Nasci na maior favela do Rio de Janeiro, a Rocinha. Meus pais, vindos do Ceará em busca de uma vida melhor, enfrentaram desafios enormes. Éramos quatro irmãos, eu a mais nova das mulheres. Nossa casa era simples, um barraco no alto da favela, onde podíamos ver as luzes da cidade à noite e o mar durante o dia.
A vida na favela era difícil. Meu pai trabalhava como pedreiro, enquanto minha mãe cuidava da casa. Não tínhamos acesso à escola e muitas vezes dormíamos com medo da violência ao nosso redor, tanto dos moradores quanto do nosso próprio pai, que era violento.
Minha mãe sonhava com o Ceará, um lugar de fartura e segurança. Um dia, decidimos partir. Foram três longos dias de ônibus até chegarmos lá, eu sonhava com árvores e frutas, mas a realidade foi dura. Ainda enfrentamos dificuldades, com minha mãe grávida e em risco, precisando viajar para a capital.
Ficamos em casas de famílias separadas, antes vivíamos juntos, agora separados. Apesar de não frequentar a escola, aprendi a ler em casa com minha irmã mais velha. Meu primeiro dia na escola foi um desafio, eu sabia ler e escrever, mas não entendia a pontuação.
Encontrei refúgio na biblioteca, onde os livros se tornaram meus melhores amigos. Mesmo sofrendo bullying pelo meu sotaque, preferia ler a enfrentar o recreio. A leitura me fez sonhar, sonhar que a miséria seria passageira.
Demorou, mas com determinação, minha família superou os desafios. Essa é apenas uma parte da nossa jornada, uma história de superação que ainda tem muito a ser contada.