Projeto Memorial do Trabalhador
Depoimento de Antônio Luiz de Lima
Entrevistado por Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Realização Museu da Pessoa
Código: ITA_CB007
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Por favor, diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – M...Continuar leitura
Projeto Memorial do Trabalhador
Depoimento de Antônio Luiz de Lima
Entrevistado por Marina
Foz do Iguaçu, 28 de agosto de 2002
Realização Museu da Pessoa
Código: ITA_CB007
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Por favor, diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Me chamo Antônio Luiz de Lima, nasci no dia 28 de outubro de 1955, na cidade de Mirandópolis, estado de São Paulo.
P - Nome de seus pais por favor.
R - Meu pai chama-se Antônio Isidoro de Lima. Minha mãe chama-se Divina dos Santos Lima.
P – E conta como é que você chegou aqui.
R -Eu cheguei em Foz do Iguaçu em maio de 1977. Vim a passeio a convite de um irmão que trabalhava aqui na Itaipu. Infelizmente faleceu trabalhando aqui em Itaipu em setembro de 1978. Eu vim pra cá a passeio e havia várias possibilidades de emprego, eles estavam necessitando de muitas pessoas e eu fiz um teste, fui convidado a fazer um teste para a área de concreto, laboratório de concreto, fui bem sucedido no teste e fiquei no aguardo de um convite assim que começasse a concretagem da Itaipu eles mandariam chamar-me pra fichar e começar a trabalhar.
P – E aí você, demorou quanto tempo pra você ser chamado?
R – Demorou... Cheguei em maio e eles me chamaram em setembro. Nesse período eu não voltei para o estado de São Paulo.
Eu continuei aqui em Foz do Iguaçu que quando da minha visita a ________ do Iguaçu na Argentina eu descobri lá um filão muito bom pra ganhar dinheiro, que era guia de turismo. Então eu fiquei trabalhando como guia de turismo. Trabalhei guia de turismo na travessia do Rio Iguaçu levando os turistas para (Porto?) do Iguaçu e foi a época que eu mais ganhei dinheiro na minha vida. Eu ganhava em média de 300 a 500 dólares por dia, livre. Era uma mina de ganhar dinheiro. Mas eu, com um pouco mais de experiência, sabia que nem tudo na vida continua muito fácil. Então, assim que eu fui chamado para trabalhar em Itaipu, eu deixei o emprego de guia de turismo e vim trabalhar em Itaipu que eu tinha a intenção de construir uma família e sabia que esse trabalho de guia de turismo não era uma coisa sólida e tão pouco por muito tempo. Então já que eu tinha a opção de entrar na Itaipu, que é uma obra que duraria no mínimo, previa-se na época, 20 anos para a conclusão. E nada, já estamos aí com 20 e poucos anos, então eu achei melhor fechar na Itaipu e felizmente me dei bem. Consegui construir minha família. Consegui algum capital, pude ajudar meus familiares. E minha maior satisfação é estar aqui é ter feito muitos amigos e ser assim uma memória viva de Itaipu que eu comecei em setembro de 1977. No início da construção, quando caiu a primeira caçamba de concreto eu estava trabalhando, eu trabalhava na central de concreto. E tive a oportunidade de fazer parte da usinagem do primeiro traço de concreto que foi para o bloco H5C, autorização 0001, em 77.
P – Então você deve ter muitos casos marcantes que você viu e presenciou aqui, que viveu, né. Você se lembra de alguns? Alguns engraçados, interessantes, emocionantes.
