Ponto de Cultura – Museu Aberto
Depoimento de Nelson de Souza Lima
Entrevistado por Sonia London e Caroline Pitta
São Paulo, 21/01/2010
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV226
Revisado por Gustavo Kazuo
P/1 — Bom Nelson, bom dia e obrigada por estar aqui.
R — Bom dia. O prazer é meu.
P/1 — Diz para a gente o seu nome completo, cidade e data de nascimento, por favor.
R — Tá. Meu nome é Nelson de Souza Lima eu nasci no dia oito de junho de 1965 no Pérola Byington, no Centro, ali na Brigadeiro. Então, como dizem: Paulistano da Gema, né? Geminiano. Dizem que o geminiano tem os dois lados, né? O lado meio introspectivo e o lado mais solto. E eu acho que eu sou assim mesmo. Sou um geminiano típico.
P/1 — E os seu pais, já eram de São Paulo? E os seus avós? Qual a origem?
R — Até onde eu tenho conhecimento, até o meu bisavô, são todos nordestinos. Meu bisavô, meus avós são de Pernambuco, a minha mãe também, né? E o meu pai é paraibano. Então até essa geração, eles são do nordeste. Os meus avós vieram para o interior de São Paulo primeiro com todos os filhos, né, sete filhos, ali na região de Fernandópolis. E o meu pai também veio, né? Embora não eram casados ainda, ficou aquela coisa de idas e vindas, encontros e desencontros, né, acabaram se casando no interior de São Paulo e vieram para a cidade de São Paulo no comecinho de 1960. Da minha geração toda para cá, somos todos de São Paulo mesmo. Tem alguns primos que são de São Bernardo e outros que nasceram no interior de São Paulo. Mas assim, da minha geração toda para cá, todos aqui do estado de São Paulo.
P/1 — E eles vieram para cá, por quê?
R — Ah, melhores condições de trabalho. Porque lá no nordeste era aquela coisa, trabalhar na roça, criar gado, condições de vida carente, né, não tinha perspectiva de vida, resolveram vir para cá buscar melhores condições de trabalho e, felizmente, deu certo, porque cada um dentro da sua possibilidade conseguiu progredir na vida, ter a sua própria casa, seu próprio negócio. Meu pai e o meu avô, foram trabalhar no Hospital Matarazzo, ali na região da Paulista, sabe? O meu avô trabalhava lá, arrumou emprego para o meu pai, e o meu pai trabalhou durante 30 anos na cozinha do Hospital Matarazzo.
P/1 — Ele é cozinheiro?
R — Já se aposentou. É cozinheiro e cozinha muito bem. (risos) O meu avô trabalhava lá primeiro, meu avô veio antes, arrumou emprego no Hospital Matarazzo, aí o meu pai veio depois com minha mãe já casados, né, e o meu pai começou a trabalhar no Matarazzo também. Aí o meu avô saiu, foi montar um negócio próprio, um bar, que tem até hoje inclusive. Olha que loucura o meu avô tem 89 anos e tem o barzinho dele ainda.
P/1 — Nossa. Aonde?
R — Ali na Vila Matilde mesmo, pertinho do Aricanduva, na altura da Rua Baquiá, não sei se vocês conhecem. Ali, quase chegando na Radial Leste. Meu pai trabalhou 30 anos no Matarazzo, se aposentou, depois, trabalhou um tempinho como porteiro e, agora, está aposentado de vez. Está só descansando.
P/1 — E sua mãe, trabalhou?
R — Minha mãe trabalhou muito anos também como tecelã numa empresa chamada Guilherme Jorge, ali na Vila Carrão. Trabalhou durante 30 anos também, já é aposentada também. E fizeram o possível e o impossível para nos criar, né? Nos deram boa educação.
P/1 — Quantos irmãos são?
R — Nós somos em quatro. A minha irmã mais velha, depois eu e tenho dois irmãos mais novos. Todos nascidos aqui.
P/1 — E aí, como era o bairro? O que você lembra do bairro onde você nasceu?
R — Bom, a gente sempre morou na Vila Matilde, né?
P/1 — É enorme a Vila Matilde, né?
R — É. O lugar mais conhecido é a Praça da Toco, antiga Praça da Toco, Praça da Conquista, onde nos anos 80, sábado à noite, era a Praça da Toco, né? A gente ia paquerar. Mas a minha infância era aquela coisa: jogar bola, empinar pipa, carrinho de rolimã, adorava carrinho de rolimã, me arrebentei muito com carrinho de rolimã, era muito legal. O que a gente mais fazia era jogar bola. A gente jogava bola o dia inteiro. Fazia aqueles gols com pedra na rua, juntava a molecada e ficava jogando bola o dia inteiro até a noite. Eu lembro até hoje quando chegou asfalto na região, isso mais ou menos 72 eu acho. Eu era garotinho, quando asfaltaram a rua, que não tinha asfalto ainda, né? Lembro dos caminhões chegando com pedras, com piche e coisa e tal, fazendo o asfalto da rua. Era muito, muito legal e em frente de onde a gente morava era um terreno baldio, que hoje tem lá os sobrados já feitos, mas, era um terreno baldio que a gente brincava e quando chovia, inundava e a gente ficava nadando (risos) e a minha mãe achava aquilo horrível, batia na gente direto, a gente apanhava direto (risos). Então, era muito legal. A gente jogava bola, andava de bicicleta, carrinho de rolimã, era muito legal.
P/1 — E a casa? Você lembra como era a casa?
R — Era uma casa bem simples. Porque como falei, o meu avô construiu um bar, saiu do Matarazzo e montou um bar. Isso, no comecinho dos anos 70, 1970. O bar ficava na frente e no fundo, que é um terreno grande, está lá até hoje ainda, e ele construiu várias casinhas, né? Em cima do bar ele construiu uma casa e mais para o fundo ele foi construindo outras casas, assim, e nós morávamos lá, numa casa do fundo. Era uma casa simplesinha, né, e o meu pai e minha mãe compraram um terreno próximo ali, e à medida que o tempo ia passando ele foi construindo a casa. Era uma casa simplesinha, mas a gente gostava bastante, é claro, (risos) sua casa, né?
P/1 — E é uma família grande então? Todo mundo morava lá? Como era esse cotidiano da vida ali com a família?
R — À medida que foram os tios casando, todos eles foram comprando suas casas e saíram fora. Os primos também. Eu tenho primo assim, com a idade mais ou menos como a minha, estou na casa dos 40 já, né? Então, eu tenho primos na mesma faixa etária que eu. E assim, aquela coisa de família grande mesmo, de almoçar junto no domingo, faz aquela mesa com todo mundo, né? Os primos, aquela falação, aquela coisa de todo mundo brincando e voando Coca-Cola (risos), sabe? Era muito legal. E aí, à medida que cada um foi construindo sua casinha, né, comprando suas casas, todo mundo foi saindo e o meu avô passou a alugar essas casas para outras pessoas. Então, hoje, ninguém mora lá. Estão todas as casas alugadas.
P/1 — Você lembra assim de algum lugar específico, de uma cena dessa época, da região? Como era?
R — Ah sim. Como eu falei agora a pouco. Teve um dia que tinha chovido muito e em frente da minha casa tinha essa lagoinha, né? Esse terreno baldio que quando chovia, alagava. Aí, tinha chovido bastante, eu tinha tomado banho, aí a minha mãe assim: “Vai lá chamar a sua irmã Nilza”. Porque os outros dois eram menorzinhos, já estavam em casa. Então, eu e minha irmã, né, mais velhos, aí, “onde que está a sua irmã?” “Acho que ela está brincando lá fora, na rua, né?” “Mas na chuva?”, e coisa e tal, “vai lá chamar a sua irmã”. Quando eu vou chamar a minha irmã, ela estava brincando com outro primo na lagoa, (risos), estava lá nadando e coisa e tal, aí, (risos), o que aconteceu? “Ah, vem brincar também” E eu já tinha tomado banho, olha que doideira. Eu já tinha tomado banho, “ah, vem brincar com a gente também” Ah, não pensei duas vezes. Pulei e comecei a brincar, quando a minha mãe chegou, nossa, foi uma surra assim, inesquecível. Foi uma surra inesquecível. A minha mãe bateu em mim e na minha irmã e a minha tia bateu no meu primo (risos). Foi assim, hilário. E várias brincadeiras na rua também, né, que a nossa casa ficava entre duas ruas que elas faziam ladeiras, assim, duas ruas paralelas que elas faziam ladeiras. Então, lá de cima, o que a gente fazia? A gente pegava as bicicletas e descia a rua, sabe? E eu tinha uma bicicleta sem freio, isso com uns dez, onze anos de idade. Aí, o que eu fiz uma vez? Fui, subi no alto da rua e desci sem freio, não consegui parar, né, só fui parar no portão da casa do vizinho (risos).
P/1 — Nossa. E como foi o estrago em você?
R — Ah, sobrevivi. A testa arranhada, né, tenho uma cicatriz aqui até hoje, de uma brincadeira também e consegui sobreviver (risos). Mas descer a ladeira sem freio também tem que ter coragem ou ser, no mínimo, louco. Eu acho que eu era mais louco do que corajoso.
P/1 — E a escola, como era? Era perto?
R — Eu fiz o meu primário na Escola Maria de Lourdes Nogueira Albergaria
P/1 — É no bairro?
