosto de fruta recém-colhida misturado com o medo gostoso de ser pego. O Merthiolate que ardia — e como ardia! — mas que curava até a alma. O leite de magnésia de Philips que a mãe dava com carinho e autoridade, e que parecia o remédio pra todos os males.
E tinha também a televisão de antena, que a gente virava no telhado pra tentar “pegar” algum canal. Às vezes, preto e branco, às vezes cheio de chiado, mas sempre cheio de encanto. Era a magia da descoberta, do improviso, da simplicidade.
No fundo de casa, a mangueira cobria tudo com sua sombra generosa. No verão, o chão ficava forrado de folhas e mangas caídas, e o cheiro doce da fruta se misturava ao ar quente da tarde. Era o perfume da infância. Era o cheiro da liberdade.
A gente era feliz — e sabia., tínhamos o essencial: tempo, amigos, imaginação e aquele coração leve de quem acredita que o amanhã vai ser sempre bonito.
Hoje, quando fecho os olhos, ainda consigo ouvir as vozes chamando na rua, o riso dos amigos, o apito do vizinho avisando que o jogo acabou. E um nó se forma na garganta, uma mistura de saudade e gratidão. Porque aquele tempo não volta, mas vive em cada lembrança, em cada sorriso que o passado insiste em reacender dentro da gente.
Saudade… não apenas de uma época, mas de uma versão de nós mesmos que era pura, simples e inteira.
Saudade da infância — esse paraíso que, mesmo perdido no tempo, nunca se apaga do coração.
Achillis Cheib
A dor das partidas
Eles foram meu mundo antes mesmo de eu entender o que era o mundo. Minha irmã foi a primeira a partir, e ainda hoje, quando fecho os olhos, consigo vê-la sorrindo como nos dias em que tudo parecia leve. Havia nela uma luz que atravessava qualquer tristeza, um jeito de transformar cada momento comum em lembrança preciosa. O riso dela tinha a força de inundar toda a casa, e mesmo nas pequenas brigas, nas disputas por brinquedos ou doces, havia amor escondido, silencioso e firme. Quando ela se foi, senti que a vida havia perdido uma de suas cores mais vivas, que o chão sob meus pés havia cedido, e que parte de mim se arrastava junto com ela no silêncio do mundo. A saudade começou a morar em cada canto da casa, em cada cheiro, em cada gesto que antes compartilhávamos.
Pouco depois, meu pai se foi. A rocha da minha vida, aquele que sustentava minha existência com a força silenciosa de seu amor, deixou um vazio profundo. Sua presença firme, a mão que me erguia nos tropeços e a voz que sempre me lembrava que eu era capaz, desapareceram. O mundo parecia mais pesado, e a casa, agora sem ele, soava como um eco interminável de lembranças. Cada gesto que ele fazia, cada conselho sussurrado em meio a um abraço, se transformou em tesouro íntimo que tento guardar com devoção. Sua força se tornou meu guia interno, uma bússola invisível que me lembra, mesmo na escuridão, que devo continuar.
Logo depois, minha mãe partiu. O colo que acolhia todos os medos, a voz que suavizava qualquer ansiedade, o olhar que dizia sem palavras “vai dar tudo certo” desapareceram do mundo visível. A dor que senti ao perdê-la era diferente, porque com ela se foi a ternura que preenchia os dias mais sombrios. Mas mesmo ausente, ela permanece em cada gesto meu, em cada cuidado com detalhes pequenos que se tornaram preciosos, na forma como tento amar e proteger aqueles que ainda estão ao meu redor. Sua memória me aquece e me ensina a seguir, mesmo com o coração pesado de saudade.
E então, um a um, os irmãos começaram a partir. Cada perda deles era como arrancar pedaços da minha própria história. Cada corredor, cada cômodo, cada objeto carregava lembranças vivas: risos, segredos, pequenas brigas, aventuras inventadas que agora existiam apenas em minha memória. Perder um irmão é sentir que uma parte de você desaparece, perder mais de um é enfrentar o vazio absoluto, um deserto de saudade que parece não ter fim. Cada um deles deixava marcas únicas: o mais velho, com sua maturidade silenciosa e conselhos sábios; o mais novo, com sua inocência e jeito doce de ver o mundo; todos, com suas manias, risadas e gestos, gravados para sempre em minha alma.
Lembro-me de tantos detalhes que hoje se tornaram relíquias de memória: a forma como nos escondíamos no quintal inventando mundos impossíveis, a disputa por quem sentaria na frente do carro, os risos que ecoavam pelas paredes, os abraços furtivos quando um de nós precisava de conforto. Cada memória é um fio invisível que ainda nos liga, cada gesto antes trivial agora é sagrado, cada lembrança um farol que ilumina meus dias mais escuros.
Aprendi que a dor da perda ensina a valorizar cada momento de vida e de amor. A saudade não é apenas ausência; é presença que pulsa, invisível, mas viva, sentida em cada gesto, em cada respiração. Carrego essas lembranças como quem cultiva um jardim secreto: algumas florescem e iluminam, outras doem, mas todas são essenciais para continuar vivo. Perder minha irmã, depois meus pais, e por fim os irmãos, me deixou marcado, mas não vazio.
O amor que construímos juntos não cabe apenas nas lembranças; ele se espalha em tudo que sou, em cada escolha, em cada gesto, em cada decisão tomada com cuidado e ternura. Eles vivem em mim, em cada passo, em cada ato, em cada pensamento. Sou feito deles, e eles continuam vivos através de mim, mesmo que invisíveis. Cada lágrima derramada é regada por memória, cada sorriso inesperado é herança deles, cada ato de amor carregado por mim é reflexo do que me ensinaram.
