José Muniz da Fonseca, conhecido como Muniz do Arrasta-pé (O namoradinho do nordeste, é um cantor, compositor e sanfoneiro brasileiro.)
Nascido na cidade de Macaparana, iniciou sua carreira artística muito cedo.
Aos nove anos de idade tentou estudar, mas a falta de visão dificultou o seu ingres...Continuar leitura
José Muniz da Fonseca, conhecido como Muniz do Arrasta-pé (O namoradinho do nordeste, é um cantor, compositor e sanfoneiro brasileiro.)
Nascido na cidade de Macaparana, iniciou sua carreira artística muito cedo.
Aos nove anos de idade tentou estudar, mas a falta de visão dificultou o seu ingresso na escola.
Mesmo sem ver, ele se igualava às outras crianças da sua infância competindo e compartilhando com as mesmas brincadeiras, como: Se esconder, correr, subir nas fruteiras, andar de cavalo, correr de bicicleta, etc.
Com quatro irmãos mais novos com a mesma deficiência, o garoto já se preocupava em ajudar sua família.
Aos dez anos de idade, mesmo ainda muito pequeno, começava a perceber as dificuldades enfrentadas pelo seu pai para manter seus sete filhos dos quais 5 cegos, pois o mesmo também estava começando a perder sua capacidade de enxergar. Então pensou em uma maneira de ajudar o velho e seus irmãos. Foi assim que surgiu a ideia de aprender tocar sanfona, e revelou ao seu genitor esta disposição.
Sem que o menino soubesse, Senhor Adélio combinou com um amigo para trazer um acordeom de 32 baixos até a sua casa.
As cinco horas do dia 1 de junho de 1976, Muniz estava dormindo em uma rede, na sala de sua casa, quando acordou assustado (nunca havia escutado o som do instrumento de perto, apenas através do rádio).
Levantou-se depressa correu para a cozinha e perguntou: "Mãe, o que é aquilo?" ela respondeu: "É uma sanfona que teu pai vai comprar pra tu!", naquele momento ele vibrou de alegria.
Seu Adélio trocou a sanfona em um relógio e um rádio que estava a muito tempo sem funcionar. Naquele dia Muniz começou se dedicar para aprender a tocar imediatamente, não aceitando as aulas do sanfoneiro que fez a troca, começou a executá-lo sozinho, com desejo tão grande de tocar que até ao anoitecer ainda nem sequer tinha almoçado.
Um ano depois, sem nem uma ajuda de um professor de música, já executava as músicas de Luiz Gonzaga e outros artistas da época!
Todavia, Muniz começou a pensar: "Já sei tocar alguma coisa, mas como poderei ajudar meu pai a nos sustentar? ". Após, ter refletido muito, tomou uma decisão e resolveu falar com o velho pai dizendo-lhe: "Papai, já sei tocar alguma coisa. Vou fazer um melê (instrumento que foi substituído pelo Zabumba) para meu irmão Sávio me acompanhar e vou tocar na feira com ele, na intenção de ajudar o Senhor nas despesas da casa". Quando seu pai escutou a proposta repreendeu-o com rigor: "De jeito nenhum! filho meu pedir esmolas...?! Pra mim é preferível morrer! Todos de fome e cegos, mas tocar na feira não!"
Mas ele já nasceu insistente por natureza, mesmo com a severidade do seu pai, não desistiu da ideia e foi contar o ocorrido a sua mãe que o deixou à vontade para tomar qualquer decisão.
No sábado seguinte Muniz, aproveitando que seu pai estava na mata pegando lenha, chamou seu irmão, colocou o "melê" e a "sanfona" dentro do saco e foi para a feira de Pirauá. Sentou no meio fio, colocou uma bacia entre si e começou a tocar.
Por volta das nove horas da manhã, o povo que se encontrava na feira do pequeno lugarejo estava todo em volta das duas crianças e a bacia cheia de dinheiro.
