Ponto de Cultura - Museu Aberto
Depoimento de Delba Teresinha Alliegro
Entrevistada por Cláudia Leonor e Daniel Horta
São Paulo, 21/08/2007
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV050
Revisado por Gustavo Kazuo
P/1 – Bom Delba, vou pedir pra você falar o seu nome completo, o local e a...Continuar leitura
Ponto de Cultura - Museu Aberto
Depoimento de Delba Teresinha Alliegro
Entrevistada por Cláudia Leonor e Daniel Horta
São Paulo, 21/08/2007
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV050
Revisado por Gustavo Kazuo
P/1 – Bom Delba, vou pedir pra você falar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Delba Teresinha Alliegro, nasci aqui em São Paulo.
P/1 – Que dia?
R - Dia 18 de setembro de 55.
P/1 – E o nome dos seus pais e o que é que eles fazem?
R – Meu pai José Carlos Porto Alliegro, hoje já aposentado, mas ele foi diretor comercial de empresas e a minha mãe Dirce Teresinha Guerra Alliegro e é o grande alicerce da família, né, dona de casa.
P/1 – De onde é a origem dos seus pais, do nome Alliegro.
R – Pois é, o Alliegro é um sobrenome italiano e ele deriva de alegria, né? Isso que é bacana, eu gosto muito do Alliegro, acho que me soa bem, acho bacana, interessante. Ele deriva de alegria e é italianada pura mesmo. Tutti buona gente e tal. Aquele povo que fala alto e que tudo se resolve ao lado da mesa, tristezas, alegrias, tudo do lado da mesa.
P/2 – Tanto por parte de pai quanto por parte de mãe?
R – É, tanto pai quanto mãe são de origem italiana, são filhos de italianos mesmo. Falam tudo ao mesmo tempo, é aquela confusão, né?
P/1 – E na sua casa são quantos irmãos? E que eles fazem?
R – Nós somos três mulheres, clube da Luluzinha, é engraçado que todos nós começamos com a letra D, né? É Delba, Denise, Débora e a Dirce que é minha mãe, tem muito dessa coisa, né, de família, colocar nome de filhas todas com o mesmo nome, mesma letra e tudo mais, e somos em três mulheres.
P/1 – E como era a convivência deste clã feminino?
R – Então, foi interessante porque eu sou mais velha, a Denise do meio e aí nós vivíamos assim com a família estabilizada, digamos assim. Quando eu tinha 18 anos e minha irmã do meio tinha 15, apareceu a “temporona” que é a Débora (risos). A minha mãe fala que foi um descuido (risos).
P/1 – Sua mãe chegou com a notícia?
R – É, chegou com a notícia de que nós íamos ter mais uma irmãzinha, né? Então quando eu tinha 18 anos a Débora nasceu e tal. E quando a gente anda na rua, perguntam se eu sou a mãe dela, coisas assim, mas hoje ela já está casada. Já tenho sobrinhas e tudo mais. Aliás, foi a única que casou, que casou convencionalmente, digamos assim. Nem eu, nem a Denise nunca quisemos saber de casar e de ter filhos. Acho que é por isso que ela nasceu, pra continuar, porque é ela que está perpetuando a família, né? Nem eu nem a Denise quisemos saber de casar. Se bem que depois eu conto a história do casamento pra vocês (risos).
P/1 – Você cresceu em São Paulo?
R – Sim.
P/1 – Descreve pra gente a rua, o bairro, como era?
R – Ipiranga, pertinho da Mooca. Tudo italianada mesmo. Nasci no Ipiranga, estudei no Ipiranga, estudei só em colégio de freira, né? Meus pais achavam que colégio de freira era a coisa mais interessante pra uma menina, para as mulheres, por serem melhores educadas, aquela coisa toda, e acho que foi, fui educada em colégio de freiras sim.
P/1 – Mas o Ipiranga tem bons colégios, né? Uma série de colégios ligados a associações Cristãs, Evangélicas, associações mesmo, né?
R – Tem, e é engraçado que até hoje, eu tenho um contato muito grande com freiras. As freiras aparecem no meu caminho, interessante, me chamam pra fazer trabalhos na escola delas e tudo mais. Elas estão sempre, assim, elas aparecem, mas eu tenho um carinho muito grande por elas.
P/1 – Qual colégio você estudou?
R – Bom, eu estudei primeiro no Sagrada Família, que hoje é o São Marcos.
P/1 – Sim, Universidade São Marcos.
R – Depois eu estudei no Madre Margarida Maria que tem lá no Jardim da Saúde e depois, fechando assim com chave de outro, foi o colégio que eu mais gostei de estudar, que foi o Colégio Regina Mundi ali na Via Anchieta.
Os três colégios ainda hoje existem. O Regina Mundi existe até hoje e foi um marco na minha vida.
P/1 – Por quê?
R – Porque o Regina Mundi era só de mulher, aí as freiras resolveram colocar misto, e você imagina então o fuzuê que foi o primeiro ano que os meninos entraram na escola, né? E o Regina Mundi, além disso, era um colégio de vanguarda na minha época. As freiras, elas eram muito modernas, nós tínhamos atividades culturais além do ensino forte, atividades culturais intensas. Lá nós tínhamos teatro, trabalhávamos com música por muito tempo, e de lá saíram algumas pessoas que hoje estão aí, são pessoas públicas, enfim, atores, apresentadores de televisão, que saíram do Regina Mundi.
P/1 – Tinha atividades extracurriculares?
R – Muito. Tinha teatro, tinha música, nessa época tinha o que eles chamavam de Jogos da Primavera. Esses jogos eram feitos no Clube Atlético Ipiranga, onde todas as escolas da região participavam desses Jogos da Primavera, que era o the best na época. Todo mundo queria participar dos Jogos da Primavera, em todas as modalidades esportivas, né? E o Regina Mundi era muito forte em vôlei, basquete, handebol, muito forte. A mulherada botava pra quebrar. Nós participávamos sempre dos Jogos da Primavera.
P/2 – Você jogava o quê?
R – Eu jogava basquete, mas eu era muito ruim, eu era pivô, mas muito ruim. Coitado, o nosso professor, o Geraldo que é uma grande figura, que hoje ainda está aí na ativa, o Geraldo, ele tinha, acho que não tinha ninguém pra colocar, aí me colocou. Eu era grande, mas era muito ruim. Eu era mais da música.
P/1 – Tocava, cantava?
R – Tocava violão, tocava percussão e participava de todos os festivais de música daquela época.
P/2 – Quantos anos você tinha nessa época?
R – 14, por aí, eu comecei nessa parte de palco.
P/2 – E quando você entrou no Regina Mundi?
