Meu nome é Solon Couto R. Neto. Nasci em Macapá (AP) no dia 23 de abril de 1974. Quando nasci, minha casa era muito humilde, construída por meu avô materno, que era garimpeiro no interior da Amapá. Meu pai vendia café, fez um curso de contabilidade e passou a trabalhar na Receita Federal. Foi ...Continuar leitura
Meu nome é Solon Couto R. Neto. Nasci em Macapá (AP) no dia 23 de abril de 1974. Quando nasci, minha casa era muito humilde, construída por meu avô materno, que era garimpeiro no interior da Amapá. Meu pai vendia café, fez um curso de contabilidade e passou a trabalhar na Receita Federal. Foi quando nossa situação melhorou um pouco. Minha mãe era dona de casa e manicure. Minha família é numerosa. Minha mãe era a caçula de oito filhos. Na rua em que eu morava, tínhamos alguns parentes. A cidade - até então Território Federal - tinha ares de interior, apesar de ser uma "capital" e a comunidade era típica de cidade dependente do pagamento do governo. Sem muitas perspectivas, com um comércio pouco desenvolvido, poucas escolas e até então sem instituição de ensino superior. Quem quisesse estudar tinha que ir para Belém (PA), a cidade mais próxima com universidade.
Na minha infância, tive sonhos e desilusões. Fui uma criança cheia de aventuras, brincava com meus primos na escola técnica que ficava fechada aos finais de semana e ficava deslumbrado com tantos aparelhos e matérias, além das salas de aula. Hoje entendo por que gostava daquilo. Minha infância foi normal. Estudando e sempre tendo um convívio com meus avós, tios e demais parentes. Na minha adolescência, fomos morar em Belo Horizonte, meu pai foi trabalhar em uma empresa da qual meu tio Fernando era administrador. Era uma empresa de manutenção de aviões. Fiquei apaixonado por aquilo, mas não fui orientado sobre como conseguir ser piloto. Estudei sempre em escolas públicas, não era estudioso, mas estudava o necessário, praticava esporte e iniciei estudos de violão com meus amigos. Mas algo aconteceu de diferente nesta fase. Meus vizinhos jogavam voleibol aos fins de semana e todos gastavam dinheiro com chup-chup (o sacolé, suco congelado em saquinho). Aí pensei que eu poderia ganhar algum dinheiro também. O que fazer de diferente? Veio a resposta: fazer chup-chup natural com suco da fruta. Foi um sucesso. Ganhei meu primeiro dinheiro, comprei roupas, meu primeiro aquário, meu violão... Já com 16 anos, fiz um curso de pintura a óleo sobre tela e comecei a vender meus quadros. Comprei meu primeiro carro aos 18 anos (um Fiat 147) que era meu xodó. Resolvi vir estudar em Belém (PA), onde mora a família de meu pai. Estudei e terminei o segundo grau. Fui prestar vestibular em Macapá.
Já na adolescência percebi que era empreendedor. Vendia sacolés, pintava quadros e, já na faculdade, comecei a lecionar para crianças de 5ª a 8ª séries. Passei a adorar o magistério. Percebi que ali estava meu talento. Passei a investir mais nisto. Em Macapá, passei no vestibular para Enfermagem na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Nesta fase, minha mãe encontrava-se separada de meu pai. Ela assumiu a responsabilidade por três filhos. Tenho dois irmãos que hoje advogados. Nossa vida era tranqüila. Trabalhávamos e estudávamos. Minha mãe era costureira, bancava nossos estudos. Mas o fumo e o stress a levou. Ela nos deixou em 2001. Não temos contato com nosso. Passei a desenvolver projetos e foi quando tive uma grande idéia: fazer a integração entre a universidade e a sociedade. Nasceu o Projeto Estudante Cidadão, que servia como estágio e prestação de serviços à comunidade dentro da área de cada acadêmico. Foi quando uma deputada federal tomou conhecimento deste projeto e me convidou para trabalhar com ela. Passei a ganhar meu primeiro bom salário (cinco salários-mínimos da época). Desenvolvi técnicas e estudei mais a área administrativa. Passei a ministrar palestras e aulas para empresários e para estudantes de cursos de qualificação. Adorei a idéia. Passei a trabalhar com cursos livres para comunidades carentes, o que me deu um bom retorno social e financeiro. Foi a maior satisfação que tive até hoje. Ver os olhos das pessoas brilhando quando eu as fazia acreditar que podem sonhar e que devem ter esperanças... Mas também que devem trabalhar muito para realizar o sonho.
Tudo começou com um amigo que veio de Manaus. Ele veio ministrar um seminário empresarial a uma turma do curso livre de secretariado. A professora adoeceu. Então ele perguntou a mim se eu conhecia alguém para substitui-la. Ofereci-me e ele concordou. Passei a conhecer a legislação de Cursos Livres de Qualificação Continuada e de Extensão. Passamos a trabalhar juntos. Ele realmente me trouxe o que hoje mais adoro fazer. No início, as pessoas, por não conhecerem esse tipo de curso, questionaram, duvidaram, mas fui conquistando alunos e mais alunos até que tivemos turmas de 320 alunos em três turnos e somente eu ministrando as aulas. Muita luta, mas muito compensador. Hoje trabalho como instrutor de cursos em duas escolas e moro em Belém (PA). Procurei muitos políticos, mas todos querem que trabalhemos sem ética. Não consegui patrocínio. Os alunos pagam pelos cursos, mesmo que sejam valores baixos (cerca de R$ 30 por pessoa). Lutei e ainda luto sozinho. Tiro dinheiro do meu salário para fazer propaganda de meus cursos e palestras. Isto tem me dado um retorno extra. Mas meu maior pagamento será se um dia eu puder ministrar cursos para a população gratuitamente.
Tenho observado que muitas pessoas têm voltado a sorrir, a sonhar, e alguns conseguem espaço no mercado graças aos cursos de qualificação realizados conosco. Damos todas as orientações: como fazer o currículo e comportar-se em uma entrevista de emprego, além da própria qualificação profissional. Minha vida é outra hoje. Sou feliz com o que faço. Consigo me manter e continuar meus estudos.
Com um projeto de capacitação continuada em comunidades carentes, poderemos ampliar a auto-estima das pessoas, aumentar suas chances de ter um emprego, de serem empresários ou de conseguirem outras formas de trabalho. Com cursos e palestras, mudamos as vidas dessas pessoas, levamos conhecimento, esperança. Temos uma média de 100 alunos ao mês, mas, temos plenas condições de termos até 400 alunos ao mês e quase cinco mil alunos por ano. Nossa experiência ecoa no futuro. Ministramos cursos nos centro comunitários dos bairros.
Hoje sou autodidata... Acredito na esperança, na força de vontade e em idéias. Luto por meus sonhos e faço as pessoas sonharem com os pés no chão. Quando fiz vestibular, passei em segundo lugar em uma instituição federal e isso estudando em casa, sem ter condições de fazer um cursinho. Passei a acreditar que, quando queremos algo do fundo de nossa alma, tudo pode conquistar. Eu procuro levar estes sentimentos às pessoas.Recolher