Como as crianças eram muito pequenas, foram levadas por amigos, para cima de um banco de praça, com a intenção de serem vistos por todos. Neste dia, no fim da feira, os dois pequenos artistas ganharam 97 Cruzeiros. Sua mãe comprou roupas para cada um dos sete filhos e o restante fez uma feira que deu para passar o mês inteiro. Com esse resultado, o pai dos pequenos artistas mudou de ideia e resolveu acompanhá-los em outras feiras do estado da Paraíba e parte de Pernambuco. Um outro irmão de Muniz aprendeu tocar "Triângulo", formando assim um trio: Muniz na sanfona, Sávio no mêle e Neném no triângulo. O trio viajava, acompanhado por seu pai, durante meses sem voltar em casa. Apenas mandando notícias pelos seus vizinhos que iam encontrando nas feiras onde se apresentavam.
A vida não era fácil, dormiam na casa dos outros e na maioria das vezes terminavam a feira sem almoçar, com o objetivo de poupar o dinheiro que arrecadava, para as despesas da casa. Até os dezoito anos a vida deste batalhador e seus irmãos era essa. Quando desobedeceu o pai mais uma vez, indo morar na cidade de Macaparana, interior pernambucano, na casa do seu tio, onde conheceu a amiga Ângela, que lhe fez uma proposta de ir estudar no Instituto de Cegos do Recife.
Mas uma vez seu pai não concordou com a ideia dizendo: "Casa dos outros não tem o que dar! eu nunca ouvi dizer que cego pudesse estudar".
Mas, Muniz sabendo do seu potencial, fez uma campanha na cidade de Macaparana, conseguindo agasalhos, dinheiro, etc., e mesmo contra a vontade do seu pai veio no dia 27 de setembro 1984,para a capital pernambucana, trazido pela amiga Ângela, sendo recebido pelo então diretor do Instituto Senhor Zacarias Pinheiro de Melo.
Uma semana após, o novo aluno da Escola Especial Instituto de Cegos do Recife já sabia ler e escrever pelo sistema Braille.
Entusiasmado com sua inteligência e aconselhado por alguns professores, o diretor do colégio mandou buscar seus dois irmãos, no dia 15 de outubro do mesmo ano, e em 2 de fevereiro de 1985, também trouxe suas duas irmãs para estudar no mesmo educandário. Assim, estando na capital os cinco filhos de seu Adélio cegos, ficando no interior com ele as duas meninas que tem a vista perfeita, juntamente com dona Eurides a mãe dos setes.
Mas, seu pai começou de novo a passar necessidade porque não tinha mais a renda das feiras com a vinda dos meninos para a capital. Foi aí que Muniz parou de estudar para ir trabalhar a fim de outra vez ajudar sua família.
Em 1988, seu pai, sua mãe e as duas menores vieram fixar residência definitivamente em Recife.
Aqui seus seis irmãos estavam todos estudando, enquanto Muniz trabalhava.
Em 1995, juntamente aos seus dois irmãos, realizou seu primeiro sonho como artista: o de gravar um disco que foi lançado em LP e CD. Com 12 faixas, das quais 9 de sua própria autoria. O álbum vendeu 10.000 (dez mil) cópias e fizeram muito sucesso no nordeste quase todo. Mas, no ano de 2000, o grupo foi desfeito e Muniz decidiu fazer carreira solo, gravando seu segundo CD.
Em 2007, participou da trilha do filme itairé da praia do cinema da Fundação Joaquim Nabuco.
Em 2008, o maestro Lívio Tragtenberg o levou para fazer a trilha do mesmo filme em 10 cidades do estado de SP patrocinado pelo SESC Pompeia.
2010, gravou seu terceiro disco e voltou a fazer shows em todo estado de Pernambuco. 2012, concluiu seu quarto trabalho. Neste teve ainda a participação do mestre Dominguinhos, que aliás, foi a última gravação dele em estúdio.
Muniz do Arrasta-pé, acabou de gravar duas canções novas com uma pegada mais atual e deseja que seu trabalho seja reconhecido no país.
"Faço da minha deficiência um instrumento de humor para levar alegria as pessoas".
Assim fala ele com muito humor.Recolher