Apresente-se
Meu nome é Araldo, nasci na área rural em 1949, estudei em uma das escolas rurais - que foram todas extintas. Morávamos, toda a família em uma casa de barro, num sítio que ainda conservamos, com nome de Brisamar, por mim batizado e herança da minha avó. Nossa comunidade era grand...Continuar leitura
Apresente-se
Meu nome é Araldo, nasci na área rural em 1949, estudei em uma das escolas rurais - que foram todas extintas. Morávamos, toda a família em uma casa de barro, num sítio que ainda conservamos, com nome de Brisamar, por mim batizado e herança da minha avó. Nossa comunidade era grande e unida, sempre havia um baile, uma novena, e ia todo mundo junto. Aos domingos era a reza na igreja, que lotava, e muitas outras coisas que hoje quase se acabaram, que pena.
Conte sobre a sua infância/adolescência
Eu comecei a estudar aos 11 anos, caminhava três quilômetros para ir à escola, naquela época só se estudava até a terceira série, pois não havia recurso para seguir nos estudos. Desde cedo a gente trabalhava na roça. Eu, com dez anos, virava terra com arado de burro para poder plantar. Meu pai ensinou cedo o trabalho na terra. Nossa escola era no centro do bairro, no terreiro da venda do senhor Amantino. Era uma casa de tábuas verdes no alto de um barranco. Nessa época, quem me deixou lembranças foi minha última professora do primário, dona Cida.
Suas primeiras idéias
Na escola eu gostava muito de estudar a história do Brasil, me interessava, saber como o Brasil foi descoberto e colonizado. Depois fui descobrindo que muito do que aprendi era falso e fui criando uma idéia de que eu poderia fazer alguma coisa para modificar um pouco o percurso da história. Em 1965, aos 16 anos, entrei para um movimento de jovens e passei fazer parte de um grupo que queria mudar a história rural, era o movimento da juventude rural (JAC) foram alguns anos de trabalho com grupos de jovens que estudava o capitalismo e suas formas de exploração social. Aprendi muito e mudei meu conceito de viver. Deixei de sonhar em ficar rico e passei a lutar por justiça social.
Conte a sua história de mudança social
Minha vida passou a ser uma luta constante por igualdade. Em 1967, numa tarde de domingo, num campo de futebol, após uma dura desilusão de amor, soube que no próximo domingo haveria uma assembléia geral do sindicato dos trabalhadores rurais de Capão Bonito, que estava sendo fundado, não poderia deixar de ir, lá no meio de grande platéia de trabalhadores rurais. Foi quando assumi meu primeiro cargo público como secretário do sindicato.
Conte sobre as mudanças que sua idéia provocou
No sindicato, eu brigava por igualdade, pois o presidente era um “escravagista”, não atendia direito os trabalhadores e não tinha consciência de classe. Eu tentava sempre colocar em prática meus conhecimentos de socialista, mas sempre entrava em conflito com as idéias do presidente, acabamos nos desentendo e passei para a oposição, concorrendo à eleiçao no ano seguinte, mas perdemos porque a mobilização do nosso grupo era fraca e quase tudo dependia mais de mim para realização das idéias. Passaram-se três longos anos de trabalho, eu vivendo da agricultura, sem dinheiro para nada, às vezes até passando fome, e cuidando da família, já que meu pai estava trabalhando fora. Nesse tempo, fiz um trabalho com a igreja em que a gente desenvolveu programa de evangelização política nas comunidades de Capão Bonito, com a Teologia da Libertação. Também conseguimos vitória na eleição seguinte no sindicato, foi uma luta dura, mas conseguimos. Hoje ainda estou no sindicato, atuo na área de educação.
Conte sobre o potencial de mudança de sua idéia
Hoje, no sindicato, trabalho com projetos na área de cooperativismo e associação de produtores rurais. Criamos várias associações nas comunidades e vemos uma certa organização nesses grupos, conseguimos várias conquistas para essas comunidades. Eu me vejo como agente dessas mudanças, pois apesar de poucos resultados, estou sempre na ação dos trabalhos realizados. Tenho esperança que tudo pode ser melhorado, acredito no potencial das pessoas, o mundo pode ser mais justo desde que as pessoas lutem por uma vida melhor.Recolher