Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Rogério Zanella
Entrevistado por: Claudia Fonseca
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB010
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Bom, eu gostaria que você começasse dizendo pra gen...Continuar leitura
Nome do projeto: Memorial do Trabalhador
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de: Rogério Zanella
Entrevistado por: Claudia Fonseca
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Código: ITA_CB010
Transcrito por: Elisabete Barguth
P1 – Bom, eu gostaria que você começasse dizendo pra gente o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Rogério Zanella, sou natural de Santa Catarina, a cidade é Eva Velha, 18 de fevereiro 56.
P1 – E o nome do seu pai?
R – Luciano Ernesto Zanella.
P1 – E sua mãe?
R – Mafalda Nogária Zanella.
P1 – E o que seus pais faziam, Rogério?
R – Meus pais eram da agricultura.
P1 – Em Santa Catarina mesmo.
R – Em Santa Catarina.
P1 – Seus pais são da região do sul, do Rio Grande do Sul.
R – São de Santa Maria, Rio Grande do Sul.
P1 – E quando você chegou aqui em Foz do Iguaçu?
R – Nós mudamos da região de Santa Catarina pra região de Toledo em 72.
P1 – Toda família?
R – Toda família, eu to em Foz do Iguaçu em 75, eu vim pro exército fiquei até 76 em casa com meus pais, em 77 que eu ingressei na segurança da Unicon na época.
P1 – E seus pais, quer dizer, você veio pra Foz do Iguaçu por causa do exército mas seus pais vieram pra cá pro Paraná porque?
R – Porque nós tivemos uma oportunidade na Simos, vendemos as nossas terras lá que eram poucas e compramos aqui na nossa região de Toledo, interior com melhores condições.
P1 – E você lembra da primeira vez que você chegou em Itaipú, a impressão que você teve? Você chegou aqui em...
R – 77, 7 de março de 77.
P1 – Certo, e a impressão que você teve de Itaipú?
R – Assusta, né, porque você não é acostumado, interior, você entra numa Usina aqui já com uma quantidade enorme de pessoas trabalhando e eu nunca tinha sido mandado por alguém como funcionário, então eu entrei aí com um objetivo de tentar sair do interior e vencer alguma coisa na vida, né, e graças a Deus eu consegui.
P1 – E como é que você foi fichado, você veio aqui, você sabia que precisava de gente como é que foi esse processo?
R – Eu tinha informações em 75 quando eu tava no exército, quando eu dei baixa, um amigo nosso um Tenente me orientou “Olha, tem um pessoal aí que tá fichando lá em Itaipú”, mas eu não conhecia até assustava quando falava o novo Itaipú, né, que ia molhar a gente, aquele negócio todo, barragem e aí eu procurei essa pessoa ele me orientou na época o Capitão Grosso, que era o chefe da segurança aqui dentro e ele me orientou e depois de lá já vim trabalhar.
P1 – Quer dizer que você então começou como guarda de segurança?
R – Comecei como guarda de segurança.
P1 – E como é que era essa coisa da segurança com tantas pessoas, tantos homens trabalhando aqui dentro, conta pra gente.
R – Era um trabalho difícil porque a gente tinha que coordenar, tinha pessoas de vários tipos aqui dentro, tinha gente boa, gente ruim, tinha roubo, desvio de muitas coisas, né, então a gente controlava esses bens da empresa também, mas a gente foi entrosando, foi levando aí e graças a Deus a gente superou.
P1 – Tinha muita briga entre os operários?
R –Existia, porque tinha o costume de outras empresas e era meio deixando a vontade e aqui o sistema era totalmente diferente.
P1 – Da outras barragens?
R – Totalmente oposto, porque tinha segurança do Itaipú e segurança da empresa, da Unicon.
P1 – E você era da Unicon?
R – Da Unicon, então tinha ali 300, 400 seguranças aí dentro, espalhados aí dentro, porque a Unicon tinha 25, 30 mil pessoas trabalhando, chegou há 30 mil pessoas fichados trabalhando aí, fora outras empresas que tinham aí dentro, então tinha que ter uma coordenação muito rigorosa em cima, então até coordenar a piãozada toda aí é difícil.