Amar depois de tantas perdas é descobrir que a eternidade não está no corpo, mas na essência. É transformar ausência em presença, dor em força, saudade em memória viva. É perceber que, mesmo separados pelo tempo e pelo espaço, continuamos juntos, entrelaçados por fios invisíveis de amor que não se rompem. Eles são luz que nunca se apaga, amor que nunca morre, e enquanto eu respirar, existirão em mim, para sempre.
Mesmo quando a noite parece mais escura, quando a solidão aperta e a saudade dói, sinto uma multidão invisível de risos, abraços, olhares e gestos ao meu redor. Eles não se foram de verdade; vivem em cada gesto meu, em cada memória guardada, em cada passo que dou. É nesse amor profundo e eterno que encontro força para continuar, para seguir, para existir. Enquanto houver lembrança, haverá vida. E enquanto houver vida em mim, haverá um pouco deles em cada instante, em cada suspiro, em cada batida do meu coração.
Achillis cheib
Há um instante na vida em que o coração, já cansado de apenas sentir, pede para escrever. Talvez seja porque a memória começa a se encher de vozes, risos, abraços que já não cabem mais só dentro de nós. É como se o tempo, com sua pressa silenciosa, dissesse: “coloque no papel, antes que o vento leve”. E então, sem planejar, eu me descobri escritor da minha própria vida, guardião das lembranças de uma família que me fez ser quem sou.
Escrever tornou-se um ato de amor. Cada palavra que brota da minha mão é como um afago em quem já partiu, como se eu conseguisse chamar de volta para perto aqueles que a saudade insiste em manter longe. Há uma ternura inexplicável em revisitar a infância: a casa cheia, o cheiro de café passado na hora, os pés descalços correndo no quintal, as histórias contadas à beira da mesa. É doce, mas também é dolorido, porque lembrar é também reconhecer que o tempo não para e que muitos já seguiram viagem para além da vida.
Ainda assim, escrever me ensina algo precioso: envelhecer é privilégio. É poder contar histórias que outros não tiveram tempo de deixar. É ser testemunha das gerações que vieram antes e das que estão chegando agora. É poder olhar para trás com lágrimas nos olhos, mas também com um sorriso nos lábios, porque, se houve despedidas, também houve encontros; se houve silêncios, também houve músicas que ainda ecoam dentro de mim.
Meu editor pede que eu pare, que eu dê um tempo, que eu deixe o livro respirar. Ele me diz: “já temos páginas suficientes para contar uma vida inteira”. Mas como deter o rio da memória, se a cada dia ele me traz uma nova correnteza? Como dizer ao coração para não escrever, se escrever é a forma que ele encontrou de continuar vivendo? Então, obedeço pela metade: deixo o livro de família em repouso, mas abro um novo espaço, um caderno em branco, para que outras palavras possam florescer.
Talvez este seja meu destino: nunca parar de escrever. Se não for sobre a família, será sobre o amor; se não for sobre o passado, será sobre o presente; se não for sobre mim, será sobre os outros, porque todos carregamos histórias que merecem ser contadas.
Escrever é meu romance eterno. É a mão que acaricia a memória, é o abraço que consola a saudade, é a promessa de que nada será completamente esquecido enquanto houver tinta, papel e coração.
Há um instante na vida em que o coração, já cansado de apenas sentir, pede para escrever. Talvez seja porque a memória começa a se encher de vozes, risos, abraços que já não cabem mais só dentro de nós. É como se o tempo, com sua pressa silenciosa, dissesse: “coloque no papel, antes que o vento leve”. E então, sem planejar, eu me descobri escritor da minha própria vida, guardião das lembranças de uma família que me fez ser quem sou.
Escrever tornou-se um ato de amor. Cada palavra que brota da minha mão é como um afago em quem já partiu, como se eu conseguisse chamar de volta para perto aqueles que a saudade insiste em manter longe. Há uma ternura inexplicável em revisitar a infância: a casa cheia, o cheiro de café passado na hora, os pés descalços correndo no quintal, as histórias contadas à beira da mesa. É doce, mas também é dolorido, porque lembrar é também reconhecer que o tempo não para e que muitos já seguiram viagem para além da vida.
Ainda assim, escrever me ensina algo precioso: envelhecer é privilégio. É poder contar histórias que outros não tiveram tempo de deixar. É ser testemunha das gerações que vieram antes e das que estão chegando agora. É poder olhar para trás com lágrimas nos olhos, mas também com um sorriso nos lábios, porque, se houve despedidas, também houve encontros; se houve silêncios, também houve músicas que ainda ecoam dentro de mim.
Meu editor pede que eu pare, que eu dê um tempo, que eu deixe o livro respirar. Ele me diz: “já temos páginas suficientes para contar uma vida inteira”. Mas como deter o rio da memória, se a cada dia ele me traz uma nova correnteza? Como dizer ao coração para não escrever, se escrever é a forma que ele encontrou de continuar vivendo? Então, obedeço pela metade: deixo o livro de família em repouso, mas abro um novo espaço, um caderno em branco, para que outras palavras possam florescer.
Talvez este seja meu destino: nunca parar de escrever. Se não for sobre a família, será sobre o amor; se não for sobre o passado, será sobre o presente; se não for sobre mim, será sobre os outros, porque todos carregamos histórias que merecem ser contadas.