R — É. Pertinho de casa também. Bem pertinho. Fiz lá até a 6ª série, no primário, depois eu fui fazer a 7ª e a 8ª no Infante Dom Henrique, também é próximo ali. Eu fiz lá a 7ª e a 8ª e fiz o Colégio também, nesse Infante Dom Henrique, né? E o legal assim da escola, são os amigos, jogar bola no final de semana, as festas juninas que eram muito legais, a gente organizava quadrilhas assim para participar da festa, era muito legal. A gente organizava e os professores gostavam demais, todo mundo ficava feliz e é uma coisa que eu tenho saudade também. Quando eu passo em frente do colégio, eu lembro das festas que eu não sei nem se acontecem ainda, mas, dá saudade.
P/1 — Você dançava quadrilha?
R — Ah, gostava. Na hora do trenzinho, do “olha a cobra” (risos), era muito legal. A gente fazia uma festa, a gente fazia uma farra e isso, assim, adolescente, né? 13, 14 anos, era muito legal. A gente se fantasiava, fora as outras festas que rolavam também, assim, festa dos estudantes, né, chamava umas bandas de amigos nossos pra gente tocar. Nessa época eu não tocava ainda, eu vim tocar depois.
P/1 — Você tocava o quê?
R — Eu sou contrabaixista. Já toquei em várias bandas, né, comecei a tocar em 85.
P/1 — Na escola você já tocava?
R — Não, foi um pouco depois. Foi depois que eu saí do Infante, que eu comecei a tocar. Tomei um fora de uma garota, loucura isso, ao invés de encher a cara, fui comprar um contrabaixo (risos). Não sei o que me deu. Foi melhor, né? Pelo menos eu acho que foi bem melhor. Comprei um contrabaixo, comecei a tocar e, estava até mostrando para as meninas, algumas fotos minhas, com uma das minhas bandas. Na região ali do Bixiga, eu toquei ali durante um ano. Um amigo meu criou um bar, hoje também não existe mais, o cara já tinha uma banda, me chamou para tocar. Ele estava abrindo um bar ali na Rui Barbosa mesmo, né, que ali tem vários bares, um do lado do outro, e falou: “E aí, você quer tocar? Vamos levar essa ideia adiante?” “Vamos nessa, né?” Aí, o bar inaugurou em 89, então, de 89 até 90 toquei nesse bar, tocava nos outros bares da região, também foi muito legal, conheci muitas garotas, tomei muito fora também, enchi muito a cara (risos), também me diverti bastante.
P/1 — Vamos voltar um pouquinho lá para o momento da escola. O colegial você fez no?
R — No Infante. O primário eu fiz na Albergaria até a 6ª série, aí, como havia um número muito grande de alunos, e a escola não comportava, nós fomos transferidos para o Infante Dom Henrique que é próximo ao Albergaria, né? Então, lá eu fiz, 7ª, 8ª, 1º, 2º e 3º colegial. Me formei lá.
P/1 — E lá que você começou a se interessar mais por música?
R — É. O colegial foi até 83 por aí, eu comecei tocar em 85. É que eu comecei a fazer parte de um grupo de jovens de uma igreja, na Igreja São Pedro, que é ali no Aricanduva também, próximo a Radial Leste. Aí, a muitos jovens, coisa e tal, tinha o cara que tocava violão na igreja, a gente cantava e ele tocava, falei: “pô, o cara toca legal, né? Poxa vida, que bacana, né? Será que é difícil tocar? Será que é muito complicado tocar?” E ficava aquele burburinho assim: “Ah, vamos formar uma banda?” “Ah, não, é difícil.” “Ah, não, vamos formar uma banda vai” E eu dando uma pilha nos caras e os caras nada, né? Aí eu falei: “mas eu ainda quero formar uma banda. Quero tocar guitarra, contrabaixo.” Se bem que a ideia era tocar guitarra, não era nem tocar contrabaixo porque tocar guitarra que ia ser o charme, né? Que a mulherada gosta, né? (risos) Então, aconteceu isso e eu comecei a namorar uma garota, tomei um fora dela e falei: “puxa”. Aí, eu fui dar uma volta no Mappin, sabe? Nessa noite que ela me deu um fora, fui dar uma volta no Centro, estava assim, cabisbaixo, “pô, tomei um fora e agora, não vou conhecer mais ninguém.” (risos) Você fica com esses traumas, né? “Não vou conhecer mais ninguém, vou morrer sozinho” (risos), né, tem essas besteiras. Aí fui dar uma volta no antigo Mappin, ali na Praça Ramos, aí subi lá no 4º andar que era o setor de música, vi lá um guitarrona, falei: “pô, faz tempo que eu quero tocar. Então, vamos tocar”. Aí, comprei a guitarra na hora, duas semanas depois já estava fazendo aula e as coisas foram assim. E foi também naquela época da redemocratização, né, 85, Rock in Rio, e coisa e tal, então começaram a surgir milhares de bandas, o rock nacional teve aquela explosão toda, então começaram surgir bandas e a gente até brincava que dizia que tinha uma banda em cada esquina. Só no meu bairro ali, nossa, tinha uma banda em cada esquina praticamente, era uma loucura. Então, veio nessa época também, 85 comecei a tocar guitarra, conheci uns rapazes do meu bairro mesmo que tinham um interesse de montar a banda, só que eles estavam sem baixista. Falaram assim: “Você não quer trocar a guitarra por um contrabaixo?” Pensei: “quatro cordas, deve ser mais fácil de tocar, né?” Pensei, quatro cordas, são duas cordas a menos, (risos) deve ser mais fácil de tocar. Aí, me apaixonei pelo contrabaixo, tive vários contrabaixos, fui roubado também, na Nove de Julho.
P/1 — Roubaram o quê?
R — Estava descendo a Nove de Julho a pé, lá para a Praça da Bandeira para pegar o ônibus, dois caras chegaram armados e me levaram o contrabaixo e o dinheiro que eu tinha ganho na noite. Fiquei arrasado também, né, mas depois eu comprei outro, depois vieram outros e não me roubaram mais nenhum, (risos), felizmente.
P/1 — E você já tinha começado a trabalhar nessa época?
R — Nessa época sim. Eu comecei a trabalhar com 14 anos.
P/1 — Com 14 anos? O que você fazia?
R — Comecei a trabalhar numa metalúrgica, ali na Vila Carrão.
P/1 — Fazendo o quê?
R — Essa empresa, a primeira que eu trabalhei, era de cabos elétricos, então, eu trabalhava fazendo tomadas elétricas, tomadas de parede, né, a tomada que coloca no plug. Então, eu trabalhava numa máquina que você colocava os pinos, injetava o plástico e saía as tomadas “assim”. Eu trabalhei nessa fábrica durante seis anos. De 81 a 86.
P/1 — Com 14 anos você começou a trabalhar?
R — É. Já estou praticamente pronto para me aposentar. Mas vou trabalhar um pouquinho mais ainda, né?
P/1 — E como era trabalhar com 14 anos?
R — Você adquire responsabilidade, né?
P/1 — Era comum no seu grupo de amigos?
R — Eu acho que minha geração toda, começamos todos muito cedo, porque a gente tem que adquirir responsabilidade cedo, né? Acho que hoje, a minha filhinha tem 11 anos, não sei se ela vai querer, bom, espero que ela trabalhe cedo também, né, (risos), espero que ela não se acomode, eu vivo falando pra ela que nós não vamos sustentá-la a vida inteira, enfim, isso é outra história. E a gente tinha que ajudar em casa também, né?
P/1 — Todos trabalhavam? Os irmãos?
R — Minha irmã trabalhava nessa empresa, no setor de pessoal e ela me arrumou na fábrica. Aí eu fiquei nessa empresa durante seis anos, saí e depois, assim, trabalhar como office-boy, trabalhei em outras empresas metalúrgicas, e acho que a responsabilidade veio cedo. Ajudar em casa era fundamental, né? Eu agradeço os meus pais pela educação que eles nos deram, assim, a gente não teve vida de luxo, né, não tivemos vida de luxo. Para você ter uma ideia, houve um Natal que eu ganhei um gibi de histórias em quadrinhos como presente de Natal. Eu fiquei super contente, porque era o que eu queria mesmo, dentro das possibilidades dos meus pais, era maravilhoso, né? Então, assim, a gente não teve vida de luxo, mas foi uma vida bem gostosa. Aí comecei a trabalhar com 14 anos e já adquirindo responsabilidade cedo.
P/1 — E com 14 anos, o que você fez com o primeiro salário?
R — Eu acho que eu comprei roupa, se eu não me engano (risos), porque eu comprava camisetas pra caramba, eu adoro camiseta, né, nossa, comprava camiseta, bermuda, calça, dava um dinheirinho para minha mãe, claro, mas, eu adorava comprar roupa e ia muito no Centro, que tem umas lojas maravilhosas ali. Então, comprava muita roupa até vir essa vontade de tocar em 85, depois, mudei um pouco o foco de roupa, para instrumentos musicais. O que eu gastei de dinheiro com instrumento musical, nossa, é uma loucura, loucura. Gastei muito dinheiro. Comprei contrabaixo, comprei guitarra, ajudei um amigo meu a comprar bateria, nossa, gastei muito dinheiro. Não tive retorno, mas (risos), fazer o quê? Não me arrependo não.
P/1 — E você lembra dos nomes das bandas?
R — Ah. Tinha umas bandas muito loucas. Toquei no Artigo 13, que era uma banda que tem até foto, que eu deixei com a Carol.
P/1 — O que é Artigo 13?