R – É tem muitas coisas assim durante a vida da gente, que são coisas que marcam pela alegria pela felicidade. Muitas de decepção. A gente procura sempre carregar aquilo que é de sentido assim, de alegria. Mas tem muitas coisas que marcam. Uma das coisas que marcou pra mim, que a gente sente até hoje, mas que é uma coisa que estava acima de ______ de qualquer um de nós foi o irmão que eu perdi aqui em Foz do Iguaçu. Trabalhando, um acidente grave, talvez pudesse ter sido evitado. Mas aquilo que, eu creio muito em Deus, o que tá premeditado, muito poucas vezes você tem condição de escapar. Você pode até tentar evitar, mas talvez não escapa. Então eu perdi um irmão em setembro de 1978, que ele que me trouxe pra cá, que me deu toda a ênfase, aquele espírito de vamos pra lá, a gente vai conseguir alguma coisa. Então eu perdi esse meu irmão. Eu sinto que ele deixou uma viúva com três filhos. Felizmente estão todos bem, meus sobrinhos já estão formados, a minha cunhada está bem. Então é assim um pouco de, não é tristeza, mas uma coisa que marca um pouco que a gente, eu me emociono um pouco quando falo. Agora eu tenho muitas alegrias de amigos, passagens da Itaipu. Uma das minhas satisfações é de ter crescido junto com esta obra, ter aprendido muito, principalmente na parte de concreto que foi a parte que eu mais trabalhei. Então hoje eu posso dizer que eu sou uma pessoa assim. Em termos de concreto eu aprendi muito o que poucas pessoas teriam condições de aprender durante a sua carreira estudantil. Eu aprendi aqui na pratica na execução. Ajudei fazer muitos trabalhos, desenvolvemos muitos trabalhos a nível internacional. Muitos trabalhos pra outras obras e mesmo muitos trabalhos pra aqui dentro de Itaipu.
P – Qual a sua formação?
R – Minha formação estudantil, eu sou nível médio.
P – Mas você aprendeu tudo de concreto aqui dentro?
R – Sim. Eu tive a oportunidade de aprender muito, mas muito mesmo, sobre concreto. Eu tive a oportunidade de trabalhar com grandes tecnólogos, tecnologistas em concreto. Pessoas que hoje são pessoas renomados a nível internacional e que deu a oportunidade de nos desenvolvermos junto com eles estes trabalhos em termos de concreto, agregados, aglomerantes, aditivos e novas pesquisas com concreto mesmo de alta resistência. Isso aqui foi uma escola. Os estagiários tem uma oportunidade de vir a Foz do Iguaçu, de vir fazer um estágio em Itaipu. Eles saem daqui supercontentes, que isto daqui foi uma escola. Eu tive uma oportunidade de 1977 até hoje sempre tive dentro da mesma área, do mesmo departamento. Eu trabalhei em centrais de concreto, eu trabalhei em centrais de britagem, ajudei na desmobilização da área industrial, que eram os equipamentos que faziam parte do parque industrial, as centrais de concreto, fábricas de gelo, caminhões pesados, as escavadeiras e centrais de britagem. E quando a obra deu aquela paralisada que foi feita a primeira etapa, eu ainda tive a oportunidade de entrar na instrumentação. ________________ de barragem. É onde eu estou até hoje. Já venho trabalhando nisto daí. É uma parte muito importante porque muitos pensam que é só construir a barragem e deixar lá. Não é assim. Você tem que fazer o monitoramento pra ver a saúde desta estrutura. Porque construir é difícil, agora conservar e dar segurança é mais difícil ainda. Então exige um monitoramento de equipamentos e instrumentos que foram instalados, tanto superficiais como internos na estrutura. Através deste monitoramento nós fornecemos dados pra engenharia, que são elaborados relatórios semestrais onde os consultores analisam e dão o seu parecer quanto ao comportamento da estrutura. Se tá dentro daquilo de projeto, se é preciso fazer alguma coisa. Felizmente Itaipu é uma obra ainda, digamos, já tá passando da fase jovem pra adulta, mas é uma obra que eu me orgulho. E já tive uma pessoa perguntar se aqui era seguro. Eu disse: “Olha, eu me sinto tão seguro aqui que eu ____________ e caminho aqui dentro todos os dias. Então é uma obra segura, e o maior orgulho ___ por equipes brasileiras que construíram.
P – Vou ter que dizer outra vez. Conta alguns casos mais rapidamente porque a gente já tá no tempo. Engraçado, ____________.