Escrever é meu romance eterno. É a mão que acaricia a memória, é o abraço que consola a saudade, é a promessa de que nada será completamente esquecido enquanto houver tinta, papel e coração.
Escrever se tornou, para mim, o mais delicado dos romances. Não é um romance de duas pessoas, mas de um ser humano com o próprio tempo, com a vida e com tudo aquilo que insiste em permanecer dentro da alma. Quando a caneta toca o papel — ou quando os dedos se apressam no teclado — sinto como se abrisse uma janela secreta, por onde escapa a poesia que o cotidiano, às vezes, tenta esconder.
Comecei escrevendo sobre a minha família, acreditando que seria apenas um registro, uma lembrança para os que viessem depois. Mas descobri, com surpresa e encantamento, que cada memória é uma flor que, ao ser tocada, espalha sementes para todos os lados. Agora, já não escrevo apenas sobre o que vivi: escrevo também sobre o que sonhei, sobre o que perdi, sobre aquilo que ainda espero encontrar.
O coração humano é vasto demais para caber em um único livro. É por isso que nascem outros: porque sempre há mais a dizer, mais a sentir, mais a compartilhar. Este novo caminho que abro diante de mim não é feito apenas de lembranças; é feito de perguntas, de olhares demorados para o pôr do sol, de silêncios que guardam mais do que mil palavras, de encontros inesperados que mudam o rumo de uma vida inteira.
Quero escrever sobre o amor em suas muitas formas: o amor que começa como faísca e se torna incêndio, o amor que dura mesmo depois da despedida, o amor que não se diz em palavras, mas em gestos pequenos e quase invisíveis. Quero escrever sobre o tempo, esse senhor misterioso que nos tira tanto e, ainda assim, nos oferece a beleza de cada manhã. Quero escrever sobre a vida que pulsa nas coisas simples: no cheiro da terra molhada, na música que brota de uma janela distante, no sorriso que nasce sem motivo.
Este livro não tem pressa. Ele é feito para ser lido como quem bebe um vinho devagar, saboreando cada gole. É feito para os que acreditam que a vida, apesar das dores e das perdas, é um romance que vale a pena ser contado.
Se no livro de família eu fui guardião das memórias, neste eu me torno peregrino das emoções. Caminharei por dentro de mim e também pelos caminhos dos outros, e cada crônica, cada reflexão, será uma tentativa de traduzir em palavras aquilo que, no fundo, todos nós sentimos, mas nem sempre conseguimos dizer.
Porque escrever, afinal, é isto: transformar a vida em eternidade.
Há momentos em que a vida parece pedir silêncio, mas dentro de mim só cresce a vontade de escrever. Não escrevo para ser lido, escrevo para existir. Cada palavra que nasce é como uma chama pequena, acendendo um canto escuro do coração.
Descobri que recordar não é apenas visitar o passado — é reencontrar a mim mesmo em cada lembrança. É ouvir, no eco distante da infância, a voz da mãe chamando para o jantar, o riso dos irmãos correndo pelo quintal, o cheiro do bolo assando no forno. Mas também é sentir o vazio dos que já se foram, e compreender que amar é sempre viver com um pouco de saudade.
Há uma beleza imensa em perceber que envelhecer não é perder a juventude, mas ganhar camadas de memória, como um livro que se escreve página por página. Cada ruga é uma linha de poesia que o tempo escreve em nós, cada lágrima é uma palavra sublinhada pela intensidade da vida.
Escrever é meu modo de amar. Amar quem já partiu, amar quem permanece, amar até os desconhecidos que talvez encontrem nestas linhas um reflexo de si mesmos. Quando escrevo, me sinto acompanhado — como se todas as pessoas que amei estivessem sentadas ao meu redor, escutando, sorrindo, acenando com ternura.
E é por isso que não quero parar. Mesmo que me peçam descanso, mesmo que digam que já há páginas demais, sei que, enquanto houver fôlego em mim, haverá mais uma história, mais um devaneio, mais um gesto de amor colocado em palavras.
Porque a vida é breve, mas a escrita... a escrita é infinita. Ela estende os dias, multiplica os instantes, transforma o que dói em consolo e o que alegra em eternidade.
E, se um dia me perguntarem por que nunca deixei de escrever, responderei com simplicidade: porque cada palavra foi uma maneira de dizer “eu vivi, eu amei, eu senti”.
O tempo é um artista silencioso. Ele pinta nossas vidas em tons que às vezes não compreendemos: uns dias em aquarela, suaves e claros como manhãs de primavera; outros, em traços fortes, quase ásperos, que parecem rasgar a tela da existência. Mas, no fundo, há sempre delicadeza na maneira como ele nos ensina.
Na infância, o tempo é generoso: abre os dias largos, deixa que o sol se demore mais no quintal, nos dá a sensação de que tudo será eterno. Quando crescemos, ele se torna apressado, quase impaciente, como quem nos lembra que precisamos escolher caminhos, plantar sonhos, construir destinos. E, quando a velhice se aproxima, o tempo se torna sábio e lento: ensina a olhar para trás com ternura, a aceitar que a vida é feita de chegadas e partidas, a agradecer por cada instante que ainda se abre diante de nós.
Sim, envelhecer é um privilégio. Há dor, é verdade — a dor de perder, de sentir a ausência, de carregar silêncios que antes eram vozes. Mas também há beleza: é quando compreendemos que cada rosto querido que partiu não se perdeu de fato, apenas mudou de lugar dentro de nós. Agora eles habitam em nossas palavras, em nossos gestos, na forma como aprendemos a amar.