R — Se eu não me engano, dentro do Código Penal é referente aos debilitados, débeis-mentais, referentes às pessoas que tem debilidade mental. Então a gente dizia que a gente era tudo louco mesmo (risos), a gente era tudo doido, então, tinha que ser Artigo 13. Toquei numa banda chamada Êxtase, lá da Vila Dalila. A gente ensaiava na casa de um tecladista que era playboyzinho, né, então, um cara meio burguesinho, então, vivia cheio de menininha lá, era muito legal. Vivia cheio de garotinha na casa do cara, a gente começava ensaiar, enchia de garotinha. E as menininhas dando em cima da gente, a gente fazia festa, era muito, muito legal. Recebia correio elegante, sabe? A gente lá no meio tocando, aí entrava uma no meio lá e “tó, esse correio elegante é seu.” (risos), bem louco. Era muito louco. Lembro até que um dia a coitada estava fazendo o correio elegante, a gente tocando, a menina entrou no meio eu virei o contrabaixo ela tomou uma no queixo, que dó, deu uma dó da menina. Mas também, foi entrar na hora errada, né? (risos) A culpa foi dela, né? Era muito legal.
P/1 — E você compunha também?
R — Ah, sim, a gente chegou a participar de alguns festivais.
P/1 — Você compunha o quê? Letra?
R — Eu fazia letra e o guitarrista que era o cara assim mais preparado musicalmente, né, colocava a música. Chegamos a participar de alguns festivais lá na Vila Carrão, mas, assim, festival é aquela coisa, por mais simplesinho que seja, o ganhador já está definido. Ou é a banda do primo do dono do Conservatório, ou alguém que de repente, sei lá, contribuiu de alguma forma, então a gente participou de alguns festivais mas só mais por participar mesmo. Ganhar, nunca. Mas, valia a participação. Inclusive, até algum tempo atrás, eu estava em casa, aí chegaram dois caras lá com quem eu tinha tocado, né? Aí, “Oi, tudo bem? E aí, está a fim de voltar a tocar?” Eu falei: “Não...”, porque eu estava terminando o curso de Jornalismo, né? “Está a fim de voltar a tocar, a gente está empolgadão, inclusive aquela música sua lá, a gente fez um arranjo diferente pra ela. Você quer ouvir?” Falei: “Põe aí, né?” Fizeram um arranjo eletrônico (risos), a música que era punk-rock, virou eletrônica (risos). Ficou muito legal. Mas, falei: “olha, bacana, se vocês quiserem podem fazer o que quiser com essa música aí, pode pegar letra, faz o que quiser com ela que, por enquanto, não quero saber de música.”
P/1 — E você lembra dessa música?
R — Ah, era uma música que eu coloquei de homens poderosos, falando sobre como essas pessoas que estão no poder, como eles tratam as outras pessoas com preconceito, com discriminação, com violência, então, era um punk-rock, uma música crítica, né? E nessa época, 85, a gente ainda vivia aquela coisa Estados Unidos e União Soviética, né? As duas super potências, aquela corrida armamentista, então era mostrando como a gente corria o risco de, de repente, com um simples apertar de um botão, o mundo explodir. Então, era um punk-rock bem legal, bem crítico e pena que não estourou. Quem sabe um dia (risos), porque a música é atemporal, né? E era bem legal assim, com essa música a gente participou de um festival, não ganhamos, mas valeu. Ficou assim, a lembrança.
P/1 — Você quer cantar um pedacinho dela?
R — Nossa... como é que é mesmo? Só lembro do refrão: “homens poderosos sempre querem mais poder, e eu me pergunto se isso pode acontecer . Será que é demais pedir para esses caras, um pouco de paz?” Esse era o refrão.
P/1 — Bacana.
R — É. Era bem legal. Ficou bem legal mesmo. Pena que... bom, quem sabe um dia ela está por aí, em alguma gaveta aí. Se algum dia alguém encontrar e se meu amigo quiser levar adiante, falei: “a música é sua”.
P/1 — E essa que eles musicaram de novo, qual é?
R — É essa mesmo. Eu compus muito em inglês também, mas nossa, em inglês assim, fazia muita música baba, sabe, babinha, “I love you, I can´t forget you”, essas coisas todas, “eu te amo, não posso te esquecer” e uma vez eu conheci um baterista mexicano que falava inglês, bom, fronteira com os Estados Unidos e falava inglês super bem, né? Aí, ele estava morando aqui no Brasil porque ele conheceu uma brasileira no México, vieram para cá, aí, ia ser o baterista da minha banda, aí ele pediu para eu mostrar algumas músicas pra ele. No que eu comecei a cantar assim pra ele, super baba, o cara fez assim “uuaáááhhh”, assim, sabe, muito mela-cueca, (risos), sabe, muito ruim, horrível, porque em inglês até fica legal, mas em português fica brega, né? Se bem que... bom, deixei as músicas para lá. Pelo menos, por enquanto, a música está um pouquinho de lado.
P/1 — Essa música que você falou agora tem uma crítica social. Como é que foi isso na sua vida? Você é jornalista, é isso?
R — Hum-rum.
P/1 — Como é que você foi para o jornalismo, por quê?
R — Aí, voltando a minha infância. Sabe que eu sempre quis fazer jornalismo, desde garoto? Sabe por quê? Porque, eu te falei, a gente jogava bola na rua, né, e quando eu não estava jogando, o que eu fazia? Eu pedia para o meu pai pegar os cabos de vassoura e cortar a parte de cima, sabe? Cortava assim, um pedaço e ficava fazendo de microfone, sabe? Então, ficava narrando o jogo, né, “fulano toca pra fulano, lá,lá,lá... é gol” Aí, quando terminava o jogo, eu ia entrevistar os caras. Aí, assim, ficava entrevistando, dando uma de repórter. Isso com 10, 11 anos. Aí, alguns entravam na brincadeira, outros ficavam assim: “o que esse moleque louco está segurando um cabo de vassoura, aí?” (risos) “Está louco? Segurando um pedaço de vassoura” Então, uns entravam na brincadeira, outros não. Então, essa vontade já vem desde garoto, e eu não segui assim, o tramite correto, né? Eu terminei o colegial, mas não fui direto para a faculdade. Demorou um pouquinho, aliás, demorou um bom tempo (risos). É porque os meus pais não tinham condição de pagar, né? Eu tentei universidade pública, mas eu não consegui. Eu prestei USP, acho que umas duas vezes, prestei Cásper duas vezes também, mas não consegui. Aí, quando eu tive condições de poder pagar a faculdade, eu fiz vestibular de novo e fui aprovado na Uniban, fiz ali na Rudge, no Centro.
P/1 — E isso foi quando?
R — Eu entrei na faculdade em 2000. Faz dez anos já. Quer dizer, eu me formei em 2003, né, comecei em 2000 e o curso terminou em 2003. Então, essa vontade de ser jornalista já vem desde garoto já. Aí, um jornal na faculdade fez uma matéria sobre mim, depois de formado, né, foram lá no Centro Cultural, que eu sou do Centro Cultural São Paulo, e eu falei para eles desse desejo, tudo o que eu estou falando aqui eu falei para eles. Aí, o título da matéria foi assim: Jornalismo na veia. Que já vinha desde garoto mesmo.
P/1 — Mas o que você queria fazer com o jornalismo? Por que você foi para o jornalismo?
R — Olha, a minha área é a área cultural, né, então eu sou sempre mais voltado para o jornalismo cultural. Trabalho no Centro Cultural de São Paulo e tenho uma coluna de música no jornal de Caieiras também. Na faculdade eu conheci várias pessoas que já trabalhavam na área, e uma amiga minha, Celina, lá de Caieiras, ela tem um jornal. Aí, conversando, assim, conversa daqui, conversa dali, “ah, você não quer fazer uma coluna de música pra mim?” “Claro, pra mim vai ser um prazer” E essa coluna já tem dez anos agora, comecei escrever em 2000, vai fazer dez anos em março. Então, abordo música, em todas as suas variantes, pode ser popular, pode ser sertanejo, samba, e essa coluna é semanal. E no Centro Cultural São Paulo, eu sou assessor de imprensa na área de música e cinema. Então, estou ligado à cultura mesmo, né? Até foi assim, uma coisa levando a outra, porque, quando eu prestei o concurso público, prestei em 1991, na época da Erundina, né, era o penúltimo ano da Erundina, prestei em 1991 o concurso e fui chamado em 1992 para a Prefeitura. Aí, eu fui receber a nomeação na Pedro Taques ali, travessa da Consolação, estava conversando, “você veio receber sua nomeação hoje, né?”, “tá, tá, tá”, ali ela procurando assim nos fichários, não tinha computador na época, né, eram uns fichários assim mesmo, (risos), “ah, vamos ver uma vaga pra você aqui. Quer ir na Saúde?” Eu falei: “não, Saúde, não.” “Tá. Quer ir na Secretaria dos Transportes?” “Tá, onde que é?” “É lá na Nações Unidas”, longe pra caramba, falei: “nossa, não. Essa não. Procura alguma outra coisa aí.” “Ah, tem uma vaga no Centro Cultural”. “Centro Cultural São Paulo?” Ela falou “é”. “Tô nessa. Claro. Lógico.” Centro Cultural São Paulo, que era um lugar que eu já frequentava desde 1987. O Centro Cultural inaugurou em 1982, mas eu comecei a frequentar em 1987, antes de entrar lá. E sempre achei um lugar maravilhoso, de pesquisa, todas aquelas rampas, aquela arquitetura toda, é maravilhoso. Então, quando ela falou, “quer trabalhar no Centro Cultural São Paulo?”, eu até me mexi na cadeira, “é claro. Com certeza.” Ela falou assim, “nossa, mas que alegria é essa?”. Eu falei: “Pô, Centro Cultural São Paulo, um lugar lindo, maravilhoso e que eu adoro. Trabalhar lá pra mim, vai ser uma honra”. Aí, eu fui trabalhar lá, mas não diretamente na área de cultura, fui trabalhar no almoxarifado, né, mas assim, associando uma coisa a outra, eu estava com banda na época ainda, pensei assim: “ah, de repente eu posso conhecer as pessoas aqui e arrumar um show pra mim aqui dentro. Vai saber, né?” Então, uma coisa pensando na outra , só que a banda acabou e não rolou show lá, mas aí, felizmente, eu conheci algumas pessoas lá dentro que me levaram a trabalhar no setor de Comunicação. Então, aí, eu fui trabalhar na rádio do Centro Cultural, que antes era assim, caixas espalhadas por todo o setor do Centro Cultural, como se fosse uma rádio de shopping, então, a gente fazia divulgação dos eventos lá e tocava música. Eu lembro até que toda sexta-feira quando eu chegava de manhã, tocava aquela música do Leandro e Leonardo, “hoje é sexta-feira”, (risos), o pessoal ficava meio “p da vida”, né, porque pô, tocar sertanejo no Centro Cultural, mas eu tocava pra sacanear mesmo, assim, pra zoar com os caras. Então, a gente tocava música, entrevistava os artistas, né, até mostrei algumas fotos, e fazia divulgação dos eventos do Centro Cultural. Aí, nessa época, eu fiz SENAC [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial], fiz rádio, locução, AM, FM. Foi um curso de três meses no SENAC ali do Centro, na Doutor Vila Nova, eu falei: “bom, agora eu faço curso de locução de rádio e logo na sequência eu vejo se dá pra fazer jornalismo”. Uma coisa levando a outra, né? Então, fiz o curso de locução em 1995 e só fui começar a fazer Jornalismo em 2000. Mas agora já está tudo realizado já, né?