P1 – E vocês coordenavam, você estava me dizendo...
R – Depois a gente foi vencendo e o pessoal acostumou daquele tipo de trabalho nosso que implantamos, então se tornou fácil o trabalho nosso.
P1 – Como era essa coisa, tinha gente do Brasil todo que vinha pra cá.
R- Do Brasil todo, de São Paulo, Rio, Minas.
P1 – E isso era difícil controlar, tinha problemas em relação a isso, ou não?
R – Tinha, porque o pessoal era acostumado em outra barragem, outro tipo de comportamento e achavam que era assim costumes diferentes.
P1 – Mas assim, pessoas que eram de uma região ou de outra alguém dava mais problema quem era de uma região ou de outra ou era geral?
R – Geralmente o pessoal que vinha do Rio era mais difícil adaptar aqui. Porque eles tinha uma vida mansa, aquele negócio todo, chegava aqui era mais difícil não dava muito certo, mas você coordenava e o barco tocava.
P1 – E você coordenava que você me disse eram as filas de pagamento, a questão do transporte como era essa questão do transporte?
R – O transporte, na época era muita gente então a gente controlava o embarque do pessoal, centenas de pessoas aí.
P1 – O embarque pra eles irem trabalhar em outro lugar?
R – Um exemplo tinha um pessoal que vinha de Matelandia, Medianeira de toda região vinha nas carretas tinha o transporte assim, então a gente fazia o transporte na saída do turno e entrada do turno controlava tudo isso, então a gente fazia essa coordenação toda.
P1 – Certo, e Zanella, você trabalhou nesse setor de segurança e num período um tanto quanto difícil que o Brasil tava na época da ditadura militar e tinha alguma orientação diferente, havia uma preocupação diferente com algum problema?
R – A preocupação sempre existe, né, desde que fala a nível de Itaipú tudo preocupa é uma coisa que tem que ter uma coordenação muito grande.
P1 – Vocês falavam em atentado, tinha essa preocupação?
R – Não tinha essa preocupação não, né, lógico que na atual situação de hoje...
P1 – Hoje tem mais preocupação?
R – Na época não tinha essa preocupação, a gente se preocupava no bem estar do funcionário, na família do funcionário, mas hoje...
P1 – Vocês tinham uma preocupação por parte do governo brasileiro em termos militares ou não, a orientação era toda da Unicon?
R – A coordenação da segurança ela sempre foi coordenada por militares na verdade, porque esses coronéis e tal, o nosso chefe mesmo era o Coronel Alésio, esses caras já tinham todas as manhas o que era uma segurança e o que não era, né, então a gente tinha esse apoio do pessoal.
P1 – E como era o cotidiano de trabalho, que horas você entrava pra trabalhar, que horas você acordava?
R – É difícil porque tinha grupos que trabalhava o dia todo, tinha grupos que trabalhava 12 horas, depois a gente passou há 8 horas, a gente fazia muita hora extra, trabalhava muito as vezes faltava pessoa e a gente tinha que fazer dobra de serviço, isso era uma coisa rotineira que acontecia então não tinha dificuldades pra gente.
P1 – E nos momentos de lazer o que você fazia?
R – No momento de lazer eu pratica esporte que era o boxe.
P1 – Tinha um ringue que você tava me dizendo.
R – Nós tínhamos uma academia aqui dentro, tinha tudo aí, treinava muita gente. Só alojado aqui dentro da Usina tinha 7 mil pessoas alojadas, chegou a ter isso nos alojamentos da Usina, então aqui dentro era uma festa isso aqui todo dia era muita gente.
P1 – E o que você acha assim na tua visão o que foi mais importante da construção de Itaipú? Você que acompanhou a segurança, o que foi mais importante?
R – Pra mim.
P1 – Isso, na tua visão?