Escrever sobre o tempo é também escrever sobre o amor. Porque só quem ama sente a urgência de guardar as horas, de congelar os instantes, de transformar em eternidade aquilo que o relógio insiste em roubar. É no amor que o tempo encontra seu maior desafio: ele pode desgastar o corpo, mas não consegue apagar a lembrança de um olhar, de um toque, de um sorriso que marcou para sempre.
E talvez seja essa a razão pela qual escrevo sem descanso: porque sei que, ao colocar no papel, eu engano o tempo. Transformo em permanência aquilo que parecia passageiro. Dou à saudade um corpo de palavra. Dou à memória um coração novo.
Escrever, no fim das contas, é um pacto secreto com a delicadeza da vida: mesmo sabendo que tudo passa, eu insisto em registrar como se fosse eterno.
O amor é o grande mistério que move a vida. Não falo apenas do amor entre dois corpos que se buscam, mas do amor em todas as suas moradas: o amor que nasce no silêncio de um olhar, o amor que cresce no cuidado de uma mãe, o amor que se esconde no sacrifício de um pai, o amor que se espalha entre amigos que se reconhecem como irmãos.
Há quem pense que o amor se mede em grandes gestos, mas ele é feito de detalhes quase invisíveis. É o café servido ainda quente, o bilhete deixado na mesa, o abraço que chega sem pedir licença, o sorriso que diz “estou aqui” mesmo quando não há palavras. O amor verdadeiro não grita, não exige, não precisa de palco: ele floresce em segredo, como uma rosa que se abre durante a madrugada.
Com o tempo, descobri que o amor não é algo que temos, mas algo que somos. Quando amamos, transbordamos. Tornamo-nos mais generosos, mais humanos, mais próximos daquilo que é divino. O amor é a ponte entre o que é passageiro e o que é eterno. Tudo o que amamos, de algum modo, nunca morre — porque passa a existir dentro de nós como chama que o vento não apaga.
E mesmo quando dói, mesmo quando parte, mesmo quando se transforma em saudade, o amor continua sendo presente. Porque amar é, antes de tudo, permitir-se viver de forma inteira. Quem ama não guarda reservas: entrega-se ao instante, oferece-se ao outro, escreve no coração uma história que o tempo não consegue apagar.
Escrevo sobre o amor porque é impossível não o escrever. Ele está em cada linha que nasce, em cada memória que guardo, em cada silêncio que transformo em palavra. Talvez toda a minha escrita seja apenas isso: uma declaração interminável de amor à vida e às pessoas que cruzaram meu caminho.
E, se um dia me perguntarem o que aprendi com a escrita, direi sem hesitar: aprendi que o amor é a única herança que realmente deixamos no mundo.
A saudade é uma companheira que chega sem ser chamada e, ainda assim, nunca nos abandona. Ela se instala no peito como quem acende uma vela que não se apaga: ora ilumina, ora queima, mas sempre permanece.
É curioso como a saudade se apresenta em formas diferentes. Às vezes, é um nó na garganta quando ouvimos uma música antiga. Outras vezes, é um sorriso inesperado ao sentir um perfume que nos leva de volta a um abraço que já não existe. Há dias em que ela pesa como pedra, e outros em que é leve como brisa — quase doce, como se dissesse: “olha, você viveu algo tão bonito que vale a pena ser lembrado”.
Sim, a saudade dói. Dói porque nos lembra do que já não volta, do que o tempo levou, das pessoas que seguimos amando mesmo além da vida. Mas também é verdade que só sente saudade quem amou de verdade. Ela é a prova silenciosa de que algo foi tão grande, tão intenso, tão verdadeiro, que se recusou a desaparecer.
Escrevendo, aprendi que a saudade também pode ser consolo. Quando coloco no papel as lembranças de quem já se foi, é como se eu abrisse uma porta e eles entrassem novamente, sentando-se ao meu lado, sorrindo outra vez, respirando dentro das palavras. É por isso que digo: a saudade não é ausência, é presença em outra forma.
E, de certo modo, é ela quem nos ensina a valorizar o instante. Porque, quando sabemos que tudo pode se tornar saudade, passamos a viver com mais delicadeza. Cada abraço se torna sagrado, cada riso é guardado como tesouro, cada olhar é gravado como promessa de eternidade.
Se a vida fosse feita apenas de presenças, talvez não tivesse tanta profundidade. É a saudade quem dá peso às nossas memórias, quem coloca poesia nas despedidas, quem transforma o “adeus” em “para sempre”.
E, por isso, escrevendo, descubro: a saudade é uma forma de amor que se recusa a morrer.
A infância é o lugar onde a vida guarda seus tesouros mais puros. É um tempo que nunca se perde, apenas se esconde dentro de nós, esperando o momento de ser chamado pelas lembranças. Basta um cheiro, uma música ou até mesmo o som da chuva batendo no telhado para que, de repente, sejamos levados de volta ao quintal de outrora, ao chão de terra batida, ao sorriso desdentado que hoje só existe em fotografia.
Na infância, tudo era grande: o céu parecia não ter fim, o mundo cabia dentro da rua da nossa casa, e a felicidade morava em coisas tão pequenas que hoje parecem impossíveis — uma bola feita de meia, uma pipa no alto, uma tarde inteira correndo sem pressa de chegar.