P/1 — Você lembra de alguma entrevista ou de alguma coisa especial que você escreveu? Muito significativo pra você?
R — Ah, várias, várias. No Centro Cultural tem a possibilidade de conhecer vários artistas maravilhosos, né? Renato Teixeira é uma figura sensacional, assim, simpaticíssima, aquela simplicidade caipira dele, né, um cara genial. Toquinho também, uma figura maravilhosa, porque ele gosta muito de futebol, então, adora falar de futebol. Eu conheci o Otto, né, que era do Mundo Livre S/A, que é muito, muito simpático também. Entrevistei atrizes também, atores, né? Eu gostei muito de entrevistar todos. Acho que toda entrevista é especial, né? Eu ouvi uma vez um cara falando assim, não lembro qual jornalista, acho que foi o meu ex-professor de redação, quando ele está com o entrevistado, ele ama o entrevistado, né? Aquele momento ali, que ele está com aquela pessoa, ele ama de paixão a pessoa. Você me ama? (risos)
P/1 — Claro (risos)
R — Que bom (risos) Então é isso. Todas as entrevistas que eu fiz eu adoro, todas assim.
P/1 — Você amou as pessoas.
R — Ah, amei, amei mesmo. É tão gostoso assim, você pega cada experiência de vida, né? Ainda mais esses caras assim como Renato Teixeira, que é um cara que tem uma experiência de vida maravilhosa. O cara é um gênio, né?
P/1 — O que te chamou a atenção?
R — Ah, a simplicidade dele, o fato dele ser um cara simples. Um cara que assim, para compor “Romaria”, não precisava fazer mais nada mesmo, né? Só “Romaria” já vale por toda obra dele. Então, cada entrevistado tem sua peculiaridade, a sua característica e vale por você conhecer as pessoas, assim, a experiência de vida de cada um, né? É muito gostoso.
P/1 — E do que você escreveu, você lembra de alguma coisa, que você gostou muito, que deu efeito?
R — É, eu estava falando com as meninas aqui, sabe que, além de vocês, tem a CBN, né, que faz aquele Conte a Sua História, e tem também o SPTuris que tem um site chamado São Paulo Minha Cidade, você conhece?
P/1 — Sim.
R — Então, já escrevi vários textos pra lá, inclusive em março de 2008, o ano retrasado, eles lançaram um livro e foi uma festa lá na Sala São Paulo. E foi demais, sensacional. E dois textos meus estão neste livro. Eles estão prometendo agora para 2010, uma segunda edição com novas histórias, né, e eu fiz uma crônica sobre o Centro degradado de São Paulo, infelizmente, né? E acho que ficou bem legal. Começa assim: “Alguma coisa acontece no meu coração, difícil não lembrar da música do Caetano quando a gente para naquela esquina ali, da São João com a Ipiranga”. Foi um texto bem legal que eu fiz e que está no site.
P/1 — Estou vendo aí pela sua camiseta, que você adora São Paulo.
R — É. Não só pelo fato de ter nascido aqui, porque a gente tem que ter orgulho do lugar de onde veio, né? Como eu falei para elas: “Se eu tivesse nascido no interior lá do Pernambuco, no Agreste nordestino, eu teria orgulho de ser pernambucano.” Eu teria orgulho de ser baiano, de ser, sei lá, norueguês, polonês, onde quer que fosse. Eu tive a felicidade de nascer aqui, então, eu adoro. Porque é aquela coisa, a cidade que abraça todo mundo, essa diversidade, essa pluralidade que São Paulo é, de poder abraçar e de toda essa combinação, esse mix de culturas, poder ser uma só. Eu adoro e não quero sair daqui tão cedo. Só quando eu morrer, né? (risos)
P/1 — Hoje, como é que você aproveita São Paulo? Como que você usufrui?
R — Vou muito ao cinema. Adoro ir no HSBC, adoro ir nos cinemas da Augusta, no Unibanco, os cinemas da Augusta são legais. E agora, até o Marabá reabriu, né, faz um tempinho, né? Porque ali no Centro, todos os cinemas estavam fechados, né? Eu adorava ir no Arouche que era um cinema delicioso, exibia uns filmes cults, eu fui muito com a minha esposa, até meio dos anos 90, a gente foi ainda, né? Depois passou a exibir filme erótico e depois fechou. Eu adorava ir no Ipiranga, no Comodoro, nos cinemas ali da Rio Branco. Nossa, eu sou cinéfilo. Adoro cinema então, eu ia bastante. Fiquei feliz com a volta do Marabá, né? Tomara que isso aconteça com as outras salas ali também. Então, vou muito no Museu da Língua Portuguesa também, que eu gosto. Na Pinacoteca, MASP, Centro Cultural São Paulo, (risos) também, Centro Cultural Banco do Brasil que é muito legal, e as unidades do SESC, né? Tem tanta coisa, né? Tem tanta coisa legal que vale a pena você usufruir, que você pode aproveitar. Eu sempre que posso, estou indo, né, e levo minha filha também. Quero dar pra minha filha uma bagagem cultural bem interessante também. Time? 40 anos em duas horas, será que é fácil? (risos)
(Troca de fita)
P/1 — Você estava dizendo enquanto estava desligado que você cantava né, trash metal?
R — É, nossa, eu toquei em bandas assim, de vários estilos, né? Quando eu toquei na Rui Barbosa, tocava sertanejo, axé, bastante, né, foi na época da lambada, e paralelamente a gente conhecia outras pessoas de outros estilos e tinha até algumas vezes que faltava o vocalista, tinha que fazer às vezes de vocalista, né? Então, eu cantava com aquela voz, “rrhooouuuu”...
P/1 — Então, em quem que você se inspirava? A gente ficou com essa pergunta...
R — Ah, nessa época tinha o Metallica, né? O próprio Sepultura também que canta com aquela voz gutural, “rrhooouuuu”, parecendo um urso bravo (risos), só que, felizmente, eu parei de cantar. Porque senão poderia me dar um problema nas cordas vocais, porque, pode parecer que não, mas esse tipo de voz, você tem que ter técnica também, não é só berrar. Aconteceu com um amigo meu, o cara tinha uma banda lá na Penha, Vila Matilde, e a banda do cara, assim, inspirada em Slayer, Metallica, Sepultura, e o cara tinha que fazer esse vocal forte, né, chamava Alan. Aí, a gente trocava muitas ideias, um emprestava instrumento para o outro, emprestava amplificador, então, era aquela coisa assim, de irmão, né, e esse cara tinha essa banda de trash e cantava assim, sem técnica nenhuma, só berrando, berrando, berrando, aí, eu fiquei um tempo sem vê-lo, depois de um tempo que eu vi, “e aí, como está? E a banda o que deu lá?” “oh cara, tive que parar de cantar porque começou me dar um nódulo nas cordas vocais, quase que eu perco a voz”. Mesmo esse vocal trash, metal, o cara precisa ter uma técnica. Não é só botar a voz lá pra berrar, porque senão complica as cordas vocais. O cara parou de cantar porque estava dando problemas nas cordas vocais dele, apareceu calo nas cordas vocais. Aí, eu parei também.
P/1 — Você estava indo para o mesmo caminho...
R — Estava indo para o mesmo caminho e falei: “ah, então deixa, antes que eu me complique aqui”, né, e danificar os ouvidos alheios, né, então, era melhor eu parar. Mas assim, eu acho que eu sou um razoável cantor. Sou bom baixista, agora, cantor, eu sou razoável.
P/1 — E você prefere que estilo, parece que passou por todas?
R — É, nessa época aí que eu te falei, dos anos 80 que era o boom do rock nacional, então, a gente absorvia muito rock nacional, né, Ultraje a Rigor, Rádio Táxi, Blitz, Legião Urbana, essas bandas todas e também muita coisa que vinha de fora. Então, eu gostava de Sepultura, AC/DC, que eu adoro, amo, amo, amo, o show foi muito bom. Nossa.