R – Foi tudo, porque a minha vida toda foi aqui dentro no geral. Aprendi a conhecer pessoas diferentes, sai do interior sem muita malandragem, cresci junto com a empresa, a Unicon pra mim foi um espetáculo caiu do céu, porque as dificuldades que a gente tinha na época era financeira, era tudo e o ganho era muito bom aqui dentro, você ganhava muito bem isso que atraia bastante o pessoal. No interior você trabalhava 1 ano pra você tirar 1 mil cruzeiros da época e aqui dentro você tirava em 1 mês, você ganhava bem na época.
P1 – Depois você passou de segurança, de guarda de segurança pra bombeiro, essa mudança da Unicon pra Itaipú?
R – Isso em 79, nós saímos da segurança da Unicon e passamos pra Itaipú integrando o corpo de bombeiros que eu faço parte hoje.
P1 – Até hoje, você é o líder do...
R – Eu faço parte nós somos em cinco grupos e eu sou responsável por uma equipe.
P1 – Você é casado?
R – Sou casado.
P1 – Quantos filhos você tem?
R – Tenho três filhos.
P1 – Você mora aqui em Foz do Iguaçu mesmo.
R – Moro em Foz do Iguaçu, moro na Vila Itaipú.
P1 – E o que você faz hoje como lazer?
R – Eu jogo futebol, eu tenho chácara com área de lazer e pretendo montar uma academia amanhã ou depois se eu sair da empresa e seguir essa área aí.
P1 – E você lutou com o Maguila?
R – Lutei.
P1 – A ultima luta dele como amador.
R – Lutei em 82.
P1 – Essas luvas que você trouxe mostra assim nessa altura pra gente. Essas luvas foram dessa luta?
R – Essas luvas aqui foram na luta com Maguila.
P1 – E ele veio pra cá, foi a ultima luta dele como amador? Conta pra gente.
R – O Maguila, tinha contrato de entrar como profissional pela Rede Bandeirantes que contratou ele na época, então ele fez a ultima luta comigo como amador em seguida como profissional.
P1 – Você deu trabalho pra ele ou não?
R – Foi trabalhado, eu perdi por um ponto pra ele, mas foi muito difícil e até hoje ele comenta, nós nos encontramos novamente e ele comenta que foi uma das lutas mais difíceis pra ele.
P1 – Na época quantos assaltos foram?
R – Na época foram três round, oito por um.
P1 – Três por um.
R – É, três por um, três round. (PAUSA)
P1 – Bom, vamos voltar, você tava me contando do Maguila, ele tinha um contrato, que você fez a ultima luta com o Maguila como amador, né.
R – Como amador, mas aí ele seguiu o profissional, né, e eu disputei outros campeonatos Sul Brasileiro, fui campeão Sul Brasileiro nesse meio e aí eu disputei o Campeonato Brasileiro, fui campeão brasileiro com um cara do Rio o Luiz Farias, e foi uma seqüência de lutas que eu tive, representei a seleção do Paraná muitas vezes.
P1 – Por isso então que você foi escolhido.
R – É.
P1 – E a luta foi aqui em Itaipú?
R – Foi aqui no canteiro de obras.
P1 – Foi em 82?
R – Em 82.
P1 – E o pessoal gostava?
R – O pessoal adorava, quando falava que era boxe o pessoal adorava, esse era o esporte que o pessoal mais gostava aqui dentro. Porque falou em porrada aquele negócio todo, todo mundo gosta e é só homem que tem aqui dentro na verdade alojado, aquele negócio todo, então abria a portaria dava 10, 12 mil pessoas que trabalhavam aqui dentro assistindo a luta então era legal, era interessante.
P1 – E o que você achou de ter dado essa entrevista pro Memorial do Trabalhador?
R – Eu estou orgulhoso, estou emocionado. Na verdade, é que pra mim, minha família, meus amigos, meus filhos depois vão saber disso, ficou marcante não sei se mereço tanto e graças a vocês estou dando essa entrevista pra vocês, estou emocionado.
P1 – Então vale a pena?
R – Vale, foi ótimo.
P1 – Então tá bom, obrigada Zanella.
R – Obrigado vocês.Recolher