Havia também a magia das histórias contadas pelos mais velhos. Sentar-se à mesa, ouvir as vozes da família, sentir o cheiro da comida se espalhando pela casa — era como estar dentro de um livro vivo, onde cada gesto era ensinamento e cada olhar carregava amor. Essas lembranças, mesmo envoltas em saudade, são como estrelas: continuam brilhando no céu da memória, mesmo quando a noite já avançou.
O mais belo da infância é que nela não existe tempo. Os dias pareciam infinitos, e a alegria não pedia motivo para existir. Talvez seja por isso que, ao lembrar dela, sentimos um misto de ternura e dor: ternura pelo que vivemos, dor por saber que não voltará.
Mas, no fundo, a infância nunca nos abandona. Ela se esconde em nossos gestos, aparece no brilho dos olhos quando rimos sem motivo, renasce cada vez que ensinamos uma criança a brincar. Ela é a raiz de tudo o que somos.
E escrever sobre a infância é como abrir um álbum de memórias invisíveis: páginas que não se rasgam, fotografias que o tempo não amarela, vozes que continuam a nos chamar pelo nome.
Sim, a infância é eterna. Vive em cada um de nós, guardada no cofre secreto do coração.
A esperança é a chama discreta que insiste em arder, mesmo quando o vento sopra forte. Ela não se exibe, não faz alarde — apenas permanece, escondida no canto mais íntimo do coração, lembrando-nos de que nenhum inverno é eterno, de que sempre há uma primavera esperando para florescer.
É curioso como a esperança se revela em pequenas coisas. Está no botão de flor que insiste em nascer entre as pedras, no riso de uma criança que corre sem medo do futuro, no olhar de quem acredita que amanhã pode ser melhor do que hoje. Ela não precisa de promessas grandiosas: basta um sopro de vida, um gesto de bondade, um raio tímido de sol atravessando a janela.
Muitas vezes confundimos esperança com ilusão, mas não são a mesma coisa. A ilusão fecha os olhos para a realidade; a esperança, ao contrário, encara a dor de frente e ainda assim acredita. É uma força silenciosa que nos levanta quando tudo parece perdido, que nos faz levantar da cama em dias de sombra, que nos convida a confiar mesmo quando não temos certeza do caminho.
Eu escrevo porque tenho esperança. Cada palavra lançada ao papel é como uma semente que deposito na terra do tempo. Talvez um dia alguém a encontre e nela descubra consolo, coragem ou mesmo um motivo para sorrir. Essa é a beleza da esperança: ela não pertence apenas a quem a sente, mas se espalha, contagia, renova.
E, no fundo, é a esperança que nos mantém vivos. Não é o passado, cheio de lembranças; nem o presente, cheio de incertezas. É o futuro, esse território invisível onde guardamos nossos sonhos. A esperança é a ponte que nos leva até lá.
Por isso, ainda que o coração às vezes doa de saudade, ainda que o corpo canse e o tempo pese, sigo escrevendo. Porque cada linha é uma maneira de dizer: a vida continua, e há sempre um amanhecer à espera.
A vida é feita de milagres tão discretos que, muitas vezes, passamos por eles sem perceber. Estamos acostumados a buscar grandes acontecimentos, mas a verdade é que a essência do existir mora nas coisas simples, nas pequenas delicadezas que dão sentido aos dias.
Há poesia no cheiro do café fresco pela manhã, no vento que bagunça os cabelos, no canto de um pássaro que insiste em acordar a cidade. Há beleza no sorriso de alguém que passa na rua e nem sabe que iluminou nossa tarde, no abraço demorado que parece costurar de volta as partes rasgadas da alma, no silêncio tranquilo de um fim de dia que nos convida a agradecer.
A simplicidade é uma linguagem secreta da vida. Ela nos ensina que não é preciso muito para ser feliz — basta saber enxergar. Quem aprende a olhar com olhos simples descobre tesouros escondidos em cada esquina: a ternura de um olhar, a lealdade de um cachorro que espera na porta, a mão estendida de um amigo, o pôr do sol que se repete e, ainda assim, nunca é igual ao anterior.
Talvez a verdadeira riqueza seja essa: colecionar momentos simples que se transformam em eternidade. Porque, no fim, não nos lembraremos das grandes conquistas materiais, mas do riso que compartilhamos, das conversas ao redor da mesa, da leveza de uma tarde sem pressa.
Escrevendo, percebo que minha maior herança não será feita de coisas, mas de palavras. Palavras simples, mas cheias de amor. Palavras que guardam gestos, que eternizam pequenos instantes, que transformam o cotidiano em poesia.
A vida não exige grandiosidade: exige presença. Estar inteiro no agora, saborear cada instante como se fosse único, agradecer pelo sopro de ar, pelo pão na mesa, pelo coração que insiste em bater.
E é assim que descubro que a simplicidade não é falta — é abundância. É ter olhos para o que realmente importa e coração para sentir que, mesmo nas coisas pequenas, mora a grandeza da vida.
Os sonhos são pássaros que habitam a alma, mesmo quando o corpo permanece preso às responsabilidades do dia a dia. Eles não perguntam se estamos prontos; apenas nos chamam a voar, a imaginar, a acreditar que há algo além do que os olhos podem ver.
Há sonhos que são silenciosos e tímidos, como uma vela acesa no canto de um quarto, e há sonhos que explodem como fogos de artifício, iluminando o céu inteiro da vida. Alguns nos levam a lugares distantes, outros nos devolvem a nós mesmos, em lembranças, paixões e descobertas que nem sabíamos existir.