P/1 — Você foi no show?
R — Fui, nossa. Berrei, fiquei o sábado inteiro sem voz. Foi na sexta à noite, no sábado eu estava sem garganta de tanto que eu berrei lá. Então, eu gostava muito de Metallica, Iron Maiden, AC/DC, Ozzy, Black Sabbath, Led Zeppelin e por aí vai. Então, absorvia muita coisa, tanto do que estava rolando aqui, do que estava rolando lá fora. Então, tocava numa banda que fazia rock nacional e tocava na Rui Barbosa, fazendo um pouquinho de tudo. Então, atirava mãe pra tudo quanto é lado, né?
P/1 — Você falou de sertanejo também.
R — Sertanejo também.
P/1 — Quem você tocava?
R — Ah, eu tocava Leandro e Leonardo, os medalhões, né? Chitãozinho e Xororó, se bem que tem duplas caipiras que eu acho sensacionais, como aquela dupla Pena Branca e Xavantinho, nossa, acho sensacional. Morreu um deles, acho que o Xavantinho. Então, essa dupla eu acho sensacional. Dupla raiz mesmo, né? Não o que chamam de “sertanojo” aí, né? (risos). O sertanejo raiz eu acho sensacional, porque o meu pai ouvia muito também, né? Meu pai ouvia muito, ele tinha os vinis, né, de Zilo e Zalo, Zico e Zeca, Tonico e Tinoco, então ele ouvia muito em casa. E, assim, não que eu morra de paixão pela música caipira, mas eu respeito. Acho muito legal porque é raiz, né? É a tradição mesmo.
P/1 — Então esse gosto pela música também vem de casa, desde a infância, da família mesmo, né?
R — Vem. A gente sempre ouviu muita música em casa. Meu pai com o sertanejo, minha mãe adora forró, eu acho que vem dela mesmo, né, adora dançar um forrózinho, né, e aí, a minha geração, já é mais rock´n roll mesmo, né? Se bem que nessa época aí, anos 80, eu só ouvia rock´n roll mesmo, hoje não, já sou mais eclético. Se você for na minha casa, você encontra lá rock, mas encontra também, uma MPB, um world music, um jazz, encontra uns discos variados, tem um disco que eu adoro, adoro, que chama Indian Mystic?. Uma coisa assim, que, o que foi feito? Pegaram os ritos e as canções de índios norte-americanos e deram um arranjo eletrônico. Ficou maravilhoso. Eu adoro aquele disco. Hoje eu estou bem mais eclético do que 20 anos atrás. (risos)
P/1 — Você tem disco em vinil ainda?
R — Tenho. Vivo brigando com a minha esposa, porque ela fala assim: “pô, pra que você fica com esses trambolhos aí em casa? Fica guardando isso aqui.” Aí, eu cheguei a ter, nos anos 80, uns 500 discos de vinil, aí, veio CD, mp3, essas coisas todas e você vai se desfazendo. O que é um pecado, né? Aí eu cheguei a reduzir para 120, aí, a minha esposa assim: “pô, está demais ainda. Está muito disco ainda”, porque 100 discos de vinil, é mais ou menos “isso aqui”, né? Acho que até um pouco mais, então, aonde é que você vai guardar isso aqui na sua casa, ainda mais num apartamento que é pequenininho, não tem espaço, né? Aí, ela falou: “Vai reduzindo isso aí mais ainda”. Aí o que eu fiz? Lá no condomínio eu tenho um amigo meu que é bem camarada, ele também gosta de rock progressivo, de música, aí, eu cheguei pra ele e falei: “ôh Silva, quebra um galho aí pra mim vai, eu estou brigando com a mulher aqui que está meio assim, ou os discos, ou eu. Então, guarda esses discos aqui pra mim durante um tempo na sua casa e depois eu dou um jeito, né?” Aí, levei os discos lá pra casa dele e ele falou: “Não, tudo bem, deixa comigo que eu guardo pra você na boa”. Aí, os discos ficaram lá um tempão, acho que bem uns seis, sete meses, né, aí, um belo dia o Silva me liga: “ôh, Nelsão, não dá pra você pegar os discos não, é que a Beth (a mulher dele, né), está assim, ou os discos ou eu” (risos). Falei: “poxa, e agora?” Aí, eu fui lá na casa do cara, peguei todos os discos, né, levei para casa e falei: “poxa, e agora? O que eu vou fazer com esses discos de novo? Eu não quero me desfazer deles, mas também não dá pra deixar aqui.” Aí, eu fiz uma outra seleção, aquele 120 eu reduzi para 30, que estão em casa. Aqueles lá eu não empresto, não vendo, não dou e os outros eu levei para o Centro Cultural, estão lá no armário no Centro Cultural. E aqueles 30 que estão em casa se a mulher falar os discos ou eu, aí, eu vou pensar. (risos). Já reduzi, né? De 500 para 30, está bom né?
P/1 — Mas você ainda tem vitrola? Você ainda ouve?
R — Ouço na casa da minha mãe. Minha mãe tem lá o toca-discos, eu não tenho toca-discos em casa, embora dá vontade de comprar um toca-discos, né? Aí, o que eu estou fazendo? Um amigo meu do Centro Cultural está digitalizando pra mim. Eu levo um pouquinho lá pra ele, ele digitaliza e passa para o CD. Mas, mesmo assim, o vinil eu não me desfaço dele, porque o vinil é uma coisa maravilhosa, é um clássico, você tem ali uma capa bonita de disco, você tem um quadro, né? Eu acho muito legal. Então, eu cheguei em 30 discos ali, que, aqueles ali, não dá pra reduzir mais. E CD a gente tem bastante, né? Tenho um pouquinho também. Então, não me desfaço dos discos.
P/1 — Você tem mais alguma coisa que você coleciona, que você gosta?
R — O que eu tenho bastante em casa é DVD. Tenho muito DVD.
P/1 — Ah, que você gosta de filme também. Que estilo de filme você gosta?
R — O filme sendo bom, pode ser Western, pode ser ficção, agora recentemente, no final de semana, eu assisti “Johnny Guitar” que é um faroeste com a Joan Crawford, de 53. Um clássico, né? Aí, um cara gravou para mim, um clássico da ficção científica que é “Tarântula”, que é de 55. É uma doideira lá que a aranhinha, vira um monstro gigante e começa a aterrorizar a cidade. É muito legal. Eu estava atrás deste filme há, pelo menos, uns 15 anos. Procurei no Youtube, né, procurei nesses sites, não achei, aí, encontrei um cara lá no Rio que ele grava, aí ele gravou pra mim. Aí, assim, o filme sendo bom pode ser ficção, pode ser Western, romântico, se bem que tem uns filmes por aí que não dá pra assistir não, pelo menos dessas sagas de vampiro aí, eu não estou conseguindo assistir nenhum. Minha filha adora, mas eu... (risos), eu não estou com saco pra assistir não. Nem “Crepúsculo”, eu assisti e achei fraquíssimo o filme, muito ruim, então, não tenho vontade para assistir os outros não. Estão falando muito de “Avatar” também, eu não fui assistir ainda, mas te juro que não estou com vontade de assistir não. Até morreu um cara na Indonésia, né? Dizem que o cara morreu em virtude do filme.
P/1 — Por quê?
R — Porque ele assistiu o filme e dizem que algumas pessoas estão tendo dor de cabeça, porque é em 3D, então, muitos efeitos visuais, muito isso, muito aquilo e esse cara na Indonésia, teria sofrido um derrame em virtude da excitação dos efeitos visuais do filme. Bom, vai ser apurado ainda, né? Não pode culpar o James Cameron assim, né, matou o cara. Enfim, filmes eu tenho bastante coisa, tenho “Um Estranho no Ninho”, que é um filme que eu gosto bastante, com o Jack Nicholson que é um clássico. Tenho... nossa, tenho tanto coisa, show em DVD, tenho vários. Kiss, AC/DC, ZZ Top, que eu gosto bastante, adquiri agora há pouco tempo, um documentário sobre o Les Paul, que é o pai da guitarra, né, Les Paul é o inventor da guitarra elétrica. Ele morreu o ano passado com 94 anos. Então, é um documentário assim, que eu estou amando. Todo mundo tem que reverenciar o cara, porque é o pai da guitarra elétrica. Então, tem muita coisa, muita coisa.
P/1 — Nelson, você é casado, né?
R — Sim.
P/1 — Quando você casou, quem é a sua esposa, onde você conheceu, como foi?
R — Minha esposa é Marisa Nunes. Nós nos conhecemos no Centro Cultural mesmo. Ele é funcionária da Prefeitura também, na Secretária da Cultura. Ela trabalhava na Casa das Retortas, ali no Centro, é ali, em frente ao Palácio das Indústrias. A Casa das Retortas é uma espécie... vão transformar em Museu da Televisão agora e estão dizendo que a Ida Alves vai ser a diretora, uma coisa assim. Está um bochicho assim. Então, ela trabalhava lá, era uma casa de consulta de um acervo cultural imenso, né? E esse acervo foi todo transferido para o Centro Cultural São Paulo no comecinho de 1992, por aí. Foi na época que eu entrei na Prefeitura. Então, eu entrei na Prefeitura e aí o acervo da Casa das Retortas foi transferido para o Centro Cultural que virou arquivo multimeios, então, nós nos conhecemos ali.
P/1 — Você lembra desse dia?
