Esta não é a minha história, mas de alguém importantíssimo em minha vida: a história de minha mãe Orcídia Lima (de Oliveira) Campiche
Nasce em Marcondésia-SP mas erroneamente seus documentos constam Cajubi e também houve um erro no nome, pois os pais haviam dado o nome de: Alcídia (...Continuar leitura
Esta não é a minha história, mas de alguém importantíssimo em minha vida: a história de minha mãe Orcídia Lima (de Oliveira) Campiche
Nasce em Marcondésia-SP mas erroneamente seus documentos constam Cajubi e também houve um erro no nome, pois os pais haviam dado o nome de: Alcídia (variante de Alceu = forte; vigoroso) sendo a quarta mulher à nascer, após Cecília (1913), Alzira (1917), e Nair (1920) em 02 de novembro de 1922, dia considerado triste em pesar dos falecidos. A cidade era uma pequena vila simples do interior de São Paulo, os pais haviam se casado na adolescência; mãe Olivia Lima e o pai Francisco de Oliveira. Após quatro anos de sua chegada, nasce o único homem da família - Osvaldo. Era uma família simples e de poucos recursos e a subsistência vinha dos serviços do pai na lavoura. Moram também numa outra cidade próxima: Monte Azul um pouco maior.
Um momento marcante da infância é que um dia o caçula Osvaldo a "xinga" de um palavrão e ela se sentindo ofendida quer descontar jogando o que estava mais próximo; casca de mamão, sujando todo o terninho branco tipo marinheiro do irmão; quando a mãe vê a situação vem com um tamanco português batendo em sua mão, chegando a quebrar seu mindinho da mão direita.
Quando tinha aproximadamente 8 anos o pai adoece de maleita que na época não havia cura, falecendo pouco tempo depois. Dois anos depois é a mãe que com fortes dores no estômago é diagnosticada úlcera, que após ser operada resiste uns 8 meses e também vem a falecer, deixando a "prole" toda aos cuidados da avó materna Áurea e seu esposo Gabriel (de olhos muito azuis), um casal saudável e cheio de coragem enfrenta a situação e faz o que está ao alcance, (os pais tinham na ocasião entre 38 à 42 anos). Mudam-se para Bebedouro uma progressista cidade da região. As duas irmãs mais velhas casam-se pouco tempo depois.
Em 1934, com 12 anos a garota tem o seu primeiro serviço de "baby-sitter", cuidando de um forte garoto chamado Oberides, morando junto com a família Piteli também em Bebedouro, ficando com eles por um período de oito anos. Nesse meio de tempo as irmãs ficam viúvas próximas uma da outra e convidadas pelo tio Jonas, vem para a capital - São Paulo em busca de novas oportunidades de emprego e perspectiva de um futuro melhor. A irmã Nair também vem junto, casando-se pouco tempo depois.
Com seus 20 anos é convidada como doméstica a acompanhar um pastor e família da igreja presbiteriana - Pr. Eduardo e Sra. Leda, que fazendo cursos de aperfeiçoamento moram 2 meses em Piracicaba e uns 4 meses em Santos (de onde ela se recorda do toque de recolher e dos apitos tristes dos navios - era tempo da 2ª guerra mundial-1939 à 1945).
Passada a fase de adaptação das irmãs na capital, vão procurar a caçula das mulheres para trazê-la consigo, más foi preciso muita insistência para conseguir tirá-la da família do pastor que não dispensava seus serviços e companhia. Moram em Perdizes onde encontra um outro serviço de doméstica em que o filho da patroa, com cinco anos exigia que o chamassem de "Senhor", más foi uma fase passageira; logo arrumam um novo emprego na tecelagem Matarazzo, localizada no Brás à rua Dr. Manuel Victorino nº322 mudam-se para o bairro do Ipiranga que recorda ser o pior local de moradia indo para ficar pouco tempo, más permanecendo por um ano todo que pareceu ter sido muito mais longo devido às dificuldades e precariedades da residência.
Do Ipiranga moram no Brás ficando mais próximas do serviço e depois na conhecida Brigadeiro Luiz Antônio, onde após o trabalho da fábrica a patroa Dna. Tingilina vinha buscá-la e a trazia de volta no fim do dia. No Matarazzo trabalha uns 4 anos sem registro de emprego e após mais 4 registrada aparece uma irritação nas pernas, o diagnóstico médico diz ser uma alergia pelo contato da fiação nelas e por ficar longos períodos em pé; é afastada por algum tempo, retornando novamente com problemas e o médico lhe dá a aposentadoria definitiva.
Muitas vezes nesse período, gastavam o dinheiro da passagem do tradicional bonde e chegavam a andar à pé da praça da Sé ao Cambuci. Por falar em bonde era conhecida nessa época um ditado falado tanto pelos ascensoristas que virou até uma musica conhecida: ..."é um pra mim e dois pra Ligth"... A situação era difícil apesar de todos trabalharem; muitas vezes para se alimentarem ganhavam ossos de um açougue e retalhos de macarrão dos Jafete e disso fazia-se um caldo grosso e nutritivo que era como podiam nutrir-se.
Também era comum fazerem de encomenda: tricô, flores de seda, salgadinhos e outras coisas mais até altas horas da noite e madrugadas. Nos dias de descanso e feriados freqüentavam a terceira igreja presbiteriana independente no Brás onde participavam de algumas comemorações e pic-nics, chegando até a namorar, más nada sério.