R – Eu entrei depois assim, eu entrei no Regina Mundi, entrei com 15 e já tinha a música comigo.
P/2 – De outros colégios? E esses colégios que você estudou que eram católicos sempre tinham essas atividades?
R – Sim, sempre tinham, eles tocavam na missa, depois que eu fui pros festivais.
P/2 – E você foi criada pra ser uma menina católica?
R – É, imagina...
P/2 – E acabou sendo uma espiritualista?
R – Tudo errado (risos), completamente oposto àquilo que eles achavam. Naquela época os colégios tinham bordado, se aprendia tudo isso, a bordar, a fazer tricô, essas coisas todas. Aprendi tudo isso; sei fazer tudo isso, mas não segui nada disso.
P/1 – Era um outro tipo de educação, né? Era voltado pra dona de casa né?
R – Totalmente, eu tive francês, desde pequena. Muitas coisas de francês graças a essa época, que é muito bacana.
P/1 – É, e como era o Ipiranga nessa época, você de menina pra adolescente? O Ipiranga era um bairro mais afastado nessa época, né?
R – Eu acho que o Ipiranga ele deveria ser muito mais reconhecido, preservado, porque é histórico. Aquele museu maravilhoso, e acho que dão pouca importância ao Ipiranga. Lógico, quando eu morava lá, era um bairro pequeno, tranquilo também, mas eu acho ele meio abandonado, até hoje eu acho ele meio abandonado.
P/1 – Aonde vocês iam naquela época? Tinha a cantina do Mário? Aonde vocês iam ali?
R – Íamos à Cantina do Mário, onde mais? Nós sempre frequentávamos muito, o Atlético Clube Ipiranga, que era o bambambam dos clubes na época, os carnavais, a maioria dos carnavais eram lá, né? Nós passávamos lá o carnaval e depois eu mudei pro Jardim da Saúde, que teve outras coisas. Teve o Clube do Bosque, Clube Aquático do Bosque, aonde nós íamos bastante e foi quando eu formei o meu primeiro grupo de música, com a garotada, com a moçada tudo com 14, 15 anos. Eu fazia guitarra, tinha violão, tinha bateria e tinha escaleta, sabe o que é escaleta? É como se fosse um pianinho de boca, né? Aí nós tínhamos uma amiga que fazia a escaleta.
P/1 – Que tipo de música vocês tocavam?
R – Jovem Guarda, todas (risos) (gargalhada). Eu tocava guitarra e cantava.
P/1 – Você lembra uma música que tenha marcado nessa época?
R – Puxa, Roberto Carlos na veia, tinha tanta coisa, tinha Wanderléa também “Por Favor, Pare Agora”. Essas coisas assim. Tinha “Não Adianta Nem Pensar em me Esquecer”, linda, muito bonita e por aí vai.
P/1 – Onde vocês se apresentavam?
R – A gente se apresentava na garagem (risos).
P/1 – Aí chamava as pessoas?
R – É, chamava. E nos festivais.
P/1 – Que festivais eram esses, assim?
R – De colégio. Os colégios faziam os festivais e eu ia.
P/2 – Qual foi o mais conhecido que você participou?
R – Foi o do colégio Nossa Senhora da Glória ali no Cambuci, a gente participou com várias músicas. Sabe com quem? A Gretchen, nós estudávamos juntas. A Maria Odette, né. Eu, a Gretchen, ela tem composições lindíssimas. Aquilo lá aconteceu na mídia, mas ela tem composições belíssimas, então nós ensaiávamos, eu, a Gretchen e a Sula Miranda, que nós éramos do Ipiranga, elas são irmãs e, elas tinham composições maravilhosas, nós tocávamos, defendíamos as músicas da Gretchen.
P/2 – E vocês eram vizinhas e vocês estudavam juntas?
R – Sim. Estudamos juntas no Regina Mundi. E o Leão Lobo.
P/1 – Qual era a importância desses festivais para a época, já que hoje quase não mais se vê?
R – É, não tem mais. Era mostrar mais as composições, as músicas que tínhamos, que nós fazíamos na época, eram ricas, era um outro enfoque, era mais angélico, eu acho.
P/1 – E como eram preparadas as composições, os professores ajudavam, orientavam, o professor de literatura, o de português, como surgiram?
R – Não era uma coisa meio nata mesmo, tinha o festival, você escreve, tínhamos as composições. A professora não orientava não, nessa parte não, mas era divertidíssimo, gente, eram ensaios em cima de ensaios.
P/2 – Muita gente começou dessa forma?
R – Muita gente começou dessa forma.
P/2 – Delba, como era a moda nessa época e como vocês se vestiam?
R – Não muito diferente de hoje, hein (risos). Aqueles vestidos assim, eu tenho um vestido que eu comprei na semana passada que eu falei: “gente eu usei isto”, vestidos mais retinhos assim com desenhos, às vezes com triângulos, aquelas coisas.
P/1 – Geométricos, psicodélicos?
R – Geométricos, psicodélicos, tal, bem legal.
P/1 – Usava botas, sapatos?
R – Botinhas com meias por baixo da bota, igualzinho, minissaia. Moda, né, vai e volta isso é bacana. Moderníssima.
P/1 – E como eram as paqueras, os namoros?
R – Gente, você sabe que minha mãe quase enlouqueceu comigo? Eu era muito namoradeira, namorei um monte, por isso não queria casar. Sempre fui muito namoradeira. Minha mãe sempre dizia “A Delba nunca deu trabalho quando criança, mas depois que cresceu” (risos). Porque eu era muito namoradeira, sempre fui da noite, agora menos porque minha profissão mudou um pouco e os valores vão mudando, mas eu sempre fui da noite assim, às vezes de chegar em casa de costas, porque eu chegava tarde e não queria que meus pais acordassem e vissem que era tão tarde assim, quatro da manhã e tudo mais, cinco, seis e tudo mais..
P/1 – E você chegava de costas? Por quê?
R – Porque se alguém me visse eu já estava saindo (risos). “Bom dia, bom dia” (risos).
P/1 – Mas aconteceu alguma vez?
R – Não, não aconteceu, mas eu virginiana, eu era precavida, eu sou de virgem.
P/1 – E nessa época em São Paulo onde vocês saíam, aonde vocês iam?
R – Qual época?
P/1 – Nessa época que você chegava de costas (risos).
R – Aí já era uma outra época da vida que eu frequentava muito o Bixiga.
P/1 – O Bixiga era o bairro da boemia, né?
R – No Bixiga duas, três horas da manha você andava na rua, na boa, não tinha o problema que o Bixiga tem hoje e tal. E lá era um celeiro de artistas, atores e tudo mais. Então a gente se encontrava lá na rua e conversava na rua, grandes projetos saíram na rua.