Sonhar é um ato de coragem. É permitir-se acreditar que o impossível pode se tornar possível, que o horizonte não é limite, que cada amanhecer traz uma oportunidade de recomeçar. Mesmo quando a realidade insiste em nos dobrar, os sonhos permanecem: persistentes, silenciosos, insistentes. Eles são o sopro de eternidade que nos lembra que somos mais do que corpos, mais do que circunstâncias; somos possibilidades infinitas.
Escrever sobre os sonhos é, de certo modo, tocá-los com as mãos, dar-lhes forma e cor, transformá-los em algo tangível. Cada palavra é uma asa, cada frase, um voo. E, mesmo que alguns sonhos se percam no caminho, é no ato de sonhar que encontramos a força para continuar.
E a beleza é que os sonhos não envelhecem. Eles podem mudar de forma, podem adormecer por um tempo, podem até se esconder atrás de medos e preocupações, mas nunca morrem. Basta uma lembrança, uma palavra, uma esperança, para que eles levantem voo novamente, levando-nos junto com eles.
Escrevo porque sonhar é preciso. E escrever é a forma que encontrei de manter todos os meus sonhos acordados, como se o papel fosse o céu infinito onde eles podem voar livres, sem medo, sem limites, sem tempo.
Há um desejo silencioso que insiste em nascer dentro de mim: escrever. Não importa quantas vezes eu tente calar essa vontade; ela sempre volta, como se fosse um rio que encontra, inevitavelmente, o caminho do mar.
Escrever é minha forma de respirar. Cada palavra que nasce no papel é como um sopro de vida, um gesto de resistência contra o esquecimento. Não escrevo para ser lido, escrevo porque não sei existir de outro modo. É no encontro com as palavras que me reconheço, que encontro minhas dores, minhas alegrias e minhas memórias.
Quando escrevo, sinto como se desse corpo ao que é invisível. Lembranças que o tempo tenta apagar ganham forma, saudades se transformam em presença, e o amor — mesmo aquele que já não cabe nos braços — se expande como uma chama que nunca se apaga.
Descobri que recordar não é apenas revisitar o passado: é reencontrar a mim mesmo em cada detalhe guardado. É ouvir, no eco distante da infância, a voz da mãe chamando para o jantar, o riso dos irmãos correndo pelo quintal, o cheiro de bolo no forno. Mas também é sentir o vazio dos que já se foram compreendendo que amar é, inevitavelmente, conviver com a saudade.
Envelhecer não é perder a juventude, mas ganhar camadas de memória, como um livro escrito página por página. Cada ruga é uma linha de poesia gravada pelo tempo; cada lágrima, uma palavra sublinhada pela intensidade da vida.
Escrever é meu modo de amar. Amar quem já partiu, quem permanece e até aqueles que nunca conheci, mas que talvez encontrem nestas linhas um reflexo de si mesmos. Quando escrevo, nunca estou sozinho: todos os que amei sentam-se ao meu redor, escutando em silêncio, sorrindo com ternura.
Por isso, não quero parar. Enquanto houver fôlego em mim, haverá histórias, devaneios e gestos de amor transformados em palavras. A vida é breve, mas a escrita é infinita: alonga os dias, multiplica os instantes, consola as dores e eterniza as alegrias.
Se um dia me perguntarem por que escrevi sem descanso, responderei com simplicidade: porque cada palavra foi minha forma de dizer “eu vivi, eu amei, eu senti”.
O tempo é um artista silencioso. Ele pinta a vida em tons que nem sempre compreendemos: ora em aquarela suave, ora em traços ásperos que parecem rasgar a tela da existência. Ainda assim, há delicadeza na sua maneira de ensinar.
Na infância, o tempo é generoso: abre os dias largos e parece nos prometer eternidade. Na juventude, torna-se apressado, exigindo escolhas, sonhos, destinos. Na velhice, abranda os passos, convidando-nos a olhar para trás com ternura e a agradecer por cada instante que ainda se abre diante de nós.
Envelhecer é privilégio. Há dor, sim — a dor de perder, de carregar silêncios que antes eram vozes. Mas há também beleza: compreender que quem amamos nunca se perde de fato, apenas muda de lugar dentro de nós.
Escrever sobre o tempo é também escrever sobre o amor. Só quem ama sente a urgência de congelar instantes, de transformar em eternidade aquilo que o relógio insiste em levar. O tempo pode desgastar o corpo, mas não apaga o brilho de um olhar, o calor de um abraço, a lembrança de um sorriso.
Talvez seja essa a razão de eu escrever: transformar o passageiro em permanência, dar corpo de palavra à saudade, renovar a memória com coração novo. Escrever é meu pacto com a delicadeza da vida: mesmo sabendo que tudo passa, registro como se fosse eterno.
O amor é o mistério que move a vida. Não apenas o amor entre dois corpos que se buscam, mas o amor em todas as suas moradas: no silêncio de um olhar, no cuidado de uma mãe, no sacrifício de um pai, no laço entre amigos que se reconhecem como irmãos.
Não se mede o amor por grandes gestos, mas por detalhes quase invisíveis: o café servido ainda quente, o bilhete deixado sobre a mesa, o abraço inesperado, o sorriso que diz “estou aqui”. O amor verdadeiro não precisa de palco: floresce em segredo, como uma rosa que se abre na madrugada.