R – Em termos de engraçado foi, a gente tinha um negócio de fazer um churrasquinho no final da semana e sempre alguém ia fazer uma leitura na barragem de Icaraí no Paraguai. É extra canteiro e passava perto dos açougues. Então era aquele negócio, traz uma carne pra mim, uma carne isso e aquilo. E nós tínhamos uma pessoa que não tinha uma boa dicção. E tem aquela outra pessoa que também não ouvia muito bem. Determinada hora esta pessoa falou: “Olha, eu preciso de três pilhas pequena urgente.” Mas como a pessoa já tava naquela eu vou pro Paraguai comprar carne, trouxe três quilos de picanha pro cara, em vez de três pilhas pequena. Falou: “Olha, tá aqui.”. E o outro falou: “mas eu não pedi isto daqui.” “O senhor pediu três.” Eram três pilhas pequena.
P – Como foi a convivência com os paraguaios?
R – Olha, eu me dou bem com qualquer tipo de pessoa, sempre tratei o próximo muito bem independentemente da cor, de raça e do tamanho. Que pra mim uma das maiores virtude é você fazer uma nova amizade. Então pra mim independente de ser paraguaio ou brasileiro sempre tratei bem. Tive a felicidade de, desde quando entrei na obra até hoje, trabalho com equipes mistas. Aprendi muito do dia a dia deles, algumas misticidades deles, algumas coisas assim da natureza que eles consumem muitos produtos quase naturais. Então a gente aprendeu muito. A gente ficava discutindo o idioma guarani. Aprendi um portunhol. Então assim...
P – Mas o guarani, o índio mesmo?
R – Pra mim é nossa língua pátria o tupi guarani, ne. Então algumas palavras a gente sempre procuravam o que é isso em guarani, o que não era. Apesar de ser um idioma limitado, não tem essas novas palavras, mas pra nós era novidade.
P – Agora a gente tá se encaminhando para o final da entrevista, então me diga o que você achou de fazer um projeto assim de resgatar a memória de Itaipu e o que você achou de falar de você.
R – Olha, uma oportunidade dá gente falar da gente é o máximo pra mim. Você ter condições de expor aquilo que você pensa e que você acha. Eu me sinto dentro de um universo de 40 mil pessoas que trabalharam dentro de Itaipu, dos quais 27 mil trabalharam ali no canteiro, eu ser escolhido como um dos 30 pra mim foi o ápice da minha carreira dentro de Itaipu. Meu orgulho vai ser maior ainda daqui pra frente e muito mais quando daqui a muito tempo alguém ver e falar: “Olha, eu conheci este rapaz, era o Antônio, era isso.” Ou pelo meu codinome que eu tenho aqui que muitos vão lembrar de mim. Era Antônio pra frente. Era meu apelido aqui.
P – Então você teria, se nós tivéssemos tempo, muitas histórias pra contar.
R – Sim teria sim muitas coisas de satisfação. Uma das satisfações minha como profissional que eu tive numa oportunidade de uma visita técnica de atender toda a cúpula do A.C.I. A A.C.I. é um órgão, um instituto americano do concreto onde tá unido as maiores tecnologistas em concreto, as maiores autoridades mundiais em concreto. E eu tive a felicidade de atender os três presidentes do A.C.I. apesar de eu não dominar o inglês, mas nós tínhamos um tradutor. E o ano passado em outubro, setembro, teve um congresso de concreto em Foz do Iguaçu e toda a cúpula do A.C.I. que veio visitar Itaipu eu fui nomeado para atendê-los dentro da parte técnica na parte de construção civil. Então pra mim foi uma satisfação em atender esse pessoal.
P – Se Deus quiser, quem sabe nós vamos __________. Obrigado pela entrevista.
R – Eu é que agradeço esta oportunidade mais uma vez. Pra mim foi o ápice estar entre os 30, digamos aí, arquivos vivos de Itaipu pra narrar, pra contar alguma coisa. Muito obrigado.Recolher