P/1 – Quais eram os principais bares que você frequentava?
R – Tinham muitos bares que a gente frequentava, mas vamos lá, tinha um bar chamado Celeiro que a gente ia muito. Teve o Boca da Noite, que foi histórico esteve lá por mais de 20 anos, Boca da Noite também porque, era bacana, porque assim, a cidade fervia com os eventos, com shows e tudo mais. Quando esses artistas terminavam os shows eles iam pro Boca da Noite. Então você ficava no Boca da Noite então entrava Djavan, entrava Gilberto Gil, entrava Hermeto Pascoal. Então todas essas jóias da nossa música popular brasileira e eles davam canja lá, entendeu, era tudo de bom, né? Puxa era muito legal, então foi uma fase riquíssima.
P/2 - Você ia pra ouvir ou você cantava também?
R – Não, nessa época ia só pra ouvir mesmo. Eu tive uma banda, um trio que se chamava Som das Sedas. Gente, olha que horrível. Mas a gente achava o máximo, na época, isso foi logo quando eu me formei na faculdade e não tinha mais, não tinha campo de trabalho, né, óbvio, como sempre.
P/1 – E o que você fez?
R – Eu fiz Comunicação Social, fiz Relações Públicas, fiz Cásper Líbero e não tinha nada disso, como sempre andei com a música junta, aí formei uma banda quando me formei, o Som das Sedas então era eu, mas aí eu já esta na parte da percussão, um violão, e voz, um trio mesmo e a gente viajou muito, a gente até fez uma carreira bacana, viajei por várias cidades e tudo mais e aí conheci vários músicos, mas aí, foi quando eu conheci o Boca da Noite foi muito bacana.
P/1 – Era um trio? Quem que era?
R – Era eu, a Iolete e a Alice. A Alice no violão, a Iolete na voz e eu na percussão.
P/1 – Como você conheceu?
R – Na noite, no Bixiga, conheci as duas, elas estavam a fim de fazer esse trabalho e eu também já estava a fim de fazer esse trabalho, aí montamos o trio. Meio MPB.
P/1 – De que época nós estamos falando? Década de 80?
R – Isso, 82.
P/2 – Quanto tempo você ficou com o grupo?
R – Dois anos, aí o grupo tava no auge, no auge, assim, nas devidas proporções, na época muita gente conhecia. Aí a cantora, a Iolete resolveu fazer carreira solo, é impressionante isso (risos). Quando tá bom, e a menina falou assim “Vou fazer carreira solo”, não sei o que, pá, pá, saiu da banda, saiu do trio, aí continuamos ainda eu e a Alice em dupla, fizemos algumas coisas, mas aí também paramos. Aí foi pra um outro lado tal.
P/2 – Vocês chegaram a aparecer de alguma forma na mídia?
R – Fizemos, fizemos alguns programas de televisão na época, entrevistas em jornais. Foi bacana, uma experiência bem interessante.
P/1 – Como era o público que circulava no Bixiga nesse tempo?
R – É mais moçada mesmo, mais estudantes, mas jovens mesmo e um pessoal extremamente politizado, isso é que era bacana, um povo politizado que ia atrás das coisas mesmo, não tão apáticos, um pessoal que tinha esperanças ainda no olhar.
P/1 – Ai que lindo!
R – Na força, na conquista, na garra para ir atrás das coisas, sabe, então isso daí era muito bacana, muito bacana, deu pra conhecer muita gente legal.
P/1 – Tinha discussões, nós estamos falando do final, do início da abertura efetivamente. Tinha discussões políticas, você participava, Diretas Já?
R – Tinha, até bem antes disso, aquele pessoal que saia com livrinhos debaixo do braço vendendo suas próprias produções.
P/1 – Plínio Marcos fazia muito isso?
R – Nossa, Plínio Marcos era da nossa turma também, (Cerquetti?). o Teatro de Arena, né? Aquilo lá era marcante, né? Muito bacana, mas, assim, eu achava tudo isso muito legal, mas eu não entrava muito nisso a fundo na política, na boa, me cansava um pouco, por que sempre fui mais do lado da festa, né, de achar que as coisas poderiam ser arrumadas do lado da festa, alegria e tudo mais. Então quanto o papo era muito cabeça. Eu achava muito lindo, mas às vezes me dava no saco. Aí eu ia pra Mocidade Alegre sambar (risos). Cansei e tchau, ia pro Mocidade Alegre e sambava lá até as quatro da manhã, aí voltava e tal. Porque tinham dois lados, né, o Bixiga na sua efervescência política, cultural, blá, blá, blá, e o Mocidade Alegre que me dava o lado mais leve da vida, entendeu? Quando não queria pensar mais naquele lado crítico, então eu me dividia entre as duas tribos, né? (risos).
P/1 – O que eram as comidas próprias dessa época, o que vocês bebiam, o que vocês comiam?
R – Eu não bebia nada, sabia? De bebida alcoólica não bebia nada. Engraçado, não era muito chegada não, mas as comidas, você ta falando o que?
P/1 – Do Bixiga?
R – Tinham aquelas coisas de rua, aqueles churrasquinhos de rua, o que tem até hoje, mas o Bixiga é tradicional pela massa, né? Pelas cantinas e tudo mais, mas naquela época as pessoas não iam muito em restaurantes. Restaurantes eram para quem tinha dinheiro, nós íamos em boteco mesmo.
P/1 – Como encaminhou sua opção na faculdade, como você resolveu fazer Comunicação Social?