R — Ah (risos). Foi engraçado demais.
P/1 — Então conta.
R — A Prefeitura tinha naquela época, os Ônibus Biblioteca, sabe? Que é assim: ônibus mesmo e que dentro carregava assim, prateleiras, né, com vários livros e esses ônibus circulavam a periferia de São Paulo. Então, nós fomos convocados, eu e ela, eu não a conhecia, para trabalhar no Ônibus Biblioteca que iria fazer um plantão lá em São Miguel. Aí, assim: “Oi, tudo bem? Nelson, Marisa, tudo bem? Ah, vamos trabalhar juntos hoje, né? Tranquilo, então tá.” Aí, na hora do almoço: “E aí, vamos comer o quê?” “Ah, vamos comer um pastel e tomar um caldo de cana”. Bem romântico, né? (risos).
P/1 — Bem São Paulo (risos).
R — Bem romântico, né, comer pastel e tomar caldo de cana numa barraquinha perto ali de onde a gente estava. Aí, conversa vai, conversa vem, falei: “Ah, vamos sair?” “Ah, talvez”. Aí, o nosso primeiro passeio junto, o nosso encontro, foi no show dos Guns N’ Roses, lá no Anhembi, onde rolou o show dos Guns, mas o bom Guns, né? O Guns legal.
P/1 — Por que, tem o não legal?
R — Ah, esse que está agora aí, (risos), dispensa comentários, né? Então, o Guns N’ Roses veio fazer um show lá no Anhembi, no estacionamento do Anhembi, e foi o nosso primeiro encontro assim. A gente saiu, choveu pra caramba aquela noite, nossa, como choveu. Choveu demais, demais e aquela empolgação do show, você nem liga pra chuva, né? Vamos que vamos. Aí, fui pra casa dela, mas não tivemos nada, ela ficou num quarto e eu fiquei no outro, (risos), e depois assim, a gente ficou algumas semanas juntos, aí separamos e entre idas e vindas, foram uns dois anos até que em 1996, a gente falou: “Vamos morar juntos?”, a gente não é casado em igreja, né, “você está afim?”, “Ué, estou. A gente se gosta, a gente se completa, você sabe do que eu gosto, eu sei do que você gosta, eu sei do que você não gosta, você sabe do que eu não gosto, então, acho que dá um caldo, né?”. Aí, nós passamos a morar juntos com os meus pais, mas não na mesma casa. Porque lá na minha mãe é assim: é um sobrado em que ela mora em cima com o meu pai e meu irmão mais novo e embaixo tem uma casa vazia e nessa casa debaixo, já moraram, nossa. O meu avô já morou lá, meus tios, minha irmã quando casou morou lá, já foi alugado várias vezes, então, muita gente já morou ali naquela parte debaixo da casa. Aí, como estava vazio, né, isso em junho de 1996, a gente resolveu juntar os trapos e estamos juntos até hoje. 13 anos, já. E a nossa viagem de lua de mel, até mostrei para as meninas, né, foi para Nova York, na época que estava bom, né? O real valia bem mais que o dólar, então, estava todo mundo viajando para fora, a gente fez as contas lá, não tinha a minha filha ainda, né, eu falei: “E aí, vamos viajar?” “Ah, só se for agora” Aí, fizemos as contas lá, tiramos o visto, o passaporte, tudo mais e ficamos 23 dias nos Estados Unidos.
P/1 — E como foi?
R — Nós começamos em Kissimmee, fomos para Orlando, Miami, tudo isso na Flórida. Um amigo nosso que mora lá há muitos anos, nos recebeu e fomos para Pompano Beach que é uma cidade litorânea da Flórida também e, de lá, nós fomos passar uns dias em Nova York. Aí, foram 23 dias assim, sensacionais. Também depois, não viajamos mais também, né? (risos). Que aí, complicou.
P/1 — E o que vocês viram, o que vocês fizeram?
R — Ah, fizemos o roteiro turistão mesmo, né? Em Miami, a gente ficava no centrinho de Miami ali, fomos no Museu de Arte de Miami, que é o MAM, né, Miami Art Museum, então a gente até brinca, né? “Ôh, o MAM está aqui, o Museu de Arte Moderna?” A gente brincava assim, né? A gente ia muito em barzinhos ali no centro de Miami, Kissimmee que é uma cidade gostosinha também, a gente ficou num Albergue da Juventude, um albergue de beira de estrada, né. Então, você saía assim e via aqueles caminhões monstruosos que você vê em filme, passando na estrada. Bem legal. Parece que você está dentro de um filme. Nova York parece que você está dentro de um filme, muito legal. De repente você vê um carro de bombeiro passando, parece que você está dentro de um cenário de filme. Muito legal. Os americanos fazem muitas coisas erradas, mas eles são organizados. Isso, não dá pra negar. E aí, passamos lá 23 dias, voltamos, tocando a vida e em 1998, nasceu minha filhinha. Letícia.
P/1 — Letícia?
R — É. Alegria. A gente já sabia, antes de saber o sexo a gente ficava: “ah, se for menino, vai chamar João Vitor, se for menina, vai ser Letícia”. Quando confirmou que era menina mesmo, então, Letícia. Letícia Nunes de Lima. Hoje está com 11 anos.
P/1 — E como é ser pai?
R — Maravilhoso. Você sabe que agora sua vida mudou, né? Mudou, porque alguém depende de você, não é apenas você. Você tem alguém ali que depende de você para tudo, para educar, para alimentar, para orientar, para ensinar o que é a vida, né? Então, eu adoro. O que eu sinto por ela assim, foge... não tem palavras. É um sentimento tão gostoso. Porque você sabe que ali é uma parte sua, é uma continuação sua que está ali, então, a gente se desdobra por ela. Filha única, né? Então a gente faz tudo, procura não mimar demais, mas acho que não tem jeito, acaba mimando mesmo, então a gente faz tudo por ela. Agora, ela está fazendo bateria, olha que legal.
P/1 — Fazendo o quê?
R — Bateria. Tocando bateria. Comprei uma bateria pra ela no final do ano, porque ela queria, né? Ela já está fazendo curso de bateria há um seis meses, mais ou menos. Aí, assim, “Eu quero bateria, eu quero bateria”. Eu falei: “Tá, eu vou te dar uma bateria, mas espero um pouquinho, né?” Aí, comprei a bateria no final do ano e ela está se dando super bem. Eu até falei pra ela, né? “Nós vamos montar uma banda então. Eu você e a sua avó”. Porque a minha mãe está com um teclado em casa agora, ganhou um teclado da namorada do meu irmão, né, um teclado Yamaha que é um tremendo de um teclado, falei, “bom, então nós vamos fazer uma banda, né? Vamos fazer a Família Lima”, que nós somos Lima, né? Nelson de Souza Lima, minha mãe, Josefa Maria da Conceição Lima, e a minha filha, Letícia Nunes Lima, falei: “então, vai ser a verdadeira Família Lima ou a segunda Família Lima, né? (risos). Então, ser pai é maravilhoso.
P/1 — Você lembra de alguma passagem que te marcou?
R — É uma passagem meio triste, meio triste não, bem triste, porque em 2008 ela teve uma pneumonia violentíssima, ela ficou internada durante duas semanas, foi lá no Hospital São Luiz. Abriu uma unidade do São Luiz, ali no Tatuapé, então, hospital, assim, de primeiro mundo, ela foi super bem atendida, super bem tratada, né, passou duas semanas muito ruins. A gente sofreu junto, a família sofreu junto, a minha esposa passou mal, teve que ser internada também, a gente recebeu apoio de muitos amigos, vizinhos, parentes, todo mundo dando uma força pra gente. Ela passou duas semanas lá, se tratando, mas se recuperou. Aí, a gente toma todo cuidado com ela e ela recebeu um atendimento assim, fenomenal. Os médicos orientaram, tivemos atendimento de psicólogos, lá a estrutura do hospital é de primeiro mundo, ela foi bem atendida e felizmente está bem, graças a Deus. Essa é uma passagem negativa. Agora uma passagem positiva, foi quando ela tinha... nossa, acho que ela estava aprendendo a falar ainda, aí, eu peguei ela assim, “papai te ama, papai te ama, papai te ama”, aí ela assim: “Eu também te amo papai”. Isso, assim, ela nem falava direito, estava aprendendo a falar. Naquela hora ali, eu chorei. Chorei de emoção, porque é muito gostoso. A gente não segura e chora. (risos). É muito bom. Então, a gente faz tudo por ela, né? Agora, eu quero que ela aprenda a tocar, pra gente tocar juntos ainda.
P/1 — O que você está mostrando de música pra ela?