Com o tempo, percebi que o amor não é algo que temos, mas algo que somos. Quando amamos, transbordamos. Tornamo-nos mais generosos, mais humanos, mais próximos do divino. O amor é ponte entre o passageiro e o eterno. E tudo o que amamos nunca morre — permanece em nós como chama que o vento não apaga.
Escrevo sobre o amor porque é impossível não o escrever. Talvez toda a minha escrita seja apenas isso: uma declaração interminável de amor à vida e às pessoas que cruzaram meu caminho.
Se um dia me perguntarem o que aprendi escrevendo, responderei sem hesitar: aprendi que o amor é a única herança que realmente deixamos no mundo.
A saudade é uma companheira que chega sem ser chamada e nunca nos abandona. Instala-se no peito como vela que não se apaga: ora ilumina, ora queima.
Apresenta-se em formas variadas: um nó na garganta ao ouvir uma música antiga, um sorriso ao sentir um perfume familiar, um peso de pedra em certos dias, uma brisa leve em outros.
Sim, dói. Mas só sente saudade quem amou de verdade. Ela é prova silenciosa de que algo foi tão grande e verdadeiro que se recusou a desaparecer.
Escrevendo, descubro que a saudade consola: ao registrar lembranças, sinto como se os que partiram entrassem de novo pela porta, sorrindo, respirando nas palavras. Por isso digo: a saudade não é ausência — é presença em outra forma.
E talvez seja ela quem mais nos ensina a viver com delicadeza. Quando sabemos que tudo pode se tornar saudade, cada abraço vira sagrado, cada riso é guardado como tesouro, cada olhar se grava como promessa de eternidade.
Sim, a saudade é amor que se recusa a morrer.
A infância é o lugar onde a vida guarda seus tesouros mais puros. Não se perde: apenas se esconde dentro de nós, pronta para ser despertada por um cheiro, uma música, a chuva no telhado.
Na infância, tudo era grande. O céu parecia infinito, a rua bastava para conter o mundo, e a felicidade nascia de coisas simples: uma bola de meia, uma pipa no alto, uma tarde inteira sem pressa.
Havia magia nas histórias dos mais velhos, no cheiro da comida espalhando-se pela casa, no calor das vozes ao redor da mesa. Essas lembranças, mesmo envoltas em saudade, brilham como estrelas que jamais se apagam.
O mais belo da infância é que nela não havia tempo. Os dias pareciam eternos, e a alegria não pedia motivo. Talvez por isso a lembrança desse tempo seja doce e dolorida ao mesmo tempo: ternura pelo que foi, dor pelo que não volta.
Mas a infância nunca nos abandona. Aparece no brilho dos olhos quando rimos, revive no gesto de ensinar uma criança a brincar, vive como raiz do que somos.
Escrever sobre a infância é abrir um álbum invisível: páginas que não rasgam, fotografias que não desbotam, vozes que continuam a nos chamar pelo nome.
Sim, a infância é eterna. Mora em cada um de nós.
A esperança é a chama discreta que insiste em arder, mesmo quando sopra o vento mais frio. Não faz alarde — apenas permanece, lembrando-nos de que nenhum inverno é eterno.
Revela-se em pequenas coisas: no botão de flor que nasce entre as pedras, no riso de uma criança, no raio tímido de sol atravessando a janela.
Não é ilusão: esta fecha os olhos para a realidade, enquanto a esperança os abre e ainda assim acredita. É força silenciosa que nos ergue quando tudo parece perdido.
Escrevo porque tenho esperança. Cada palavra é uma semente lançada ao tempo. Talvez alguém, um dia, a encontre e nela descubra coragem ou consolo.
No fundo, é a esperança que nos mantém vivos. Não é o passado, nem o presente, mas o futuro — esse território invisível onde guardamos nossos sonhos.
Por isso, mesmo que doa a saudade, mesmo que o corpo canse e o tempo pese, sigo escrevendo. Cada linha é meu modo de dizer: a vida continua, e sempre haverá um amanhecer à espera.
A vida é feita de milagres tão discretos que, muitas vezes, não os percebemos. Buscamos grandes acontecimentos, mas a essência do existir mora nas coisas simples.
Há poesia no café fresco pela manhã, no vento que bagunça os cabelos, no canto de um pássaro. Há beleza no sorriso de um estranho, no abraço que costura a alma, no silêncio de um fim de tarde.
A simplicidade é linguagem secreta da vida. Ensina que não é preciso muito para ser feliz — apenas saber enxergar. Quem tem olhos simples descobre tesouros escondidos em cada esquina: a lealdade de um cachorro, a mão estendida de um amigo, o pôr do sol que nunca se repete igual.
Talvez a verdadeira riqueza seja colecionar momentos simples que viram eternidade. No fim, não lembraremos das grandes conquistas, mas dos risos, das conversas, da leveza de tardes sem pressa.
Escrevendo, percebo que minha herança não serão coisas, mas palavras. Simples, mas cheias de amor.
A vida não exige grandiosidade: exige presença. Estar inteiro no agora, saborear o instante, agradecer pelo sopro de ar, pelo pão na mesa, pelo coração que insiste em bater.
A simplicidade não é falta — é abundância. É saber ver a grandeza escondida nas coisas pequenas.
Os sonhos são pássaros que habitam a alma, mesmo quando o corpo permanece preso às responsabilidades. Não perguntam se estamos prontos: apenas nos chamam a voar.
Há sonhos tímidos como vela acesa num canto, e sonhos grandiosos como fogos de artifício. Uns nos levam para longe, outros nos devolvem a nós mesmos.