R – Comunicação Social porque eu sempre fui muito... eu sou a faladeira da turma, da família, sempre gostei de me comunicar. Aí fiz Comunicação Social, não sabia ao certo se Jornalismo, Publicidade, ou se Relações Públicas, mas aí dando uma analisada, achei melhor Relações Públicas por manter o contato com as pessoas que é uma coisa que amo até hoje. Pessoas são as melhores coisas que podemos ter, conhecer pessoas, entender as diferenças, e compreender as diversidades pra mim é um grande barato. Por falar em diversidade, tem uma história engraçada para contar. Quando eu saí da faculdade, não tinha trabalho pra começar, eu tinha uma amiga que fazia teatro de bonecos, ela virou pra mim e falou assim “Delba, você não quer fazer teatro de bonecos? O Ely Barbosa tá precisando de gente”, e o Barbosa na época tinha um programa na Bandeirantes só de bonecos, chama-se a Turma da Fofura, com bonecos que ele fazia, você vestia os bonecos, e também tinha a parte de bonecos de manipulação, onde você enfiava o boneco, tipo o Louro José, e fazia. Ela falou “Ele tá montando agora um grupo, porque vai ter uma série de apresentações no Rio de Janeiro, uma turnê no Rio de Janeiro, você não quer ir com a gente?” “Mas eu nunca fiz isto”. Ela falava “Não, vai lá, fala que você fez um curso no Teatro Ventoforte (risos) e aí se ele gostar...” Eu não estava fazendo nada mesmo, né? Tava dura, sem dinheiro, sem nada, tinha acabado a faculdade, então fui, fiz a entrevista com o tal Ely Barbosa. O Ely Barbosa é irmão do Benedito Ruy Barbosa. Cheguei lá, fiz a entrevista e “ah que ótimo, sua amiga me disse que você já trabalha com isso há algum tempo, e que não sei o que, e você se formou onde? Você fez o curso onde?”. Eu disse “Fiz Cásper Líbero, fiz Comunicação Social, mas quanto à parte de bonecos eu estudei no Teatro Ventoforte com o Ilo Krugli e não sei o que”. “Ah, que bacana!”. Ele falou assim “Então eu vou pegar um boneco lá dentro, pra você fazer um teste”. Ele saiu do estúdio e eu fiquei “Gente, e agora o que eu vou fazer?” (risos). A minha vida tem coisas muito inusitadas assim, tem coisas que eu me meto que depois não sei mais sair. Aí ele voltou, esbaforido, “Delba, você me desculpe, mas eu vou ter que sair agora pra uma reunião e não vai dar pra você fazer o teste. Mas, eu gostei muito de você, achei você comunicativa, alegre, divertida e tal, não sei o que, ta contratada. Nós embarcamos semana que vem pro Rio de Janeiro (risos) onde nós vamos fazer um mês de show, você vai fazer um boneco de manipulação, que eu ainda não sei qual é, mas nem preciso te dizer qual é, que na hora lá a gente vê”. Eu falei “Tá, tá bom, muito obrigado pela oportunidade, tchau”. Saí, fui ver minha amiga que me indicou, a Nenê, ela tava me esperando na recepção do estúdio. Ela falou “Já soube que deu tudo certo. Vamos embora, vamos embora, (risos) precisamos conversar” (risos). Fomos lá pra casa dela (risos). E agora o que é que vou fazer? “Não, a gente ensaia aqui em casa”. Nós pegávamos meias e púnhamos a mão na meia e aí começava a fazer qualquer coisa.
A Nenê não podia me ajudar tanto, com os bonecos de manipulação, que ela já era contratada dele, mas ela vestia um boneco, ela vestia um cachorrão, então, era diferente de manipulação, mas tudo bem. Aí embarcamos para o Rio de Janeiro, isso sem saber qual era o boneco que eu ia fazer no dia seguinte, na primeira apresentação, às dez da manhã. Sabia mais ou menos o que eu tinha que fazer, que era na verdade um, ia ter um teatro com os bonecos vestidos, depois ia ter um tipo de um karaokê pra criança e eu ia fazer parte do júri com o boneco de manipulação. Quando nós chegamos no aeroporto aqui em São Paulo, eu virei pra e disse “Ely, qual é o meu boneco, que vou fazer, que eu gostaria de saber qual o tom de voz que vou usar, que tipo de caricatura vocal”, ele disse “Ah, tá bom, vamos fazer o seguinte, vamos embarcar que aí lá no Rio a gente vê isso, não sei o que”. Bom, conclusão. Nós chegamos no Rio às 9 horas da noite, eu ia estrear no dia seguinte às 10 horas da manhã e ele me entregou o boneco. Era um passarinho chamado Matusquela pra eu fazer a voz desse passarinho no dia seguinte (risos). Eu dormi naquela noite? Não, tava eu e aquele passarinho, eu botei o passarinho em cima da cama do hotel e ficava olhando aquele passarinho (risos), e aquele passarinho olhando pra mim. Gente, foi um sufoco. E eu querendo matar a Nenê, né? (risos) Que a Nenê tava comigo. Chegamos, fui eu, ah sim, O elenco é bem curioso, eu, a Neném, um palhaço e cinco anões (risos), eu nunca tinha convivido com um anão na minha vida. E eu vou dizer uma coisa pra vocês, foi tão confuso, que você não sabe direito se é criança ou se é gente. E os anões tinham uma faixa de idade de uns 35, 45 anos e eu tinha o quê? 23 e eu não sabia como que eu ia tratar e conviver com aqueles anões, não é? Quando nós chegamos no hotel, um hotel belíssimo, de frente pro mar, chiquérrimo. Tinha um senhor no saguão do hotel lendo um jornal. Entrou eu, entrou a Nenê, entrou o palhaço, entrou cinco anões, O senhor virou e, “O que é que é isso? Eu tô na ilha da fantasia?” (risos). Gente, aquilo eu não acreditei, fomos na manhã seguinte, antes de ir para o show, eu tremendo, os anões todos rindo, eles eram muito expansivos, alegres, não sei o quê. Só que por serem anões eles não alcançavam o balcão, lá no restaurante, o balcão de frios, nada disso, então o quê que tinha que fazer. Tinha que servir os anões todo dia de manhã, pega pra mim aquele presunto, queijo, safados porque eles sabiam, eles não podiam fazer nada né, mas aí eles abusavam. Aí, tinha que servir cinco cafés da manhã, todo dia (risos). Tá tudo bem, agora vou sentar pra tomar meu café. Já peguei tudo pra todo mundo, aí quando a gente chegava no hotel, era muito engraçado, ia eu e os anões atrás, parecia uma Branca de Neve (risos). Eles falavam quero entrar na piscina (risos). Não, ninguém vai entrar na piscina, vão primeiro tomar sol porque se eles entrassem na piscina, eu tinha que entrar, porque eles não conseguiam entrar na piscina que já era fundinha, assim, eu morria de medo de afundarem na piscina (risos). Gente, foi um mês de trabalho intenso dentro do palco com os anões, foi uma coisa meio mãe mesmo e eu falava assim, todo mundo no raso heim (risos). E a gente fazia show no Barra Shopping, no Rio. Aí, quando chegava nos intervalos do show eles viravam pra mim e diziam “Tem que comprar uma roupa”, coisa assim, ia comprar roupa em loja de roupa pra criança, né. Foi uma experiência maravilhosa.
P/2 – Como que era esse passarinho?
P/1 – Esse “Matusquela”? (risos)
P/2 – Como você inventou?
R – Saiu no palco, que tudo que eu fazia fora do palco eu achava que não estava legal, aí na hora que foi apresentar “Agora com vocês o Matusquela, o júri das crianças”. Aí eu o montei ali e saiu uma voz lá na hora, e aí foi àquela voz o tempo todo.