R — Ah, ela gosta de rock. Gosta. Ah, ela foi com a gente no show do AC/DC. Foi e adorou. Então, é o que eu falo pra ela, os nossos pais, tanto os da minha esposa, quanto os meus pais, são pessoas humildes. Não tiveram assim, uma instrução. Eu agradeço os meus pais pela educação que eles me deram, eu agradeço mesmo, porque, eu sou o que sou, graças a eles. Mas assim, eles não me deram uma bagagem cultural. A minha mãe está estudando agora, pra você ter uma ideia. A minha mãe voltou a estudar agora, fazendo o primário com 60 anos. Então, eles não nos deram assim, uma bagagem cultural boa, né, nos deram lição de vida e coisa e tal, mas não nos deram uma bagagem cultural boa. Então, o que eu estou fazendo? Tudo aquilo que eu assimilo, que eu tenho, eu quero passar para a minha filha. Então, eu separo lá, os bons discos, eu quero que ela ouça boa música, eu quero que ela leia os bons livros, eu quero que ela assista os bons filmes, porque tudo isso vai prepará-la para vida para ser uma pessoa com boa formação e também, encarar uma faculdade legal, porque tudo isso influi também no desempenho para encarar uma faculdade amanhã, um concurso público. Então, eu falo assim pra ela: “Vem cá, vem cá, vem cá, olha esse livro aqui, óh. Você não quer ler esse livro ainda, tipo, “1984”, do George Orwell.” Eu tenho esse livro lá em casa eu quero que ela leia, nossa, eu tenho “Sidarta”, do Hermann Hesse, então, esses livros eu estou guardando para ela, para numa hora que ela precisar ler, para uma faculdade, para ela mesma, né, para ela ter essa bagagem, essa cultura de vida. Eu chego com disco novo em casa lá, “Ah, vem cá, vem cá, vem cá, vem ouvir essa, cara. Escuta esse baterista, olha como ele é bom. Está ouvindo? Escuta esse baterista”, tudo isso pra ela somar pra vida dela, né? Acho que é isso e acho que está indo bem. (risos). Meio rebelde, mas acho que é da idade mesmo, né?
P/1 — O que ela faz de rebeldia?
R — Ah, por exemplo, eu não suporto que ela fique horas e horas na internet, né? Fica horas e horas, está na internet, está com os coleguinhas no MSN e conversando com outros no Skype. Então, fica aquela loucura e fica, assim, horas e horas. Eu vou trabalhar, aí pego ela na escola meio-dia, dou almoço pra ela e vou trabalhar, ela está na internet. Quando eu volto pra casa ela está na internet ainda. Poxa, um absurdo, né? Internet é uma coisa maravilhosa, que veio para somar, um grande veículo de comunicação, mas a pessoa também não pode ficar refém da internet, né? Então, aí eu falo: “Desliga esse computador, desliga esse computador, desliga esse computador”. Quando ela não me ouve, eu já parto para ignorância mesmo. Aí, brigo, tiro o computador da tomada, desligo e falo assim: “A Internet é um maravilha, você vai precisar para a sua formação de vida, mas não se torne refém do computador, da internet. Procure outras coisas”. Aí, eu falo dos livros que eu estou separando para ela, que eu quero que ela leia, dos discos que eu quero que ela ouça, de tudo isso. Às vezes, a gente briga por causa disso, mas consegue contornar, né? Acho que o amor supera tudo, né? (risos).
P/1 — E São Paulo? O que vocês exploram de São Paulo juntos?
R — Ah, nós já fomos umas duas ou três vezes na Galeria do Rock, que ela adora ir. Toda vez que a gente vai lá, ela quer uma camiseta nova, quer um botton novo, quer um disco assim, que de repente eu não tenho ainda e ela queira, então, a gente vai muito na Galeria. Agora, cinema também, a gente vai demais. Esse filmes de animação aí, a gente assistiu praticamente todos. “Carros”, “Incríveis”, “Ratatoullie”, a gente já assistiu todos. Sempre que sai um assim eu falo: “Você quer assistir?”, ela fala, “eu quero”, então, a gente vai. Acho que o próximo agora é o “Alvin e os Esquilos 2”, a gente deve assistir essa semana agora. Vamos ver. É aquela coisa, né, preparando ela para o futuro. Que eu falo pra ela sempre, a gente não vai estar aqui pra sempre, um dia você vai ter que andar com suas próprias pernas, né? E a gente percebe assim que já entre elas, bom, eu acho que a vida é uma eterna competição. Não só na vida profissional, como em tudo, né? Então assim, entre elas ali, a turminha dela, há uma competição: uma quer ser melhor que a outra, uma quer ser mais bonita que a outra, uma quer isso, uma quer aquilo, falei, “bom, se é assim, quero que você seja melhor profissionalmente”. Ela ainda não escolheu, outro dia estava dizendo que queria fazer moda. Falei, “Maravilha, se você quer fazer moda, então nós vamos batalhar a faculdade de moda pra você”. Mas aí, já começou mudar o discurso já. (risos). Está meio assim: “Ah, eu não sei o que eu quero fazer da vida”. Falei, “bom”. Ela tem o seu tempo ainda, né?
P/1 — Tem, bastante tempo. (risos). Então, e aí, qual é o futuro? Qual o seu sonho?
R — Puxa vida. Como jornalista, como pessoa?
P/1 — Como você quiser.
R — Como pessoa, como cidadão, como pai, é dar o melhor futuro para minha filha. Estar sempre ali, ao lado dela, apoiá-la no que ela decidir fazer, orientá-la para que ela tenha um futuro feliz, profissionalmente, emocionalmente, que siga uma direção legal na vida, que tenha uma boa diretriz, que tenha bons padrões, valores morais, padrões de ética, que seja uma pessoa de bem. E como jornalista, ainda quero escrever um livro, se tudo correr bem.
P/1 — Um Livro? Que livro?
R — Ah, puxa vida, eu estava com uns projetos aí, mas, infelizmente, não deram certo. Eu comecei escrever uma ficção sobre o Exército Republicano Irlandês, o IRA, né, que, olha só que doideira, eu tive um sonho um tempo atrás, acho que de tanto assistir filme de ação, de uma cara que ele era militante do IRA, brigando pela libertação da Irlanda, separação do Reino Unido, né, e o pai dele era inglês, súdito da Rainha, favorável a permanência da Irlanda como parte do Reino Unido, então, surgia esse embate entre pai e filho. Aí, comecei colocar isso no papel, fui escrevendo, fui escrevendo, fui escrevendo, cheguei a fazer acho que uns quatro ou cinco capítulos, e perdi esse material. Meu computador deu pane, e eu não consegui salvar. (risos).
P/1 — Ai, que pena.
R — Perdi todo esse material todinho assim, fiz uns quatro, cinco capítulos, bem legais mesmo. Fiz uma pesquisa minuciosa sobre o IRA, quando surgiu o IRA, o porquê dos atentados, o interesse de separar do Reino Unido, protestantes cristãos, fiz um tremendo trabalho de pesquisa, botei no papel, criei personagens com características físicas, com características pessoais, né, de caráter, ficou super legal... e perdi esse material. (risos). Uma pena. (risos). Perdi. Agora eu estou tentando rememorar, buscar tudo pra ver se eu dou continuidade. Eu até ia participar de um concurso literário, fazendo um conto de ficção científica, só que, aí, não deu tempo de terminar, o concurso expirou e eu não acabei. Mas ainda quero terminar. Mas também, fazer um conto de ficção científica, é uma coisa que envolve muitos termos técnicos, né, até pedi ajuda para um amigo meu, que ele falou assim: “É, vamos ver se dá”. Porque eu tenho um amigo que mora ali no Tatuapé, que ele faz radionovelas. Ele é fã de radionovela, e ele fez uma radionovela de ficção científica e acho que ele vai colocar na internet. Apresentou para algumas rádios, mas não tem rádio que faça mais radionovela hoje em dia, né? Pelo menos, eu não conheço. Nossa Senhora. Se tem aqui em São Paulo, eu não conheço. Aí, acho que ele chegou a apresentar alguma coisa na USP e acho que vai colocar o conteúdo todo na internet. Aí eu pedi ajuda pra ele, ele falou: “Ah, se der tempo eu te ajudo para fazer essa sua história, aí”. Então, está meio engavetada lá, esperando também dar continuidade. Então, assim, é uma coisa que eu quero fazer. Se tudo correr bem...
P/1 — Então, você é um jornalista que gosta de ficção?
R — Gosto. Adoro “Star Wars”, “Jornada nas Estrelas”, “Flash Gordon”, gosto muito. Ficção Científica, é como eu falei: o filme sendo bom, o enredo sendo bom, eu gosto. Não importa o que seja. Esses dias até, eu estava em frente da televisão e comecei assistir um filme com Heath Ledger, o Batman, o Coringa, né, que morreu, eu acho que foi um dos primeiros filmes dele. Uma comédia romântica, assim, chama “Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você”, bem legalzinho esse filme. Eu estava lá, despretensioso, né, sem fazer nada em casa, aí, comecei a assistir o filme, eu achei tão legal (risos), achei bacaninha, sabe aquela coisa de comédia romântica de adolescente, sabe? Bem legal. Se o enredo é bacana, bem dirigido, o resultado deve ser bom. Então, eu gosto de filme bem feito.
P/1 — Então, o seu sonho é escrever um livro, como jornalista?
R — Espero que role ainda. É, estamos no embrião, né? Vamos ver se a gente conseguir, até patrocínio, né, também tudo isso influi, né, é um objetivo meu ainda.
P/1 — Você gostaria de falar mais alguma coisa que não falou?
R — Bom, o que eu posso dizer é que eu adorei participar (risos). Espero ter contribuído com vocês, que vocês tenham gostado também, que vocês tenham me amado, né? (risos). Foi um prazer participar.
P/1 — Por que você gostou? O que aconteceu com você durante esse tempo aqui?
R — Ah, o trabalho que vocês fazem é maravilhoso. A Isabela estava me mostrando o livro que vocês publicaram com depoimentos de outras pessoas, é tão rico. Porque todo mundo tem uma história.
P/1 — Mas com você, o que aconteceu? Você foi falando, o que estava acontecendo aí dentro de você?
R — Ah, assim, de poder me abrir. Como eu falei, eu acho que eu sou um bom entrevistador, entrevistado eu não sei se sou tão bom assim. Então, você poder rememorar, fazer assim, um flashback, quadro a quadro da sua vida, né, mostrando essa trajetória, assim, de 40 e poucos anos, em alguns minutos, é tão gostoso. Espero não ter sido maçante pra ninguém. (risos). E quem um dia ouvir, também não ache maçante. Eu me senti super bem. Gostei mesmo. É isso.