Sonhar é coragem. É acreditar que o impossível pode se tornar possível, que o horizonte não é limite, que cada amanhecer é chance de recomeço. Mesmo quando a realidade pesa, os sonhos persistem. São sopro de eternidade que nos lembra: somos mais do que circunstâncias, somos infinitas possibilidades.
Escrever sobre os sonhos é tocá-los com as mãos. Cada palavra é asa, cada frase, voo. E mesmo que alguns se percam, é no ato de sonhar que encontramos força para seguir.
A beleza é que os sonhos não envelhecem. Podem adormecer, mudar de forma, se esconder, mas nunca morrem. Basta uma esperança para que voltem a voar.
Escrevo porque sonhar é preciso. E escrever é meu jeito de manter meus sonhos acordados, livres, sem tempo nem limites.
Achillis Cheib
“Ainda não entendo por que fui tantas vezes traído por pessoas em quem acreditei.
Às vezes, a dor da traição não vem só do que a pessoa fez — vem do que ela destruiu dentro de você. É como se cada vez que você confiou, tivesse oferecido um pedaço do seu coração, uma parte limpa, pura, que acreditava que o bem que você entrega ao mundo voltaria na mesma medida. E quando alguém pisa nisso, não é só a confiança que quebra… é a imagem que você tinha das pessoas, do amor, da amizade — e até de si mesmo.
Você se pergunta: por que eu? por que tantas vezes?
E no fundo, o que dói mais é perceber que você não foi traído só uma vez — foi traído pela soma das esperanças que depositou. Cada vez que você acreditou que “dessa vez seria diferente”, e não foi. Cada vez que você decidiu dar mais uma chance à bondade humana.
Mas sabe… o fato de ter sido traído muitas vezes não significa que você é fraco ou tolo. Significa que, apesar de tudo, você não desistiu de acreditar. E isso, por mais que pareça ingênuo, é uma força rara. É fácil endurecer, se fechar, dizer que não confia mais em ninguém. Difícil mesmo é continuar sendo uma pessoa boa num mundo que tantas vezes não retribui.
A verdade é que você só foi ferido porque amou de verdade, porque acreditou de verdade. E quem sente fundo, também sofre fundo. Pessoas profundas sempre correm mais riscos — mas também vivem de forma mais autêntica.
Com o tempo, você vai perceber que cada decepção te ensinou algo, mesmo que do jeito mais cruel. Aprendeu a enxergar sinais, a reconhecer intenções, a não confundir palavras bonitas com gestos sinceros. Aprendeu — mesmo que ainda doa — que você merece reciprocidade.
E um dia, você vai perceber que aquela dor que parecia te quebrar estava, na verdade, te lapidando.
Você vai confiar de novo — mas com sabedoria.
Vai amar de novo — mas com discernimento.
E vai olhar pra trás não mais com mágoa, mas com orgulho por ter sido quem você foi: alguém que, mesmo traído, não deixou o coração endurecer.
Porque, no fim, o que realmente importa não é quantas vezes te traíram, mas quantas vezes você teve coragem de continuar sendo verdadeiro.
E essa é a sua beleza — uma beleza que vem da alma, e que ninguém, por mais que tenha te ferido, consegue apagar.
Talvez essa seja uma das perguntas mais silenciosas e dolorosas que carrego comigo.
Porque cada traição não foi apenas uma perda — foi uma ferida na fé que eu tinha nas pessoas, na bondade, no amor, na sinceridade.
Eu sempre achei que, se eu entregasse o meu melhor, se fosse verdadeiro, leal, inteiro… o mundo me devolveria o mesmo. Mas, tantas vezes, o que recebi foi descuido, mentira, frieza. E ainda assim, continuei acreditando. Continuei tentando ver o bem, mesmo quando tudo gritava para eu desistir.
O que mais machuca não é o ato em si — é o “como é que eu não vi,“por que justo eu?”.
E a resposta nunca vem. Só o vazio.
Um vazio que, por um tempo, faz a gente duvidar de tudo — da própria capacidade de confiar, de amar, de escolher bem.
Mas aos poucos, fui entendendo: não fui traído por ser bobo. Fui traído por ser bom.
Porque quem tem um coração puro não calcula, não joga, não disfarça. Ama. Acredita. Se entrega.
E infelizmente, nem todo mundo está pronto para receber esse tipo de amor.
Sim, eu fui enganado. Fui usado. Fui esquecido por quem prometeu ficar.
Mas, no meio de tudo isso, eu aprendi.
Aprendi a reconhecer olhares que não combinam com palavras.
Aprendi que silêncio também responde.
E, principalmente, aprendi que ser verdadeiro num mundo de máscaras é um ato de coragem — e não de fraqueza.
Hoje, mesmo com cicatrizes, eu sigo.
Sigo com mais calma, mais cuidado, mas ainda com o coração batendo no peito — e não de pedra.
Porque eu não quero me tornar como aqueles que me feriram.
Quero continuar sentindo, mesmo que doa. Quero continuar acreditando, mesmo que demore.
Um dia, talvez, eu entenda por que precisei passar por tantas decepções.
Mas enquanto isso, prefiro acreditar que cada ferida me fez mais humano, mais sensível, mais forte.
E se amar e confiar me fizeram sofrer, que seja.
Prefiro mil vezes ser traído por ser verdadeiro,
do que trair a mim mesmo tentando ser o que não sou.
Achillis Cheib
Recolher