P/2 – Você lembra como era mais ou menos?
R – Era uma voz um pouco mais assim, um pouco mais rouca. Ele era muito chato o Matusquela, né? Eu dei uma personalidade meio chata, rabugenta.
P/1 – E qual era o papel do Matusquela mesmo, Delba?
R – Ele fazia parte do júri, que dava nota para as crianças quando elas terminavam de cantar. Ele era chato, mas no final era tudo bem. Foi uma experiência fantástica. Fez parte dessa diversidade que falei que é minha profissão, que tem essas diferenças. Até hoje encontro esses anões na rua. São atores, fizeram muitos trabalhos com a Angélica na época que tinham os bonecos no programa. Outro dia tava no metrô, ouvi assim “Delba! Delba!” quando olho assim, ele aqui em baixo (risos). E quando eles iam ao banheiro, porque um anão tem que levar outro anão pro banheiro pra ajudar botar a bacia.
P/1 – Não tinha essa preocupação da adaptação com pessoas especiais como tem hoje.
(corte)
P/1 – Delba, retornando a nossa entrevista, você teve experiência em teatro? Você atuou?
R – Eu fiz uma coisa mais séria, foi Antígona de Sófocles.
P/1 – Como que era?
R – Nem eu acreditei que fiz aquilo. Com Dárcio Della Mônica, há muito tempo, no Teatro Ruth Escobar.
P/1 – Que papel você fazia?
R – Uma das escravas de Antígona, foi meu primeiro trabalho, assim de, sério.
P/1 – Você fez curso de teatro? Ou foi só nos ensaios?
R – Isso que acontece na minha vida, as pessoas vem e pedem: “faz? Não, mas não vai dar certo.” Aí eu vou e faço.
P/1 – Que época é essa que você está falando?
R – Da Antígona?
P/1 – É!
R – 80, não, antes, 75.
P/2 – Você tinha quantos anos?
R – Abafa o caso. Corta isso (risos).
P/1 – Como surgiu essa oportunidade de fazer Antígona? Qual era a importância da peça nessa época? Era uma peça política, né?
R – É, eu fui pra Antígona porque a tarde tinha uma peça infantil dirigida pelo Leão Lobo porque ele é um diretor de teatro muito bom e eu fazia parte da turma do Leão Lobo e o Dárcio Della Mônica fazia Antígona à noite e ele precisava de três pessoas que fizessem as escravas de Antígona e foi até o Leão pedir se ele não tinha indicações. O Leão Lobo me indicou e eu fui, mas eu não tinha feito nada de teatro até então e foi nessa oportunidade que eu fiz. Mas não tinha texto, era figuração só e foi bem legal, bem construtivo.
P/2 – Como era sua vida nessa época? O que você fazia?
R – Foi antes da faculdade, depois da faculdade começou a parte de música mesmo, que aí aconteceu o teatro do Ely Barbosa aconteceu o trio, o Som das Sedas. E aí aconteceu que no término do Som das Sedas eu criei uma produtora de eventos e agenciamentos de bandas, de artistas e tudo mais. E aí eu só vendia os artistas.
P/2 – E você parou com a parte artística?
R – É, eu parei, só que até hoje quando eu faço, eu apresento eventos. E aí eu trabalhei no Anhembi, apresentando eventos, trabalhei no Centro Cultural apresentando shows, fazendo mais essa linha mais séria. Ou não.
P/2 – Com que artistas você trabalhou?
R – Eu trabalhei com tanta gente, só apresentando mesmo. Eu trabalhei com Gonzaguinha, com Gonzagão nos eventos grandes que a Prefeitura na época, a Prefeitura da Luiza Erundina, ela criou muitas, muitos eventos na rua, shows no Anhagabaú. Aí eles me chamavam pra eu abrir, pra eu apresentar. Tinha Gonzaguinha, Gonzagão, teve Geraldo Filme, que ele trabalhava no Anhembi também, era dessa época Cláudia. Quando Elis Regina morreu, anos seguidos shows marcando o aniversário da Elis Regina, do falecimento da Elis Regina e aí no Centro Cultural eram feitos sempre esses shows, era uma semana de homenagem a Elis, né, onde todas, onde a maioria das pessoas, os artistas se apresentavam e eu apresentava todos esses artistas. Todos da época Belchior, João Bosco, né, todo esse pessoal aí eu consegui apresentar.
P/1 – Como se deu o seu envolvimento com o lado espiritual, tarô, numerologia? Como você foi redirecionando?
R – A coisa vem assim, como eu fiz Relações Públicas, teve uma época que eu tive oportunidade de trabalhar na Net, televisão a cabo, como eu sempre fui muito comunicativa, oportunidades em departamentos comerciais de empresas sempre me apareceram e foi o que apareceu a Net. Quando eu estava na Net foi dado um treinamento para as pessoas do Departamento Comercial sobre Programação Neuro Linguística, isso foi em 96. A Programação Neuro Lingüística nessa época, embora ela já estivesse no Brasil há algum tempo, nas empresas, tudo mais, isso não era reconhecido, não se conhecia Programação Neuro Linguística. Eu conhecia a Programação Neuro Lingüística, foi dada para aumentar a produtividade do Departamento Comercial e eu me apaixonei. Eu falei “Gente, é isso! Como é que eu nunca pensei nisso antes” e comecei a utilizar as técnicas da PNL no meu trabalho e a coisa começou a rolar, comecei a vender muito e, comecei a bater metas, e antes eu batia, mas depois eu comecei a bater com muita facilidade. Depois de um ano eu recebi a promoção na Net e fui pra supervisão, pra coordenação e comecei a treinar minha equipe baseado nesses conceitos da PNL, da Programação Neuro Linguística e a equipe começou a bombar, aí a Net me deu todas as terceirizadas dela pra eu treinar e eu fui treinando e a coisa começou a ficar melhor, até que eu saí da Net e começaram a vir outros convites e tal.
P/1 – O que é Programação Neuro Linguística? Quais são seus pressupostos? Algo que você possa estar contando aqui para gente.
R – A Programação Neuro Linguística é, de uma forma bem simples, é uma nova forma de nos programar mentalmente e uma nova forma de nos programar verbalmente. Então a partir daí eu começo a pensar de uma forma diferente e a falar de uma forma diferente. Principalmente no falar existem palavras que abrem oportunidades e existem palavras que fecham oportunidades e que a maioria das pessoas desconhecem e falam isso rotineiramente. E aí as coisas começam a ter resultados que não são aqueles que você gostaria de ter e que você nem saca
que é exatamente por aquilo que você está falando. Então, por exemplo, vou falar uma palavra aqui, a mais significativa até que a gente fala demais que é a palavra não. Nós falamos o não direto mesmo querendo dizer sim. Não quero ficar desempregado, a gente diz isso, então realmente o que você ta falando? Você tá falando aquilo que você não quer ao invés daquilo que você quer. Se eu não quero ficar desempregado então o que é que você quer exatamente?