Em 1954 é apresentada como a empregada do irmão Osvaldo ao motorista Raymond, nasce daí uma amizade e laços de confiança em que ela ficava responsável pela maior parte da poupança arrecadada por ele nas viagens. Muitas vezes esse dinheiro era pego para emergências e até pagar aluguéis e quando o rapaz chegava ficavam apavoradas em como fazer para repor a "grana".
Após uns nove meses de namoro ela acrescenta aliança na mão esquerda e sobrenome à direita do que já tinha, feliz por ter "fisgado" em idade já madura para a época logo um estrangeiro de família tradicional Suiça. O casamento é realizado pelo falecido Pr. Set da Terceira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, a igreja que freqüentavam dia oito de dezembro de 1956.
Em novembro de 1957 no Hospital do Brás chega o primeiro filho - Bernardo que é motivo de grande alegria e realização. Em março de 1959 é vez da chegada da segunda filha - Olivia também nascida às pressas no mesmo hospital. Pouco tempo depois mudam-se para o interior; Araras. Recorda-se das loucuras das longas viagens acompanhando o marido e com as crianças ainda bebês (onde muitas vezes as fraldas de pano se tornavam descartáveis) para Brasília-GO (construção do Distrito Federal), Pelotas-RS, Belo Horizonte-MG, Cabo Frio-RJ, Guarapari e Vitoria - ES.(transportando sal), etc.
Nos anos de 1962 à 1964 chegam mais três garotos- Ricardo, Francisco e Henrique auxiliada no parto pelas habilidosas mãos da parteira Dona Ophélia conhecida e requisitada naqueles tempos em Araras. Entre os afazeres de casa, cuidados com os filhos, ajudava à tocar e resolver os problemas da construção da casa em que mora até os dias atuais, durante os longos dias de ausência do marido caminhoneiro.
Ao vir para Araras, participava quando podia dos cultos na igreja presbiteriana e dentro dela haviam crentes Batistas, que tiveram o desejo de ter um local na cidade, procurando por terrenos foi escolhido no final da Nunes Machado, inaugurada em setembro de 1964. A criação da parte espiritual dos filhos foi realizada nesta igreja em virtude da distancia ser pequena da residência até ela, mesmo assim muitas vezes as famílias Osis e Borela ofereciam buscar os filhos principalmente para participarem da EBD (Escola Bíblica Dominical).
Em 68, mais um serviço extra vem aos seu encontro, quando da compra da chácara Helvétia cada braço a mais ajudando, era muito bem vindo. Num desses dias a égua pisa em seu pé, já com problemas de circulação, más nem foi dada importância devida na época. Houve o tempo de ajuda de preparação e venda de legumes e verduras e ovos na pequena quitanda nos fundos do quintal. A alimentação da família por um bom tempo tinha que se basear do que a terra produzia e o lucro era pequeno para abastecer todos o membros, comprando-se apenas o essencial.
Uma vez por mês ela ia até S.Paulo para receber sua aposentadoria, visitar as irmãs e algumas vezes também passava pelo Hospital das Clínicas para um tratamento das varizes e úlceras da perna. Sempre gostou de bate-papos, fazer novas amizades e rir bastante recordando-se do passado e presente.
Na década de 80, muitas mudanças acontecem; em maio deste mesmo ano realiza-se o casamento da Olivia (que acompanhando o marido Jair nas transferências da empresa Cesp, reside em outras cidades desde 84). Em 81 é a fez do Bernardo (também morando em Piracicaba desde o casamento com Maria Aldéa); em 82 fica viúva; Ricardo (que morando e trabalhando em São Paulo, casa-se em 83 com Sônia); em 84 todos de comum acordo vendem a chácara após um período de arrendamentos. Francisco com seu curso técnico de Açúcar e Álcool também consegue serviço em Mococa-SP morando lá por vários anos. Sua viuvez trazendo adaptações em vários sentidos foi suavizada um pouco com a chegada de vários netos: Eduardo, Michelle, Mariana, Kelly, Vivian, Ricardo Junior, as gêmeas Karina e Gláucia e visitas às cidades em que os filhos moravam.
Em 1989 é a vez do casamento do caçula Henrique com Lilia, que chegam à morar na casa dos fundos por algum tempo. No final de 91 o filho Francisco, desempregado sentindo ser da direção de Deus que fosse para à Suíça, assume a dupla nacionalidade, enfrentando as dificuldades, deixando a noiva Cibele, parte para o velho continente; assim que se estabiliza volta para casar-se no Brasil retornando após a "lua de mel". No ano seguinte depois de vários convites ela tem a satisfação de rever o filho e a nora morando tão longe, conhecer várias cidades na bela primavera da Suíça, e também familiares do marido; foram dias felizes e emocionantes.
Em 94 nasce o neto Pedro Henrique, que por enquanto é o caçula dos netos.
Seu passatempo preferido é cuidar das plantas e do espaçoso jardim, a cada dia, faz sua leitura bíblica diária, vai aos cultos sempre que possível, intercedendo sempre pelos(a) filhos(a), noras, genro e netos(as), agradecendo à Deus pelo que tem, pelo que a vida lhe reservou, aguardando sempre os feriados nos quais a família quase toda pode se reunir ou mesmo finais de semana que alguém possa visitá-la.
Esta biografia foi terminada em junho de 98. Em setembro ela foi internada, fazendo vários exames clínicos, constatando pedras na vesícula e cirrose adquirida por uma hepatite tipo C de tempos atrás. Em outubro vem a falecer, deixa em nós um vazio e saudade; mas ao mesmo tempo um exemplo de dedicação, amizade, amor, paciência, alegria, simpatia, simplicidade entre outras qualidades.
(Olívia mandou essa homenagem à sua mãe no dia 15 de outubro de 1999, através do site na internet)Recolher