P/1 — Então, obrigada por ter cedido essa história para o Museu da Pessoa. A gente vai continuar, vai te dar a gravação desse momento, e ver uma forma depois de colocar até na internet, de divulgar essa história para que outros possam também te ouvir.
R — Ah sim Se eu, de alguma forma, contribuí para o enriquecimento de alguém, para o crescimento de alguém, pra mim vai ser um prazer.
P/1 — Muito obrigada.
R — Obrigado.
(PARTE 2)
P/1 — Escolhe uma para ler aqui.
R — Eu falei pra Marisa, né, “qual você acha que é legal pra gente divulgar lá?” Ela falou: “Ah, fala aquele que é do passeio no Tietê”, que o ano passado a gente fez um passeio no Tietê. O Instituto Navega São Paulo, eles têm um projeto, que é uma ONG também, né, que eles querem tornar o Tietê, nesse trecho aqui passando por São Paulo, navegável. Tanto em transporte de passageiros, quanto em transporte de carga mesmo, que o transporte fluvial não existe, né, só fora de São Paulo, aqui dentro mesmo é impossível, porque, infelizmente o rio é quase que esgoto a céu aberto. Então, eles têm esse objetivo de transformar o rio. Despoluir o rio, quem sabe um dia, e torná-lo navegável. Então eu fiz uma historinha que está no site lá, do São Paulo, minha Cidade.
P/1 — Então, por favor, leia para a gente.
R — O título é: “Navegar no Tietê é preciso.” Cheguei em casa depois do trabalho e fui logo falando para a minha esposa: “Marisa, você ganhou um passeio de navio como presente de aniversário”. Ela não entendeu nada e fez cara de interrogação. “Como assim, um passeio de navio? Só se for no Rio Sena”. “Não é exatamente no Rio Sena, mas tenho certeza que você vai gostar”. Respirei fundo e disparei: “Nós vamos navegar no Rio Tietê”. Ela arregalou os olhos e falou: “Você só pode estar louco. Imagina que eu vou entrar num barco para navegar no meio da sujeira”. Ela falou querendo encerrar o assunto. Mas eu persisti e expliquei do que se tratava. “O Instituto Navega São Paulo, em parceria com o Banco Itaú, e a Secretaria Municipal da Educação criou um projeto que visa conscientizar os cidadãos da importância de tornar o Rio Tietê navegável e que, em breve, ele pode se tornar um meio de transporte tanto de cargas, quanto de passageiros. Outro objetivo é educar as futuras gerações de que o rio pode voltar a ter beleza de outrora, quando recebia várias competições de natação. É triste imaginar que até os anos 40, o Tietê não era poluído e que suas águas eram o habitat de várias espécies de peixe. Infelizmente com o tempo e o crescimento desenfreado da cidade o Tietê se transformou num depósito de lixo e esgoto a céu aberto. Nos últimos anos, preocupados com as frequentes enchentes, os Governos Estadual e Municipal de São Paulo fizeram uma verdadeira recuperação do rio. Seu leito, ou calha, como preferem os especialistas, era totalmente irregular e com as chuvas transbordava facilmente, inundando as marginais. Os trabalhos realizados foram de uma precisão extraordinária. Hoje a calha tem uma profundidade de três metros, mas que permitiu que nosso passeio fosse realizado com segurança. Como se sabe, o rio serve de lixeira, muitas pessoas não se preocupam com o que pode acarretar o acúmulo de material orgânico ou inorgânico em suas águas. Para se ter uma ideia, dois dias antes do nosso passeio, tinha chovido muito, e isso fez com que centenas de garrafas pets se acumulassem nas margens próximas a ponte Júlio de Mesquita Neto, que foi o nosso ponto de partida. E, falando nisso, um dos destaques do projeto, eram as gigantescas garrafas pet, expostas nas margens do rio, criadas pelo artista plástico Eduardo Srur, que, feitas de vinil, as mais de 20 garrafas, segundo me informaram, foram recicladas depois do fim da exposição. É interessante, que essas garrafas foram transformadas em cobertores e vassouras, aliás, foram distribuídos aos passageiros livretos explicativos falando da importância de reciclar as garrafas pet. Com duas é possível fazer uma camiseta e com quatro, se confecciona uma calça. Nós fomos muito bem atendidos, a tripulação do nosso navio, o almirante do lago, nos deu muitas explicações e o presidente do Instituto Navega São Paulo, João Nerish, fez uma palestra falando das parcerias, eventos culturais e projetos que ainda serão realizados. Foi um passeio incrível, o percurso durou um pouco mais de uma hora. Eu, a minha esposa Marisa e a minha filha Letícia nos divertimos bastante e tiramos muitas fotos. Foi um passeio inesquecível e, assim que possível, vou repetir a experiência porque navegar no Tietê é possível e é preciso” (risos).
R — “Viagem ao Centro da Terra da Garoa.” O Centro de São Paulo já foi tema de incontáveis crônicas em jornais, revistas, rádios e sites. Aclamado em belíssimos versos, a região central é um misto de glamour e desilusão. Aquela que já foi uma das mais nobres regiões da capital paulista, hoje agoniza com o descaso dos nossos governantes. Apesar de ter nascido no Centro, ali no Pérola Byington, na Brigadeiro Luis Antônio, eu nunca morei lá, mas, andar nas suas ruas é uma coisa bastante comum pra mim. Quando garoto, o meu pai costumava me levar para passear nas Praças da Sé, João Mendes, República e Patriarca. Desbravávamos o bom Vale do Anhangabaú, as Avenidas São João, São Luís, Ipiranga, Rio Branco e também o Largo do Arouche. Que tempo bom que, infelizmente, não vai voltar. Eu ficava boquiaberto com a grandiosidade dos prédios, o vai e vem incessante das pessoas, a beleza das lojas e a magnitude da Catedral da Sé, mas, uma coisa que, a princípio, pode parecer boba, me marcou mais do que qualquer outra coisa. Sabe o quê? A visão imponente dos postes históricos do Centro de São Paulo. Originais da década de 20 e fabricados no Canadá e Europa, os postes, no estilo São Paulo Antigo, estão presentes em três pontos da cidade: no Centro, Museu do Ipiranga e no Parque Trianon. Embora pareçam deslocados no tempo, estes gigantes silenciosos ainda possuem um encanto que cativa quem os vê. Ao cair da noite, suas lâmpadas acendem e a luz se faz presente, trazendo tranquilidade. Realmente é incrível a nossa memória afetiva. Imaginem um menino de sete anos, impressionado com um poste de luz. Outro dia, lendo as notícias no jornal, os postes históricos foram destaque, mas, infelizmente, de forma negativa. Segundo o Departamento de Iluminação Pública, o Ilume, 20% das 1511 luminárias antigas existentes na cidade, já tiveram suas placas de ferro fundido, roubadas. Este ato abominável, já causou um prejuízo de 60 mil reais para a Prefeitura. Ainda de acordo com a reportagem, estas peças que são parafusadas próximas ao chão, são vendidas a menos de um real em ferros velhos. Cada placa pesa cerca de cinco quilos, mas como a situação no mercado não é boa, as vendas tem sido fracas. Antes da modernização do sistema de iluminação pública, os geradores de energia eram localizados na base dos postes, protegidos apenas pela placa de ferro, que deveria ser constantemente aberta para manutenção do aparelho. Frequentemente, esse equipamento também era furtado. A reposição das peças roubadas vai sair cara, em torno de 200 reais cada uma, em virtude de terem sido fabricadas fora do Brasil há muitos anos. Uma das alternativas pensadas para proteger as que ainda não foram furtadas, cerca de 1200, seria soldar as peças às bases, mas, isso ainda tem que passar pelo crivo dos técnicos. Espero que uma solução seja tomada, pois tenho apreço por essas luminárias que povoam as minhas memórias infantis. Outro dia, lá na João Mendes, esperando um ônibus para voltar para casa, fiquei fiscalizando os postes que lá se encontram. Algumas pessoas devem ter me achado meio biruta. Mas não é nada disso, gente. Só estou tentando cuidar de algo que me traz boas lembranças.
P/1 — Humm, que bom Você escreve gostoso.
R — Meio loucura, né? Eu acho lindo aquelas luminárias.
P/1 — E como é ver a sua história publicada num livro do Estado de São Paulo?
R — Ah, faz bem. Faz muito bem pro ego. Mostra assim, que tenho valor, né? Tenho valor pra alguém que tem a ver com a história da cidade. Que de repente, essas pessoas que roubam as placas de ferro dos postes, de repente alguém lê, que isso caia na cabeça e ela pense: “pô, não é correto o que eu estou fazendo. A situação não está fácil para ninguém, mas não é correto também, ficar roubando o patrimônio público, né?”. Se isso ajudar, de alguma forma, a conservar o patrimônio, que eu acho maravilhoso... Quando eu chego ali na João Mendes, que eu vejo aqueles postes ali assim, aquelas luminárias, eu acho sensacional. Que traz assim, o resgate de uma cidade que não existe mais. Mas, aí, você também pensa por esse lado, “pô, não tem mais aquele glamour, que tinha nos anos 40, 50, então, a gente tem que viver a cidade hoje, para o futuro. Então, se der pra manter um pouquinho daquele glamour, maravilha”. Vai fazer bem para nós e pra todo mundo. Pra cidade, né? É isso.