Ah, eu quero ter trabalho, aí você começa a falar exatamente o que você quer e direcionar o seu pensamento para aquilo que você sim quer. Se você falar não quero ficar desempregado você tá olhando pro lado do desemprego, você não tá olhando pro lado da oportunidade e como toda nossa palavra e todo nosso pensamento tem uma vibração própria, e que atua porque semelhante atrai semelhante, então tudo isso faz a diferença. E mais, o nosso cérebro ele não entende o não, então se eu for dizer a vocês assim, a falar uma frase e quero que vocês me digam o que pensaram com essa frase, então por exemplo: “Não pense no amarelo”. Que cor você pensou?
P/1 – Amarelo.
R – Exatamente o amarelo. Então a Neuro Linguistica prova que, na verdade, o cérebro não entende o não. Um outro exemplo: “Não quero gritar igual a minha mãe”. O que o cérebro programou pra você?
P/1 – Uma forma de gritar de uma maneira diferente.
R – Por milésimos de segundos não apareceu a imagem de sua mãe gritando? Pequeninha, talvez até em preto em branco. Então na verdade o que o cérebro entendeu? Exatamente aquilo que você falou, que não queria, então é isso, o não é uma delas, se aprende tanto na PNL, em departamentos comerciais ela é muito implantada hoje. Toda empresa quer dar um treinamento de PNL para vendedores, justamente para eles começarem a dizer pro seu cliente aquilo que seu produto tem sim e não aquilo que ele não faz. Aquilo sim que eu quero alcançar, se eu tenho metas pra bater no departamento comercial de uma empresa. Então qual é a meta que eu quero alcançar, não aquilo que eu não quero fazer, não ter medo, coisas assim.
P/1 – A verbalização te leva ao pensamento, que te leva à determinada ação.
R – Para a concretização. Por isso que “O Segredo” tá tão em moda, o filme, se bem que o segredo mascara a ação, ele coloca meio que mágica, que o errado do filme ta ai.
P/1 – “O Segredo”?
R – É, é legal todo mundo poder assistir esse filme que ele mostra um poder de concretização que a gente tem através da nossa mente. Então quanto eu conheci isto na Net eu fiquei espantada e falei “É isso que eu quero estudar”. E estudo até hoje, então sou Master em Programação Neuro Linguística, dou treinamento em empresas e escolas e como coaching em atendimentos individuais também. E aí Programação Neuro Lingüística cabe pra várias coisas: parar de fumar, emagrecer. Ah eu pesava 90 quilos, tá. Já cheguei a pesar 90 quilos.
P/1 – Com a Programação Neurolingüística você conseguiu emagrecer?
R - É, emagreci e nunca mais engordei. Amém, Senhor. Porque em família italiana, do jeito que eu sou... Então para parar de fumar, emagrecimento ou pra enfrentar concursos, os vestibulares e entrevistas de trabalho, você já chega lá com dez, não chega lá com medo. Pra falar em público a PNL funciona demais, pra você ter fluência, segurança e aí no caso de fobias também, depressão, como que eu crio meus objetivos. Tenho objetivos na vida, mas como é que eu faço pra que esse objetivo seja alcançado, seja concretizado, né? Qual é o passo a passo pra isto, porque se não vira sonhos, fica nos sonhos só.
P/1 – Fica aquela coisa, quero ser rico, né? Como você concretiza esse sonho?
R – Primeiro é o que é ser rico pra você? Ser rico pra mim é diferente pro Rafa, é diferente, pra Cláudia, é diferente pra ele, são riquezas diferentes. O que é ser rico?
Primeiro é identificar esse estado desejado que nós chamamos, como que ele é
bonitinho, e aí é adaptar ele bonitinho no seu pensamento, colocando cor, tirando cor, porque tudo isso também influi na concretização, tudo que eu não quero. Só uma dica, tudo que não quero penso em preto e branco, pequenininho, tudo que eu quero boto cor e amplio. Isso é uma sub modalidade na Programação Neurolinguística.
P/2 – Você tem uma clínica hoje?
R – Eu tenho um consultório.
P/2 – Depois que você começou a estudar a PNL, como foi o caminho até o consultório?
R – Olha, foi simples isso, viu, porque isso foi natural. Porque primeiro começou com as empresas. O meu consultório fica na minha casa, e de lá sai tudo mesmo, tanto os clientes que possam vir, mas também os negócios que eu posso fazer nas empresas. Lá é o quartel general da história toda. Mas a minha paixão pela Programação Neuro Linguística e principalmente pela diversidade das pessoas e por gostar muito de pessoas, foi me dando essa abertura. É assim, você tem uma vontade, começa a agir e a coisa vem. Ah, como eu chego lá? Tem uma metáfora muito interessante, “Puxa vida, eu quero ter uma empresa de eventos”, vamos supor, vamos criar isso, né? Eu quero ter uma empresa de eventos, mas eu não tenho nada hoje, né, pra essa empresa de eventos, nem sei como chegar lá, aí eu digo assim, quando você está no seu carro e você quer chegar lá na praia, você liga seu carro, liga seu farol, e o seu farol vai iluminar aquela praia, direito pra onde você vai? Não, ele vai iluminar uns 60 metros, mas ele vai te dirigindo, não vai? Os 60 metros que o farol vai te dirigindo, você vai indo, confia nele, vai indo, vai indo até que chega na praia, não é? Então funciona assim, deixa o farol ir trabalhando de 60 em 60 metros e chegar até essa empresa de eventos. Você chega.
P/1 – Como foi seu processo de aprendizagem? Como você buscou essa forma de conhecimento? Foi através de curso? Como você foi indo pra esse lado, através de cromoterapia, Reiki, essa busca?
R – Uma coisa vai puxando a outra, né, porque todas esses terapias elas se completam, elas se interligam, ai, que legal, fiz primeiro o practitioner. Porque, existem graduações na PNL, né? O primeiro passo são módulos normais, você pode fazer um modulo de comunicação, tem o modulo de auto-estima e tal, mas se você quiser fazer todos os módulos, tem um curso chamado practitioner. Então fiz o practitioner que é um ano, passado o practitioner, fiz cromoterapia, fiz naturopatia que mexe com toda à parte de medicina tradicional chinesa, incluindo as massoterapias também, aí depois eu fiz o master practitioner, e aí como eu sempre fui fascinada também sobre o outro lado da vida, aí fiz Tarô e Numerologia e já tá de bom tamanho. Então quando a pessoa chega pra mim, antes de mais nada, pra eu começar a conversar com essa pessoa eu levanto a Numerologia dela, é a Numerologia que me dá, todo o perfil dessa pessoa, quem ela é, o tipo de personalidade que ela tem, os desafios que ela tem e o que ela veio aprender nesta vida aqui. E é infalível.
P/1 – O Tarô que você falou que você lê, é um Tarô diferente, né?
R – É um Tarô diferente, baseado na Programação Neuro Linguística.
P/2 – Você primeiro estudou o convencional pra depois adaptar pra Neuro Linguística ou você já se especializou direto nisso?
R – Sabe o que acontece? É assim, o Tarô. A maioria das pessoas conhece o Tarô como uma ferramenta de adivinhação. Ah eu vou casar? Ou vou arrumar namorado esse ano? Vou arrumar emprego? Essas coisas assim e ficou conhecido como isso. Mas, o Tarô é muito mais do que isso, o Tarô é composto por 22 arcanos maiores, mais 56 arcanos menores, que cada um tem uma simbologia e é através dessa simbologia que eu aplico as técnicas de Programação Neuro Linguística, então, por exemplo, vamos fazer um exemplo mais palpável, né? Vamos supor que quando eu tiro, quando a pessoa tira uma carta pra ela no Tarô, tem lá o imperador que tem uma simbologia, qual é a simbologia do imperador? O imperador é uma pessoa de poder, de comando, de iniciativa, então ela trás isso dentro dela; que gosta das coisas mais certinhas, das coisas mais organizadas, e como toda carta do Tarô tem o seu lado bacana, seu lado positivo e seu lado negativo. Qual é o lado negativo deste imperador? É a prepotência, é a arrogância, é inflexibilidade, essa coisas todas, se a pessoa ta conversando comigo e ela começa a me dar algumas características dessa inflexibilidade, dessa prepotência eu entro com a técnica de PNL, pra ela entender que essa inflexibilidade, ou com um pressuposto da PNL, de repente, onde se diz que mapa não é território. A forma como ela vê a vida não é exatamente a forma como a outra pessoa vê e caminho pelo universo da PNL, dos pressupostos da PNL pra entender um pouco mais desse imperador que ela tem dentro dela.
P/2 – É ela quem escolhe a carta?
R – Sempre ela que tira as cartas, eu só interpreto, sempre dou só interpretação, mas é ela quem faz tudo.
P/1 – Bacana. Tô encantada.
R – É bacana mesmo. Não que o Tarô não responda se você vai casar, se você vai entrar no vestibular, ele responde tudo isso, mas o que eu quero dizer que o Tarô é muito mais do que isso, ele é essencialmente uma ferramenta de autoconhecimento, né? Então assim, se eu tenho esse imperador ali que é legal, então vou trabalhar o lado legal dele, esse lado que não é tão legal que está me prejudicando, talvez essa falta de flexibilidade que está fazendo com que eu
não consiga um trabalho melhor, com que eu não consiga um relacionamento melhor com o grupo de pessoas com quem eu já trabalho se por hora você já trabalha, né? Tem todo um trabalho, aí entra terapia, e na terapia aplicar cores mais relaxantes nas pessoas e uma drenagem linfática para estar expulsando as toxinas, um floralzinho para estar mais calma, dormir melhor.
P/1 – E nesse caminho você encontrou o Evaldo.
R – É, esse caminho vamos colocar em letras negritadas (risos).
P/1 – Como que foi esse encontro com o Evaldo?
R – Músico, percursionista e baterista de mão cheia, um dos melhores, por que não, né? E instrutor de Ioga, o Evaldo tem uma espiritualidade maravilhosa, um homem ímpar, que eu amo de paixão.Nos nossos 19 anos de casório, 19 anos de caminho. Até aqui tem 19 anos de casório pra quem não quis casar. Eu conheci o Evaldo na época que eu tive a produtora e eu vendia artista e ele fazia parte de uma banda que eu agenciava, que minhas sócias, junto comigo, também agenciavam. Aí a gente, nós nos conhecemos numa casa chamada Madame Satã, lá no Bixiga, era muito conhecida, submundo do submundo.
P/1 – Mas era muito famoso, muitos músicos, muitos artistas.
R – Então conheci ele lá, aí a gente começou a namorar e tudo mais. Eu morava na minha casa, meu apartamento, o Evaldo morava no apartamento dele, sozinho também. O Evaldo tinha acabado de separar, eu sou o segundo casamento dele, cada um morava na sua casa. Bom, aí lógico a gente namorando, daí passava mais tempo às vezes no meu apartamento do que no apartamento dele. Ele tocava nesse bar chamado Boca da Noite também, um dia, eu e uma amiga minha Silvia, que era minha sócia, passamos no Boca da Noite no final de uma madrugada pra pegar o Evaldo, que o Evaldo ia pra minha casa, aí o Evaldo virou e falou assim “Olha vamo passar na minha casa que amanhã de manhã eu tenho estúdio, tenho uma gravação, os instrumentos estão na minha casa. Eu já pego todos os instrumentos, a gente põe no carro, vai pra sua casa e de lá já vou direto pro estúdio, não vou precisar voltar aqui pra pegar os instrumentos”. Legal, sem problemas, fomos a casa dele, eu e a Silvia no carro, e ele começou a botar um monte de coisa dentro do carro, foi instrumento, foi disco, foi livro, foi roupa, foi o “caçamba a quatro”. Aí eu tô dentro do carro, a Silvia também, ela disse assim “Belinha”, meu apelido é Belinha, “Belinha, eu acho que você tá casando”, aí eu falei assim “Como assim?” (risos). Cheguei em casa com toda aquela tralha dentro do carro, virei pro Evaldo no apartamento e disse assim “Evaldo, você tá mudando aqui pra casa?”. Aí ele virou e disse assim “A gente não pode conversar isso amanhã? Hoje eu tô tão cansado!”. Eu fiquei pasma, ele foi dormir, eu também fui dormir e não dormi porque fiquei olhando assim pra cara dele dizendo “Gente, será que eu casei e não to sabendo que casei?”. No dia seguinte ele já saiu esbaforido pro estúdio, né, e também não conversamos muito sobre isso e aí também as coisas foram indo, foram indo e tal. Por várias vezes, isso foi muito interessante, por várias vezes eu cheguei, tive vontade de chegar pra ele e dizer assim “Olha Evaldo, volta pra sua casa, a gente tava melhor anteriormente”, me sentia melhor mesmo anteriormente porque eu não tava preparada pra dividir nada.
P/2 – Mas você começou a namorar com ele antes dele ir pra sua casa?
R – Isso, tínhamos uns nove meses de namoro, mais ou menos quando ele tomou essa decisão sorrateiramente. Não me senti bem com isso, por várias vezes tive vontade de chegar pra ele e não sei o que acontecia, acontecia alguma coisa ou não me sentia forte demais pra falar aquilo e as coisas foram se desdobrando. Quando ele virou pra mim um dia e falou assim “Olha, a banda que eu tô tocando hoje vai pra Europa, vai fazer uma turnê e acho que vamos ficar lá uns três ou quatro meses e que não sei, blá, blá, blablá” eu fiquei meio assim e tal dele ter que fazer essa viagem, mas no fundo eu gostei muito, porque eu falei “Agora é a pausa que eu queria, que eu precisava”. Então ele foi pra a França com o Toninho Crespo com aquele pessoal todo. Foi pra França, ficou lá uns seis meses, aí voltou, ficou mais um mês no Brasil e voltou. Ficou mais seis meses na Europa, né, e aí foi nessa época que aí eu falei assim “Acho que agora já estou melhor pra encarar esse relacionamento” e aí está aí até hoje. Foi assim, mas foi uma coisa que eu não queria, que relutei, quis falar, quis falar, nunca deu, nunca deu, ele viajou e depois as coisas se acertaram. Só depois de um ano que minha família soube que estávamos juntos. Minha família é italiana, supertradicional, chega eu com um negão rastafari, meu pai ficou uns 15 minutos olhando assim “Minha filha, eu te dei os melhores colégios de São Paulo (risos), te dei uma educação requintadíssima (risos) e você casou com um baterista, rastafari, negão”. Meu pai coitado.
P/1 – Tinha outra expectativa na época, né?
R – Engenheiro, advogado ou médico, quem sabe. Mas hoje tudo bem, eles convivem na paz, meu pai adora ele, minha mãe ama de paixão o Evaldo.
P/1 – Vocês têm pontos em comum na vida profissional, onde esses pontos convergem?
R – Temos, porque nas palestras que eu faço ou nos treinamento que eu dou de Programação Neuro Linguística, o Evaldo entra muito com a parte, primeiro que a gente faz uma enquete, teatrinho pra representar algumas situações, nos treinamentos, e a música também, a gente faz dinâmicas musicais muito bacanas, com percussão com os participantes. Então a gente monta um monte de instrumentos de percussão na sala e o grupo empresarial ali pegam os instrumentos, contam pra gente o que estão sentindo, o que tá ouvindo, a sensação daquilo no ouvido e trabalhamos muito a percepção desses executivos, dessas pessoas através da música e da parte da Ioga, respiração. A gente põe tudo no treinamento e fica bem diferente, fica bem legal e fora do convencional.
P/1 – Como as pessoas recebem esse trabalho?
R – Então, é interessante porque os executivos geralmente eles são muito, mais pro seco, mais terno gravata. Então é assim, eu sempre digo, meu maior desafio é na minha primeira meia hora de curso porque tá todo mundo lá vestido com todas as suas armaduras, mas com o decorrer do tempo as armaduras vão sendo deixadas de lado. E já começo a entender isso quando eles vão afrouxando as gravatas, os sinais verbais. Aonde eles já vão meio que relaxando o corpo, né, e aí eles se entregam pra Deus, e brincam e trocam as sensibilidades e tudo mais. Agora, tem uma coisa interessante, eu prefiro fazer as palestras fora do ambiente de trabalho e de preferência se eu puder sair da empresa eu sairia também. Não gosto de fazer nada lá, porque às vezes não rola. Mas rola sim, rola bastante.
P/1 – Você também faz um trabalho com a 3ª idade?
R – Faço, e a 3ª idade é animadíssima, muito legal, eles percebem rápido as coisas, se entregam. Tem dois públicos que eu gosto muito, a moçadinha que amo de paixão, 15, 16, 17, 20, 23 anos, adoro, adoro porque eles entendem rápido, eles não têm tantas amarras, tantas resistências, absorvem fácil, muito fácil. Por isso que todo mundo entra no vestibular fácil, porque eles entendem fácil, eles aprendem rápidos e eles aplicam aquilo fácil e entram no vestibular mesmo. Então tem esse público e tem a 3ª idade que é fantástica.
P/1 – E no caso da 3ª idade, qual é o foco do seu trabalho?
R – Estresse e depressão, trabalho esses duas tônicas com eles.
P/1 – Mas por que que surgem esse tipo de grupo, é uma forma de perda, produção, o que acaba acontecendo?
R – Esses movimentos que tem com a 3ª idade foi um movimento muito bacana, onde eles preenchem a vida deles de uma forma mais, muito mais rica com esses movimentos da 3ª idade e é chegada uma época que eles precisam entender que eles não podem ficar aleatórios, largados do jeito que eles acham que eles devem ficar, ou que eles não têm mais perspectiva ou que eles não podem mais fazer nada, muito pelo contrário eu acho que agora é a hora que eles pode fazer uma série de coisas, né? Então é caminhar pra esse lado mais aberto, mais alegre da vida, mostrar mais alegria pra esse pessoal. E eles aceitam de bom grado, por isso que eles vêm muito, pela abertura que já tem de movimentos de 3ª idade, aí os convites vêm.
P/1 – Você acha que está faltando falar de alguma coisa que a gente esqueceu, passou batido, que a gente não abordou?
R – Acho que já abordamos bastante coisa.
P/1 – Delba, pra gente finalizar, daqui pra frente qual é o seu sonho? O que você quer realizar ainda?
R – Eu quero realizar tanta coisa ainda, quero realizar muitas coisas, mas dentro dessa minha atuação mesmo, ou seja, dar cada vez mais treinamentos, cursos pra quem vier e ter bastante atendimento individual também e continuar com meu grande amor que é o Evaldo.
P/1 – Ai que lindo (risos). E como você vê ter passado esse tempo aqui com a gente, ter contado a sua história, ter sua trajetória registrada? Qual que é a importância?
R – Muito legal, vou agradecer muito ao Toninho Crespo, a Lourdes que me fizeram essa indicação e tudo mais. Achei lindo o trabalho, achei lindo o Museu da Pessoa, nem sabia que existia. A Lurdinha que me falou que me convidou e tal. É maravilhoso, continuem com isso, muito legal.
P/1 – Obrigada pela entrevista Delba.Recolher